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18/01/2011

Sobre a dor e sofrimento humanos


OBSERVANDO
Li hoje esta noticia:

«Tertúlia sobre a dor

Lisboa, 13 Jan (Ecclesia) - No próximo «Café com Fitas», dia 17 de Janeiro, o tema da «Dor» estará em destaque no restaurante «A sede» dos Hospitais da Universidade de Coimbra com a presença das médicas Ana Valentim e Dulce Manuela e da enfermeira Sara Cunha.

Estas tertúlias são organizadas pelo Serviço de Assistência e Espiritual e Religiosa dos HUC, Associação Médicos Católicas de Coimbra, Comissão Diocesana da Pastoral da Saúde, Coordenação das capelanias hospitalares da Diocese de Coimbra e o Serviço Pastoral do Ensino Superior.»

Veio-me à memória um episódio ocorrido há doze anos atrás, no Hospital de Viana do Castelo.

A pedido do Bispo de Viana do Castelo tentou-se incrementar o apostolado junto dos médicos do Hospital local.

O Zé Maria Cabral acabara de publicar um livro sobre a dignidade do sofrimento humano - de sofrimento sabia ele sobejamente já que morria aos poucos de uma leucemia irreversível - e, eu, convidei-o para uma palestra no hospital.
Com as coisas mais ou menos preparadas por um jovem médico que frequentava meios de formação cristã na Meadela, lá partimos num automóvel que o Zé Maria insistiu em conduzir. Na mala levava-mos duas ou três caixas do livro.

Deparámo-nos com uma sala cheia com quatro ou cinco pessoas, contando connosco e o meu amigo médico. Isso não impediu o Zé Maria de subir à mesa colocada numa espécie de palco e começar a falar.

Fiquei-me cá para trás a ver em que paravam as modas e, de vez em quando abria-se a porta aparecia uma cabeça, escutava um pouco e logo ia sentar-se numa das últimas filas de cadeiras.

No palco o Zé Maria explicava que era médico, que era um doente em fase terminal e que, o sofrimento e a dor, podem ser perfeitamente aproveitadas para bem pessoal e do próximo. Falou abertamente da santificação do sofrimento, da doença, da ética, da caridade, do carinho, da atenção a ter com os doentes.

O movimento da porta continuava: entreabria-se uma cabeça espreitava, ouvia um bocadinho e logo alguém se ia sentar. Não tardou muito a que a sala ficasse repleta de pessoal médico, de enfermagem, auxiliares…

O Zé Maria falava, falava e o silêncio absoluto era a prova evidente de que as suas palavras tinham o auditório em suspenso.

Muito cansado teve de acabar. Foi quando tive uma ideia brilhante:

Subi ao palco e disse, mais ou menos, que tinha ali a última obra do orador, que custava xis e que, se o desejassem ia ao carro buscá-los. Disseram que sim e, enquanto massacravam o pobre Zé Maria com perguntas, lá fui eu buscar os livros.

Venderam-se todos!

Tesíssimos como estávamos - eu… como habitualmente, o Zé Maria porque gastara quanto tinha em tratamentos - veio mesmo a jeito para um excelente jantar a que nos dedicámos com muita gana e muitíssimo bom-humor.

Uns meses depois, de passagem por Fátima, encontrei o Senhor D. Armindo, nessa altura, Bispo de Viana.
Disse-me que tinha sabido da conferência e do interesse que tinha despertado e que tinha muito empenho em que se repetisse.

Brevemente, respondi-lhe que tal não era possível, porque o conferente, responsável pelo “êxito” da acção apostólica, já tinha partido para o Céu.

(ama, 2011.01.18)

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