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21/09/2021

NUNC COEPI Publicações em Setembro 21

                      


                             Quarta-Feira 

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

 

Propósito: Simplicidade e modéstia.

Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.

 

Lembrar-me: Do meu Anjo da Guarda.

Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?

 


LEITURA ESPIRITUAL

 

Evangelho

 

Jo XIV, 1-31

 

Jesus, caminho para o Pai

1 Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. 2 Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? 3 E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também. 4 E, para onde Eu vou, vós sabeis o caminho.» 5 Disse-lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como podemos nós saber o caminho?» 6 Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim. 7 Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.» 8 Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta!» 9 Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o Pai'? 10 Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim? As coisas que Eu vos digo não as manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras. 11 Crede-me: Eu estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras. 12 Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai, 13 e o que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai. 14 Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, Eu o farei.»

 

Primeira promessa do Espírito

15 «Se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos, 16 e Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco, 17 o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; vós é que o conheceis, porque permanece junto de vós, e está em vós.»

 

Jesus promete voltar

18 «Não vos deixarei órfãos; Eu voltarei a vós! 19 Ainda um pouco e o mundo já não me verá; vós é que me vereis, pois Eu vivo e vós também haveis de viver. 20 Nesse dia, compreendereis que Eu estou no meu Pai, e vós em mim, e Eu em vós. 21 Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor; e quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele.» 22 Perguntou-lhe Judas, não o Iscariotes: «Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao mundo?» 23 Respondeu-lhe Jesus: «Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. 24 Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou.»

 

Segunda promessa do Espírito

25 «Fui-vos revelando estas coisas enquanto tenho permanecido convosco; 26 mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse é que vos ensinará tudo, e há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse.»

 

Jesus deixa a sua paz

27 «Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se perturbe o vosso coração nem se acobarde. 28 Ouvistes o que Eu vos disse: 'Eu vou, mas voltarei a vós.' Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. 29 Digo-vo-lo agora, antes que aconteça, para crerdes quando isso acontecer. 30 Já não falarei muito convosco, pois está a chegar o dominador deste mundo; ele nada pode contra mim, 31 mas o mundo tem de saber que Eu amo o Pai e actuo como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui!»

 

Comentário

 

O Senhor voltou para o Céu para, como diz, preparar uma morada para cada um de nós. E que morada será? Preparada pelo próprio Jesus Cristo, Deus e Irmão nosso, deve ser tão excelente e extraordinária que não pudemos sequer imaginar. Como não fazer quanto estiver ao nosso alcance para conquistar o direito habitá-la? Pelo que Jesus nos diz, podemos inferir que, na Vida Eterna, ocuparemos um lugar determinado. Tal é difícil de entender já que os espíritos, ou Corpos Gloriosos, não ocupam nem lugar nem espaço e, a Vida eterna não é de facto um espaço, um lugar, mas uma “situação”, um “estado” que consiste na contemplação – e gozo – da Face de Deus. Mas – e sempre pensando humanamente, única forma possível – não custa entender que haverá santos – e todos na vida eterna são santos – diferentes não na importância, mas na categoria específica que não gozarão nem mais nem menos que os outros, mas que, de alguma forma se destacam. Parece-me muitíssimo justo! Por exemplo, São José, que na terra fez as vezes de Pai de Cristo, não “merecerá” esse destaque de que falei? Como explicar? Não eu, decerto, mas haverá um momento – pelo qual mal - posso esperar, em que tudo se tornará claro e cristalino e ficaremos abismados com a simplicidade da grandeza e glória eternas. Sabemos, evidentemente, que a vida eterna é um mistério para nós, enquanto neste mundo, impenetrável. Mas nada nos coíbe – eu diria até que nos convém muito – pensar não com o objectivo de decifrar ou compreender totalmente mas sim de nos aproximar-nos cada vez mais de algo que, também cada vez mais, estará próximo. Jesus Cristo fala-nos da vida eterna, fala-nos das moradas que terá preparadas para cada um, do lugar específico que nos tem reservado. Eu, pessoalmente, entendo isto, como uma definição suprema da Ordem divina. Ou seja, que a vida eterna não é algo informe e amálgamo onde estarão mais ou menos amontoados, como num “depósito”, os santos que alcançam o Céu. Não faria qualquer sentido pensar o que O Senhor que nos conhece pelo nosso nome desde o princípio de tudo o criado e que oferece a Sua Vida por cada um em particular, nos deixasse como que abandonados – felizes, embora – uma vez alcançado o que nos prometeu como prémio. O Amor que se viverá na vida eterna será de tal forma absorvente, total, esmagador… que não deixará espaço para nada mais, a nenhum sentimento, a nenhum desejo, a nenhuma vontade. O Gozo do Amor de Deus completará totalmente a nossa vida na eternidade.

