Páginas

08/03/2021

NUNC COEPI: Publicações 08/04/2021



Grande Vígilia de Quinta-Feira Santa

Reflectir e meditar (cerca de duas horas)

 




NOTA: Esta é uma meditação pessoal.

Não pretende ser um documento-guia, nem, de resto, tenho “categoria” para tal. Ao publicá-la não tenho outro intuito de que de algum modo possa ser útil, a alguém.

Tomando como base de meditação o Santo Evangelho, procurarei seguir a par e passo os acontecimentos memoráveis deste dia santo.


Evangelho








«Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim. E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse, Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus, Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos. Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos. Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes. Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar. Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou. Na verdade, na verdade vos digo: Se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.  Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há-de trair. Então os discípulos olhavam uns para os outros, duvidando de quem ele falava. Ora um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus. Então Simão Pedro fez sinal a este, para que perguntasse quem era aquele de quem ele falava. E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é? Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a Judas Iscariotes, filho de Simão. E após o bocado, entrou nele Satanás. Disse pois Jesus: O que fazes, fá-lo depressa. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto; Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite. Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele. Se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar. Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora. Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Jesus lhe respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás. Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida. Respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por mim? Na verdade, na verdade te digo que não cantará o galo enquanto não me tiveres negado três vezes»

«Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo? Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou. Tenho-vos dito isto, estando convosco. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu. Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis. Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim; Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui»

«Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito. 8  Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou. Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado. Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai. Mas é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa. Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio»

«Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus. E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim. Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito. E eu não vos disse isto desde o princípio, porque estava convosco. E agora vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais? Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza. Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado. Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar.

Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai. Então alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai? Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não sabemos o que diz. Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis? Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará. E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra. Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai; Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus. Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai. Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma. Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus. Respondeu-lhes Jesus: Credes agora? Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo. Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ánimo, eu venci o mundo»

«Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti; Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado. E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós. Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse. Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos. Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja»

«Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus discípulos para além do ribeiro de Cedrom, onde havia um horto, no qual ele entrou e seus discípulos. E Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos. Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para ali com lanternas, e archotes e armas. Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles. Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra. Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno. Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes; Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi. Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco. Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me deu?  Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram».[i]

 

Nestas circunstâncias difíceis para tantos seres humanos, um pouco por todo o mundo, sofrendo as consequências devastadoras desta pandemia que assola as nossas vidas, condicionando-as de forma tão marcante e, muitas vezes, dolorosa, com as privações, o afastamento familiar e, sobretudo, a perda de entes queridos, também eu procuro viver este dia – esta Quinta-Feira Santa – com os meus sentidos colocados naquela sala onde decorre a Última Ceia Pascal de Jesus Cristo. 

Em primeirissímo lugar, começo por dar graças a Deus, muitas graças, por poder fazê-lo na minha casa confortável e amena, com saúde e com o espírito livre de tristezas e amarguras.

Sim, como sempre, sinto-me abençoado pelo Senhor que não Se cansa de me cumular com o Seu cuidado amoroso. 

Como terá sido o dia de Jesus?

Sabemos como terminou, a ceia pascal, os acontecimentos no horto das oliveiras, o “julgameno” no sinédrio.

Mas, antes disso?

O Senhor não vivia por antecipação embora conhecesse o futuro tal como aconteceria com todo o detalhe.

Estaria alegre e bem-disposto como sempre, falando com quantos O procuravam, instruindo, doutrinando, distribuindo sem reservas o Seu interesse por cada um, escutando com simpatia as queixas, os problemas, os pedidos. Um dia "normal", portanto.

Mas, mais que isso, talvez redobrasse - por assim dizer - o Seu carinho por todos, talvez, para nos deixar uma última lição: viver cada momento com a intensidade que merece, com todo o empenho e interesse, sem pressa nem activismo, como Ele próprio disse «a cada dia a sua preocupação».

De facto, de que vale viver o momento presente condicionado pelo futuro?

Acaba-se sempre por não o viver em plenitude que é o que Ele deseja e quer.

Jesus é o mesmo de sempre - hodie et semper - esperando por todos, recebendo todos, acolhendo todos os que livremente O procuram. 

12 No primeiro dia dos Ázimos, quando imolavam a Páscoa, os discípulos perguntaram-Lhe: «Onde queres que vamos preparar-Te a refeição da Páscoa?». 13 Então, Ele enviou dois dos Seus discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade e encontrareis um homem levando uma bilha de água; ide atrás dele, 14 e, onde entrar, dizei ao dono da casa: “O Mestre manda dizer: Onde está a Minha sala onde hei-de comer a Páscoa com os Meus discípulos?”. 15 E ele vos mostrará uma sala superior, grande, mobilada e já pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». 16 Os discípulos partiram e chegaram à cidade; encontraram tudo como Ele lhes tinha dito, e prepararam a Páscoa.[ii] Quando chegou a hora, pôs-se à mesa; e com Ele os Apóstolos».[iii] 

Quando chegou a hora? 

Esta “nota” do Evangelista São Lucas dá-me que pensar: que hora?

As horas têm a ver com o “plano de vida” que, qualquer cristão deve ter.

Um plano de vida tem, evidentemente de prever, considerar ”tempo” para o mundo – as tarefas quotidianas – e “tempo para” Deus – as orações e particpação em actos litúrgicos como a Santa Missa. 

Mas, na verdade, esta “distinção de tempos” não tem razão de ser, já que, as obras, as tarefas, seja o que for, devem sempre ter como critério fazer – em tudo – a Vontade de Deus. 

Se tivermos, como devemos, a consciência da presença de Deus, esta disposição converter-se-á num comportamento natural. 


A Ceia


 

Neste momento, o rito obriga os que o presidem a falar, a interromper por breves momentos a onda arrebatadora de cantos e cerimónias, a quebrar um silêncio que, por si só, poderíamos considerar encantador. A grande memória da Última Ceia do Senhor, triste e doce ao mesmo tempo, domina-nos a todos nós; o mistério eucarístico, com a sugestividade de sua presença real e de sua validade sacrificial, absorve -nos, encanta -nos e, por fim, torna-nos contemplativos e adoradores. Deixo cada um de vós nesta atitude espiritual, concentrado no ponto focal desta celebração reminiscente da instituição do Santíssimo Sacramento, e tenso no esforço de rever a cena evangélica desta última Páscoa do Antigo Testamento e daquela primeira Páscoa do Novo Testamento, e sentir a reflexão que ela, aquela cena, reverbera nesta, que agora nos acolhe a todos, em quantas cenas estamos aqui e em quantas cenas semelhantes estão sendo celebradas na Igreja.

 

UMA MEDITAÇÃO NECESSÁRIA

 

E então percebo um facto espiritual, para o qual chamo a atenção; o facto da consciência que cada um de nós sente surgir em si mesmo diante do mistério eucarístico em torno do qual estamos reunidos. Sentimo-nos iluminados e aquecidos por aquele fogo central, que é Jesus, que se faz sinal ao mesmo tempo do alimento que quer ser para a nossa vida cristã e como vítima da nossa salvação; e perguntamo-nos qual é o nosso comportamento, a nossa atitude espiritual e prática, como convidados da Ceia do Senhor, como homens diante do mistério da Sua presença sacramental e sacrificial tão prodigiosa e viva e perene. A meditação não nos distrai se, à luz da meta atraente e radiante, que é o Cristo eucarístico, observamos, por um momento, o comportamento dos que o rodeiam. 

Não é uma consideração nova. 

Já São Paulo, a primeira testemunha histórica da tradição litúrgica sobre este tema, descreve e critica: “Quando vos juntais, não é assim que se faz a ceia do Senhor”[iv]. E ainda antes, o próprio Jesus havia falado disso, quando uma disputa de precedência surgiu entre os discípulos sentados «qual deles seria o maior»[v]; e quando Jesus, para lhes dar uma lição de suprema humildade, quis lavar os pés dos próprios discípulos, e Pedro protestou que isso não devia ser feito por ele, Mestre e Senhor; mas Cristo Se impôs condicionando a participação na Sua mesa para acolher, compreender, imitar o mistério da humildade, o Kénosis [vi] que envolve toda a economia da revelação divina. Toda a história da Ceia pode ser comentada, quase como um quadro do que Jesus fez e disse na época, observando o comportamento da pequena comunidade, a começar pelo clima de intimidade singular, que aí reina, pelo menos em alguns momentos, quase de sentimentalismo afectuoso[vii], de doçura profunda[viii], depois do espanto angustiado com o anúncio de uma traição iminente[ix] e, portanto, de grande tristeza, porque Jesus deixa entender o Seu fim terreno iminente[x] e prediz as tribulações destinadas aos seguidores fiéis[xi], E, ​​finalmente, da suspensão mística das almas, quando Jesus desabafa nos discursos reveladores do Paráclito, animador de uma nova forma de vida interior e eclesial, que respira amor, verdade e unidade.

 

O SACRAMENTO DE EMMANUEL: DEUS CONOSCO

 

Bastaria respirar um pouco aquela atmosfera da Última Ceia, doce e dolorosa, profunda e aberta, fortemente humana e primorosamente espiritual, para compreender algo do mistério eucarístico e sentir-se embriagado pelo surrealismo evangélico. Os piedosos, os meditativos, os místicos sabem disso; os adoradores da Eucaristia sabem disso. 

