Páginas

08/08/2010

Evangelho para 08 Ago

Evangelho: Lc 12, 32-48

32 Não temais ó pequenino rebanho, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o reino. 33 Vendei o que possuís e dai esmola; fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inesgotável no céu, onde não chega o ladrão, nem a traça corrói. 34 Porque onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. 35 «Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas.36 Fazei como os homens que esperam o seu senhor quando volta das núpcias, para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. 37 Bem-aventurados aqueles servos, a quem o senhor quando vier achar vigiando. Na verdade vos digo que se cingirá, os fará pôr à sua mesa e, passando por entre eles, os servirá. 38 Se vier na segunda vigília, ou na terceira, e assim os encontrar, bem-aventurados são aqueles servos. 39 Sabei que, se o pai de família soubesse a hora em que viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria arrombar a sua casa. 40 Vós, pois, estai preparados porque, na hora que menos pensais, virá o Filho do Homem».
Comentário:

Quantas vezes o Senhor repete este aviso solene: Estai preparados, vigiai e orai, não sabeis nem o dia nem a hora!
Ao contrário do que possa inferir-se, não é uma ameaça velada mas antes um aviso, um conselho amigo e preocupado com a felicidade dos homens – todos os homens -.
A tal “teoria” que se houve: “quando chegar a altura, arrependo-me e, já está, Deus é misericordioso e não deixará de salvar-me”, é uma estranha e perigosa decisão.
Estranha porque se alguém pensa assim é porque realmente, bem no fundo, se preocupa com o seu futuro eterno; perigosa, porque ninguém pode garantir que terá tempo – um milésimo de segundo que seja – para o arrependimento.
Lembro-me sempre do que se terá passado com Voltaire na hora da morte:
Tendo pedido um padre disseram-lhe, estranhando: Um padre?! Mas tu passaste toda a tua vida a afirmar que para lá da morte não há mais nada! O moribundo, com voz apagada, terá respondido: Pois… mas… e se há?!
Parece inteligente e aceitável que nos preocupemos, hoje, agora, com o futuro que não sabemos quando será. De certa forma, poder-se-ia dizer: mais vale prevenir…
Se não nos arrependemos e confessamos as nossas faltas movidos pelo amor a Deus e a dor de O ter ofendido, façamo-lo, ao menos, por nós porque, sim, é verdade, Deus quer que todos os homens se salvem! 

(ama, comentário sobre Lc 12, 32-48, 2010.07.07)

Filiação Divina 2


Ele primeiro escolhe o homem, no Filho eterno e consubstancial, para participar na filiação divina, e só depois quer a criação do mundo.

(joão Paulo II, Discurso, 1986.05.28, nr. 4, trad do castelhano por ama)

A ECONOMIA DOS DEVERES


No número 43 da encíclica «Caritas in Veritate», Bento XVI sublinha uma ideia muito importante: «Os direitos pressupõem deveres, sem os quais o seu exercício se transforma em arbítrio». Talvez nos baste recordar a definição clássica de justiça, que é: «dar o seu a seu dono»; e não «reivindicar o que é meu». Muitas vezes posso renunciar ao que é meu sem faltar à justiça; mas falto sempre à justiça quando não dou aos outros o que é deles. Logo, a justiça é primariamente um dever para com os outros; só secundariamente um direito meu: tenho direito ao trabalho, porque devo trabalhar; o direito à vida, porque devo conservá-la para pagar o que recebi de Deus, da família, da sociedade; o direito a educar os filhos, por serem os pais os primeiros responsáveis pela sua vinda ao mundo; o direito aos livros, para quem deve estudar; etc.
Se reconheço o meu dever para com os outros, logo sei quais os meus direitos. Mas quando parto de mim, dos meus interesses, a lista dos direitos torna-se tão longa e confusa como a dos meus apetites. Como diz o Santo Padre, «os direitos individuais, desvinculados de um quadro de deveres, (…) enlouquecem e alimentam uma espiral de exigências praticamente ilimitada e sem critério» (ibid.). Os deveres aparecem-nos então apenas como simples compensação social dos tais direitos, e levam-nos, naturalmente, a regatear essa «paga» o mais possível, convertendo a moralidade em habilidade legalista. A sociedade começa a «funcionar» ao contrário: em vez da solidariedade, um clima de egoísmo, agressividade e até de corrupção, que conhecemos bem, infelizmente.
Se os direitos individuais procedem dos deveres, os direitos da família, do Estado, das autarquias, das empresas – de todos os «corpos intermédios», afinal - procedem e medem-se por critério idêntico. Muitas das nossas crises se explicam por vivermos para os direitos e não para os deveres. Já me dizia o velho porteiro: - «Éramos catorze filhos, de pais pobres, e nunca passámos fome. É o que eu digo a esta gente: olhem para os passarinhos; cada um a picar para comer… Cada um de nós procurava um serviço qualquer, e havia para todos! Mas esta gente nova fica para aí parada, à espera de subsídios!» Porque a verdade é que, se me dedico a servir as necessidades dos outros, não me falta trabalho; se me dedico a «realizar-me», nunca mais me aparece o trabalho ideal, por mais que o reclame do governo.
Ao esperarmos tudo do Estado, estamos a cavar a nossa própria sepultura. E, de facto, o Estado a que nos habituámos - e que supera muitos absolutismos passados – manda em tudo e muda a seu bel-prazer as próprias regras que estabeleceu, mas continuamos a esperar dele o que os servos da gleba esperavam dos velhos barões, encostando as casas às muralhas protectoras do seu senhor. Um encosto maior por cada crise… e temos a nação subjugada, e o Estado tornado presa de todos os problemas do país.


Pe. Hugo de Azevedo