Comove-nos a simplicidade dos apóstolos: quando não entendem perguntam e não se importam que tal conste nos Evangelhos. Quão diferente seria a nossa fé, a nossa relação com Deus sem estes exemplos extraordinários! Deveríamos estar constantemente a perguntar porque, de facto, o que sabemos é muito pouco, quase nada comparado com a grandeza de Deus a Quem temos de conhecer cada vez melhor e mais intimamente. Filipe é o discípulo que faz as perguntas cruciais… quando não entende pergunta. E os outros? Entenderiam tudo? Não teriam dúvidas? Seguramente que sim embora não confessem a sua necessidade de esclarecimento. Filipe demonstra, além disso, que de facto ouve quanto o Mestre diz com extrema atenção não perdendo, por assim dizer, nada dos discursos - por vezes longos - de Jesus. Tem a intuição que quanto ouve lhe será necessário, sobretudo no futuro, quando tiver de transmitir a outros ã palavras de Cristo. É no fim e ao cabo, aprender a Doutrina de modo consciente e seguro. Faz perguntas repetidamente sem qualquer receio de "desiludir" o Mestre com a sua ignorância ou dúvidas. Dá-nos duas grandes lições: perguntar quando não se sabe; ser humilde para repetir as perguntas até saber. Nós, cristãos de hoje, bem podemos agradecer a Filipe, não só o exemplo mas as perguntas que fez que nos permitem, pelas respostas de Jesus, saber e compreender o que então, para ele, não era nem claro nem compreensível. O Espírito Santo, com o Seu Dom de Ciência, infunde em nós esses conhecimentos básicos para a nossa fé porque, na verdade, esta fortalece-se quando compreende e assim, também, o nosso Amor a Deus. Bem-aventurados Apóstolos que nos deixaram um legado tão precioso.

Quem, de “vistas curtas” considera que Jesus Cristo deveria ter uma linguagem menos “enigmática”, clara e objectiva, não conhece, seguramente, este trecho do Evangelho escrito por São João. Pode ser-se mais claro e objectivo? Jesus Cristo, uma vez mais, revela tudo sobre Si mesmo e sobre a Sua missão. Não deixa que fique a pairar qualquer dúvida ou incompreensão. Temos, nós, homens de hoje, a felicidade de conhecer pelo testemunho dos Apóstolos, Quem de facto é o Senhor. Aprofundemos o nosso conhecimento, peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine de forma a não existir em nós a menor dúvida. Aconselhemo-nos na direcção espiritual que livros ler, que informação nos falta. Então, sim! Poderemos dizer que seguimos Cristo porque O conhecemos e sabemos que Ele é, de facto O Caminho que nos interessa andar, A Verdade que nos convém conhecer, A Vida a que devemos aspirar.

Não tenho qualquer dúvida em considerar o Evangelho escrito por São João como o Evangelho do amor! Ele próprio, que foi amado por Jesus tão intensamente que lhe confiou a Sua própria Mãe, sabe que o amor “move montanhas”, transforma os homens, se na raiz da sociedade humana, trará a paz, a concórdia o bem comum. Sabe muito bem que ao retribuir o amor que Deus nos tem, estamos a fazer, não só um acto de justiça, “amor com amor se paga”, mas a assegurar a nossa vida em Deus e para Deus.