Para nós agora basta um corolário, ao qual cada um pode remeter para futuras reflexões: o culto eucarístico não se esgota no acto litúrgico que o gera; ele requer um entendimento, uma reflexão, uma espiritualidade, que deve dar a cada fiel e para toda a comunidade no sentido sacramental de Emmanuel, de Deus conosco[xii]. Por outras palavras, uma renovação, um renascimento da piedade eucarística, como a teologia do "mistério da fé", a advertência da instituição simultânea do sacerdócio ministerial, que isso acarreta, e o espírito da reforma litúrgica conciliar hoje exigem do Povo de Deus. 

Talvez os próprios discípulos, presentes na Ceia do Senhor, fossem um pouco como nós, não totalmente conscientes do que havia acontecido com as estranhas palavras de Jesus: «Este é o meu corpo» , «Este é o cálice do meu sangue».

Eles também precisaram entender mais tarde. 

É sempre assim com as revelações divinas que por causa de formas sensíveis; exigem um repensar posterior, uma penetração profunda[xiii]. E que esse espaço de tempo entre o que Jesus fez e disse naquela noite e a compreensão dos discípulos foi notável é mostrada pelas atitudes dos próprios discípulos, que estamos observando.

 

O NOVO MANDAMENTO

Pedro.

Falamos sobre seu comportamento rebelde no início, depois dócil ao excesso.

Após a promulgação do novo mandamento do amor mútuo[xiv], ele, curiosamente, refere-se a uma palavra anterior de Jesus: «Para onde eu for, vós não podeis ir»[xv], sem falar - dando assim a impressão de não apreender a sua enorme importância - ao grande preceito da caridade, há pouco proclamado pelo Divino Mestre.

Com efeito, o interesse do Apóstolo expressa-se nesta pergunta: «Senhor, para onde vais? quo vadis Domine?»[xvi]. E então quando Jesus, transbordando de tristeza, revela a próxima traição de um dos convidados[xvii] , e a fuga dos próprios discípulos, Pedro protesta com a sua generosidade impetuosa, ignorando a advertência premonitória do Senhor: «Em verdade te digo: ainda esta noite, antes que o galo tenha cantado duas vezes, três vezes me terás negado a mim»[xviii].

Episódio horrível, que ferirá profundamente o coração de Cristo[xix], e que custará a Pedro as lágrimas mais amargas[xx], e a reparação com um triplo certificado de amor[xxi].

Caberá àqueles que primeiro falarem convosco fazerem dela um tema de meditação perene, e a todos aqueles, ministros e fiéis que se sentam à mesa do Senhor, reflictam quão frágil e inconstante é a nossa fidelidade, e quanto ela sempre precisa.

O carisma, que também naquele momento dramático o misericordioso Jesus quis assegurar ao próprio Pedro; Oh! ouçam as palavras poderosas e doces: ‘Simão, Simão! Aqui está que Satanás obteve permissão para te peneirar como tu peneiras o trigo. Mas eu orei por ti (pensemos! Jesus orando pelo apóstolo escolhido por ele para o fundamento da Sua Igreja!)[xxii]; «Rezei por ti, para que a tua fé não desfaleça, e tu, quando te convertes, confirma os teus irmãos»[xxiii].

É bom ouvir estas palavras, que fazem parte do relato da instituição da Eucaristia, e repensá-las aqui e neste momento! 

Então, entre os personagens da Última Ceia, não podemos esquecer outro protagonista.

É comovente vê-lo sentado no ágape pascal. E não podemos sufocar a emoção relendo a narrativa do Evangelho, e vendo como a presença do traidor pesa no coração do Mestre, que  «de espírito perturbado»[xxiv] não quis mais conter o opressor segredo: «Na verdade, eu digo a verdade: um de vós vai trair-me»[xxv].

Sabemos o resto; como aconteceu discretamente a identificação do traidor e como ele, descoberto, furtivamente saiu do Cenáculo: «Era noite»", conclui o Evangelista[xxvi].

“E ele mesmo saiu era noite”, comenta Santo Agostinho[xxvii].

Quem não sente arrepios no coração ao ouvir o comentário ainda mais sério e terrível de Jesus: «Teria sido melhor se aquele homem nunca tivesse nascido[xxviii]

IMPLORAÇÃO ESPECIAL DE JESUS: O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA 

Irmãos!

Não consigo pensar neste trágico drama pascal sem a lembrança do abandono, da fuga de tantos Irmãos sacerdotais do nosso cenáculo como "dispensadores dos mistérios de Deus"[xxix].

Eu sei, eu sei; devemos distinguir caso a caso, devemos compreender, devemos ter pena, devemos perdoar, e talvez devamos esperar novamente, e devemos sempre amar.

E recordo no amor angustiado que mesmo estes confrades, infelizes ou desertores que o são, são marcados pela marca indelével do Espírito, que os qualifica como Sacerdotes para sempre, qualquer que seja a metamorfose por que passam exterior e socialmente e muitos deles por eles próprios, por razões terrenas vis, afirmam.

Mas como deixar de perceber, nesta hora de comunhão, as vagas desses que um dia foram  nossos comensais?

Como não clamar pela deserção consciente de alguns, como não deplorar a mediocridade moral que gostaria de achar natural e lógico quebrar a própria promessa, há muito premeditada, solenemente professada diante de Cristo e da Igreja?

Como, esta noite, não rezar por esses irmãos fugitivos e pelas comunidades que eles deixaram e escandalizaram?

Como não intensificar a nossa invocação afectuosa pela nova geração de ministros, que na nossa Igreja latina, acolhendo o sacerdócio, realizam livre e conscientemente a sua opção generosa pelo único amor por Cristo, pelo único serviço à Igreja, pelo ministério único e total aos irmãos, consumindo assim na própria carne “o que ainda falta na paixão de Cristo”[xxx], para que o seu sacrifício de amor seja válido como sinal, como exemplo, como mérito da eficácia da Redenção na nossa era moderna secularizada e hedonista? 

Sim, então vamos orar.

E para completar a nossa escuta, deixaremos então que as respostas divinas ecoem aos outros interlocutores da Última Ceia, a Tomé, Filipe, Tadeuo e os Onze restantes; e uma entre todas as respostas dadas a Tomé, sempre positivas e concretas nas suas perguntas: «Senhor, não sabemos para onde vais; como saberemos então o caminho? ».

E Jesus responde: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida"[xxxi].

A resposta, a grande resposta, também se aplica a todos nós esta noite. E para sempre.

 

UT SINT OMNES UNUM

E, por fim, recordo a impressão resumida que o olhar dirigido ao grupo em torno do acto instituinte da Eucaristia suscita nas mentes; a impressão de que descobre uma realidade produzida no Cenáculo, a união dos Onze com Cristo, na verdade a unidade, uma unidade nova e sobrenatural; ela é anunciada como facto incipiente e final pelo próprio Cristo no final dos discursos incomparáveis ​​daquela última noite: ut sint unum, que todos sejam um![xxxii]

A Eucaristia, vista em quem nela participa, é comunhão; comunhão em Cristo, comunhão com os irmãos solidários na mesma fé e na mesma caridade: é a Igreja! A Igreja é comunhão. 

E estou feliz por expressar o voto, que vejo aqui cumprido nesta celebração da Quinta-feira Santa: a vossa presença torna-se comunhão! Saúdo e abençoo esta comunhão! Saúdo com o sentimento de formar um só Corpo todos nós, que partilhamos do mesmo Pão[xxxiii], os membros do Sagrado Colégio aqui presentes e os Prelados da Cúria Romana; Saúdo o Cardeal Vigário, Arcipreste desta Basílica com o clero que a ela pertence, e o presbitério romano que lhe pertence, com todo o povo romano; Saúdo o Presidente da Câmara, o Primeiro Magistrado da Cidade e as demais personalidades civis representativas que participaram neste rito de harmonia e paz; Saúdo o Corpo Diplomático e os notáveis ​​da Cidade, as Associações Católicas e todos os fiéis presentes; e a saudação de unidade estende-se a toda a Santa Igreja Católica, onde quer que ela celebre a Quinta-feira Santa; e também alcança horizontes ecuménicos com esperança amorosa; a toda a humanidade, para que encontre paz e harmonia.

Ut sint omnes unum: que todos sejam um!

Cristo é o princípio e o centro da verdadeira e superior unidade humana e da comunhão sobrenatural que Nós, nesta noite, bênção em Seu nome, celebramos aqui![xxxiv] 

E sentaram-se à mesa.

Imaginei, ou melhor, vivi esta “Última Ceia” tantas vezes ao largo da minha longa vida que posso dizer que conheço de cor todas as palavras trocadas, os gestos, as atitudes, enfim… os detalhes de quanto se passou naquela «sala no andar de cima»[xxxv]

Logo no início começa uma discussão entre os doze. 

Houve ainda uma discussão entre eles sobre qual deles devia ser considerado o maior. Jesus, porém, lhes disse: “Os reis das nações dominam sobre elas, e os que exercem o poder se fazem chamar benfeitores. Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo. Afinal, quem é o maior: o que está à mesa ou o que está servindo? Não é aquele que está à mesa? Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve. Vós sois aqueles que permaneceram comigo em minhas provações. Por isso, assim como o meu Pai me confiou o Reino, eu também vos confio o Reino. Havereis de comer e beber à minha mesa no meu Reino, e vos sentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.[xxxvi]



Ser o maior? 

