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17/01/2011

O Poder: a Verdade e a Mentira



OBSERVANDO

Há um ror de anos, vi um filme que, até hoje, tenho bem presente na memória e cujo enredo era:

“No início do fascismo em Itália, quando Mussolini se preparava para assumir o poder e já tinha apaniguados seus aos “comandos” de várias comarcas, numa pequena cidade aconteceram uma série de crimes de violação de jovens.

A polícia fascista da cidade empenhou-se a fundo e conseguiu descobrir o famigerado violador.

Claro que, as parangonas nos jornais e panfletos afixados em todas as ruas da cidade com a fotografia do criminoso, exaltavam a capacidade da justiça fascista, a celeridade com que o sujeito tinha sido descoberto, julgado e condenado a uns bons anos de cárcere. Toda a gente ficou a saber quem era o desgraçado, o que tinha feito e louvou a excelência da justiça fascista. Como o criminoso era casado e tinha filhos, a mulher e a restante família tiveram de mudar-se para outro local bem afastado da cidade onde os crimes tinham ocorrido, uma vez que não suportavam a vergonha de serem apontados nas ruas, as crianças expulsas das escolas etc.

Passados uns meses, quando Mussolini já era o Duce, com poderes supremos sobre toda a Itália, é, na mesma cidade, apanhado um fulano em flagrante acto de violação de uma menor.

Prontamente detido e depois de severamente interrogado, confessou que era ele o perpetrador de todas as violações ocorridas e algumas mais que a policia desconhecia. Claro que foi preso e condenado a pesadíssima pena e o desgraçado que estava preso foi libertado sem mais.

Posto perante os factos, Mussolini dá ordens terminantes à imprensa, rádio etc., que não emitisse nem uma palavra sobre ao assunto. Era imperioso que ninguém pudesse tomar conhecimento do erro monumental cometido pelas autoridades fascistas meses atrás. O fascismo não podia enganar-se nem arcar com a responsabilidade de uma injustiça de tal calibre.

Assim foi que, o pobre homem não podia sair à rua já que, conhecido como era e não tendo sido dita, ou escrita, uma palavra sobre a sua libertação e a que se devia, toda a gente pensava que era um foragido e caiam em cima dele sem dó nem piedade entregando-o sob os piores maus tratos, na esquadra próxima. Pela noite, a polícia soltava-o novamente, sempre, sem uma palavra, uma breve explicação que fosse.

Obviamente, ninguém lhe dava emprego e, a morrer de fome, e tendo conseguido descobrir o paradeiro da família lá conseguiu ir ao seu encontro.

A recepção foi catastrófica porque por mais que contasse à mulher e aos filhos o que tinha acontecido, estes não acreditavam nele e não o receberam.

O filme acaba da pior maneira: desesperado, sem eira nem beira, profundamente ferido na honra que não conseguia recuperar, ostracizado pela sociedade e pela própria família, o pobre homem enforca-se, tal como Judas, numa oliveira.”

Percebe-se a razão do título em epígrafe? Se o Poder não diz a verdade...mente?

AMA, 2011.01.19

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