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Perguntas e respostas sobre Jesus de Nazaré. 50

Jesus de NazaréNa tradição do Antigo Testamento, para poder comparecer ante Deus havia que ser puros. Existia um sistema de ritos de purificação que é questionado por Jesus. Por que é que o questiona?


“Em Marcos vemos a mudança radical que Jesus deu ao conceito de pureza ante Deus: não são as práticas rituais o que purifica. A pureza e a impureza têm lugar no coração do homem e dependem da condição do seu coração.

55 Preguntas y respuestas sobre Jesús de Nazaret, extraídas del libro de Joseph Ratzinger-Benedicto XVI: “Jesús de Nazaret. Desde la Entrada en Jerusalén hasta la Resurrección”, Madrid 2011, Ediciones Encuentro. Página 81-82, marc argemí, trad. ama

Oxalá te não falte a simplicidade

Textos de São Josemaria Escrivá

Repara: os apóstolos, com todas as suas misérias patentes e inegáveis, eram sinceros, simples... transparentes. Tu também tens misérias patentes e inegáveis. – Oxalá te não falte a simplicidade. (Caminho, 932)

Aqueles primeiros doze apóstolos – a quem tenho grande devoção e carinho – eram, segundo os critérios humanos, bem pouca coisa. Quanto à posição social, com excepção de Mateus – que com certeza ganhava bem a vida e deixou tudo quando Jesus lhe pediu – eram pescadores; viviam do dia-a-dia, trabalhando até de noite para poderem alcançar o seu sustento.

Mas a posição social é o de menos. Não eram cultos, nem sequer muito inteligentes, pelo menos no que diz respeito às realidades sobrenaturais. Até os exemplos e as comparações mais simples lhes eram incompreensíveis e pediam ao Mestre: Domine, edissere nobis parabolam, Senhor, explica-nos a parábola. Quando Jesus, com uma imagem, alude ao fermento dos fariseus, supõem que os está a recriminar por não terem comprado pão.
Pobres, ignorantes. E nem sequer eram simples, humildes. Dentro das suas limitações, eram ambiciosos. Muitas vezes discutem sobre quem seria o maior, quando – segundo a sua mentalidade – Cristo instaurasse na terra o reino definitivo de Israel. Discutem e excitam-se até naquela hora sublime em que Jesus está prestes a imolar-se pela humanidade, na intimidade do Cenáculo.
Fé? Pouca. O próprio Jesus Cristo o diz. Viram ressuscitar mortos, curar todo o tipo de doenças, multiplicar o pão e os peixes, acalmar tempestades, expulsar demónios. Pois S. Pedro, escolhido como cabeça, é o único que sabe responder com prontidão: Tu és o Cristo, Filho de Deus vivo. Mas é uma fé que ele interpreta à sua maneira; por isso atreve-se a enfrentar Jesus Cristo, a fim de que Ele não se entregue pela redenção dos homens. E Jesus tem de responder-lhe: Retira-te de mim, Satanás; tu serves-me de escândalo, porque não tens a sabedoria das coisas de Deus mas das coisas dos homens. Pedro raciocinava humanamente, comenta S. João Crisóstomo, e concluía que tudo aquilo (a Paixão e a Morte) era indigno de Cristo, reprovável. Por isso Jesus repreende-o e diz-lhe: não, sofrer não é coisa indigna de Mim; tu pensas assim porque raciocinas com ideias carnais, humanas.
Em que sobressaem então aqueles homens de pouca fé? Talvez no amor a Cristo? Sem dúvida que O amavam, pelo menos de palavra. (…) São homens correntes, com defeitos, com debilidades, com palavras maiores do que as suas obras. E, contudo, Jesus chama-os para fazer deles pescadores de homens, corredentores, administradores da graça de Deus. (Cristo que passa, 2)

© Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet

Os homens também se abatem

Navegando pela minha cidade
“Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores”. Ouvi esta frase dita pela Palmira Bastos[1] há muitos anos no Teatro São João. Nunca mais me esqueci da energia que saía daquele corpo frágil e já muito envelhecido enquanto batia com a bengala no chão, com uma força e vitalidade imensas.

Esta afirmação categórica vincada – sincopadamente - com aquelas pancadas no chão do palco ficou-me gravada como uma absoluta lei da botânica e da ascética.

Essa eternidade vertical de obelisco que é morrer-se de pé e essa eternidade que é morrer-se para si próprio.

Mas as árvores no Porto não morrem de pé. Quando os cientistas e os técnicos da Câmara Municipal do Porto decretam que uma árvore está doente, abatem-na.

