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21/08/2021

NUNC COEPI: Publicações em Agosto 21

  


Sábado 

Pequena agenda do cristão

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

 

Propósito: Honrar a Santíssima Virgem.

 

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

 

Lembrar-me: Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

 

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.

Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

 

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?

 


 

 

LEITURA ESPIRITUAL

 

Evangelho

 

 

Lc XXII, 1-71

 

Conspiração contra Jesus

1 Entretanto, aproximava-se a festa dos Ázimos, chamada Páscoa. 2 E os sumos sacerdotes e doutores da Lei procuravam maneira de fazerem desaparecer Jesus, mas temiam o povo. 3 Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que era do número dos Doze. 4 Judas foi falar com os sumos sacerdotes e os oficiais do templo sobre o modo de lhes entregar Jesus. 5 Eles regozijaram-se e combinaram dar-lhe dinheiro. 6 Judas concordou e procurava ocasião de o entregar, sem a multidão saber.

 

Preparação da Última Ceia

7 Chegou o dia dos Ázimos, em que devia sacrificar-se o cordeiro, 8 e Jesus enviou Pedro e João, dizendo: «Ide preparar-nos o necessário para comermos a ceia pascal.» 9 Perguntaram-lhe: «Onde queres que a preparemos?» 10 Respondeu: «Ao entrardes na cidade, virá ao vosso encontro um homem transportando uma bilha de água. Segui-o até à casa em que entrar 11e dizei ao dono da casa: ‘O Mestre manda dizer-te: Onde é a sala, em que hei-de comer a ceia pascal com os meus discípulos?’ 12 Mostrar-vos-á uma grande sala mobilada, no andar de cima. Fazei aí os preparativos.» 13 Partiram, encontraram tudo como lhes tinha dito e prepararam a Páscoa. 14 Quando chegou a hora, pôs-se à mesa e os Apóstolos com Ele. 15 Disse-lhes: «Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, 16 pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus.» 17 Tomando uma taça, deu graças e disse: «Tomai e reparti entre vós, 18 pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até chegar o Reino de Deus.» 19 Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo: «Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em minha memória.» 20 Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós.»

 

Jesus revela o traidor

21 «No entanto, vede: a mão daquele que me vai entregar está comigo à mesa! 22 O Filho do Homem segue o seu caminho, como está determinado; mas ai daquele por meio de quem vai ser entregue!» 23 Começaram a perguntar uns aos outros qual deles iria fazer semelhante coisa.

 

Últimos avisos

24 Levantou-se entre eles uma discussão sobre qual deles devia ser considerado o maior. 25 Jesus disse-lhes: «Os reis das nações imperam sobre elas e os que nelas exercem a autoridade são chamados benfeitores. 26 Convosco, não deve ser assim; o que fôr maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. 27 Pois, quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? Não é o que está sentado à mesa? Ora, Eu estou no meio de vós como aquele que serve. 28 Vós sois os que permaneceram sempre junto de mim nas minhas provações, 29 e Eu disponho do Reino a vosso favor, como meu Pai dispõe dele a meu favor, 30 a fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino. E haveis de sentar-vos, em tronos, para julgar as doze tribos de Israel.» 31 E o Senhor disse: «Simão, Simão, olha que Satanás pediu para vos joeirar como trigo. 32 Mas Eu roguei por ti, para que a tua fé não desapareça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos.» 33 Ele respondeu-lhe: «Senhor, estou pronto a ir contigo até para a prisão e para a morte.»

 

Predição da negação de Pedro

34 Jesus disse-lhe: «Eu te digo, Pedro: o galo não cantará hoje sem que, por três vezes, tenhas negado conhecer-me.» 35 Depois, acrescentou: «Quando vos enviei sem bolsa, nem alforge, nem sandálias, faltou-vos alguma coisa?» Eles responderam: «Nada.» 36 E Ele acrescentou: «Mas agora, quem tem uma bolsa que a tome, assim como o alforge, e quem não tem espada venda a capa e compre uma. 37 Porque, digo-vo-lo Eu, deve cumprir-se em mim esta palavra da Escritura: Foi contado entre os malfeitores. Efectivamente, o que me diz respeito chega ao seu termo.» 38 Disseram-lhe eles: «Senhor, aqui estão duas espadas.» Mas Ele respondeu-lhes: «Basta!»

