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22/03/2022

Quaresma Semana 3 Terça F

 


(Re Mt XVIII, 21-35)

 

Neste texto, São Mateus oferece-nos considerações sobre o perdão.

A pergunta de Pedro, tem razão de ser; naquele tempo os chefes do povo não falavam de perdão, antes vincavam bem a chamada Lei de Talião.

E a resposta de Jesus é muito clara: não há limites para o perdão e, para melhor a vincar, acrescenta uma parábola.

Esta parábola espelha de modo cru e nu o que, infelizmente, se passa na sociedade dos homens em que alguns parece terem no lugar do coração um pedaço de gelo que nem o maior gesto de perdão, solidariedade, compaixão consegue derreter.

O egoísmo cega completamente a razão impedindo não só reconhecer o bem que se recebe como o desejo de proceder de igual modo.

 

Reflectindo na Quaresma

 

Olhar ao longe

 

Realmente, caminhar olhando para o chão pode ser uma medida preventiva de, por exemplo, não tropeçar nos obstáculos.

Mas, na verdade, se o olhar se dirigir em frente veremos na mesma os obstáculos mas com a vantagem de ter tempo de os evitar.

Convém pois, olhar em frente para se ter uma perspectiva mais completa e real do caminho que se percorre e, também, para não perder de vista o vulto de Cristo que nos guia.

 

Referência pessoal na Quaresma

 

Tenho uma vaga memória de, há uns anos, ter contado esta história; não interessa, conto-a porque por ser absolutamente verdadeira a lembro amiúde.

Eu estava na cama 1 de uma enfermaria de um hospital, em plena recuperação de uma cirurgia à próstata.

As outras sete camas foram ficando livres à medida que os operados iam tendo "alta", até que restei eu e o da cama oito.

Tratava-se de um pobre homem que não obstante os cuidados do pessoal de enfermagem, mantinha um aspecto hisurto, uma cara carrancuda.

Comia sofregamente as refeições como se "não houvesse mais", permanecia calado o dia inteiro e, ás minhas tentativas de "meter conversa" respondia com um grunhido.

Hoje pelo meio-dia, depois da habitual visita do médico chefe, começou uma  "cantilena": 'Estou Fodido!... Estou F...!"

Perguntei-me porque o meu colega da cama oito achava que estava F... e interroguei uma enfermeira.

Esta elucidou-me: ‘está aqui há quase mês e meio, um amigo touxe-o, meio morto, no atrelado de uma motoreta, foi operado, encontra-se bem;  soubemos que vive, se se pode dizer, num barraco miserável sem um mínimo de condições, enfim... um desgraçado, temos pena dele e fomos mantendo-o aqui, pelo menos tem uma cama, refeições a horas certas, de vez em quando toma banho; a única visita que tem é o tal amigo que de vez enquanto o vem ver mas, o novo Director do Serviço não quiz saber e, hoje, comunicou-lhe que iria ter "alta".

‘Mas, perguntei eu, e a Segurança Social... não faz nada’!?

‘Parece que não! Este homem não existe, não tem BI, nem se sabe o nome’.

Fiquei aturdido acordado toda a noite a rezar pelo meu colega da cama oito.

No dia seguinte, de manhãzinha, lá apareceu o amigo para o levar de regresso,  não já para o miserável tugúrio mas para um Lar onde a cotização generosa do pessoal de enfermagem, e não só, assegurara o seu ingresso.

 

Senti-me tão "pequenino", previligiado e credor de tantos amigos que nunca mais me esqueci.

 

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