Por estranho que possa parecer deixo-me arrastar por este sentimento espúrio e sem nenhum sentido.

Tenho, forçosamente, de Lhe dizer com o coração nas mãos: Senhor: Quase que não vejo a necessidade de Te pedir humildade.

Ser humilde é, para mim, um objectivo que persigo desde sempre. Sempre longe, parece, cada vez mais distante porque, pobre de mim, sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, que resiste a ser moldado pelas Tuas divinas mãos.

Mas não Te importes Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada.

Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar.

Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência.

A verdade, que Te confesso, é esta: Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada. 

O cristão tem uma “categoria” excepcional: É a imagem e semelhança de Deus; é filho de Deus. 

Nenhum outro vínculo ou atributo é maior que este. Mas nem por isso se pode vangloriar mas, antes, agradecer o que lhe foi graciosamente dado, pelo seu Criador.

O exemplo de Jesus Cristo deve impedir-me de me atribuir qualquer importância, sim… porque Ele, sendo Homem Perfeito e Perfeito Deus, Se humilhou até à morte e Morte de Cruz. 

A criatura é mais autenticamente humana na medida em que aperfeiçoa a imagem e a semelhança de Deus.

Nesta determinação o homem e a mulher encontram o sentido mais profundo e mais feliz da sua existência.

Temos que rejeitar a ideia, desgraçadamente difundida, de que imitar Cristo supõe um nível de conduta que nos supera.

Nada mais longe da verdade.

Enquanto não nos persuadirmos de que, com a graça de Deus, podemos conseguir essa identificação, significa que continuamos a pactuar com a mediocridade, renunciando à incomparável aventura de tratar Cristo de perto, como Amigo, Irmão, Mestre, Médico.[xxxvii]




 

A traição de Judas 

«…enquanto eles comiam, disse: «Amen vos digo: um de vós me há de entregar». Profundamente entristecidos, começou cada um a perguntar-lhe: «Não sou eu, Senhor, pois não?». Ele, respondendo, disse: «O que pôs comigo a mão no prato, esse me entregará. De facto, o Filho do Homem parte, tal como está escrito acerca dele, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é entregue! Melhor seria para esse homem não ter nascido». Em resposta, Judas, que o ia entregar, disse: «Não sou eu, Rabi, pois não?». Ele disse-lhe: «Tu o disseste!».[xxxviii] 

Não consigo compreender e, como não compreendo, tenho dificuldade em aceitar. 

Como é possível que um homem que conviveu com Jesus durante três anos, assistindo, acompanhando a Sua vida diária, ouvido os Seus discursos, presenciando os Seus milagres seja capaz de uma acto tão torpe como a traição!

A única explicação que encontro é… uma alma corrompida e, a corrupção é sempre o resultado de uma ambição desordenada que tolda, escurece, os verdadeiros motivos que levam a seguir alguém ou a abraçar uma causa.

Percebemos, hoje, que os verdeiros motivos que levaram Judas a seguir Jesus  foram apenas o que a sua “filiação de zelota” descobria em Jesus: Um chefe extraordinário, um líder incontestado, carisma, valor, potência, capacidade… tudo quanto um verdadeiro chefe precisa para conduzir  outros a um objectivo superior, e, neste caso, Jesus seria esse chefe, o líder que conduziria a nação à liberdade do jugo romano, à conquista do seu lugar primordial entre as nações de então.

Judas seguia Jesus sem O ouvir, sem O entender, sem dar qualquer importância às Suas palavras de amor, de vida eterna.

Apenas via as multidões que O seguiam ávidas de O ouvir, “dominadas” pelo desejo genuíno de entender a Sua doutrina.

E, nestas multidões sonhava com os seguidores da “grande revolta triunfante. 

Motivos meramente humanos, portanto, quando, para seguir Jesus os motivos têm de ser inteiramente outros: enformados pelo amor e não pelo ódio; pela solidariedade e não pelo exclusivo; pela união e não pela divisão; pela verdade substancial e não pelo sonho mais ou menos quimérico. 

Judas não é de facto um homem sério, honesto, procura aproveitar-se de um ensejo para alcançar um fim sem ter em conta se o que pretende usar é conveniente para tal. 

E… pasmo! Jesus não sabia quem era Judas?

Os motivos, a razão porque O seguia? 

Evidentemente que sim!

Jesus sabia tudo, o passado, o presente e o futuro mas, o Seu Amor infinito esperaria uma reconvenção do discípulo, como que um cair em si e, constatando o seu engano, afastar-se ou, o que realmente esperava, converter-se à Sua doutrina e abraçar decididamente a esperança de alcançar o Reino de Deus. 

Assim, depois de pensar mais um pouco já compreendo e, portanto, aceito.

Deus espera sempre o nosso arrependimento e dá-nos todas as oportunidades para para tal mas, porque é sumamente Justo, não pode mais que respeitar a nossa liberdade que Ele Próprio nos deu, mesmo quando o uso dessa liberdade seja causa da nossa perdição.

E, humanamente considerando, porque não posso fazer de outra forma, o uso da liberdade pessoal de cada um é de sua exclusiva responsabilidade quando não, seria falsa. 

A questão da liberdade que os seres humanos possuem tem sido, ao longo dos tempos, motivo de debates e questões.

Alguns aduzem que não somos inteiramente livres porque devemos  obediência a Deus e, se não formos obedientes, sofreremos um castigo.

Pessoalmente vejo assim:

Eu sou um ser criado.

Não tive qualquer interferência na minha criação logo, não posso atribuir-me uma propriedade minha.

Serei, quando muito, um istrumento do meu criador e, porque ele me dotou de inteligência e vontade será absolutamente lógico e natural que faça o que Ele quer que faça e da forma melhor e mais perfeita que as minhas capacidades permitirem.

Se assim proceder vou ao encontro dos desejos “objectivos” do Criador e, obviamente satisfaço a Sua vontade a meu respeito.

Ele não tem porque dar-me um prémio por ter cumprido quanto devia mas considera-me verdadeiramente seu e chama-me para a sua companhia.

Este é, de facto, o “prémio” porque estar na intimidade do criador é o maior bem a que posso aspirar.

Considerando, agora, que opto por não fazer o que devo, ou o faço a contragosto, sem esmero – mal-feito -, o resultado não o posso entregar a quem mo pediu sob pena de não ser aceite. 

Um trabalho deficientemente feito, mal acabado, não é aceite por quem no-lo  encomendou, antes é atirado fora por não ter o préstimo que deveria ter. 

O Criador continuará a desejar que eu reconsidere “refazer” o mal-feito e, enquanto o não fizer, manter-se-á a distância entre o Criador e o criado.

Esta situação é, de facto um castigo.

Resumindo assim: Faço o que devo obtenho… um prémio; não faço o bem que devo… sou castigado… parece que, de facto, não sou livre de fazer ou não fazer conforme me apeteça! 

Esta é uma falsa lógica que conduz, óbviamente, a uma conclusão profundamente errada.

Que satisfação posso ter em possuir um cavalo que não consente que o cavalgue?

De facto… tenho um cavalo, mas, não me serve para nada.

Transpondo para o meu Criador, Deus, de que Lhe sirvo se não faço a Sua Vontade tal e como Ele deseja?

Manter-me-á como Seu e continua a contar comigo para o que quer de mim. 

Ao longo da minha vida foi-me dando abundantes bens, lições, conhecimentos, talentos para eu poder fazer – bem – o que devo.

Se eu desprezo esses bens, lições, conhecimentos, talentos não os pondo em prática fico sem meios para cumprir o que de mim legítmamente espera. 

Para que serve um estudante que não estuda?[xxxix]

A resposta será: Serve… para nada!

Em primeiro lugar, não aprende; depois consome recursos da família sem qualquer fruto ou retorno; desgosta os que lhe querem bem e desejam a sua felicidade; compromete o seu futuro pessoal; vive enganando-se a si mesmo e enganando os outros. 

Volto a considerar o meu papel como ser criado por Deus.

Na verdade muitas vezes me interrogo qual é a Sua Vontade?

Sim… neste momento, nestas circunstâncias específicas o que Ele quer que faça?

Com a humildade que sou capaz de reunir, dirigi-me confiadamente a Ele: Domine; quid me vis facere?

Docere me facere voluntatem tuam quia Deus meus es tu!

Este, quero que seja o meu lema-objectivo diário, constante.

Ajuda-me, Senhor, a concretizá-lo

E, depois, peço mais ajuda: Minha Mãe, Maria Santíssima, São José meu Pai e Senhor, Anjo da Minha Guarda tomai-me pela mão para que não me desvie do meu caminho.

Fico tranquilo.

 




Molhando o bocado, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.[xl] E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto. Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres.[xli] 

Jesus retoma a palavra para, num longo discurso, lhes falar de Amor, do que os espera, da fé e confiança que têm de ter n'Ele.

Vou deter-me com redobrada atenção em cada palavra que os Evangelistas fazem constar.

