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03/07/2011

Cristo está todo inteiro no Sacramento da Eucaristia?

Parece que Cristo não está todo neste sacramento:

1. Com efeito, Cristo começa a estar neste sacramento pela conversão do pão e do vinho. Ora, está claro que o pão e o vinho não podem converter-se nem na divindade de Cristo nem na sua alma. Logo, uma vez que Cristo está composto de três substâncias, a saber a divindade, a alma e o corpo, parece que Cristo não está todo neste sacramento.
2. Além disso, Cristo está neste sacramento como alimento dos fiéis, a modo de comida e de bebida. Ora, o Senhor diz: “A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida(Jo 6, 56). Portanto, estão presentes neste sacramento somente a carne e o sangue de Cristo. Existem muitas outras partes do corpo de Cristo, por exemplo, os nervos, os ossos, etc. Logo, Cristo não está todo inteiro neste sacramento.
3. Ademais, um corpo de tamanho maior não pode estar todo inteiro num de dimensão menor. Ora, o tamanho do pão e do vinho consagrados é muito menor que o do corpo de Cristo. Logo, Cristo não está todo inteiro neste sacramento.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, Ambrósio afirma: “Cristo está neste sacramento”.

É absolutamente necessário confessar, segundo a fé católica, que Cristo está todo neste sacramento. A realidade de Cristo está presente neste sacramento de dois modos: pela força do sacramento e por uma concomitância natural. Pela força do sacramento, está sob as espécies sacramentais aquilo em que directamente se converte a substância do pão e do vinho anteriormente existente. Isso vem significado pelas palavras da forma, que são eficazes neste e nos outros sacramentos, por exemplo, quando diz “Isto é o meu corpo”, “Isto é o meu sangue”. Por uma concomitância natural, está presente neste sacramento o que realmente está unido àquilo em que termina a conversão. Se duas coisas estão realmente unidas, onde uma estiver realmente, a outra estará também. Somente por uma operação mental se distinguem as coisas que estão realmente unidas.

Suma Teológica, III, 76, 1

Quanto às objecções iniciais, portanto, deve-se dizer que:

1. Como a conversão do pão e do vinho não termina na divindade nem na alma de Cristo, consequentemente estas não estão aí pela força do sacramento, mas por real concomitância. [i] Porque a divindade nunca abandonou o corpo de Cristo que ela assumiu, onde estiver tal corpo, aí necessariamente estará a divindade. Portanto, neste sacramento a divindade de Cristo deve acompanhar forçosamente o seu corpo. Por isso, no Símbolo efesino se lê: “Participamos do corpo e sangue de Cristo, não como recebendo uma carne comum, nem como homens santificados e unidos ao Verbo por uma união moral, mas como recebendo a verdadeira carne vivificante e própria do mesmo Verbo”.
A alma separou-se realmente do corpo. Por isso, se naqueles três dias em que Cristo esteve na sepultura, se celebrasse este sacramento, não estaria nele a alma, nem pelo poder do sacramento nem pela concomitância real. Ora, porque “ressuscitado dentre os mortos, Cristo não morre mais”, como está em Romanos (6, 9), a sua alma está sempre realmente unida ao corpo. Por conseguinte, neste sacramento o Corpo de Cristo está presente pelo poder do sacramento, a alma porém, por concomitância real.
2. Pela força do sacramento está presente nele no caso da espécie de pão não só a carne, mas o corpo inteiro de Cristo, isto é, os ossos, os nervos, etc. E isso aparece da própria forma deste sacramento, que não diz: “Esta é a minha carne”, mas “Isto é o meu corpo”. Por isso, quando o Senhor diz “a minha carne é verdadeira comida”, a palavra carne tem o sentido de todo o corpo, porque, conforme o costume humano, tal palavra se apropria melhor ao gesto de comer. Pois, os homens comem comummente a carne animal e não os ossos ou coisa semelhante.
3. Depois da conversão do pão no corpo de Cristo ou do vinho no sangue, os acidentes de ambos permanecem. Daí se segue evidentemente que as dimensões do pão e do vinho não se convertem nas dimensões do corpo de Cristo, mas uma substância em outra substância. Assim, pela força do sacramento, está presente nele a substância do corpo de Cristo ou do sangue, não, porém, as dimensões do corpo ou do sangue de Cristo. Por isso, é claro que o corpo de Cristo está neste sacramento segundo o modo da substância e não segundo o modo da quantidade. No entanto, a própria totalidade da substância está presente indiferentemente numa quantidade pequena ou grande: assim como toda a natureza do ar está numa quantidade grande ou pequena dele ou toda natureza humana está num homem grande ou pequeno. Por isso, toda a substância do corpo de Cristo e do sangue está presente neste sacramento depois da consagração, como antes dela estava aí a substância do pão e do vinho.





[i] Essa teoria da concomitância, que permite afirmar que Cristo inteiro está presente no sacramento, e sob cada uma das espécies, é muitas vezes empregada para justificar a legitimidade da comunhão sob uma só espécie. Mas não é porque essa teoria é utilizada com esse fim que ela deixa de possuir um valor próprio. O Concílio de Trento (sessão 13, cap. 3) cobre-a com sua autoridade. A “teoria” não é de fé, mas sim a asserção de que Cristo inteiro está contido no sacramento.

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