 

Agonia de Jesus em Getzemani

39 Saiu então e foi, como de costume, para o Monte das Oliveiras. E os discípulos seguiram também com Ele. 40 Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para que não entreis em tentação.» 41 Depois afastou-se deles, à distância de um tiro de pedra, aproximadamente; e, pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: 42 «Pai, se quiseres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.» 43 Então, vindo do Céu, apareceu-lhe um anjo que o confortava. 44 Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantemente, e o suor tornou-se-lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. 45 Depois de orar, levantou-se e foi ter com os discípulos, encontrando-os a dormir, devido à tristeza. 46 Disse-lhes: «Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.»

 

Jesus é preso no horto

47 Ainda Ele estava a falar quando surgiu uma multidão de gente. Um dos Doze, o chamado Judas, caminhava à frente e aproximou-se de Jesus para o beijar. 48 Jesus disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?» 49 Vendo o que ia suceder, aqueles que o cercavam perguntaram-lhe: «Senhor, ferimo-los à espada?» 50 E um deles feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. 51 Mas Jesus interveio, dizendo: «Basta, deixai-os.» E, tocando na orelha do servo, curou-o. 52 Depois, disse aos que tinham vindo contra Ele, aos sumos sacerdotes, aos oficiais do templo e aos anciãos: «Vós saístes com espadas e varapaus, como se fôsseis ao encontro de um salteador! 53 Estando Eu todos os dias convosco no templo, não me deitastes as mãos; mas esta é a vossa hora e o domínio das trevas.»

 

Pedro nega Jesus três vezes

54 Apoderando-se, então, de Jesus, levaram-no e introduziram-no em casa do Sumo Sacerdote. Pedro seguia de longe. 55 Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles. 56 Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: «Este também estava com Ele.» 57 Mas Pedro negou-o, dizendo: «Não o conheço, mulher.» 58 Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: «Tu também és dos tais.» Mas Pedro disse: «Homem, não sou.» 59 Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: «Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu.» 60 Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes.» E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. 61 Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» 62 E, vindo para fora, chorou amargamente.

 

Jesus é escarnecido

63 Entretanto, os que guardavam Jesus troçavam dele e maltratavam-no. 64 Cobriam-lhe o rosto e perguntavam-lhe: «Adivinha! Quem te bateu?» 65 E proferiam muitos outros insultos contra Ele.

 

Jesus em presença do Sinédrio

66 Quando amanheceu, reuniu-se o Conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e doutores da Lei, que o levaram ao seu tribunal. 67 Disseram-lhe: «Declara-nos se Tu és o Messias.» Ele respondeu-lhes: «Se vo-lo disser, não me acreditareis 68 e, se vos perguntar, não respondereis. 69 Mas doravante, o Filho do Homem vai sentar-se à direita de Deus todo-poderoso.» 70 Disseram todos: «Tu és, então, o Filho de Deus?» Ele respondeu-lhes: «Vós o dizeis; Eu sou.» 71 Então, exclamaram: «Que necessidade temos já de testemunhas? Nós próprios o ouvimos da sua boca.»

 

Comentário

 

Todo este Capítulo do Evangelho escrito por São Lucas relata com detalhe e pormenor – como o Evangelista sempre se revela - , com “cores” brilhantes e destacadas, os factos que antecederam o drama da Paixão de Jesus Cristo. Digo “drama” porque, aos meus olhos humanos, se trata realmente de algo tão inusitado  e, até, insólito, que me custa a ler estas páginas sem sentir um aperto no coração esmagado pela evidência de ter sido, eu e todos os homens, o seu objecto.

Parece que nada falta: traição; angústia; pavor; sofrimento indizível; abandono; negação… e ao mesmo tempo, amor imenso e completo; doação absoluta; entrega à Vontade de Deus. Mas, ”forço-me”, obrigo-me a ler e, lendo, entrozar bem na minha alma o valor que efectivamente tenho – que todos os homens têm – para ser o objecto de tão extraordinário acto de salvação. Ao considerar este “valor” que tenho para o meu Criador, esmaga-me a responsabilidade  e o dever. Responsabilidade, porque me dou conta que a minha vida – já longa – tem tido muitas negações, rebeldias, ofensas, faltas de correspondência; dever, porque, tenho de ser agradecido pelo dom da vida, em primeiro lugar, e, depois, pela Infinita Paciência e Misericórdia de Deus que sempre espera que eu volte sobre os passos que dei por caminhos ínvios e, me tem perdoado sempre as minhas faltas e, mais que o perdão, me acolhe novamente no Seu Coração amantíssimo e me reintrega na minha “qualidade” de Seu filho e, sendo filho, Seu herdeiro.