Sinto que me são dirigidas a mim para que me dê conta do seu real significado, da “substância” que contêm.

Sim… são palavras de vida, da vida que, decididamente quero viver.

 

Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.  E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse,  Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus,  Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não todos.  Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.  Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?  Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.  Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros.  Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.  Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar.  Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou. Na verdade, na verdade vos digo: Se alguém receber o que eu enviar, me recebe a mim, e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.[xlii] 

Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.  Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar.  E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.  Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho.  Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?  Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.  Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.  Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta.  Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?  Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras.  Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras.  Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.  E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.  Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.  Se me amais, guardai os meus mandamentos.  E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre;  O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.  Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.  Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis.  Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.  Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.  Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?  Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada.  Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.  Tenho-vos dito isto, estando convosco.  Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.  Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.  Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai é maior do que eu.  Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós acrediteis.  Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim;  Mas é para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-vos, vamo-nos daqui.[xliii] 

Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem. Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos. Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. Isto vos mando: Que vos ameis uns aos outros. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.  Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.  Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.  Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.  Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado.  Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai.  Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais nenhum outro tem feito, não teriam pecado; mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a meu Pai.  Mas é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa.  Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio.[xliv] 

Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus. E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim. Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo tinha dito. E eu não vos disse isto desde o princípio, porque estava convosco. E agora vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais? Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso coração se encheu de tristeza. Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado. Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai. Então alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai? Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não sabemos o que diz. Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis? Na verdade, na verdade vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.  A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará. E naquele dia nada me perguntareis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há de dar. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo se cumpra. Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas, mas abertamente vos falarei acerca do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai; Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes, e crestes que saí de Deus. Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai. Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não dizes parábola alguma. Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus. Respondeu-lhes Jesus: Credes agora? Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que vós sereis dispersos cada um para sua parte, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo. Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ánimo, eu venci o mundo.[xlv] 

Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti; Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti; Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste. Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado. E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós. Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse. Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos. Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.  E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.  E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim.  E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.[xlvi] 

E, finalmente, pratica este amor pelos homens oferecendo-Se como alimento para todo o sempre e, mais, garante que o milagre se repetirá sempre que repetirem aquelas palavras e aqueles gestos em Sua memória.




Tomou um pão e, depois de dar graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o Meu corpo, que vai ser dado por vós; fazei isto em Minha memória. Depois de jantar, fez o mesmo com o cálice, dizendo: Este cálice é a nova Aliança no Meu sangue, que por vós se vai derramar»[xlvii] 

Este milagre de puro amor – talvez que, maior que o Sacrifício da Cruz – renova-se constantemente, por Sua Vontade expressa, no Santo Sacrifício da Missa.

De facto, na Cruz, Cristo merece-nos a Redenção e a Salvação Eterna, numa imolação cruenta, terrível, excepcionalmente humilhante e completa.

Na Eucaristia a Sua humilhação é bem expressa ao converter pão e vinho no Seu Corpo e no Seu Sangue para servir de alimento – perene – a todos os homens. 

Fico abismado com a magnitude desta humilhação do Senhor de quanto existe em consubstanciar-Se em alimento que, por sua vez, - na Comunhão Eucaristica e enquanto as Sagradas Espécies subsistirem - se transforma no meu corpo e sangue! 

“Apoiado nesta fé da Igreja, o Concílio de Trento confessa “aberta e simplesmente que no fortalecedor sacramento da Eucaristia, depois da consagração do pão e do vinho, se contém verdadeira, real e substancialmente, Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sob a aparência daquelas coisas sensíveis”.[xlviii] Portanto, o nosso Salvador está presente segundo a Sua humanidade, não só à direita do Pai, conforme ao modo normal de hexistir, mas ao mesmo tempo também no Sacramento da Eucaristia segundo um modo de hexistir que, ainda que mal possamos exprimir por palavras, podemos, contudo, alcançar com a razão ilustrada pela fé e devemos crer firmissímamente que é possível para Deus”.[xlix] 

A minha alma, o meu espírito agustiam-se, por vezes, ao considerar os “ultrajes, as ofensas e sacrilégios com que tantas vezes é ofendido”.[l] 

Com frequência durante o dia esta constatação leva-me a actos e considerações de reparação: actos de pequenas sacrifícios ou renúncias, considerações que são preces e jaculatórias.

Sobretudo quando me aproximo da Comunhão Eucaristica, peço por todos esses pobres seres que cometem esses actos tão vis de desrespeito e profanação, atrevendo-me a implorar: Senhor… eles não sabem o que fazem! 

Hoje, neste ano de 2020, não posso receber-Te na Sagrada Comunhão e limito-me a fazer a comunhão espiritual que aprendi de São Josemaria: “Eu quisera Senhor, receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos rebeu a Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos”. 

Foi o que fiz hoje ao participar – pela Televisão - na Santa Missa celebrada na Basília de São Pedro, pelo Papa Francisco.

 




 

Comoveu-me aquela figura de homem idoso, com vísiveis dificuldades motoras, mas com um espírito lúcido e determinado.

A sua homília foi centrada nos Sacerdotes.

Foram palavras de afecto e de esperança, inspiradoras de confiança e aconselhando o serviço a Deus, e, por Deus aos outros. 

Fiquei envergonhado e triste por considerar que não rezo tanto como devia pelos Sacerdotes.

Envergonhado, porque falto ao meu dever como cristão.

Triste, por me mostrar tão ingrato por tantos inestimáveis serviços que deles tenho recebido ao longo dos anos. 

Tenho tomado o propósito concreto de diariamente rezar:

                   


                   


 

Meu Senhor Jesus Cristo: Dai à Vossa Igreja Sacerdotes Santos que se entreguem ao serviço exclusivo da Igreja e das almas, ao anúncio fiel da palavra de Deus, à administração dos Sacramentos, em especial da Eucaristia e da Penitência, obedientes ao Magistério da Igreja e observando amorosamente a Sagrada Liturgia, para exemplo e guia seguro do Povo de Deus.i 

A ceia continua…

Segue-se um discurso longo, detalhado.

Jesus tem um tom de voz que denuncia a importância do que diz e, talvez, para que fique bem gravado na memória dos que O ouvem – ou o leem, como eu – pelos tempos fora. 

Anúncio da negação de Pedro

Disse-lhes, então, Jesus: Esta noite todos vós caireis em escândalo por causa de mim, pois está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas do rebanho. Mas, depois de Eu ter ressuscitado, irei à vossa frente para a Galileia. Pedro, em resposta, disse-lhe: Ainda que todos caiam em escândalo por causa de ti, eu nunca cairei em escândalo. Disse-lhe Jesus: Amen te digo: nesta noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás. Disse-lhe Pedro: Mesmo que seja necessário eu morrer contigo, jamais te negarei. E o mesmo disseram todos os discípulos.[lii] 

Estou tão “metido” nesse discurso que mal me dou conta que tudo já acabou, que se «cantaram os hinos»[liii] e todos se vão embora. 

Já passa das vinte e duas horas, é noite cerrada e, eu, recomponho-me das emoções vividas e apresso-me a sair também.

  




Chegamos ao Horto das Oliveiras;  o meu coração, uma vez mais, confrange-se com as cenas que presencio. Tenho de fazer um esforço de contenção para que não estravase para fora quanto sinto vai acontecer e não fugir desta situação.

Não!

Vim para ficar!

Vim para acompanhar, custe o que possa custar, este momento soleníssimo que me é dado viver para que o guarde na minha memória como marco inequecível de uma Paixão que está prestes iniciar-se. Paixão de Jesus Cristo, o meu Senhor e Mestre que Se submete por amor aos homens, a mim, a tamanha prova.




 

Oração de Jesus no Getsémani

Então Jesus disse aos discípulos: Sentai-vos, enquanto vou ali rezar. Tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: «Profundamente entristecida está a minha alma até à morte; permanecei aqui e estai vigilantes comigo. E, indo um pouco adiante, caiu com o rosto por terra e rezava, dizendo: Meu Pai, se é possível, que se aparte de mim este cálice; no entanto, não se faça como Eu quero, mas como Tu queres. Veio, então, ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: Nem uma hora fostes capazes de estar vigilantes comigo? Estai vigilantes e rezai para que não entreis em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca. Afastando-se, de novo, pela segunda vez, rezou dizendo: Meu Pai, se não é possível apartar este cálice sem que o beba, faça-se a tua vontade. Ao vir de novo, encontrou-os a dormir, pois os seus olhos estavam pesados. Deixando-os, de novo se afastou e rezou pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Então foi ter com os discípulos e disse-lhes: Ireis dormir e descansar o resto da noite? Eis que se aproxima a hora em que o Filho do Homem é entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que se aproxima o que me vai entregar.[liv] 

O meu Senhor retirou-se para rezar.

Procurou a solidão no silêncio do fim do dia.

A Sua Humanidade sofria intensamente com a visão dos tormentos que se aproximavam.

Poderia Jesus ter suportado a flagelação, as vergastadas, os espinhos cravando-se na Sua cabeça, os pregos rasgando a carne, o horror do suplício da Cruz?

Estou certo que sim.

Jesus era um homem perfeito e o sofrimento, por excessivo que fosse não deveria atemorizá-Lo de forma tão esmagadora.

