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26/03/2011

An Airport Encounter


Observando

Quando esperava o tapete rolante para me levar ao terminal, um homem, talvez nos seus quarenta e poucos anos, aproximou-se de mim. “Fui criado como Católico, disse, e agora como pai de dois rapazes, não posso olhar para si ou qualquer outro sacerdote sem pensar num abusador sexual.

Foi apenas a terceira vez que tal me aconteceu em quase trinta e cinco felizes anos como sacerdote, todas as três nos últimos nove anos e meio.

Outros sacerdotes dizem-me que tal lhes aconteceu muito mais vezes.
Três...é demais. De cada vez fiquei tão abalado que fiquei muito perto da náusea.

“O Senhor é um Padre Católico, perguntou cortesmente.”
“Com certeza que sim. Prazer em conhecê-lo,” respondi estendendo a mão.


Ignorou-a. Fiquei na expectativa de qualquer coisa menos boa mas não estava preparado para o tom cortante e afiado como navalha com que prosseguiu: “Fui criado como Católico,” disse, “e agora como pai de dois rapazes, não posso olhar para si ou para qualquer outro sacerdote sem pensar num abusador sexual.”

O que responder? Gritar-lhe o meu espanto? Afastá-lo? Pedir desculpa? Bater-lhe? Exprimir compreensão? Devo admitir que tais reacções me ocorreram enquanto olhava para ele com vergonha e repulse pelo dano da ferida que me infligiu com aquelas cortantes palavras.

Recuperei o suficiente para dizer: “Tenho verdadeira pena que se sinta assim. Mas, deixe-me perguntar-lhe, você presume automaticamente um abusador sexual quando vê um Rabi ou um ministro Protestante?”
“De forma alguma,” retorquiu com os dentes cerrados enquanto, ambos, subíamos para o tapete rolante.
“E quando vê um treinador desportivo, ou um chefe de escuteiro, ou um pai adoptivo, ou um conselheiro, ou um médico?” Continuei.
“De maneira nenhuma” respondeu, “o que é que tudo isso tem a ver com o caso”?
“Bastante,” continuei, “porque cada uma dessas profissões tem uma elevada percentagem de abuso sexual, se não maior, que a dos padres.”
“Bem, pode ser…mas a Igreja é o único grupo que conheço que sabia o que estava a acontecer e não fez nada acerca disso, continunado a transferir os pervertidos para outros lugares.”
“Obviamente o senhor nunca ouviu falar das estatísticas acerca dos professores escolares” observei. “Só na minha cidade de Nova Iorque, os técnicos dizem que a percentagem de abuso sexual no meio dos professores escolares é dez vezes maior que a dos padres, e estes abusadores também são transferidos para outros locais”
A isto...não disse nada, assim parti para um novo “ataque”.

“Perdoe-me por ser tão brusco, mas o senhor também o foi comigo, por isso, deixe-me perguntar: quando se olha no espelho, vê um abusador sexual?”

Agora tinha sido apanhado desprevenido tal como eu tinha sido dois minutes antes. “Que diabo é que está a dizer?”

“Infelizmente”, respondi, “estudos dizem-nos que grande parte das crianças sexualmente abusadas, são vítimas dos seus próprios pais e outros familiares.”

Chega de debate, conclui, ao vê-lo atordoado. Tentei acalmá-lo.

“Pois, deixe que lhe diga: quando olho para si não vejo um abusador sexual, e espero a mesma consideração de si.”

O tapete tinha chegado ao local da recolha da bagagem e ambos saímos para a recolher.

“Então se é assim, porque é só ouvimos este lixo acerca de vocês, padres,” perguntou, enquanto absorvia melhor o que lhe dissera.
“Nós, padres, pensamos o mesmo. Tenho algumas razões para tal se estiver interessado em saber.”
Assentiu com a cabeça enquanto nos dirigíamos vagarosamente para o carrossel da bagagem.

“Primeiro”, continuei, “nós padres merecemos um escrutínio mais intenso, porque as pessoas confiam em nós já que nos dizemos representantes de Deus, assim, quando um de nós o faz – ainda que uma escassa minoria alguma vez o tenha feito – é mais reprovável.”
“Segundo, temo que haja muitos por aí que não têm amor pela Igreja, e anseiam por arruinar-nos. Esta é a razão porque desejam atacar-nos continuamente com isso.”
E, em terceiro lugar, detesto dizê-lo, há uma considerável soma de dinheiro a ganhar processando a Igreja Católica, enquanto de pouco vale processar os outros grupos que mencionei há pouco.”
Ambos tínhamos já a nossa bagagem e dirigimo-nos para a porta. Então estendeu-me a mão, a mão que não me tinha estendido cinco minutos antes quando eu lhe estendera a minha. Cumprimentámo-nos.

“Obrigado. Estou feliz por o ter conhecido”

Parou um momento. “Sabe, penso nos grandes padres que conheci quando era jovem. E agora, porque trabalho no IT na Regis University, conheço alguns devotos Jesuítas. Não deveria julgar todos vocês por causa dos pecados horríveis de uns poucos.”
“Obrigado” sorri.

Pensei que as coisas estavam arrumadas, porque, enquanto nos afastava-mos, acrescentou, “Pelo menos devo-lhe uma anedota: O que acontece quando não pode pagar ao seu exorcista?”

“Apanhou-me,” respondi.

“Fica re-possesso!”

Ambos nos rimos e separámo-nos.

Não obstante o final feliz, ainda tremia…e quase que me sentia necessitado de um exorcismo para expelir a minha alma despedaçada, uma vez que tinha de enfrentar mais uma vez o horror desta total confusão para as vítimas e as suas famílias, o nosso povo Católico tal como o homem que tinha acabado de conhecer…e a nós padres.

ARCHBISHOP TIMOTHY DOLAN,[i] in CERC


[i] THE AUTHOR:
Archbishop Timothy Michael Dolan was named Archbishop of New York by Pope Benedict XVI on February 23, 2009. Born February 6, 1950, Archbishop Dolan was ordained to the priesthood on June 19, 1976. He completed his priestly formation at the Pontifical North American College in Rome where he earned a License in Sacred Theology at the Pontifical University of St. Thomas. In 1994, he was appointed rector of the Pontifical North American College in Rome where he served until June 2001. While in Rome, he also served as a visiting professor of Church History at the Pontifical Gregorian University and as a faculty member in the Department of Ecumenical Theology at the Pontifical University of St. Thomas Aquinas. The work of the Archbishop in the area of seminary education has influenced the life and ministry of a great number of priests of the new millennium. Archbishop Dolan is the author of Doers of the Word: Putting Your Faith Into Practice, To Whom Shall We Go?, and Advent Reflections: Come, Lord Jesus!.

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