Jesus Cristo nunca Se calou perante acusações infundadas, perguntas capciosas e, muitas vezes, absurdas,  críticas de toda a ordem, encarniçamento contra a sua Pessoa. Mas, perante Herodes cala-Se! Parece-me que, para O Cordeiro de Deus, Manso e Humilde de Coração, há como que um “limite” que não “consegue ultrapassar. Os outros, os responsáveis pela Lei, os Chefes do Povo são, por Ele Próprio “classificados” como ignorantes: «Não sabem o que fazem». Mas, este personagem sinistro – Herodes – sabia muito bem o que fazia e porque fazia. Enquanto os primeiros pensariam que estavam a defender a Lei, este último, pretendia apenas assegurar-se que o seu estatuto de Rei não corria perigo. Não teria qualquer pejo em assassinar Jesus - como tinha feito tantas vezes, incluindo os próprios filhos - se, pelas Suas respostas, chegasse a essa a essa conclusão. E, tal não podia acontecer porque tinham de se cumprir as Escrituras.

Não interessa muito discorrer sobre Pilatos e, muito menos, fazer juízos sobre a sua personalidade. Parece evidente para qualquer um que, a verdadeira razão que o motivou a  enviar Jesus a Herodes, foi a “esperança” que este resolvesse o problema que se lhe deparava: o assassínio de Jesus Cristo! Por isso, ao ver gorada a sua expectativa, lava as mãos em público como se esse gesto simbólico fosse suficiente e bastante para o inocentar. Não admira, pois, que na conivência e perfídia, ele e Herodes ficassem amigos; «Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois eram inimigos um do outro». Esta amizade – melhor seria dizer, conivência – tem uma raiz iníqua. Cimenta-se na perfídia e na ignorância, no despotismo e na falta absoluta de critério. Que amizade será esta? Que frutos se poderão esperar? Se amizade significa estar de acordo, corroborar o que o outro pensa ou defende como sendo a verdade, então, esta “amizade” não pode vingar nem subsistir. E, de facto, o fim dos dois “amigos” é uma desgraça pessoal para cada um e uma vergonha para os seus descendentes.

A realeza de Cristo – mesmo que não fosse essa a verdadeira intenção de Pilatos – ficará, para sempre, publicamente registada no letreiro que identifica o Crucificado. Os próprios que promoveram a Sua morte, reconhecem isto e vão junto do Pretor Romano pedir a remoção do letreiro. A resposta deste – «quod scripsi scripsi»  – é a confirmação da realidade. E são os simples e puros de coração – independentemente da sua situação pessoal no momento – que o reconhecem e acreditam. Com a sua declaração, o ladrão arrependido conquistou o Coração de Cristo e obteve o maior prémio a que poderia aspirar: a salvação eterna. O verdadeiro valor do arrependimento contrito fica, assim, bem expresso.

Pela pena de São Lucas, voltamos ao mesmo tema que já comentámos: Como reconhecer Jesus! Temos, todos os homens - atrevo-me afirmar – um desejo incontido de O encontrar de forma iniludível de tal forma que possamos dizer: É Ele! De facto, vemo-Lo pendente da Cruz – porque de todos atrai o olhar – mas isso não nos basta, não preenche completamente o nosso anseio: vê-Lo tal qual É, Ressuscitado, Glorioso, cheio de Poder e Majestade. Talvez, alguns, esperem por essa oportunidade para, de vez, se entregarem a Ele completamente ou se decidirem a segui-Lo mais de perto. Na Santa Missa, quando Ele desce sobre o altar consubstanciando-se no pão e no vinho consagrados, não O vemos, de facto, mas podemos sentir como que um frémito de amor que nos invade e domina e leva a exclamar interiormente: É Ele, está ali!..., e daí a momentos temos a possibilidade extraordinária de O receber em Corpo, Alma e Divindade, na Sagrada Comunhão Eucarística. Pensemos então quanto somos fortunados, muito mais que estes dois de Emaús que depois de O terem reconhecido, O viram desaparecer do seu convívio. Sim… porque, para nós, Ele está sempre ali, no Sacrário, à nossa espera, paciente e amoroso para Se nos entregar por inteiro.