Outros, por amor a Jesus Cristo, sofreram também horrores, tormentos inauditos de incrível crueldade e, ainda nos dias de hoje, continuam a sofrer e a dar as suas vidas pela fé que abraçaram..

Julgo que o atroz sofrimento de Jesus, no Horto das Oliveiras, nascia principalmente no Seu espírito, no Seu coração.

Ele tinha dado tudo quanto tinha para dar, oferecido todos os meios, apontado todos os caminhos e, agora, iam fazer pouco, escarnecê-Lo, violentá-Lo na Sua inteireza de homem bom e recto, iam negá-Lo como Filho de Deus, Deus verdadeiro feito homem.

Tudo isto, e muito mais, e não só nessa noite e no dia seguinte, mas depois, em todas as noites e todos os dias até ao final dos tempos.

Milhões de homens e mulheres que sempre O iriam negar, escarnecer, cuspir e crucificar outra vez. Que peso, Senhor, que peso incrível seria o conhecimento de tudo isto! 

Ah! Meu Jesus, se ainda se salvassem todos os homens!

Se, apesar de tudo, essas almas conhecessem a Vida Eterna no seio de Deus Pai, como tinhas previsto e desejado desde o início dos tempos!

Mas não, Jesus, o que mais Te dói agora, neste fim de dia no Horto das Oliveiras, é que tantos milhões de homens e mulheres se percam eternamente.

Dói-te tanto, Senhor, não pelo Teu sacrifício ter sido inútil para esses, mas porque o Teu coração bondoso, a Tua misericórdia infinita, se entristece mortalmente com esse fim trágico dos Teus filhos.

Não foi isso que quisesTe.

Nunca desejas-Te outra coisa senão a eterna felicidade de todos os homens, que todos, absolutamente todos, se salvassem e pudessem estar conTigo, com o Pai, com o Espírito Santo, com a Tua Santíssima Mãe, com a legião de Anjos e Santos, por toda a eternidade. 

Não tens, ali, a Tua Mãe extremosa, para Te amparar e dar consolo. Nesta hora tão triste, de certeza que o seu coração se contrai também na dor que não pode deixar de sentir em uníssono com o seu Filho.

Talvez, na casa onde pernoita, vele angustiada, esperando as horas gravíssimas que adivinha.

Decerto que Tu, Filho fiel, com todo o carinho e ternura lhe terás desvendado algo do que irá acontecer nas próximas horas.

Soube, antes que lho contasses, da tristeza que já Te invadia o coração, bastava-lhe olhar o rosto adorado do seu divino Filho para se aperceber do vendaval de emoções que n'Ele se chocavam. 

Também ela, a Tua Santíssima Mãe, reza com fervor repetindo o “Fiat” que pronunciara trinta e três anos antes.

Punha nas mãos de Deus, Teu e seu Pai, toda a vida, toda a morte, todos os sofrimentos do seu Filho.

Tem confiança, tem esperança mas, sobretudo, sabe, que há-de voltar a ver-Te ressuscitado e glorioso.

Esta certeza, do sofrimento de Tua Mãe, junta-se às dores que Te partem o coração e tornam tão grande, tão incomensurável, a Tua dor, tens tanta pena, que suas sangue[lv] e, numa fraqueza momentânea, pedes a Teu Pai que afaste esse cálice.[lvi]

Por momentos, Senhor, a Tua humanidade tornou-se mais evidente. Mas logo, a Tua perfeição absoluta, reduziu a nada esse desejo legítimo, a esse desabafo: «não se faça o que Eu quero, senão o que Tu queres!» 

Também eu digo: Faça-se a Tua vontade, Deus e Senhor de tudo e de todas as coisas e não a minha vontade de homem!

A Tua dor, Senhor, é uma dor de amor que só pode ser mitigada com amor. 

Minha Mãe Santíssima, ajuda-me a ter uma dor de amor tão completa que me faça despertar deste sono que me carrega o espírito e permanecer ao lado do teu divino Filho, vigilante e decidido a não ceder nem à dor nem ao cansaço.

Jesus, ajuda-me a acompanhar a Tua Santíssima Mãe e compartilhar com Ela estes Mistérios Dolorosos, animando-a e confortando-a na sua dor e angústia”. 

Se vês que adormeço; se descobres que me assusta a dor; se notas que me detenho ao ver mais de perto a Cruz, não me deixes!

Diz-me como a Pedro, como a Tiago, como a João, que necessitas da minha correspondência, do meu amor.

Diz-me para seguir-Te, para não voltar a deixar-Te abandonado com os que tramam a Tua morte, tenho que passar por cima do sono, das minhas paixões, da comodidade.[lvii] 

Na oração perseverante e entregue de Jesus Cristo vemos, no Amor humano de Jesus, o Amor  de Deus pelas criaturas, gratuito e infinito; e na oração sonolenta e por fim abandonada dos Apóstolos, o pobre amor – o desamor – da criatura centrada no seu eu e dobrada pela sua dibiliade.[lviii] 

É sintomática esta reacção dos três discípulos perante o "peso" ou solenidade de situações que vivem com o Mestre.


Na agonia em Getsémani perante o indizível sofrimento do Senhor tam­bém são vencidos pelo sono.


Como se a realidade fosse de tal forma "chocante ou extraordinária" que a sua amizade e carinho pelo Senhor se recusam a admitir o que constatam.


O sono é muitas vezes desculpa para muitas faltas de coragem em que é necessário mostrar solidariedade, apoio, solicitude.


Não poucas vezes sou vencido pelo sono, o torpor que me leva a não considerar as realidades que não compreendo.


É como que uma "defesa" do meu espírito recusando-se a encarar algo difícil que se me apresenta como que fora do comum e, a verdade, é que a minha Fé cristã necessita debruçar-se continuamente sobre os seus fundamentos num constante exame e estudo para melhor com­preender.


Tenho de vencer uma atávica tendência para a rotina que, na prática da Fé, talvez seja o pior defeito que possa ter.


Que a Doutrina não muda sei-o bem, o que deve ser mais uma razão para que não deixe nunca de aprofundar, esmiuçar, detalhar para alcançar a segurança que é necessária para o seu fiel cumpri­mento.


Não ceder ao cansaço ou modorra; são tentações que pretendem levar-me ao abandono do dever; não deixe para “mais tarde” o que tenho de fazer agora; NUNC COEPI – agora começo -  é, deve ser, a minha disposição permanente.

 




Prisão de Jesus

Ainda Ele falava, eis que chegou Judas, um dos Doze e, com ele, uma numerosa multidão com espadas e varapaus, da parte dos chefes dos sacerdotes e anciãos do povo. O que o ia entregar dera-lhes um sinal, dizendo: «É aquele que eu beijar; prendei-o». E, indo imediatamente ter com Jesus, disse: «Salve, Rabi!», e beijou-o efusivamente. Jesus disse-lhe: «Amigo, a que vieste?». Então, avançando, deitaram as mãos a Jesus e prenderam-no. E eis que um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou da sua espada e, atacando o servo do sumo-sacerdote, cortou-lhe a orelha. Disse-lhe, então, Jesus: «Volta a pôr a tua espada no seu lugar, pois todos os que pegam na espada, pela espada perecerão. Ou pensas que não posso suplicar a meu Pai e prontamente Ele poria à minha disposição mais de doze legiões de anjos? Como é que, então, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais é necessário que assim aconteça?». Naquela hora, disse Jesus às multidões: «Como se faz a um salteador, saístes com espadas e varapaus para vos apoderardes de mim. Dia após dia sentava-me no templo a ensinar, e não me prendestes! Porém, tudo isto aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas». Então todos os discípulos, abandonando-o, fugiram.[lix] 

A traição é sempre um acto vil e reprovavel.

Mais ainda quando se abusa da posição de amigo de quem se trai.

A amizade, bem expresa nesse acto íntimo que é o beijo, só o é, verdadeiramente, se incondicional sejam quais forem as circunstâncias ou os “valores” que possam apresentar-se.

Um dos “pilares” da amizade é ter a certeza de poder contar com o outro SEMPRE para solidariamente acompanhar, ajudar, acudir no que for preciso, partilhar os mesmos sentimentos de alegria ou tristeza, na ventura e na desgraça na abundância e na escassez.

A amizade é como uma muralha firme contra a qual embatem os inimigos pessoais, as vicissitudes e que, também guardam os bens de cada um, o que têm.

Os amigos querem-se verdadeiramente um ao outro, com as virtudes e defeitos que cada um possa ter já que, como é suposto, se complementarão.

Na família a amizade é a expressão do sentimento comum porque cada um se quer não pelo que tem mas pelo que é.

No fim e ao cabo, a amizade consubstancia-se no Amor e, este, ou é total e sem condições ou não o é de todo.

Nas minhas orações diárias considero:

Esta realidade que me atinge como um raio, deixa-me sem palavras: Jesus é meu amigo!

Sendo eu como sou, sendo eu o que sou!

É extraordinário.

Durante os anos, e não são poucos, quantas conversas, quantos desabafos, queixas e pedidos não Lhe fiz!

Meu amigo!

Jesus é meu amigo.

Com esta certeza, com este AMIGO que mais posso precisar?

Que posso temer!  

