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29/10/2010

Celibato na Igreja

Crónicas Vaticanas: o celibato na Igreja       


13/11/2009
JT: Ultimamente, se voltou a falar muito do celibato, uma questão muito delicada para o Vaticano, destinada a reemergir constantemente, como demonstram os fatos recentes. Nas Crónicas Vaticanas desta semana, falaremos da história do celibato e de seus últimos desdobramentos. Sou John Thavis, chefe de redacção em Roma de Catholic News Service.
JT: Enquanto isso, as Igrejas orientais continuaram a ordenar homens solteiros e casados, estabelecendo no entanto que os padres não podem se casar depois da ordenação, e que os bispos devem se manter celibatários. Um resultado dessas tradições separadas, apesar de os católicos não se lembrarem, é que a Igreja hoje tem padres casados nos ritos católicos orientais. De fato, os representantes da Igreja estão conscientes de que o celibato sacerdotal é uma regra, não um dogma, e que está sujeita a possíveis mudanças ou excepções, sobretudo em circunstâncias especiais.
JT: Bem, o Vaticano disse claramente que no geral não mudará nada e citou o Concílio Vaticano II ao louvar o valor do celibato como estímulo à caridade pastoral. Nos últimos 25 anos, assistimos a atentas discussões sobre sacerdotes casados, normalmente por ocasião dos Sínodos dos Bispos. Penso que um primeiro exemplo ocorreu no Sínodo de 1990 sobre a formação sacerdotal: primeiramente, um pequeno grupo de bispos sugeriu a ordenação de homens casados de fé sólida, e depois, quase por reacção, o Sínodo, por unanimidade, acabou por reafirmar fortemente o celibato – como fez o próprio Papa João Paulo II, para o qual o pedido de ordenar homens casados representava uma "propaganda" contra uma das tradições mais válidas da Igreja.
JT: Uma das argumentações práticas apresentada por quem é favorável aos padres casados é a penúria de sacerdotes em muitas partes do mundo. Em lugares como o Brasil, por exemplo, existem mais de oito mil católicos para cada sacerdote – ou seja, três vezes mais a média nos Estados Unidos. Mas, até agora, os pedidos de suspensão nessas regiões da regra do celibato sempre se confrontaram com a firme oposição do Vaticano. Como disse recentemente o papa, a questão principal dos padres de hoje é a qualidade, não a quantidade.
JT: E eu sou John Thavis, de Catholic News Service.
CW: E eu sou Cindy Wooden, correspondente em Roma de CNS. Os eruditos dentro da Igreja têm pontos de vista diferentes sobre a história do celibato. Em geral, convêm sobre o fato que o Novo Testamento considera o celibato como uma imitação de Cristo e uma forma privilegiada de dedicação a Deus, mas não o consideram obrigatório para os padres. Nos primeiros três séculos do Cristianismo, não existiam normativas que proibissem os padres casados, e portanto o celibato era facultativo. Progressivamente, no entanto, a Igreja ocidental iniciou a colocar restrições aos padres casados, até que no século XII tornou o celibato uma condição indispensável para a ordenação.
CW: E assim chegamos aos últimos factos: a nova iniciativa do Vaticano para acolher os ex-anglicanos na Igreja Católica permite aos anglicanos casados de se tornarem católicos, mesmo analisando caso por caso. Para alguns, isso foi visto como um sinal que o Vaticano pretende afastar-se da regra geral do celibato, mas esta semana o Vaticano reafirmou que não é assim.
CW: E o Papa Bento XVI parece que reagiu no mesmo modo às vozes que circularam recentemente sobre o futuro do celibato sacerdotal. Visitando o norte da Itália, na semana passada, afirmou que o celibato é o caminho através do qual o sacerdote “se configura mais perfeitamente a Cristo”. Poucos dias antes, o jornal vaticano publicou um longo artigo do Cardeal Dionigi Tettamanzi, que defendia o celibato como uma escolha que, ainda hoje, em tempos modernos, pode inspirar muitas pessoas.
CW: Na sua carta de abertura do Ano Sacerdotal, Bento XVI falou do celibato como um dom especial e disse que os sacerdotes devem se encorajar e se amparar uns aos outros para vivê-lo plenamente. As palavras do Papa destacaram que, também no futuro, os padres casados na Igreja ocidental continuarão a ser uma excepção à regra.


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