O Evangelista refere que Emaús distava de Jerusalém uns sessenta estádios, ou seja, mais ou menos, trinta quilómetros. É uma distância considerável que, percorrida andando, consome umas quantas horas. Jesus Cristo não Se preocupa com o tempo, preocupa-se com os Seus amigos, com todos os homens. Não “faz contas” ao tempo necessário para os acompanhar, instruir, sossegar os corações, devolver a paz perdida. Impressiona esta disponibilidade permanente do Senhor, sim, perma­nente, porque para Ele não há nada – absolutamente - mais importante que os seus irmãos, os homens.

Como sempre que lemos um trecho de São Lucas, não podemos ficar indiferentes a não nos deixarmos envolver no relato como um per­sonagem mais. É de facto uma beleza descritiva simples e tão real como se vivida no próprio momento. Este dois de Emaús podem muito bem ser cada um de nós que vamos pela vida olhando sem ver, ouvindo sem perceber. Descurados os sinais, esquecidas as referências, ficamos agarra­dos ao momento que passa com a superficialidade dos apressados e com falta de critério. É bem verdade, para reconhecer Cristo naquele que connosco se cruza nos caminho, não basta ser “um dos Seus” é fundamental ter o coração livre de quaisquer amarras sejam elas tristezas e preo­cupações. A Cristo, só O podemos ver na alegria e na paz. A alegria da Ressurreição e a paz de Cristo!

«Reconheceram-no ao partir do pão»… Como?... porque a menos que Jesus tivesse uma forma peculiar de partir o pão, forma essa, que bastaria para O identificar, ou, porque, hipótese não descabida, os Apósto­los, nos dias anteriores terão contado com pormenor os acontecimentos da Última Ceia, repetindo as palavras e os gestos do Mestre, com ênfase para aqueles que, repetissem em “Sua memória”. Também é possível que os seguidores de Jesus, assustados e temerosos com o que se seguiria à Sua Morte, tivessem combinado entre si algumas formas, discre­tas, de se darem a conhecer como seguidores de Jesus. Tal como o será, mais tarde o desenho de um peixe, a forma de partir o pão poderia ser uma delas. Seja como for, os seus olhos só se abriram nesse momento e, só a partir de então, tomaram conhecimento da pessoa de Jesus com eles à mesa. E é, aliás, isto mesmo que contam, mais tarde, aos Apóstolos. Desde o princípio, a Igreja nascente, evoca, os sinais que o Mestre deixou. Mais tarde, serão estes sinais que comporão a Sagrada Liturgia. Amar e respeitar a Liturgia é, além de um dever, a melhor forma de honrar a memória, sempre viva e actuante, do Fun­dador e Cabeça da Igreja.

Os efeitos da tristeza são devastadores! Impedem ver Cristo que está sempre a nosso lado. Nos caminhos da vida, quantas vezes olhamos em volta e não ve­mos senão o costume: problemas, contradições, dificuldades e, então, carrega-se ainda mais a nossa mente com a tristeza de nos sentirmos sós, desamparados meio perdidos e sem norte. E, no entanto, Ele está ali…sempre… sempre! Esta certeza deve bastar para afastar a tristeza do nosso íntimo mas, se mais fora preciso, outra certeza resolverá de vez a ques­tão: A alegria de nos saber-mos filhos de Deus!

Para que não restem dúvidas que este episódio realmente aconte­ceu o Evangelista identifica um deles: Cléofas. Trata-se portanto de dois dos muitos discípulos de Jesus, que O seguiam com regularidade e conviviam entre si como o deixa per­ceber quando um se refere aos «nossos» mas, se assim é, como não reconheceram a Sua voz durante a longa conversa que mantiveram no caminho! Bom... tal como os seus olhos estavam «impedidos» de O verem, também os seus ouvidos não perceberam quem era o companheiro que lhes explicava as Escrituras. De facto, para ver e ouvir Jesus é preciso ter os olhos e os ouvidos limpos e desimpedidos de tudo quanto for supérfluo. E, mais… que as preocupações, o desânimo, o desgosto não domi­nem o coração nem a mente mergulhando o homem numa “escu­ridão” que o impeça de ver a Luz.