A parábola – conhecida como a dos “talentos”, tem merecido comentários e meditações por grandes vultos da Igreja, Teólogos e Santos. É de tal forma “complicada) – à primeira leitura, claro – que podemos ter a visão como que toldada para nos apercebermos da simplicidade e lógica de todo o texto. Eu penso que a “chave” está aqui:  Distribuiu os talentos «a cada qual conforme a sua capacidade». O Senhor, sabemo-lo muito bem – não faz acepção de pessoas e, para Ele, todos os homens – absolutamente – têm o mesmo valor, a mesma dignidade, independentemente das suas capacidades pessoais. Mas nunca pedirá contas por igual, exigindo uniformemente e sem critério o mesmo retorno. Não! Pedirá contas – muito certas – conforme o que cada um fez, como fez, ou, o que não fez e deveria ter feito.

Esta afirmação de Jesus: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida», é o lema, o motivo, a essência da nossa vida de cristãos. De facto, não há outro caminho porque, só este é o verdadeiro já que é a Verdade - que é Cristo – que o indica; Bem como a vida verdadeira é a que Ele próprio nos outorgou com a Sua Morte e Paixão na Cruz, redimindo-nos para sempre, e com a Sua Ressurreição gloriosa convertendo-nos em filhos de Deus. Que outra vida terá tal grandeza?

Talvez que nos ocorra, também a nós, fazer a mesma pergunta que Judas. Parece que o Senhor não dá uma resposta concreta, mas, de facto fá-lo iniludivelmente. A Sua Missão é muito clara e definida: Trazer a salvação, resgatar a humanidade, instaurar o Reino de Deus no mundo. Explicar a Fé e difundi-la competirá aos Seus seguidores que, devidamente assistidos pelo Espírito Santo, levarão a toda a parte a Palavra de Deus. Portanto, este tempo que vivemos depois da Ascensão ao Céu pelo Senhor, é o “Tempo do Espírito Santo” cujos Sete Dons devemos pedir com insistência perseverante para sermos capazes de levar por diante a tarefa que nos cabe levar a cabo.

A vida cristã que é seguir Cristo, pode resumir-se numa palavra: AMOR! É o amor incomensurável de Deus pelos homens que os salva; É o amor sem limites de Cristo que O leva a dar a Sua vida em resgate da humanidade inteira; É o amor que leva o homem a conseguir a paz para si e para os outros; Só o amor, autêntico – como é o Amor de Deus - torna a pessoa humana digna de participar na vida eterna. Amar a Deus e amar os outros como a si mesmo, eis, como bem sabemos, o primeiro Mandamento. Sem cumprir este, os outros nove, não poderão cumprir-se.

Uma vez mais o Evangelista insiste no tema do amor. O amor de Deus, o amor a Deus, o amor entre os homens.
E tem muita razão porque nunca será demais considerar que o amor conduz e guia o homem para Deus e assegura uma sã convivência. Como viver sem amor? Felizmente a maior parte de nós não imaginamos sequer o que possa ser mas, na verdade, há épocas, circunstâncias e sociedades onde parece não existir. O resultado, as consequências são bem evidentes: as guerras e lutas sem tréguas ou limites, os genocídios e violências de toda a ordem que grassam num crescendo imparável.

O mundo não pode conhecer nem receber o Espírito Santo, segundo as próprias palavras do Senhor, porque não O vê! Nós também não O vimos mas não precisamos para acreditar porque temos Fé. O Dom mais precioso que Deus outorga aos homens e o grande triunfo do Reino de Deus, a Fé concede-nos, permite-nos o que por nós próprios nunca conseguiríamos: Amar Deus, conhecer o Seu Amor por nós e gozarmos já nesta vida terrena dos Frutos e dos Dons que o Espírito Santo nos concede.

Continua o discurso da despedida. As palavras de Jesus devem ter pesado de maneira particular no espírito dos que O seguiam. Não entendiam nem o verdadeiro alcance das mesmas, mas sentiram no seu íntimo que a situação era delicada… senão grave.