“Porém, com o desenvolver dos trabalhos de poda das restantes, os serviços de Ambiente constataram um sexto Liquidamber que mostrava extensas e abundantes cavidades interiores, com fortes sinais de podridões activas, claramente debilitadoras da resistência do lenho e consequente sustentação do peso global do exemplar”[2].

Esta era uma parte da notícia com o título: Câmara abateu seis árvores na Coronel Pacheco e vai plantar sete.
Claro que fui lá ver se era verdade. Era.

Naquela Praça há anos e anos transformada num miserável parque de estacionamento, mesmo em frente à PSP, vários troncos cortados e empilhados mostravam, na sua imensa beleza caída, o interior cheio de vazios.

E depois? Não podiam tratá-las? Não podiam preencher aquelas cavernas? Árvores cinquentenárias que todos as Primaveras renasciam de novo e que em todos os Outonos se transformavam em autênticas fogueiras vegetais num esplendor de folhas feitas chamas amarelas, laranjas, e encarnadas?

Árvores que durante tantos anos preencheram tantos vazios de tanta gente não mereciam ser abatidas por gente tão cheia de arrogância.

Só o nome desta execução faz lembrar um açougue. Abatem-se os frangos, os porcos e os cavalos, as árvores não.

Esta falta de respeito urbano-decadente é um sinal dos tempos. Em 1854 o Chefe índio Seattle escreveu ao Grande Chefe Branco de Washington o seguinte: “…A seiva que circula nas veias das árvores leva consigo a memória dos Peles Vermelhas“. Estas seis também levavam a minha, a nossa.

Triste e já sem força sequer para a revolta fui descendo, entrei pela Travessa de Cedofeita, vi um graffiti que gritava RAPE ME e outro que invectivava VOTA IDIOTA e entrei na Rua de Cedofeita ainda mais angustiado.

Eram cerca das três da tarde e as pessoas passavam em silêncio. Foi então que vi caminhando na minha direcção um homem de meia-idade. Este homem, cuja cara transmitia um absoluto vazio de esperança ou qualquer sombra de ânimo, trazia pendurado por uma espécie de suspensórios um placard à frente do peito e outro igual nas costas. Era um Homem/Placard.

O placard anunciava: PENHORES EMPRÉSTIMOS SOBRE VALORES – OURO PRATA JOIAS RELÓGIOS – Rua de Cedofeita, 516 – 1º (junto à PSP)

Nesta crise de valores há muitos a quererem emprestar sobre valores. Os abutres vêem a carniça a grande distância e a planície está juncada de troncos humanos com extensas e abundantes cavidades interiores e de especuladores financeiros com fortes sinais de podridão e todas as famílias estão com a resistência claramente debilitada.

Aquele homem também já tinha sido abatido e para maior escárnio, os Midas das crises pregaram-lhe no tronco um anúncio para roubar o ouro, a prata e as jóias a quem já tinha sido roubada a esperança, o futuro e a dignidade.


Afonso Cabral


[1] Actriz (1875 – 1967)
[2] Público – 30 de Novembro de 2011

Ideais

Outros modos de expressar o ideal maior.


Deus é o maior dos bens e portanto o ideal maior, o ideal quer clama ser desejado por cima de todas as coisas. Mas há vários modos de expressar este mesmo ideal. 

Por exemplo:


Imitar a Deus; unir-se a Deus; o céu. - O ideal continua a ser Deus, só que agora se expressa o que se alcança ao chegar a Ele.

Conhecer e amar a Deus. - É o modo de unir-se a um ser espiritual. O ideal continua sendo Deus.

Servir a Deus, dar-lhe glória. - É o modo de amá-lo.

Santidade. - Equivale a imitar a Deus, unir-se a Deus, amar a Deus, etc.


Ideasrapidas, trad ama

Preparando o Natal


                                  Oração do Natal

Menino Jesus: 

Este Natal quisera receber-te com aquele enlevo e carinho de Tua Santíssima Mãe, com a atenção e cuidados de São José, com a alegria e simplicidade dos Pastores de Belém.
São Josemaria, ajudai-me nestes propósitos.


ama, Advento 2011

Evangelho do dia e comentário

Perante a vinda eminente do Senhor, os homens devem dispor-se interiormente, fazer penitência dos seus pecados, rectificar a sua vida para receber a graça especial divina que traz o Messias. Tudo isso significa esse aplanar os montes, rectificar e suavizar os caminhos de que fala o Baptista. (...) A Igreja na sua liturgia do Advento anuncia-nos todos os anos a vinda de Jesus Cristo, Salvador nosso, e exorta cada cristão a essa purificação da sua alma mediante uma renovada conversão interior[i]


Quarta-Feira da II semana do Advento 07 de Dezembro – Stº Ambrósio, Doutor da Igreja [i]


Evangelho: Mt 11, 25-30

25 Então Jesus, falando novamente, disse: «Eu Te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos pequeninos. 26 Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 27 «Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai; nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 28 O «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. 30 Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo leve».