Judas, então, guiando o destacamento romano e os guardas ao serviço dos sumos sacerdotes e dos fariseus, munidos de lanternas, archotes e armas, entrou lá. Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, adiantou-se e disse-lhes: «Quem buscais?» Responderam-lhe: «Jesus, o Nazareno.» Disse-lhes Ele: «Sou Eu!» E Judas, aquele que o ia entregar, também estava junto deles. Logo que Jesus lhes disse: ‘Sou Eu!’, recuaram e caíram por terra. E perguntou-lhes segunda vez: «Quem buscais?» Disseram-lhe: «Jesus, o Nazareno!» Jesus replicou-lhes: «Já vos disse que sou Eu. Se é a mim que buscais, então deixai estes ir embora.» Assim se cumpria o que dissera antes: ‘Dos que me deste, não perdi nenhum.’ Nessa altura, Simão Pedro, que trazia uma espada, desembainhou-a e arremeteu contra um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: «Mete a espada na bainha. Não hei-de beber o cálice de amargura que o Pai me ofereceu?» Então, o destacamento, o comandante e os guardas das autoridades judaicas prenderam Jesus e manietaram-no.[lx]  

O Evangelista conta o que viu: «Logo que Jesus lhes disse: ‘Sou Eu!’, recuaram e caíram por terra.» 

Os Evangelhos não relatam nada por acaso, como se fosse uma “reportagem” pura e simples de acontecimentos.

O mesmo São João diz que não haveria lugar no mundo para todos os livros que seria preciso escrever para contar quanto Jeus disse e fez. 

Ao mencionar expressamente este caso o Evangelista quer registar que o poder de Jesus é real e absoluto e que só Ele pode dispor da Sua Pessoa como entender ou, por outras palavras será preso, detido, quando Ele quiser, independentemente do número de soldados que o pretendam fazer. 

Quem impera aos ventos e tempestades, quem acalma as vagas alterosas do mar revolto, quem com uns poucos de peixes  e alguns pães alimenta dezenas de millhares de pessoas, quem sabe o que vai no íntimo de cada um «Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Porque alimentais esses maus pensamentos nos vossos corações? »[lxi] não pode fazer absolutamente quanto quiser? 

Mas, talvez que Jesus não tenha querido concretamente derrubar os captores mas, estes cairam por terra como que subjugados – embora momêntaneamente - pela majestade que emanava daquEle que procuravem deter. 

Estes serão, talvez, detalhes em que me perco, quase sem querer, quando me proponho imaginar a Pessoa de Jesus Cristo.

Considero a verdadeira, autêntica atracção que exercia sobre aqueles com quem Se cruzava.

Desde logo os dícipulos que O seguiam para onde fosse, de tal forma atraídos pela Sua figura, os Seus gestos, as Suas palavras.

Tudo n’Ele seria cativante, atraíria como iman poderoso crianças e adultos, pessoas de cultura ou de escassos conhecimentos. 

Factos inexplicáveis – até científicamente – como, por exemplo, quando rodeado por multidões todos O ouviam distintamente fosse qual fosse a distância a que se encontravam e, ainda, compreendiam o que dizia não obstante muitos não falassem aramaico. 

Este Homem que em tudo era semelhante a qualquer um, não precisa de grandiloquência, gestos espectaculares.

Quanto faz é de forma tranquila, serena; quanto diz é comprendido por todos, vai “directo” ao coração de cada um, desfaz as dúvidas, esclarece as interrogações.

Usa, na Sua comunicação, de frequentes parábolas que mais não são que histórias da vida real e comum de todos os dias para que melhor entendam o que quer dizer.

Aos mais próximos, quando necessário, explicava com maior detalhe quanto dissera pois bem sabia que, alguns dos outros, O escutavam apenas por curiosidade e  não com o coração disposto a aprender.





O génio de São Lucas deixou-nos constantes algumas destas parábolas de enorme beleza literária como a parábola do Filho Pródigo que releio com frequência sempre com enorme deleite e onde encontro sempre novos motivos de meditação. 

Algumas vezes me detenho considerando quem é o personagem central desta parábola: o Pai; o Filho mais novo; o Filho mais velho… e concluo que os três são CENTRAIS, porque me revejo em cada um. 

Ao amor incondicional do Pai pelos dois filhos, tão diferentes um do outro, mas que ama de igual modo precisamente porque são seus filhos; o Filho mais novo rebelde e desejoso se aventurar-se por caminhos que não conhece, vivendo situações que deveria evitar; o Filho mais velho cumpridor dos seus deveres por calculismo, interesse, conveniência mas… sem amor. 

Os três “jogam” um papel importantíssimo na parábola.

Começando pelo Filho Mais Novo reconheço-me no meu desejo de aventura, sair do que considero a rotina de todos os dias, observando as mesmas regras e normas dispostas pelo chefe da família.

Não compreendo – não quero compreender – que essas regras e normas são o fruto da experiência de vida, a lógica ilacção do que sabe ser o melhor para os seus filhos.

A mim parecem-me “coisas” antigas, muito afastadas da realidade que adivinho lá fora e que vou almejando conhecer num crescendo incontrolável.

Mas, para me lançar nessa aventura preciso de meios que não possuo e na minha desfaçatez atrevo-me a pedir a meu Pai que mos proporcione.

É claro para mim que ele não tem porque me dar o que lhe peço mas, uso de astúcia porque sei que o seu coração de Pai cederá com facilidade ao pedido do filho.

Foi o que fez, com simplicidade, disfarçando a ansiedade e preocupação que sentia, sem juntar num discurso interminável, recomendações a que, desde logo sabia, eu nem sequer prestaria atenção.

E saí da casa paterna depressa encontrando companheiros solicítos a que afortuna que transportava não deixava indiferentes.

Confesso que não me lembro por onde andei porque num atordoamento profundo, deixei-me levar por onde quiseram até que, quando me dei conta estava absolutamente só e sem um cêntimo no bolso.

Na vera do caminho chorei a minha triste sorte, o meu infortúnio tentando encontrar uma razão qualquer para quanto acontecera.

Mas, claro, não procurava essa “razão” onde devia, dentro de mim, preferindo culpar outros da minha irresponsabilidade.

Alguém se compadeceu de mim e me ofereceu trabalho: guardar porcos!

Algo inconcebível, aviltante para um judeu que tem um profundo desprezo por esses animais. Mas, que fazer?

O magro salário não chegava sequer para substituir os andrajos em que se tinha tornado as minhas finas vestes e, muito menos, adquirir umas simples sandálias para proteger os pés.

Tinha frio, sentia fome. As alfarrobas que os porcos comiam poderiam muito bem servir para mitigar essa fome que me roía as entranhas mas… ai de mim… não me atrevia a apanhá-las e tinha vergonha de pedir que mas dessem. 

Foi no meio deste tormento avassalador que me detive a pensar:

«Quantos jornaleiros de meu pai têm pão com fartura, e eu morro aqui à fome»[lxii] 

Tomei uma decisão: «Vou ter com o meu pai e digo-lhe: Pai, pequei contra o Céu e para contigo. Já não sou digno de chamar-me teu filho. Trata-me como um dos teus jornaleiros».[lxiii] E sem mais delongas, «Partiu e foi ter com o pai[lxiv] 

Detenho-me agora a considerar na parábola a figura do pai. 

Mal consigo imaginar o seu estado de espírito, a sua preocupação e angústia desde que o filho mais novo saíra de casa.

Seguramente que teria informações a seu respeito, quanto se passava, a vida dissoluta, as aventuras constantes, os perigos e armadilhas que a cada passo os companheiros lhe estenderiam. Temia o pior sim, o pior como seria a morte violenta aque se sujeitam esses que procuram viver a vida sem observar nem regras de conduta ou comportamento pessoal e se vão deixando ir ao sabor das paixões e das miragens do momento.

Mas… não obstante guardava bem no fundo do seu coração de pai uma secreta esperança que, um dia, o filho que estremecia caísse em si, reconsiderasse na lembrança de quanto lhe transmitira na juventude, os valores autênticos, os princípios que interessam, numa palavra, a educação formativa que procurara transmitir-lhe.

Algumas vezes terá pensado “acabar com aquilo”, enviar empregados seus à sua procura a convencê-lo, trazê-lo à força se necessário, a regressar à casa paterna.

Mas, o pai, era um homem justo e, por isso, respeitava a vontade do filho e, portanto, resolveu dar-lhe tempo – o que fosse preciso - para que o regresso fosse uma decisão inteiramente sua.

Aliás, a não ser assim, como ter a esperança que a “história” não voltaria a repetir-se?

Todos os dias subia à açoteia mais alta da morada familiar, prescrutando o horizonte na esperança de o ver regressando.

«Estando ele ainda longe, viu-o o pai, e encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço. Beijando-o».[lxv] 

O pai não pode retardar por mais tempo a alegria de sentir o filho nos braços e, por isso, correu ao seu encontro, não fosse ele, por pudor ou falsa vergonha, reconsiderar e voltar para trás. 

Quantas vezes penso neste abraço que o meu Pai do Céu corre a dar-me logo que Se apercebe que quero regressar ao Seu convívio de que me afastei por decisão minha!

Sinto, constato, a Sua alegria que imediatamente apaga a minha vergonha por O ter ofendido, o meu pesar por ter demorado tempo a reconsiderar e admitir a minha culpa.