O que quer o Senhor dizer com “dominador deste mundo”'? Refere-se ao momento em que o demónio alcança uma vitória, para ele, inesperada: a morte de Cristo na Cruz. Inesperada porque, de facto, só nos derradeiros momentos saberá que Quem pende do madeiro é o Filho de Deus, até então nunca o Senhor permitiu que tivesse absoluta certeza de Quem era e nem sequer permitia que falasse. Por várias vezes tinha sido expulso e relegado para fora do domínio dos homens e, naturalmente que teria - falando humanamente - suspeitas, que aliás terão começado nas tentações no deserto quando Cristo o despede: «está escrito não tentarás o Senhor teu Deus», mas nunca Jesus lhe disse Eu Sou Cristo. No mistério da salvação dá-se esta luta por um domínio, ou melhor, pela conservação de um domínio, que até então exercia, aliás não há propriamente luta porque Jesus Cristo não combate o demónio, mas antes salva a humanidade do seu domínio, ao instaurar o Reino de Deus, dá aos homens os meios necessários e suficientes para negarem o demónio e as suas obras e optarem definitivamente pela Salvação Eterna.

 

(AMA, 199)

 

 


 

SANTÍSSIMA VIRGEM

 

CARTA ENCÍCLICA

REDEMPTORIS MATER

DO SUMO PONTÍFICE

JOÃO PAULO II

SOBRE A BEM-AVENTURADA

VIRGEM MARIA

NA VIDA DA IGREJA

QUE ESTÁ A CAMINHO

 

 

Veneráveis Irmãos, caríssimos Filhos e Filhas: saúde e Bênção Apostólica!

 

INTRODUÇÃO

 

 

PRIMEIRA PARTE

MARIA NO MISTÉRIO DE CRISTO

 

8. Maria é introduzida no mistério de Cristo definitivamente mediante aquele acontecimento que foi a Anunciação do Anjo. Esta deu-se em Nazaré, em circunstâncias bem precisas da história de Israel, o povo que foi o primeiro destinatário das promessas de Deus. O mensageiro divino diz à Virgem: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor é contigo» (Lc 1, 28). Maria «perturbou-se e interrogava-se a si própria sobre o que significaria aquela saudação» (Lc 1, 29): que sentido teriam todas aquelas palavras extraordinárias, em particular, a expressão «cheia de graça» (kecharitoméne).

Se quisermos meditar juntamente com Maria em tais palavras e, especialmente, na expressão «cheia de graça», podemos encontrar uma significativa correspondência precisamente na passagem acima citada da Carta aos Efésios. E se, depois do anúncio do mensageiro celeste, a Virgem de Nazaré é chamada também a «bendita entre as mulheres» (cf. Lc 1, 42), isso explica-se por causa daquela bênção com que “Deus Pai” nos cumulou “«no alto dos céus, em Cristo”. É uma bênção espiritual, que se refere a todos os homens e traz em si mesma a plenitude e a universalidade (“toda a sorte de bênçãos”), tal como brota do amor que, no Espírito Santo, une ao Pai o Filho consubstancial. Ao mesmo tempo, trata-se de uma bênção derramada por obra de Jesus Cristo na história humana até ao fim: sobre todos os homens. Mas esta bênção refere-se a Maria em medida especial e excepcional: ela, de facto, foi saudada por Isabel como «a bendita entre as mulheres.

O motivo desta dupla saudação, portanto, está no facto de se ter manifestado na alma desta “filha de Sião”, em certo sentido, toda a “magnificência da graça”, daquela graça com que “o Pai ... nos tornou agradáveis em seu amado Filho”. O mensageiro, efectivamente, saúda Maria como «cheia de graça»; e chama-lhe assim, como se este fosse o seu verdadeiro nome. Não chama a sua interlocutora com o nome que lhe é próprio segundo o registo terreno: «Miryam» ( = Maria); mas sim com este nome novo: «cheia de graça». E o que significa este nome? Por que é que o Arcanjo chama desse modo à Virgem de Nazaré?

