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20/01/2011

O guarda-chuva londrino e o Candidato português



OBSERVANDO


Na hora do rush na City de Londres, já lá vão uns bons anos, assistia-se ao costumado espectáculo de desfile apressado de executivos a caminho do transporte para casa. Todos vestidos de igual, fato escuro com risquinhas brancas, chapéu de coco, sapatos de um negro brilhante e, claro, o inseparável guarda-chuva, enrolado com extremo rigor. Era Agosto e, a tarde, apresentava-se amena.

De repente, o céu escurece e desaba uma chuvada diluviana. Quase coreograficamente, os guarda-chuvas abriram-se e o cortejo prosseguiu imperturbável sempre no mesmo passo calmo e concentrado.


Notou-se, porém, algo estranho, um dos impecáveis e fleumáticos passantes, mantinha o guarda-chuva enrolado. A breve trecho ficou uma sopa, do coco escorria água como numa fonte, o fato escuro de risquinhas brancas parecia um trapo, dos sapatos espirrava água a cada passo do, sempre imperturbável sujeito.

Acontece que o bus demorou imenso tempo e quando, finalmente, conseguiu embarcar um formidável espirro anunciou que a monumental molha teria consequências.

E, de facto teve. 


A noite foi passada num tormento, de manhãzinha veio uma ambulância transportá-lo para o hospital e, pelas três da tarde sucumbia à pneumonia galopante.

No dia seguinte foi o funeral e, à saída de casa, o filho que viera de Cambridge para acompanhar o Pai à última morada, e porque a chuva continuava, pegou no guarda-chuva do defunto, no bengaleiro à porta da rua onde, desde que se lembrava, sempre estivera.

Ao abrir o mesmo revelou-se algo impensável: o guarda-chuva estava cheio de buracos, uns pequenos, outros enormes que, como é natural em buracos, deixavam passar a chuva.


O que tem esta linda história a ver com o Candidato?

Parece-me óbvio. Pode este ser impecável e muito bem apresentado na teoria, mas…será que não está cheio de buracos que deixam passar leis iníquas e aberrantes?

ama, 2011.01.20

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