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23/01/2011

Voltaire na hora da morte




OBSERVANDO
Voltaire escreveu um dia a Bayle, desconsolado e triste, a lamentar que os seus amigos se desonrassem, quase todos na morte, chamando o padre, confessando-se, comungando, e repudiando, como perigosa e falsa a sua antiga rebeldia anticristã, mais cómoda, ao que parece, para viver, do que para morrer! E é sabido que o mesmo Voltaire se teria desonrado - também, confessando-se e comungando, se lho tivessem consentido d'Alembert e Diderot. d’Alembert, por seu turno, quando viu que a morte se avizinhava, mandou chamar, para se confessar, o pároco de Saint-Germmain, que Condorcet não deixou entrar, o mesmo sucedendo, a Diderot, que se teria confessado ao pároco de S. Sulpicio, o bom P.' Térsac, se os e amigos o não impedissem de o fazer.  

(Cfr. A. Veloso, BROTÉRIA, Vol. LVI, Fasc. 4, 1953, pag. 278) 

Duas notas com interesse:




Nota 1:  
Correu que, Diderot terá estranhado a Voltaire que tendo ele durante toda a sua vida negando a existência de vida para além da morte, este lhe terá respondido: - E…se há?

Nota 2:  
Sobre essa postura, o catedrático de filosofia Carlos Valverde escreve um surpreendente artigo, no qual documenta uma suposta mudança de comportamento do filósofo francês em relação à fé cristã, registada no tomo XII da famosa revista francesa Correspondance Littérairer, Philosophique et Critique  (1753-1793). Tal texto traz, no número de Abril de 1778, páginas 87-88, o seguinte relato literal de Voltaire:


"Eu, o que escreve, declaro que havendo sofrido um vómito de sangue faz quatro dias, na idade de oitenta e quatro anos e não havendo podido ir à igreja, o pároco de São Suplício quis de bom grado me enviar a M. Gautier, sacerdote. Eu me confessei com ele, se Deus me perdoava, morro na Santa Religião Católica em que nasci esperando a misericórdia divina que se dignará a perdoar todas minhas faltas, e que se tenho escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a ela. Assinado: Voltaire, 2 de Março de 1778 na casa do marquês de Villete, na presença do senhor abade Mignot, meu sobrinho e do senhor marquês de Villevielle. Meu amigo."



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