Na linguagem da Bíblia «graça» significa um dom especial, que, segundo o Novo Testamento, tem a sua fonte na vida trinitária do próprio Deus, de Deus que é amor (cf. 1 Jo 4, 8). É fruto deste amor a “eleição” ― aquela eleição de que fala a Carta aos Efésios. Da parte de Deus esta “escolha” é a eterna vontade de salvar o homem, mediante a participação na sua própria vida divina (cf. 2 Pdr 1, 4) em Cristo: é a salvação pela participação na vida sobrenatural. O efeito deste dom eterno, desta graça de eleição do homem por parte de Deus, é como que um gérmen de santidade, ou como que uma nascente a jorrar na alma do homem, qual dom do próprio Deus que, mediante a graça, vivifica e santifica os eleitos. Desta forma se verifica, isto é, se torna realidade aquela “bênção” do homem “com toda a sorte de bênçãos espirituais”, aquele «ser seus filhos adoptivos ... em Cristo”, ou seja, n'Aquele que é desde toda a eternidade o «Filho muito amado» do Pai.

Quando lemos que o mensageiro diz a Maria «cheia de graça», o contexto evangélico, no qual confluem revelações e promessas antigas, permite-nos entender que aqui se trata de uma “bênção” singular entre todas as “bênçãos espirituais em Cristo”. No mistério de Cristo, Maria está presente já «antes da criação do mundo», como aquela a quem o Pai “escolheu” para Mãe do seu Filho na Incarnação ― e, conjuntamente ao Pai, escolheu-a também o Filho, confiando-a eternamente ao Espírito de santidade. Maria está unida a Cristo, de um modo absolutamente especial e excepcional; e é amada neste «Filho muito amado» desde toda a eternidade, neste Filho consubstancial ao Pai, no qual se concentra toda “a magnificência da graça”. Ao mesmo tempo, porém, ela é e permanece perfeitamente aberta para este “dom do Alto” (cf. Tg 1, 17) Como ensina o Concílio, Maria “é a primeira entre os humildes e os pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem d'Ele a salvação”.

 

 

S. MATEUS, Apóstolo e Evangelista

 



FILOSOFIA

 

Doutrina sobre o mal

 

RESPONDO.

Deve dizer-se que, como o branco, também o mal se diz de dois modos. Pois, de um modo, quando se diz branco, pode entender-se o que é sujeito da brancura; por outro modo, branco diz-se do que é branco enquanto branco, ou seja, do acidente mesmo. E, semelhantemente, o mal pode entender-se, de um modo, como o que é sujeito do mal, e neste sentido é algo; de outro modo, pode-se entender como o próprio mal, e neste sentido não é algo, mas sim a privação mesma de algum bem particular.

Para maior compreensão disto, é preciso saber que propriamente o bem é algo enquanto é apetecível, pois, segundo o Filósofo no livro I da Ética, definiram correctamente o bem os que disseram ser o bem o que todas as coisas apetecem; mas o mal diz-se do que se opõe ao bem, donde ser conveniente que o mal seja o que se opõe ao apetecível enquanto tal. É impossível, todavia, que este seja algo, o que se manifesta por três razões.

Em primeiro lugar, certamente, porque o apetecível tem razão de fim; mas a ordem dos fins é, por assim dizer, também a ordem dos agentes. Com efeito, na medida em que algum agente é mais elevado e mais universal, nesta mesma medida também o fim por que atua é um bem mais universal, pois todo e qualquer agente atua por um fim e por algum bem; e isto se mostra, patentemente, nas coisas humanas. Sim, porque o governante de uma cidade tende a um bem particular, que é o bem da cidade. Mas o rei, que é superior a ele, tende a um bem universal, a saber: a paz do reino todo. Logo, não sendo próprio das causas agentes proceder ao infinito, sendo porém necessário chegar a uma primeira coisa que seja causa universal do ser, é necessário, além disso, que seja um bem universal a que se reduzam todos os bens; e este não pode ser outro senão aquele mesmo que é agente primeiro e universal; porque todas as vezes que o apetecível move o apetite, sendo necessário, por outro lado, que o primeiro motor não seja movido, é necessário que o apetecível primeiro e universal seja o bem primeiro e universal, que se ocupa de todas as coisas por causa do seu próprio apetite. Logo, assim como é necessário que tudo quanto há nas coisas proceda de uma causa primeira e universal de ser, assim também é necessário que tudo quanto há nas coisas proceda de um bem primeiro e universal. Ora, o que procede do bem primeiro e universal não pode ser senão, unicamente, um bem particular, assim como o que procede da causa primeira e universal de ser é algum ente particular. Logo, é necessário que tudo quanto é algo nas coisas seja algum bem particular, donde não poder, pelo fato mesmo de ser, opor-se ao bem. Razão por que não cabe afirmar senão que o mal enquanto mal não é algo nas coisas, mas é privação de algum bem particular, que inere a algum bem particular.