Comentário:

Um jugo suave e uma carga leve!

Sim, é bem verdade, sobretudo se o comparamos com os jugos deste mundo, as prisões, os condicionamentos, as sujeições aos hábitos, vícios e pecados... o jugo que temos de suportar nesta vida tão cheia de problemas, dificuldades, obstáculos.

Sim, comparados com este, o jugo e a carga de Cristo são bem mais suaves e levadeiros.

Cumprir a Sua Vontade não pode ser nunca um sacrifício, um peso é, bem ao contrário, contentamento e vitória.

(Comentário sobre Mt 11, 25-27, 20011.06.04)


[i] Stº Ambrósio, Doutor da Igreja
Nota Histórica 
Nascido em Tréveris, cerca do ano 340, de uma família romana, fez os seus estudos em Roma e iniciou em Sírmio a carreira pública. Em 374, vivendo em Milão, foi inesperadamente eleito para bispo da cidade e recebeu a ordenação em 7 de Dezembro. Fiel cumpridor do seu dever, distinguiu-se sobretudo na caridade para com todos, como verdadeiro pastor e mestre dos fiéis. Defendeu corajosamente os direitos da Igreja; com seus escritos e sua actividade ilustrou a verdadeira doutrina contra o arianismo. Morreu no Sábado Santo, em 4 de Abril de 397.                                                                                                             

Música e repouso

Ave verum Gregoriano -Viri Cantores de Santiago

selecção ALS

Tratado De Deo Trino 32

Questão 34: Do Verbo.

Em seguida, devemos tratar da Pessoa do Filho. Ora, atribuem-se três nomes ao Filho, a saber, Filho, Verbo e Imagem. Mas, a natureza do Filho fica tratada dependentemente da do Pai. Portanto, resta tratarmos do Verbo e da Imagem. Sobre o Verbo discutem-se três artigos:
  
Art. 1 – Se o Verbo, em Deus, é nome de pessoa.
Art. 2 - Se Verbo é o nome próprio do Filho.
Art. 3 – Se o nome de Verbo importa relação com a criatura.

Art. 1 – Se o Verbo, em Deus, é nome de pessoa.

(Ia. IIae., q. 93, a. 1. ad. 2; I Sent., dist. XXVII, q. 2, a. 2, qa. 1; De Pot., q. 9, a. 9, ad 7; De Verit., q. 4, a. 2; a. 4, ad 4).

O primeiro discute-se assim. – Parece que o Verbo, em Deus, não é nome de pessoa.

1. – Pois, os nomes pessoais em Deus se predicam em sentido próprio, como Pai e Filho. Ora, em Deus, o Verbo se predica metaforica­mente, como diz Orígenes [i]. Logo, o Verbo, em Deus, não é nome de pessoa.

2. Demais. – Segundo Agostinho, o verbo é o conhecimento com amor [ii]. E segundo Anselmo, para o Sumo Espírito – dizer – nada mais é do que a intuição cogitativa [iii]. Ora, o conhecimento, a cogitação e a intuição se predicam essencialmente, em Deus. Logo, o Verbo, em Deus, não significa nome de pessoa.

3. Demais. – Da natureza do Verbo é o ser dito. Ora, segundo Anselmo [iv], assim como o Pai o Filho e o Espírito Santo são inteligentes, assim também são dicentes. E, semelhantemente, cada um deles é dito. Logo, o nome de Verbo se predica, em Deus, essencial e não pessoalmente.

4. Demais. – Nenhuma pessoa divina é feita. Ora, o Verbo de Deus é feito. Pois, diz a Escritura (Sl 128, 8): O fogo, o granizo, a neve, a geada, o espírito das tempestades, que executam a sua palavra. Logo, em Deus, o verbo não é nome de pessoa.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Assim como o Filho se refere ao Pai, assim o Verbo, ao ser ao qual pertence [v]. Ora, Filho é nome de pessoa porque se predica relativamente. Logo, também o Verbo.