A tristeza põe como que uma névoa opaca sobre os olhos da alma impedindo-os de ver as realidades mais evidentes. O futuro apre­senta-se incerto, o desânimo apodera-se de nós, a vontade de pro­gredir e os desejos de melhoria atrofiam-se. Nem sequer a expectativa de dias mais risonhos nos anima e im­pele para a frente. E, frequentemente, paramos como que aturdidos. Como diz, sabiamente, Stº Agostinho, "paraste já estás morto". É o que nos espera se não sacudirmos para longe, decididamente, a tristeza do nosso coração: morrer inapelavelmente!

Acreditar na Ressurreição de Cristo é uma condição da nossa fé, como diz São Paulo, se Cristo não ressuscitou a nossa fé é vã. Temos um Salvador que Se entregou à morte voluntariamente para poder ressuscitar. Morrendo remiu os nossos pecados. Ressuscitando salvou-nos para a vida eterna. Era esta a primeira vez que os discípulos de Jejus tinham contacto com o Corpo Glorioso do Ressuscitado. Ficaram a saber que a Ressurreição não se tratava de um mito, algo indefinido, misterioso. A Ressurreição de Jesus aconteceu mesmo e, eles, são testemunhas desse facto. Também puderam entrever as qualidades que todos teremos quando ressuscitarmos dos mortos. Não ocuparemos nem espaço nem lugar e, no entanto, teremos o corpo que tínhamos em vida. Isto é importante para se perceber que, no Céu, a proximidade de Deus será única porque a Sua Visão encherá por completo toda as nossas capacidades e desejos. O grande mistério dos corpos ressuscitados aparece aqui de forma evidente. O corpo adquire uma qualidade que se chama "corpo glorioso" que continuando a ser o mesmo corpo que vivia adquire qualidades absolutamente diferentes, a primeira das quais é a imortalidade, não pode voltar a morrer, o que é absolutamente lógico.

A frase «Vós sois as testemunhas destas coisas» confere aos discípulos uma importância e um relevo na história da Redenção que os marcará para sempre. De facto, o que viram e ouviram do Ressuscitado será repetido incansavelmente até ao final dos tempos e que se pode resumir: Tudo quanto Jesus Cristo disse e fez é verdade!

Realmente, sendo Ele A VERDADE, não poderia ser outro o testemunho que deLe haveriam de dar e, para nossa ventura, assim fizeram com tanta constância e perseverança que recebemos intacta a mensagem divina: “Jesus Cristo é o nosso Salvador, que com a Sua Ressurreição nos ganhou para a Vida Eterna.”

«Então abriu-lhes o entendimento, para compreenderem as Escrituras,» como compreender se não se entende? Jesus conhece bem as nossas limitações e incapacidades por isso nos abre o entendimento, talvez não de forma súbita como fez com os Apóstolos, mas pausadamente ao longo dos anos. Começamos na catequese a aprender as bases da doutrina que enforma a nossa fé e continuamos pela vida fora adquirindo novos conhecimentos, aprofundando o que já sabemos. Há sempre coisas novas a retirar do tesouro das Escrituras, cada vez que lemos um trecho do Evangelho - talvez pela milésima vez - encontramos algo novo que, antes não tínhamos reparado, um enfoque diferente, um ensinamento que nos surpreende. Não admira que seja assim porque as palavras de Cristo e a sua doutrina são sempre novas, de todos os tempos.

Jesus Cristo parte para o céu, mas não nos deixa sós.
Fica connosco presente na Santíssima Eucaristia, sempre disponível, sempre pronto a acolher-nos. Somos felizes, muito felizes, por tão grande dom. Não só podemos estar com Ele, gozar a Sua companhia sempre que quisermos como, o que é extraordinário recebe-Lo no Seu Corpo, Alma e Divindade como alimento para esta vida e penhor da vida eterna. Nunca poderemos agradecer tão excelente dom.

