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07/11/2011

Novíssimos - Juízo Particular 4

Julgamento de Francisco - banqueiro. [i]

O piloto lutava com os comandos do helicóptero num frenesim crescente.
O aparelho entrara em rodopiar sobre si mesmo e todos os esforços do experiente piloto não conseguiam resolver a situação.
Em escassos segundos entrou em perda total e os gritos de socorro reconhecidos internacionalmente começaram com angústia:

May day! May day! May day!

Francisco, no banco traseiro do confortável aparelho que só alguns administradores usavam, agarrava-se como podia aos braços da poltrona. A seus pés, a pasta com documentos que estivera a ver deixara cair todo o conteúdo que se espalhava pela cabina.

Habituado como estava a situações extremas tentava manter o sangue frio que o caracterizava.
Não obstante a sua vida corria-lhe pela mente com uma celeridade espantosa. Viu a mulher, os dois filhos jovens, a mansão acabada de estrear, a herdade recentemente comprada e ainda em obras de melhoramento.
A sua curta vida estava em perigo mas, decidiu que não acabaria assim.

Uma acção rápida se impunha. Olhando pela janela viu que se precipitavam em direcção às águas da barragem que estavam a sobrevoar. Não hesitou um segundo e, soltando o cinto de segurança e abrindo a porta ficou à espera uns momentos. Quando lhe pareceu que já estavam suficientemente próximos da água atirou-se pela porta fora e caiu no espaço.

A aeronave rodopiava incontrolada sobre a sua cabeça e a última coisa que sentiu foi uma das pás a corta-lo a meio do corpo…

O Francisco foi sempre um estudante aplicado e com resultados muito acima da média. De tal forma que logo que acabado o curso e o MBA foi convidado para um lugar de destaque na instituição financeira onde rapidamente subiu todos os escalões até integrar o CA.
Foi sempre exemplar no seu trabalho nunca transigindo com algo menos correcto e, talvez por isso, era tão respeitado como temido pelos seus pares.
Rejeitou inúmeras propostas aliciantes que decerto lhe trariam largos proventos por considerar que não eram sérias ou honestas…

O Juiz falou:

“Tudo isso é muito bom mas, na verdade, ser honesto não é um mérito mas uma obrigação, trabalhar bem e com afinco é um dever. Há alguma coisa a propósito de obras de caridade, vida de piedade, prática dos Sacramentos, a Santa Missa aos Domingos – pelo menos -  enfim… alguma coisa realmente merecedora de prémio que tenha ficado por dizer?”

O Ser resplandecente de vestes alvas como a neve que estivera a fazer o relato da vida de Francisco, ficou calado.

Uma voz cuja serenidade parecia a superfície de um lago tranquilo em fim de tarde, fez-se ouvir:

“Tenho algo a dizer. O Francisco foi abordado por um Sacerdote muito idoso com um pedido. Toda a sua vida este bom homem tinha procurado erguer uma capela em minha homenagem mas os fundos necessários para tal que conseguira reunir eram insuficientes. Como não quis infringir as normas e regras que ele próprio tinha estabelecido como administrador, o Francisco, do seu próprio bolso, entregou ao Sacerdote o dinheiro que faltava. O templo foi construído e tem sido muito concorrido por um número crescente de devotos que organização procissões com um andor com a minha imagem, rezam o terço e cantam lindas melodias em meu louvor”

O Juiz disse então:

"Como em Caná da Galileia fiz o que me pediu, faça-se agora como a Minha Mãe desejar".



[i] Levanta-se a questão da vida para além da morte. É uma das grandes interrogações que alguma vez durante a sua vida o homem se coloca.
É natural porque o ser humano é dotado de espírito, alma, que tem preocupações mais para além do imediatamente sensível.
Para os cristãos a segurança da Fé fá-los compreender que está destinado à eternidade, ou seja, embora o corpo pereça e acabe a vida terrena, a sua alma não morrerá jamais e, naturalmente, tende a voltar para o seu Criador, Deus.
Sim... a lógica propõe o que a fé garante, porque não se concebe o Criador abandonar a criatura a um desaparecimento puro e simples.
O restante do problema é o que se refere ao "destino" da alma e que é "marcado" na conclusão do juízo a que é sujeita pelo próprio Criador, logo que, após a separação do corpo, se apresenta perante Si.
No imaginário livro da vida, ao contrário do que que é mais comum, não existem colunas de "deve" e "haver" onde é feita uma espécie de contabilidade, não! O que existe é uma lista completa dos bens recebidos em vida, os dons, graças, auxílios, inspirações e meios com que o Senhor foi dotando cada um de forma especial e única.
Cada ser humano recebe um "pacote" específico, para si em exclusivo.
Deus Nosso Senhor não dispensa os Seus benefícios adrede ou de uma forma sistemática ou mecânica. Cada ser humano é objecto de atenção exclusiva e única por parte do Criador que lhe concede os Seus dons e benefícios conforme a Sua Soberana Vontade determina.
Esta misteriosa magnitude de Deus tem uma razão de ser.
O homem não é capaz por si mesmo de evoluir, de melhorar sem que um estímulo o leve a tal.
Este estímulo surge exactamente no estreitamento das suas relações com Deus.
Quanto mais se relaciona mais recebe e, quanto mais se recebe mais se deseja intimar com Deus.
Por isso no Evangelho consta «àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado» Lc 8, 16-18.

Para chegar a Deus, o caminho seguro, é Maria Sua e nossa Mãe! 

Sancta Maria iter para tutum! (Santa Maria, prepara-me um caminho seguro)

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