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12/08/2011

A matemática da vida em Fukushima

Central de Fukushima   
Há no Japão um grupo de 200 aposentados, em sua maioria engenheiros, que se oferece para substituir trabalhadores mais jovens num perigoso trabalho: a manutenção da estação nuclear de Fukushima, que foi seriamente afectada pelo grande terramoto de três meses atrás. Os reparos envolvem altos níveis de radioactividade cancerígena.

Em entrevista à BBC, o voluntário Yasuteru Yamada, que tem 72 anos e negocia com o reticente governo japonês e com a empresa, usa uma lógica tão simples quanto assombrosa: "Em média, devo viver mais uns 15 anos. Já um cancro vindo da radiaçãolevaria de 20 a 30 anos para surgir. Logo, nós que somos mais velhos temos menos risco de desenvolver cancro", afirma Yamada.

É arrepiante. Em contrapartida ao individualismo actual - e lidando de uma maneira absolutamente realista em relação à vida e à morte -sexagenários e septuagenários querem dar uma última contribuição: ser úteis nos seus últimos anos e permitir que alguns jovens possam chegar às idades deles com saúde e disposição semelhantes.

O que mais impressiona em toda a história é a matemática da vida. A morte não é para eles um problema a ser solucionado - ou talvez corrigido, pela hipótese mística da vida eterna que a medicina e a biologia tentam encapar e da qual as revistas de boa saúde nos tentam convencer; a morte é, de facto, a constante da equação.

Nada que o mundo ocidental não conheça. O filósofo alemão Georg Friedrich Hegel (1770-1831) certa vez definiu "mestre" como alguém desapegado da vida a ponto de enfrentar a morte, enquanto "servo" seria um escravo do desejo de continuar vivo - e que obedeceria mais às regras que lhe garantissem mais vida. Em consequência, o servo anula a sua vontade de transformar o mundo e a si mesmo.
Criados numa sociedade de consumo, corremos o risco de levar essa escravidão às últimas, defendendo a boa saúde e os confortos com muito mais afinco do que aquilo que podemos fazer por nós e pelos outros enquanto ainda gozamos dela.
Os senhores do Japão ensinam que a morte é a hora em que podemos continuar a existir na memória das pessoas.

Agrad  Amílcar Granjo

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