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15/04/2023

Mt V


 

COMENTANDO OS EVANGELHOS

SÃO MATEUS

 

Cap V

2 –

 

Pelas palavras de Jesus podemos concluir que, na Vida Eterna, não haverá como que uma “nivelação” de todos.

Haverá “grandes” e “pequenos”, o Senhor afirma-o.

Isto tem importância?

Penso que sim, embora considere que, na Vida Eterna, o Supremo Bem é a visão beatífica da Face de Deus.

Tem a ver, sim, com a obrigação de fazermos o melhor que pudermos e não nos contentarmos com os “mínimos”, como que “ir andando”, não fazendo muitos disparates, não pecando com gravidade e… pronto!

Quem assim procede corre um perigo enorme, porque quanto mais baixo se voa maior é a possibilidade de chocar com um obstáculo que trave o “voo” e, a queda, pode ser grave.

Deve ser terrível a responsabilidade de alguém que propositadamente ensina, propaga o erro, a falsa doutrina

Quanto mais grave, quanto maior a inocência e fragilidade de quem é objecto de tal procedimento mais “apertadas” serão as contas que terá de prestar.

Poderá alguém ter dúvidas sobre como alcançar a Vida Eterna?

Pelas palavras de Jesus podemos ver claramente o caminho e a obrigação.

Cumprir a Lei não basta é necessário levar outros a fazer o mesmo.

Este trecho do Evangelho pode considerar-se um autêntico e definitivo aviso de Jesus Cristo sobre o comportamento de qualquer ser humano.

Não há meias palavras nem tergiversações, mas tão só afirmações muito concretas e reais sobre o procedimento a ter como norma de vida.

Pagar o que se deve, ter atenção ao próximo e às suas necessidades, viver, em suma, com inteireza e verdade nos actos como nas acções concretas.

Estas é que têm valor, não as intenções nem os desejos.

Como posso estar "bem" com Deus quando estou "mal" com o meu próximo?

Acaso o Senhor poderia aceitar tal coisa?

Infelizmente há alguns cristãos que vão pela vida fora como actores.

Sim… não exagero!

Frequentam com assiduidade a Igreja e os Sacramentos, usam grandiloquência sobre assuntos da religião, mas, privadamente, mantêm uma lista de agravos e reivindicações que aguardam ocasião para cobrar e fazer.

Ofensas antigas, más interpretações, juízos precipitados e malévolos e coisas do mesmo género de que se sentem credores quando, na maior parte das vezes, são eles mesmos os devedores.

Há que pôr as coisas em ordem e agir com critério em toda e qualquer circunstância que o cristão é-o sempre e não apenas quando é conveniente.

Vem Jesus Cristo, neste texto de São Mateus, como que a "preparar o terreno" para o que será o Mandamento Novo.

O amor ao próximo é inseparável do amor a Deus ou, por outras palavras, não é possível amar a Deus sem amar o próximo.

Este mandamento é - se se me permite a expressão - absolutamente lógico porque sendo os homens TODOS filhos de Deus, pertencendo à Família Divina, não se concebe que não se amem entre si.

Do amor nasce a união e o Senhor quer que sejamos «Um como Ele e o Pai são UM!»

Mais uma vez o Senhor deixa bem claro que os dois primeiros mandamentos - amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos - são inseparáveis e não pode conceber-se um sem o outro.

O Senhor tem a prioridade mas esta não existirá sem a segunda.

Talvez que nunca nos demos conta que amar o próximo pode tornar-se muito mais difícil que amar a Deus.

Não nos atrevemos a "julgar" Deus ou pôr em causa se O devemos amar ou não.

Já quanto ao próximo muitas vezes guardamos ressentimentos, avaliamos a sua conduta, fazemos o papel de juízes e críticos.

E, tal excede em muito o que não podemos nem devemos fazer.

Há uma “declaração” de Jesus neste trecho de São Mateus que, forçosamente, nos fará pensar detidamente: «todo aquele que olhar para uma mulher, cobiçando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração»

Aqui se vê a importância da “guarda da vista” porque ver é algo muito diferente de reparar.

Quantos pecados – por vezes bem sórdidos – têm a sua origem na vista?

Aliás, todo o pecado, por assim dizer, é sórdido, mau, aberrante, mas, e no caso vertente, ninguém ignora que o nosso pensamento e imaginação nos levam por vezes por caminhos de incrível perversidade.

Basta um segundo, um fugaz pensamento, um desejo mal expresso e, todavia, deixámo-nos corromper.

Tenhamos bem presente o seguinte: Ao demónio não lhe interessa nada que nos concentremos na oração, que, inclusive, nos preparemos com todo o amor e compunção para receber a Comunhão Eucarística e, assim, não raramente nos assedia com pensamentos ou desejos torpes precisamente nesses momentos.

Eu diria que “a força da tentação” estará em relação directa com a intensidade da nossa união com Deus.

Está claríssimo: para haver pecado é preciso intenção e, mais, mesmo se não se pecar em acto, se houver intenção peca-se em pensamento.

É evidente que o pecado é um acto livre da vontade expressa e - nunca - algo fortuito e inocente.

É fundamental ter uma consciência bem formada e as ideias bem claras: é impossível pecar sem querer!

Porque as circunstâncias, o ambiente, o estado de ânimo... não! Nada disso tem a ver com o pecado ou pode constituir desculpa; por isso mesmo é importante a Confissão frequente porque além de recebermos orientações preciosas sobre o nosso comportamento colhemos força e ânimo para melhor resistir às tentações.

Volto a insistir: o matrimónio não é possível subsistir sem respeito.

Respeito por si mesmo como pessoa, como cristão e respeito pelo outro também como pessoa e como filho de Deus.

Quem não se respeita a si próprio na sua dignidade humana dificilmente respeitará o outro e, com tal é impossível subsistir o amor cuja base assenta na confiança absoluta que deve existir entre os cônjuges.

Cristo afirma, uma vez mais, que a Missão que O trouxe ao mundo encarnado no seio puríssimo da Santíssima Virgem, não foi para instituir uma Nova Lei mas sim para aperfeiçoar e tornar sólida e decisiva a Lei dada por Moisés no monte Sinai.

Toda a Sua pregação confirma este propósito: o Reino de Deus está no meio dos homens – todos os homens – sem distinção nem condições.

Dependerá do homem aceitá-lo e cumprir a Lei e, só assim terá garantida a salvação eterna.

Deus, contudo, é Absolutamente Justo e, por isso mesmo, não impõe mas convida.