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09/11/2021

Publicações em Novembro 9



Há muitos anos que sirvo em casa de Zaqueu. Confesso que não é um trabalho muito agradável e não fora o excelente salário há muito teria procurado outro. Mas… também tenho de reconhecer que me afeiçoei ao meu amo não só porque me trata bem, mas principalmente porque tenho a noção que sou o único amigo – e, às vezes, confidente – que tem.

O meu amo é «chefe dos publicanos» o que não lhe granjeia grandes simpatias junto do povo pelo que tem muito poucos amigos. Não obstante ser «um homem rico» e possuir uma excelente casa, onde nada falta, e uma mesa farta, vive de facto quase isolado e só. Claro que eu sei muito bem que todos suspeitam que os meios de fortuna lhe vêm directamente do exercício da sua profissão de cobrador de impostos e não só das “comissões” que os romanos lhe pagam para os cobrar, mas também porque muitas vezes se “aproveita” de algumas situações cobrando mais do que o devido, arrecadando para si esses dinheiros. Talvez, até, os seus colegas lhe entreguem parte do que eles próprios também cobram a mais. Aconteceu, porém, que um dos seus subordinados – um tal conhecido por Mateus – tinha subitamente abandonado a profissão e, isto, em circunstâncias relatadas por muita gente do povo. Claro que Mateus veio ter com o seu chefe – o meu amo – e contou-lhe o que sucedera e o levara a tal decisão de mudar de vida. Desde então, o meu amo nunca mais teve sossego por causa de uma ideia fixa que se lhe instalara no espírito: tinha de conhecer esse homem a que chamavam Jesus o Nazareno, esse mesmo que fora “o responsável” pela mudança de vida de Mateus que agora o seguia para onde quer que fosse. De facto, «procurava conhecer de vista Jesus»  porque, julgava ele, um contacto pessoal não seria possível: um judeu falar com um publicano!!!

Um dia, no mercado da cidade próxima, Jericó, deparei-me com uma agitação fora do comum e informaram-me que esse Jesus ia passar por ali pelo que toda a gente se juntava no caminho à saída da cidade para o ver e, se possível, fazer-lhe algum pedido. Voltei a toda a pressa para casa e informei o meu amo dizendo-lhe que ali estava a oportunidade porque tanto ansiava. Ele não hesitou um minuto sequer e «Correndo adiante, subiu a um sicómoro para O ver» quando passasse por ali. Confesso que fiquei espantado com tal atitude e percebi-me que o seu desejo de ver Jesus era de tal forma genuíno que não se importou com o que outros pudessem dizer por se colocar, assim, empoleirado numa árvore, algo inesperado por parte de uma pessoa tão importante.

O cortejo que seguia Jesus aproximava-se e, então, aconteceu uma coisa extraordinária: Jesus parou mesmo debaixo do sicómoro onde o meu amo se empoleirara e «levantando os olhos disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, porque convém que Eu fique hoje em tua casa». O meu amo, radiante «desceu a toda a pressa, e recebeu-O alegremente»

Foi um dia memorável que jamais esquecerei. Os dois, Jesus e Zaqueu, conversaram longamente como se fossem “velhos amigos” e era bem notória a alegria e, ao mesmo tempo, a serenidade que o meu amo ostentava. Não lhe importando os murmúrios que os circunstantes deixavam escapar, as críticas e os “remoques”, pondo-se subitamente «de pé diante do Senhor, disse-Lhe: Eis, Senhor, que dou aos pobres metade dos meus bens e, naquilo em que tiver defraudado alguém, restituir-lhe-ei o quádruplo». Os murmúrios cessaram de repente e as pessoas comentavam admiradas e algo incrédulas o que acabavam de ouvir. Mas, a verdade, é que logo que Jesus se afastou o meu amo começou a tratar das coisas tal como tinha dito e prometido.

O que posso dizer é que o meu amo nunca mais foi o mesmo homem; a mudança na sua vida, no seu modo de proceder foi tal que, aos poucos muitas pessoas que – como atrás disse – evitavam qualquer contacto, passaram a ser visitas de sua casa e, muitas vezes assisti, com pedidos de auxílio e assistência que nunca lhes negava.

 

Há anos que sirvo em casa de um Centurião Romano. Na verdade sou um escravo com a mais humilde tarefa: calçar e descalçar as sandálias do meu senhor.

