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01/10/2011

NOVEMBRO

Este mês de Novembro, como é sabido, é um mês em que a Igreja, desde a antiguidade, dedica especial atenção e relevo às Santas Almas do Purgatório, e, de um modo mais geral, à consideração da vida depois da morte, a Vida Eterna.

Muita gente tem a secreta angústia da morte.

É, para muitos, uma espécie de tabu em que não convém tocar, de que é preferível não falar.

Para outros, a morte, é uma fatalidade, uma espada impiedosa suspensa sobre a cabeça.

E há também, quem encare a morte como um meio eficaz de fazer cessar os problemas e dores desta vida.

E nós, cristãos bem formados, que queremos e desejamos manter com o nosso Criador uma relação filial e íntima ?

E nós ?

Como encaramos nós a morte ?

Antes de mais, gostaria que ficasse claro, que um cristão tem o dever, a obrigação estrita, de amar a vida e amá-la muito, porque é um dos maiores dons que Deus nos deu.

Tirar da vida todo o proveito, toda a beleza, todo o contentamento possível, com o empenhamento pessoal, com o trabalho, com a exigência do comportamento próprio, nas relações humanas, familiares ou sociais, na busca do progresso e de uma, cada vez melhor, qualidade de vida, para si e para todos, esta é, sem dúvida nenhuma, a forma cristã de encarar a vida.

É assim que Deus quer que seja, foi para isso que Deus nos criou.

Portanto, este amor à vida, que é tão profundamente humano, é perfeitamente compatível com a reflexão sobre a morte.

O cristão sabe que o espera uma vida infinitamente melhor, sem comparação possível com a desta terra, conhece perfeitamente que foi esse o desígnio de Deus ao criá-lo: Deus criou-nos para Si, e não para nós.

Deus criou-nos para sermos felizes e não para o sofrimento.

A felicidade, tal como Deus a concebe, é o próprio Deus, Ele mesmo.

Só na medida em que o homem se contemplar em Deus, como que em reflexo, é que alcança essa felicidade.

E, este estado de suprema e total felicidade, só acontece exactamente na vida eterna que é, nem mais nem menos, que a contemplação permanente de Deus cara a cara.

Mas, a morte é humanamente dolorosa!

Claro que é.

O nosso espírito e o nosso corpo repelem a morte, é a própria essência da vida humana, o desejo de permanecer, o espírito de sobrevivência, a procura instante de prolongar “in tempore” a existência.

Esta forma de sermos humanos, isto é, este nosso apego à vida, é um dom que Deus nos deu e graças ao qual evitamos, ou procuramos evitar, tudo o que pode fazer perigar a vida.

Consideramos, nós, cristãos, que temos como que duas vidas - perdoem-me a expressão -: uma vida que é a deste corpo, carne da carne dos nossos pais, e outra vida, que é a da nossa alma, que é espírito emanado do Espírito que é Deus.

As duas estão intimamente ligadas, ainda e sempre, pela Vontade Suprema do Criador, e não podem dissociar-se nunca, excepto pela mesma Vontade.

Não pode, a nossa alma, ser pura se o nosso corpo não for casto, não é possível que os nossos actos sejam reprováveis, se a nossa intenção for recta.

Daqui, por exemplo, que não é possível encontrar nenhuma razão justa para fazer terminar uma vida - aborto, eutanásia, suicídio, etc. - exactamente porque, esse direito, pertence só, e unicamente, ao nosso Criador, e, ainda, porque na verdade, nós não criamos nada, apenas nos limitamos a utilizar os meios já criados por Deus, ou por Ele inspirados.

Criar, propriamente, é fazer algo do nada, do vazio, do zero absoluto, poder que só Deus tem.

Assim, interromper voluntariamente uma vida, é interferir e intervir num campo reservado, única e exclusivamente, a Deus.

Logo, sem recta intenção, logo o acto é reprovável.

Neste apego à vida, nesta luta para a conservar, para a melhorar, para, de alguma forma, a tornar mais agradável, empenhamos todos os esforços, não nos poupamos a sacrifícios e, no entanto, sabemos, que nalgum tempo, que não temos presente, ela cessará inevitavelmente e que, esse momento, não dependerá nunca da nossa vontade.

Bom, se assim é, e é bom que assim seja, repito, não é lógico que nos empenhemos com maior vigor e dedicação a conservar, a melhorar, ou de alguma forma, tornar mais agradável aos olhos de Deus, a vida da nossa alma que nunca morrerá?

Neste tempo de Novembro, e o tempo que virá já a seguir, o Advento, a Igreja vai levar-nos, passo a passo, a essas considerações, conduzindo-nos com firmeza carinhosa para a necessidade de estarmos sempre prontos, para podermos dizer, no intimo do nosso coração, ao nosso Senhor presente no Sacrário:

- Senhor: gosto tanto de viver, mas estou pronto, quando Tu quiseres. [1]




[1] ama, Palestras no Minho, 1991

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