Mas não posso “ficar por aí”, sinto que é necessário, embora Ele o saiba, dizer-Lhe o que me vai na alma. 

«Pai, pequei contra o Céu e para contigo. Já não sou digno de chamar-me teu filho. Trata-me como um dos teus jornaleiros».[lxvi] 

Mas, o meu Pai do Céu parece não ouvir o que Lhe digo e diz aos Seus criados: «trazei depressa  o fato melhor e vesti-lho; ponde-lhe um anel na mão, e calçado nos pés. Trazei o vitelo gordo, matai-o, e comamos em festa»[lxvii] 

Fico sem mais palavras.

Não uma veste qualquer mas: «o fato melhor»!

Declara a minha nobreza de filho e manda: «ponde-lhe um anel na mão»!

Restitui-me a dignidade e ordena; «ponde-lhe calçado nos pés»!

A Sua alegria tem de ser sentida e vivida por todos os de sua casa e, por isso, determina «Trazei o vitelo gordo, matai-o, e comamos em festa»!

E, para que fique bem claro para todos, explica o porquê de tudo: «Porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e controu-se».[lxviii]  

Sinceramente não sei se a alegria do perdão ultrapassa a tristeza do pecado. Ao longo da minha vida me tenho interrogado sobre o significado da “felix culpa” de que fala a Escritura e julgo compreender que o perdão de Deus é tão incomensuravelmente grande que “esmaga” a falta mais grave, o pecado mais soêz que possa cometer

Ah! E eu posso ser capaz de praticar as faltas mais vis, os pecados mais abjectos e, se não os cometo é unicamente porque a Graça de Deus me assiste e a minha Querida Mãe do Céu me coloca sob o seu manto Virginal resguardando-me de mim mesmo, aconchegando-me e insinuando com a sua Doce Voz de Mãe estremecida: Meu Filho, meu querido Filho… porta-te bem! 

E, isto que acabo de considerar, não são belas palavras, poesia inspirada, mas a expressão da certeza absoluta que tenho que NUNCA estou sozinho! 

Voltemos a Getsemani para considerar que, tão pouco o Senhor perdeu o ensejo para fazer o bem a quem Lhe fazia mal.

 




Depois de ter beijado sinceramente Judas, admoestou-o, não com a dureza que merecia, mas com a suavidade com que se trata um doente. Chamou-o pelo seu nome, que é sinal de amizade... «Judas, com um beijo entregas o Filho do Homem?»[lxix] Com mostras de paz fazes-me a guerra? E ainda, para o mover mais a que reconhecesse a sua culpa, fez-Lhe outra pergunta cheia de amor: «Amigo, a que vieste?» [lxx] 

Amigo, é maior a injúria que me fazes porque foste Meu amigo, mais o dano que me fazes. "Porque se fosse um inimigo o que maldissesse, suportá-lo-ia..., mas tu, meu amigo, meu amigo íntimo, com quem me unia um amigável trato..."[lxxi] 

Amigo, ainda que tu não me queiras, Eu sim, Amigo, porque fazes isto, a que vieste?[lxxii] 

Não consigo imaginar a reacção de Judas a estas palavras de Jesus.

Não caiu de joelhos chorando convulsivamente?

Não empalideceu o seu semblante com a vergonha do acto praticado? 

As palavras que Jesus lhe dirige não são nem de repulsa ou, sequer irritação, mas de surpresa dorida e profundamente angustiada.

Aquele a quem, apesar de tudo, chamava amigo, com quem compartilhara a Sua intimidade, feria-O mais duramente que os insultos soezes que iria suportar, que os açoites com que O iriam flagelar, que a lança que Lhe haveria de trespassar o peito porque, todos esses golpes que sofreria na Sua carne, nada eram comparados com esta dor que este “amigo” Lhe infligia no Seu Coração Amantíssimo. 

Porque os outros, eram soldados, gente anónima, alguns simples conhecidos mas, este…não! Este era Seu Amigo! 

Um beijo!

Uma expressão de carinho, um acto de amor, uma manifestação de terna intimidade converte-se, assim em algo pérfido, repugnante, inqualificável. 

Olho para o Crucifixo e não posso deixar de o cobrir de beijos!

Sinto dentro de mim um desejo irreprimível de o apertar contra o meu peito para que sintas o bater amoroso do meu coração angustiado. 

Ah! Meu Senhor!

Nesta meditação, já tentei exprimir o meu amor por Ti mas, agora, neste momento deixa-me ficar assim, tentando sossegar o meu espírito sem me deixar dominar pela tristeza que me sobe na garganta a querer sufocar-me.

Lágrimas?

Sim, Senhor, são lágrimas que me correm dos olhos porque não consigo reprimi-las.

Minha Mãe, Maria Santíssima, ajuda-me neste momento a serenar o meu espírito para que possa continuar a meditar neste final de dia santo, a fazer companhia de AMIGO ao teu Divino Filho. 

Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e manietaram-no.[lxxiii] 

Como um malfeitor, Jesus é manietado como se fosse necessário obstar a qualquer reacção violenta que pudesse ter.

Ele, o Homem de Paz, Pacífico por natureza sujeita-Se a este primeiro acto de violência gratuita.

A partir do momento em que Se levantou do local onde tão intensamente orara, mais particularmente quando aceitara o cumprimento cabal da Vontade do Pai, já não È Ele, Jesus, Quem reage mas o Filho que Se submete totalmente à Vontade do Pai.

Eu, que sou um desgraçado cheio de “vontades” próprias sobre aquilo que julgo ser o que mais me convém, rebelo-me constantemente quando percebo que essas “vontades” diferem e estão opostas à Vontade de Deus.

E, esta rebelião mais não é que o resultado de um amor deficiente, pequeno, preconceituoso.

Admito que não gosto de sofrer – quem gostará – mas, se sofro, é porque não entendo que o sofrimento que o Senhor permite que sinta é para meu bem e que, a seu tempo, se converterá em gozo inexcedível.

Sei perfeitamente que Ele nunca permitirá o que for superior ás minhas forças suportar mas, mesmo assim, vou-me queixando e lamentando como se tivesse razão para tal.

E, na verdade, não tenho razão nenhuma já que tenho de ter bem presente que Jesus ao permitir que sofra me dá uma honra extraordinária: Consentir que participe na Sua Paixão, no Seu sofrimento que, de certa forma, me una mais a Ele.

 Consciente destas verdades, continuo a segui-Lo nesta noite Santa que ainda está longe de terminar.

Em tropel, aos encontrões desabridos, puxando pela corda que O cinge, arrastam Jesus pelo caminho.

 Dos onze discípulos que estavam com ele só Pedro e João seguem o triste cortejo.

Judas, terminada a sua horrenda tarefa correra a receber a paga da sua perfídia.

Os outros o que terão feito?

Aturdidos e confusos talvez corram a esconder-se nalgum local seguro ou, lembrados da Mãe de Jesus, terão ido a sua casa procurar conforto e direcção.

 Quero crer que sim. No seu íntimo procurariam a Senhora em quem confiam como em mais ninguém.

Em Caná ela dissera para fazerem quanto o Filho lhes dissesse mas, neste momento, neste transe, Jesus não lhes dissera nada a respeito do que fazer, que atitude tomar.

 O sucedido momentos atrás quando Pedro feriu o guarda que prendia Jesus cortando-lhe uma orelha, a “resposta” de Jesus fora de compaixão pelo soldado curando o ferimento e, a Pedro, mandara que colocasse a espada na bainha.

Ainda referiria que não queria nenhuma reacção violenta pois, se a desejasse, teria à sua  disposição de Legiões de Anjos  para O defenderem.

Estes pensamentos que vão comunicando uns aos outros conseguem, apesar de tudo, trazer-lhes alguma tranquilidade recuperar a confiança.

Jesus, não tinham dúvidas, aceitara a prisão e estava disposto a receber os vexames e violências que se seguiram.

Aos poucos começam a compreender o que Ele antes lhes tinha dito sobre o Filho do Homem ser entregue aos Seus inimigos e, depois de sofrer muito ser morto por eles.

Compreendiam que aquelas palavras que então lhes tinha parecido, talvez, figurativas, se estavam a tornar realidade!

 




Jesus perante o Sinédrio 

13 E levaram-no primeiro a Anás, porque era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. 14 Caifás era quem tinha dado aos judeus este conselho: ‘Convém que morra um só homem pelo povo’. 15 Entretanto, Simão Pedro e outro discípulo foram seguindo Jesus. Esse outro discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e pôde entrar no seu palácio ao mesmo tempo que Jesus. 16 Mas Pedro ficou à porta, de fora. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote, falou com a porteira e levou Pedro para dentro. (…) 18 Lá dentro estavam os servos e os guardas, de pé, aquecendo-se à volta de um braseiro que tinham acendido, porque fazia frio. Pedro ficou no meio deles, aquecendo-se também. 19 Então, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. 20 Jesus respondeu-lhe: «Eu tenho falado abertamente ao mundo; sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. 21 Porque me interrogas? Interroga os que ouviram o que Eu lhes disse. Eles bem sabem do que Eu lhes falei.» 22 Quando Jesus disse isto, um dos guardas ali presente deu-lhe uma bofetada, dizendo: «É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?» 23 Jesus replicou: «Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, porque me bates?»[lxxiv]

Não vou meditar sobre esta passagem do Evangelho de São João. Confesso que o faço conscientemente e por cobardia.