Em breve tempo me apercebi que era reconhecido e apreciado, embora, calçar ou descalçar alguém não seja um “trabalho” nem  nobre nem muito digno mas, quando terminaado, o meu senhor dizia-me sempre: obrigado! Aquele agradecimento entrava no meu coração como uma espécie de raio surpreendente e de enormíssimo impacto… nunca tal se ouvira relatar: um senhor agradecer o trabalho do seu escravo! Ainda mais quando esse senhor era alguém com tão destacada posição!?

A minha vida diária não tinha comparação com as vidas de muitos conhecidos meus. Segundo me relatavam, o tratamento que recebiam dos seus senhores era bem diferente. Além de lhes ser exigida disponibilidade constante a qualquer hora do dia ou da noite, recebiam como única paga uma alimentação deficiente e apenas sofrível. Se acaso adoeciam assim ficavam, na esperança que a doença se afastasse por si. Receber a visita de um médico era algo impensável. Quando lhes contava que, em casa do meu senhor, a alimentação era abundante e bem confeccionada; que nos era concedido descanso absoluto durante a noite; que dormía-mos em catres e não no chão duro; que… enfim… eramos tratados nas maleitas e doenças que surgiam… olhavam para mim incrédulos! Então, para os convencer de que quanto relatava era verdade contei-lhes o que me acontecera na minha recente e grave doença e como o meu senhor intervira para evitar a morte que se adivinhava próxima: Ora um centurião tinha um servo a quem dedicava muita afeição e que estava doente, quase a morrer. Ouvindo falar de Jesus, enviou-lhe alguns judeus de relevo para lhe pedir que viesse salvar-lhe o servo.

Chegados junto de Jesus, suplicaram-lhe insistentemente: «Ele merece que lhe faças isso, pois ama o nosso povo e foi ele quem nos construiu a sinagoga.» Jesus acompanhou-os. Não estavam já longe da casa, quando o centurião lhe mandou dizer por uns amigos: «Não te incomodes, Senhor, pois não sou digno de que entres debaixo do meu tecto, pelo que nem me julguei digno de ir ter contigo. Mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» Ouvindo estas palavras, Jesus sentiu admiração por ele e disse à multidão que o seguia: «Digo-vos: nem em Israel encontrei tão grande fé.» E, de regresso a casa, os enviados encontraram o servo de perfeita saúde.

 

 

Reflectindo

Uma vez mais me detenho no tema: PLANO DE VIDA

Pessoalmente pelas circunstâncias que vivo sou o único responsável pela administração do meu tempo.

Há muitos anos que decidi ter um plano diário para, pelo menos, tentar ter algumas regras - não um regulamento - básicas como "esqueleto" desse programa.

Em primeiríssimo lugar as prioridades:

Oração diária;

Depois: Participação na Santa Missa.

Se a primeira é fácil e muito acessível, tenho as minhas orações diárias devidamente escritas, para cada dia da semana e, portanto... já a segunda pode apresentar problemas de horários. Mas, seja qual for a dificuldade a minha experiência pessoal encontra sempre forma de resolver o assunto.

O Anjo da Minha Guarda guia-me infalível e certeiramente onde tenho de ir.

Depois já me sinto intimamente confortado e tranquilo para prosseguir.

Planos, refiro-me aos planos normais da vida corrente... raramente faço fora os que já estão determinados ou, de alguma forma estabelecidos.

O que pensei fazer hoje? Não é uma pergunta que me surja de manhã, confesso, o que me surge é a questão... o que não posso deixar de fazer hoje e, isso, é de fácil resposta... consulto o calendário pessoal... os aniversários, as Festas, as comunicações a fazer nesse dia... e já está. A partir daqui estou como que livre de compromissos - e os compromissos devem ser cumpridos com todo o empenho - e sigo em frente para o instante seguinte. Evidentemente que não sei  - como ninguém saberá - se esse "instante" vai acontecer, mas isso não deve restringir a minha vontade de fazer o que for.

O nosso Criador não põe como que uma espada sobre a nossa cabeça como "Hoje serás chamado a prestarr contas, o que acomulaste para quem será?.

Não!

Tenho de fazer algo, o que for. O Senhor não me quer sentado na vera do caminho da vida à espera do que for, quer que eu viva, actue, me entregue com todos os defeitos e virtudes que possa ter ao que Ele, em cada momento, espera de mim.

Por isso mesmo... penso que só me resta dizer-Lhe: "Domine, quid me vis facere", e tudo fica resolvido.

 

 

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