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11/02/2011

Evangelho e comentário do dia

Tempo comum - V Semana


Evangelho: Mc 7, 31-37 

31 Jesus, deixando o território de Tiro, foi novamente por Sidónia para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. 32 Trouxeram-Lhe um surdo-mudo, e pediam-Lhe que lhe impusesse as mãos.33 Então, Jesus, tomando-o à parte de entre a multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos, e tocou-lhe com saliva a língua. 34 Depois, levantando os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: «Effathá», que quer dizer «abre-te». 35 Imediatamente se lhe abriram os ouvidos, se lhe soltou a prisão da língua e falava claramente. 36 Ordenou-lhes que a ninguém o dissessem. Porém, quanto mais lho proibia mais o divulgavam. 37 E admiravam-se sobremaneira, dizendo: «Tudo fez bem! Faz ouvir os surdos e falar os mudos!».

Comentário: por P. Raniero Cantalamessa, (pregador da casa Pontifícia.)



Jesus não fazia milagres como quem move uma varinha mágica ou estala os dedos. Aquele «gemido» que deixa escapar no momento de tocar os ouvidos do surdo diz-nos que Se identificava com os sofrimentos das pessoas, participava intensamente na sua desgraça, encarregava-se dela. (…)
Os milagres de Cristo jamais são fins em si mesmos; são «sinais». O que Jesus fez um dia por uma pessoa no plano físico indica o que Ele quer fazer cada dia por cada pessoa no plano espiritual. O homem curado por Cristo era surdo-mudo, não podia comunicar-se com os outros, ouvir sua voz e expressar seus próprios sentimentos e necessidades. Se a surdez e mudez consistem na incapacidade de comunicar-se correctamente com o próximo, de ter relações boas e belas, então devemos reconhecer que todos somos, uns mais, outros menos, surdos-mudos, e é por isso que Jesus dirige a todos aquele Seu grito: efatá, abre-te!
A diferença é que a surdez física não depende do sujeito e é totalmente sem culpa, enquanto a moral é culpável.
Hoje evita-se o termo «surdo» e prefere-se falar de «incapacidade auditiva», precisamente para distinguir o simples facto de não ouvir da surdez moral.
Somos surdos, por exemplo, quando não ouvimos o grito de ajuda que se eleva para nós e preferimos pôr entre nós e o próximo o «vidro duplo» da indiferença. Os pais são surdos quando não entendem que certas atitudes estranhas ou desordenadas dos filhos escondem um pedido de atenção e de amor. Um marido é surdo quando não sabe ver no nervosismo de sua mulher o sinal do cansaço ou a necessidade de um esclarecimento. E o mesmo quanto à esposa.
Estamos mudos quando nos fechamos, por orgulho, num silêncio esquivo e ressentido, enquanto talvez com uma só palavra de desculpa e de perdão poderíamos devolver a paz e a serenidade ao nosso lar. Os religiosos e as religiosas têm, no dia, tempos de silêncio, e às vezes acusam-se na Confissão, dizendo: «Quebrei o silêncio». Penso que às vezes deveríamos acusar-nos do contrário e dizer: «Não quebrei o silêncio».
O que, contudo, decide a qualidade de uma comunicação não é simplesmente falar ou não falar, mas falar ou não fazê-lo por amor. Santo Agostinho dizia às pessoas num discurso: É impossível saber em qualquer circunstância o que é o justo que se deve fazer: se falar ou calar, se corrigir ou deixar passar algo. Eis aqui então que se dá uma regra que vale para todos os casos: «Ama e faz o que quiseres». Preocupa-te de que em teu coração haja amor; depois, se falas, será por amor, se calas, será por amor, e tudo estará bem porque do amor não brota mais que o bem.
A Bíblia permite entender onde começa a ruptura da comunicação, de onde vem nossa dificuldade para relacionar-nos de uma maneira sã e bela uns com os outros. Enquanto Adão e Eva estavam em boas relações com Deus, também sua relação recíproca era bela e extasiante: «Esta é carne de minha carne...». Enquanto se interrompe, pela desobediência, sua relação com Deus, começam as acusações recíprocas: «Foi ele, foi ela...».
É aí onde é preciso recomeçar cada vez. Jesus veio para «nos reconciliar com Deus» e assim reconciliar-nos uns com os outros. Ele fá-lo sobretudo através dos sacramentos. A Igreja sempre viu nos gestos aparentemente estranhos que Jesus realiza no surdo-mudo (pôr os dedos nos ouvidos e tocar a língua) um símbolo dos sacramentos graças aos quais Ele continua «tocando-nos» fisicamente para curar-nos espiritualmente. Por isso, no baptismo, o ministro realiza sobre o baptizando os gestos que Jesus realizou sobre o surdo-mudo: põe-lhe os dedos nos ouvidos e lhe toca a ponta da língua, repetindo a palavra de Jesus: efatá, abre-te!
Em particular, o sacramento da Eucaristia ajuda-nos a vencer a incomunicabilidade com o próximo, fazendo-nos experimentar a mais maravilhosa comunhão com Deus.

(P. Raniero Cantalamessa, ofmcap., sobre a liturgia do Domingo XXIX do tempo comum. 20 de Outubro de 2006) 

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