O nome de Verbo, em Deus, em acepção própria, é nome de pessoa e de nenhum modo de essência. Para evidenciá-lo devemos saber, que o verbo, em nós, de tríplice modo se usa, em acepção própria; e, de um quarto modo, imprópria ou figuradamente. Ora, mais manifesta e comummente em nós se chama verbo o que é proferido pela palavra e que procede do interior, quanto a duas características que aparecem no verbo exterior, a saber, a palavra em si mesma e a sua significação. Ora, a palavra significa o conceito do intelecto, segundo o Filósofo [vi]; e como ainda diz o mesmo, ela procede da imaginação [vii]; ao passo que a palavra não significativa não se pode chamar de verbo. Pois, o verbo se chama palavra exterior por significar o conceito interior da mente. Assim, chama-se verbo, primária e principalmente, o conceito in­terior da mente; secundariamente, a palavra mesma significativa deste conceito; e em terceiro lugar, a imaginação mesma da palavra. E a esta tríplice modalidade do verbo se refere Damasceno, dizendo: Verbo se chama o movimento natural do intelecto, segundo o qual este se move, intelige e cogita, e é uma como luz e esplendor – quanto ao primeiro modo; em seguida, verbo é o que se não profere por palavra, mas se pronuncia no coração – quanto ao terceiro; e enfim, o verbo é anjo, i. e, o núncio, da inteligência – quanto ao segundo [viii]. – Porém, de um quarto modo e figuradamente, chama-se verbo o que significado ou feito pela palavra; e neste sentido costumamos dizer: Este é o verbo que te disse, ou, que o rei mandou, aludindo-se a algum facto significado pela palavra de quem simplesmente a enuncia ou manda.

Porém, em Deus propriamente se usa do vocábulo verbo para significar o conceito do intelecto. Por isso, diz Agostinho: Quem puder inteligir o verbo não somente antes da palavra soar, mas ainda ,antes de serem apreendidas pela cogitação as imagens dos seus sons, já pode ver alguma semelhança daquele Verbo, do qual foi dito: No princípio era o Verbo [ix]. Mas, o conceito mental procede, por natureza, de outro, i. e, do conhecimento de quem o concebe. E, por isso, o Verbo, enquanto propriamente predicado de Deus, significa uma realidade procedente de outra; e isso pertence à essência dos nomes pessoais, em Deus, porque as pessoas divinas se distinguem pela origem, como se disse [x]. Donde, necessariamente vem, que o nome de Verbo predicado propriamente de Deus, não é tomado em acepção essencial, mas somente pessoal.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. – Os arianos, dos quais Orígenes é a fonte [xi]1, ensinaram que o Filho é outro que não o Pai por diversidade de substância. Mas, como o Filho se chama Verbo de Deus, esforçaram-se por negar que seja esse um nome próprio dele; para não serem forçados a confessar, admitindo a ideia de Verbo procedente, que o Filho de Deus não é extra-substancial ao Pai, pois o verbo procede interiormente de quem o profere; de modo que lhe é imanente. – Mas é forçoso, desde que se admita o verbo de Deus, em sentido metafórico, admitir-se o verbo divino em sentido próprio. Pois nada, senão em virtude da manifestação, pode se chamar metaforicamente verbo, porque ou manifesta, como verbo, ou é pelo verbo manifestado. Ora, se for deste último modo, é necessário admitir-se o verbo pelo qual se manifeste. E se se chamar verbo, porque manifesta exteriormente, essas manifestações exteriores não se chamam verbos senão como significativas do conceito interior da mente, que manifestamos também por sinais exteriores. E assim, embota por vezes, em Deus, o verbo se predique metaforicamente, todavia é necessário nele admitirmos o Verbo propriamente dito, em sentido pessoal.

