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21/09/2011

Deus é o objecto desta ciência?

Escola de Atenas
Rafael

Suma Teológica: Art. 7

(I Sent. Prol., a. 4; in Boet., De Trin., q. 5, a. 4).

O sétimo discute-se assim — Parece não ser Deus o objecto desta ciência.

1. — Pois é necessário, em qualquer ciência, supor a essência do objecto, segundo o Filósofo [i]. Ora, esta ciência não supõe a essência de Deus, pois, diz Damasceno:  É impossível assinalar a essência divina [ii]. Donde, não é Deus o objecto desta ciência.

2. Demais — abrange o objecto da ciência tudo o que ela trata. Porém, na sagrada doutrina, há muitos outros assuntos além de Deus, p. ex.: as criaturas e os costumes humanos. Logo, não é Deus o objecto desta ciência.

Mas,  em contrário, objecto da ciência é o assunto nela principalmente tratado. Ora, Deus é o assunto principal desta ciência, pois é chamada teologia ou tratado de Deus. Logo, Deus é o objecto desta ciência.

SOLUÇÃO. — Deus é o objecto desta ciência, porque o objecto está para a ciência como para a potência ou hábito. Ora, propriamente, é considerado objecto de potência ou hábito aquilo sob cujo aspecto se lhes refere qualquer coisa. Donde, referindo-se à vista, enquanto coloridos, o homem e a pedra, é a cor o objecto próprio da vista. Ora, a sagrada doutrina tudo trata com referência a Deus, por tratar ou do mesmo Deus ou das coisas que lhe digam respeito, como princípio ou fim. Pelo que, é Deus, verdadeiramente, o objecto desta ciência — o que também se demonstra pelos princípios da dita ciência, ou artigos da fé, de que Deus é objecto. Ora, idêntico objecto têm os princípios e toda a ciência, por estar a última, total e virtualmente, contida nos princípios. — Certos, porém, atendendo às matérias tratadas e não ao ponto de vista, a esta ciência assinalaram outro objecto; como, a realidade e os símbolos, ou as obras da reparação; ou todo Cristo, i.e., a cabeça e os membros. E, com efeito, são consideradas nesta ciência todas essas matérias, se bem com relação a Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Embora seja impossível conhecermos a essência divina, contudo nesta doutrina, lhe usamos do efeito, no domínio natural ou da graça, em vez da definição da causa, para daí tirar as conclusões da ordem divina, consideradas na mesma doutrina. Assim como, em certas ciências filosóficas, pelo efeito se demonstra algo da causa, tomando aquele em lugar da definição desta.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Todos os demais assuntos tratados na doutrina sagrada estão incluídos em Deus, não como partes, espécies ou acidentes, mas como a ele de certo modo ordenados.


[i] I Poster., c. 1
[ii] De Fide Orthodoxa

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