Em segundo lugar, também isto é evidente, porque tudo quanto há nas coisas possui alguma tendência para aquilo que lhe convém e o desejo natural dele. Ora, o que tem razão de apetecível tem razão de bem. Logo, tudo quanto há nas coisas convém com algum bem. O mal enquanto tal, todavia, não convém com o bem, mas opõe-se a ele. Logo, o mal não é algo nas coisas. Além do mais, se o mal fosse algo, não apeteceria nem seria apetecido por nada mais, e, por conseguinte, não teria nenhuma ação nem movimento, dado que nada actua nem se move senão por causa do apetite do fim.

Em terceiro lugar, patenteia-se a mesma coisa pelo facto de que o próprio ser tem, sobretudo, razão de apetecível; donde constatarmos que a cada coisa apetece naturalmente conservar o seu ser: por um lado, afasta-se das coisas destrutivas do seu ser, e, por outro, resiste a elas na medida das suas possibilidades. Assim, o próprio ser, enquanto apetecível, é bom. Logo, é necessário que o mal, que se opõe universalmente ao bem, se oponha, ademais, ao que é ser. O que porém é oposto ao que é ser não pode ser algo

Digo, por conseguinte, que o mal não é algo, embora aquilo a que suceda ser mau seja algo, uma vez que o mal não priva senão de um bem particular; assim como o ser cego não é algo, ao passo que aquele a que sucede o ser cego á algo.

 

(São Tomás de Aquino, De Malo, Q 1, Art 1)

 


REFLEXÃO

 

Espírito Santo

Há quem chame ao Divino Espírito Santo "O Grande Desconhecido", penso que tal se deve à falta de, por exemplo, homilias sobre a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, pessoalmente não me recordo de alguma vez ter ouvido alguma. Quantos verdadeiros cristãos conhecem os Dons e as Virtudes que o Espírito Santo quer insinuar na nossa alma? E quantos Lhe pedem para receber essas insinuações? Dos Dons... quantos sabem o significado do TEMOR DE DEUS? Urge fazer apostolado sobre o tema, esclarecendo quanto possível o que de facto representa a acção do Divino Espírito Santo nas nossas almas.

(AMA, 2021)



SÃO JOSEMARIA textos

 

Um querer sem querer é o teu

Um querer sem querer é o teu, enquanto não afastares decididamente a ocasião. – Não te queiras iludir dizendo-me que és fraco. És... cobarde, o que não é o mesmo. (Caminho, 714)

O mundo, o Demónio e a carne são uns aventureiros que, aproveitando-se da fraqueza do selvagem que trazes dentro de ti, querem que, em troca do fictício brilho dum prazer – que nada vale – lhes entregues o ouro fino e as pérolas e os brilhantes e os rubis embebidos no Sangue vivo e redentor do teu Deus, que são o preço e o tesouro da tua eternidade. (Caminho, 708)

Outra queda..., e que queda!... Desesperar-te? Não; humilhar-te e recorrer, por Maria, tua Mãe, ao Amor Misericordioso de Jesus. – Um "miserere" e, coração ao alto! – A começar de novo. (Caminho, 711)

Bem fundo caíste. – Começa os alicerces a partir daí. – Sê humilde. – "Cor contritum et humiliatum, Deus, non despicies". – Não desprezará Deus um coração contrito e humilhado. (Caminho, 712)

Tu não vais contra Deus. – As tuas quedas são de fragilidade. – Concordo. Mas são tão frequentes essas fragilidades (não sabes evitá-las), que, se não queres que te tenha por mau, hei-de ter-te por mau e tolo. (Caminho, 713)