RESPOSTA À SEGUNDA. – Nada do que concerne ao intelecto se predica pessoalmente de Deus, senão o Verbo; porque só este significa o que emana de outro; pois, o verbo é a concepção formada pelo intelecto. Ora, o intelecto, enquanto actualizado pela espécie inteligível é considerado de modo absoluto. E semelhantemente, o inteligir, que está para o intelecto em acto como a essência, para o ser em acto; pois, inteligir não significa acção que saia do intelecto, mas é imanente no ser que intelige. Portanto, quando dizemos que o Verbo é conhecimento, este conhecimento não significa o acto do intelecto conhecente, ou qualquer hábito dele, mas, aquilo que o intelecto concebe, quando conhece. Por isso diz Agostinho [xii], que o Verbo é a sabedoria gerada, e que nada mais é senão a própria concepção do sábio a qual, de igual modo, também se pode chamar conhecimento gerado. E do mesmo modo podemos entender que, dizer, em Deus, é cogitar intuitivamente, i. e, enquanto que essa cogitação intuitiva divina leva à concepção do Verbo de Deus. Porém esse vocábulo – cogitação – não convém propriamente ao Verbo divino. Pois, diz Agostinho: Ao chamado Verbo não se pode denominar cogitação; para que se não creia haver em Deus algo de mutável que, depois de ter recebido a forma do verbo, possa vir a perdê-la sujeito a uma como informe transformação. Pois, a cogitação consiste propriamente em indagar a verdade, o que não pode ter lugar em Deus. Pois, quando o intelecto já atingiu a forma da verdade, não cogita, mas contempla perfeitamente. Por onde, Anselmo impropriamente toma a cogitação pela contemplação.

RESPOSTA À TERCEIRA. – Assim como, propriamente falando, o Verbo se predica de Deus, pessoal e não essencialmente, assim também o dizer. Por onde, não sendo o Verbo comum ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, também não é verdade seja o Pai o Filho e o Espírito Santo um só dicente. Por isso Agostinho ensina: Em Deus não se entende como um só o que diz, por aquele Verbo coeterno [xiii]. Mas, ser dito convém a qualquer das Pessoas, pois, é dito não só o Verbo, mas ainda as coisas por este inteligidas ou significadas. Assim, pois, a uma só das Pessoas divinas convém o ser dita, do modo pelo qual o verbo é dito; porém, a cada uma delas convém ser dita do modo pelo qual o é, pelo verbo, a coisa inteligida. Assim, o Pai concebe o Verbo inteligindo-se a si, ao Filho, ao Espírito Santo e a tudo o mais que a sua ciência contém; de maneira que toda a Trindade e mesmo toda criatura sejam ditas pelo Verbo, do mesmo modo que o intelecto humano diz, pelo verbo, ser pedra o que concebe como pedra. Porém, Anselmo toma impropriamente dizer por inteligir, que, contudo, diferem. Pois, inteligir só importa relação entre o inteligente e o objecto inteligido, na qual se não compreende nenhuma ideia de origem, mas só uma certa informação do nosso intelecto, como actualizado pela forma da coisa inteligida. Em Deus, porém, importa omnímoda identidade, em quem se identifica absolutamente o inteligente com o inteligido, como já vimos [xiv]. Ao passo que dizer importa principalmente relação com o verbo concebido, pois dizer nada é senão proferir o verbo. E, mediante o verbo, importa relação com o objecto inteligido, o qual pelo proferido se manifesta a quem intelige. Assim, só a Pessoa que profere o Verbo é, em Deus, dicente, embora cada uma das Pessoas singularmente seja inteligente e inteligida e, por conseguinte, dita pelo Verbo.

RESPOSTA À QUARTA. – Verbo, no lugar citado se toma em sentido figurado, enquanto o significado ou o efeito de verbo se chamam verbo. Assim, dizemos que as criaturas executam o verbo de Deus, por executarem algum efeito ao qual foram ordenados pelo Verbo concebido da divina sabedoria. Do mesmo modo dizemos, que alguém cumpre o verbo do Rei, quando executa a obra a qual é levada por esse verbo.

SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,



[i] Super Ioanem, c. 1.
[ii] De Trin., lib. IX, c. 10.
[iii] Monol., c. 63, al. 60.
[iv] Monol., c. 62, 63, al. 60.
[v] VII de Trin., c. 2.
[vi] I Periherm., c. 1.
[vii] De Anima, lib. II, c. 8.
[viii] De Fide Orth., I, cap. 13.
[ix] De Trin., XV, c. 10.
[x] Q. 27; q. 32, a. 3.
[xi] Cfr. Q. 32, a. 1., ad. 1.
[xii] De Trin., l. VII, c. 2.
[xiii] VII de Trin., c. 1.
[xiv] Q. 14, a. 2, 4.

Pensamentos inspirados à procura de Deus

À procura de Deus



Para cada noite há um dia.


Para cada provação, uma esperança.



jma

Solicitude da Igreja

Reflectindo


A solicitude da Igreja pelos problemas sociais deriva da sua missão espiritual e mantém-se dentro dos limites dessa missão. Ela, enquanto tal, não tem como missão os assuntos temporais.





(sagrada congregação para a doutrina da fé, Encíclica Populorum Progresio, 80)