À tristeza e perturbação da Morte de Jesus segue-se, agora, uma grande alegria. Nos últimos quarenta dias Jesus deve ter-lhes falado e ensinado muitas coisas. Abriu-lhes o entendimento e tudo é, para eles, cristalino e certo. Acabou-se o tempo das dúvidas, das interrogações dos medos e temores. Do Monte Tabor, descem homens diferentes daqueles que tinham seguido Jesus até ali. Agora, com a certeza que têm que o Espírito Santo virá, as suas almas conhecem uma paz e uma tranquilidade que se reflecte na alegria de que fala o Evangelista. Sem o saberem ainda, estão já em caminho de cumprir o mandato do Senhor: «Ide e ensinais todas as gentes».

Decerto que os Apóstolos viveram momentos de grande felicidade e alegria, mas, nós, temos motivos para estar ainda mais alegres e felizes. Os Apóstolos para estarem com Jesus tinham de O seguir para onde quer que fosse, procurá-Lo e, por vezes, esperar que acabasse o que estava a fazer – oração – para, então falarem com Ele. Nós, não! Quando queremos estar com Jesus – e queremos sempre – basta-nos ir a um dos muitíssimos Sacrários espalhados por toda a cidade em que vivemos, alguns a escassas dezenas de metros de distância e, Ele, ali está, à nossa espera, pronto a acolher-nos, a ouvir-nos, a estar connosco o tempo que quisermos.

Nada do que o Senhor faz é por acaso. Escolheu homens como Apóstolos, aqueles que seriam as colunas da Igreja que iria fundar, mas, as mulheres, não foram esquecidas e tiveram a honra e o privilégio de serem as primeiras a saber da Ressurreição Gloriosa. Os Filhos de Deus, que somos todos os cristãos, formamos de facto uma família cujo Chefe e Cabeça é Cristo e, como em qualquer família, cada um tem o seu lugar, a sua tarefa, concorrendo para o bem e proveito da mesma família. Os irmãos não se distinguem em importância ou relevo porque, o Pai de Família, quer a todos por igual. Cada um terá a sua própria maneira de viver essa vida familiar, com a idiossincrasia própria, e com os olhos postos no exemplo de “vem de cima.”

 

(AMA, 1998)

 

 

 

 

 

 

SÃO PIO X, papa

 


REFLEXÃO

Uma pessoa humilde que não tenha fé e sinceramente a deseje, acaba por tê-la com certeza, porque Deus não se nega a ninguém. E vice-versa, um aumento de soberba supõe uma diminuição de fé.

(Federico Suarez, A Virgem Nossa Senhora, Éfeso, 4ª Ed. nr. 132)

 

ANJO DA GUARDA

 

Santo Anjo do Senhor meu zeloso guardador oisque a ti me confiou a Piedade Divina para me sempre me protege, guarda e ilumina

 


SÃO JOSEMARIA – textos

 

Não queiras ser grande. – Criança, criança sempre

Não queiras ser grande. – Criança, criança sempre, ainda que morras de velho. – Quando um menino tropeça e cai, ninguém estranha...; seu pai apressa-se a levantá-lo. Quando quem tropeça e cai é adulto, o primeiro movimento é de riso. – Às vezes, passado esse primeiro ímpeto, o ridículo cede o lugar à piedade. – Mas os adultos têm de se levantar sozinhos. A tua triste experiência quotidiana está cheia de tropeços e de quedas. Que seria de ti se não fosses cada vez mais pequeno? Não queiras ser grande, mas menino. Para que, quando tropeçares, te levante a mão de teu Pai-Deus. (Caminho, 870)

A piedade que nasce da filiação divina é uma atitude profunda da alma, que acaba por informar toda a existência: está presente em todos os pensamentos, em todos os desejos, em todos os afectos. Não tendes visto como, nas famílias, os filhos, mesmo sem repararem, imitam os pais: repetem os seus gestos, seguem os seus costumes, se parecem com eles em tantos modos de comportar-se? Pois o mesmo acontece na conduta de um bom filho de Deus. Chega-se também, sem se saber como nem por que caminho, a esse endeusamento maravilhoso que nos ajuda a olhar os acontecimentos com o relevo sobrenatural da fé; amam-se todos os homens como o nosso Pai do Céu os ama e – isto é o que mais importa – consegue-se um brio novo no esforço quotidiano para nos aproximarmos do Senhor. As misérias não têm importância, insisto, porque aí estão ao nosso lado os braços amorosos do nosso Pai Deus para nos levantar. (Amigos de Deus, 146)