Sim… cobardia!

Não quero deixar-me arrastar por sentimentos e considerações sobre algo que me repugna profundamente.

Este pseudo-julgamento é um acto tão vil, aberrante e sem um minímo de credibilidade que, conhecendo-me, tenho receio de me deixar arrastar por sentimentos de repulsa e desejos de julgar, eu próprio, os acontecimentos.

Procuro, antes, dizer a Jesus de todo o coração:

Senhor, eu, estou conTigo, não posso mais que admirar a Tua postura íntegra, serena de Inocente.

Vou deter-me, antes, em algo tão marcante e extraordinariamente humano que me faz considerar três aspectos:

A debilidade humana, a  humildade, o perdão.

 

Refiro-me à negação de Pedro

 «Tendo acendido uma fogueira no meio do pátio, sentaram-se e Pedro sentou-se no meio deles. Ora, uma criada, ao vê-lo sentado ao lume, fitando-o, disse: «Este também estava com Ele.» Mas Pedro negou-o, dizendo: «Não o conheço, mulher.» Pouco depois, disse outro, ao vê-lo: «Tu também és dos tais.» Mas Pedro disse: «Homem, não sou.» Cerca de uma hora mais tarde, um outro afirmou com insistência: «Com certeza este estava com Ele; além disso, é galileu.» Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes.» E, no mesmo instante, estando ele ainda a falar, cantou um galo. 61 Voltando-se, o Senhor fixou os olhos em Pedro; e Pedro recordou-se da palavra do Senhor, quando lhe disse: «Hoje, antes de o galo cantar, irás negar-me três vezes.» E, vindo para fora, chorou amargamente.[lxxv]

 



Pedro segue de longe o tropel  de gente que conduz o Senhor. Enquanto em casa do Sumo-Sacerdote se desenvolve o primeiro juízo contra o Jesus vai ter lugar a cena mais triste da vida do Apóstolo. 

Os Evangelistas descrevem-no com vivacidade. 

Pedro está assustado e inquieto.Pedro diz por três vezes que não conhece Jesus, que não é dos Seus seguidores. 

Continua a amar o Senhor, mas isto não basta: tem obrigação apesar do risco evidente, de assumir a sua posição de discípulo; por isso a sua negação constitui um grave pecado. 

Não se pode negar nem dissimular a própria fé, a condição de seguidor de Cristo, de cristão.

Depois do canto do galo cruzam-se os olhares de Jesus e de Pedro.

O Apóstolo comove-se: o gesto de Jesus, silencioso e cheio de ternura é eloquente. Pedro compreende a gravidade do seu pecado, e o cumprimento da profecia do Senhor relativa à sua traição. 

Saindo para fora «chorou amargamente». 

Estas lágrimas são a reacção lógica dos corações nobres, movidos pela graça de Deus. 

É a dor de amor, a contrição do coração, que, quando é sincera, leva consigo o firme propósito de pôr por obra quanto for necessário para apagar o pecado.[lxxvi]

 




 

O olhar de Jesus!

 

Um olhar humano e divino, o olhar humano de Deus. 

Um olhar que arrasta, convence, atrai, chama.

Mas também é o olhar de tédio quando mira Herodes; de cólera quando expulsa os vendilhões do Templo; de repreensão quando encara os acusadores da adúltera.

Um olhar que põe a nu os defeitos e erros, que acusa, que repudia, que afasta. 

Jesus fala com o olhar em todas as situações: rindo contentes com a alegria do filho regressado à casa paterna, deixando correr as lágrimas pelo amigo morto há já três dias, toldado com a névoa da tristeza na Última Ceia, olhar de aflição e pavor em Getsémani.

 

Os Seus seguidores mais próximos, não podem esquecer o olhar de Jesus.

 

Mais que as Suas palavras ou os Seus gestos – mesmo os de maior significado – o Seu olhar ficou-lhes gravado no coração desde o primeiro momento em que os encarou, um a um, chamando-os à Sua intimidade, ao Seu círculo mais próximo de confidentes e amigos.

 

No meu círculo de confidentes e amigos – onde levo a cabo o meu “apostolado de amizade e confidência” – conhecem-me pelo meu olhar franco, aberto, claro, bem-disposto?

 

O meu olhar inspira confiança?

 

Transmite tranquilidade?

 

Perguntas que devo colocar-me cada dia.

 

Os olhos são o espelho da alma, costuma dizer-se, e, que preocupação devo ter que, de facto, o sejam!     

Com os mesmos olhos com que contemplo, embevecido, a Hóstia Santa que o Sacerdote me mostra na hora de comungar, poderei contemplar imagens impuras ou impróprias?

 

Os olhos que se perdem na vastidão do infinito Amor de Deus poderão ser os mesmos que se deixam absorver pela passageira e fugaz imagem do prazer do momento?

 

Podem, sim, sei que podem!

 

Sou humano, fraco, débil, volúvel.

Que remédio terei, senão pedir, constantemente, à minha Mãe do Céu que proteja o meu olhar, que guie o meu olhar?

Que poderei mais senão implorar que me ajude a guardar a vista como um bem precioso e caríssimo que não quero desperdiçar?

Que mais desejar que manter o olhar de criança, límpido, puro, franco e aberto?

 

Olho para Ti, olhos nos olhos, e digo-te que Te amo e, não tenho medo que não acredites.

Sei que o vês nos meus olhos.

Quero guardar para Ti, - só para Ti – o meu olhar.

Se possível fosse, ter estes olhos com que agora Te contemplo, bem guardados num cofre donde só os retiraria para Te contemplar.

Outros olhos, para o dia-a-dia, seriam “reforçados” com lentes especiais que só me permitissem ver o que pode ser visto.

Ou, se preferires, Senhor, ser cego para tudo quanto não sejas Tu.

 

A Tua Face que quero contemplar[lxxvii] tão cedo quanto Tu mo permitires, há-de iluminar os meus olhos com a mesma luz do Céu, aquela luz onde se movem os anjos e os santos que Te contemplam.

Olhos só para Ti, Senhor, só para Ti, para mais nada os quero a não ser… a não ser…, para ver as maravilhas que Tu criaste e, por elas, dar-Te graças continuamente.

 

O lógico é que, quem tem olhos… veja.

Não precise, para ver, mais que luz, claridade e, aqui, bate o ponto: como é possível ver no escuro?

 

Como pode descortinar-se o que seja, permanecendo na comodidade - e cobardia - do ensimesmamento, da clausura em si mesmo, recusando-se sistematicamente a tomar conhecimento do que a Igreja legisla, o Papa esclarece, Jesus Cristo adverte?

 

Ninguém pode dizer que não sabe se não quer ver, se recusa, pelo menos, tomar conhecimento.

 

Olhar e reparar!

São duas atitudes diferentes.

Olhar pode ser um acto automático que não tem que ser nem mau nem bom.

Faz parte da nossa condição humana, dos nossos sentidos, da forma como percorremos a vida de todos os dias.

 

Reparar é diferente.

É deter o olhar em algo que me desperta a curiosidade e pretendo avaliar – ou ver mais detidamente – os pormenores, os detalhes.

E isto pode ser mau porque, de certa forma alia-se o reparar à curiosidade e, esta, é sempre má.

 

Trata-se, pois, de guardar a vista e não se pense que é fácil porque não é.

 

 Constantemente, sou confrontado com autênticas “agressões visuais” e há que ter a prontidão de seguir em frente e deixar o assunto.

A vista é a porta da alma!

 

«Então, Anás mandou-o manietado ao Sumo Sacerdote Caifás. De Caifás, levaram Jesus à sede do governador romano. Era de manhã cedo e eles não entraram no edifício para não se contaminarem e poderem celebrar a Páscoa. Pilatos veio ter com eles cá fora e perguntou-lhes: «Que acusações apresentais contra este homem?» Responderam-lhe: «Se Ele não fosse um malfeitor, não to entregaríamos.» Retorquiu-lhes Pilatos: «Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei.» «Não nos é permitido dar a morte a ninguém», disseram-lhe os judeus, em cumprimento do que Jesus tinha dito, quando explicou de que espécie de morte havia de morrer. Pilatos entrou de novo no edifício da sede, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és rei dos judeus?» Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim?» Pilatos replicou: «Serei eu, porventura, judeu? A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste?» Jesus respondeu: «A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá.» Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.» Pilatos replicou-lhe: «Que é a verdade?» Dito isto, foi ter de novo com os judeus e disse-lhes: «Não vejo nele nenhum crime. Mas é costume eu libertar-vos um preso na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» 40 Eles puseram-se de novo a gritar, dizendo: «Esse não, mas sim Barrabás!» Ora Barrabás era um salteador. 

Pilatos tomou então Jesus e mandou-O flagelar. Depois, os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-Lha sobre a cabeça e revestiram-n'O com um manto de púrpura. Aproximavam-se d'Ele e diziam-Lhe: «Salve, rei dos judeus!», e davam-Lhe bofetadas. Saiu Pilatos ainda outra vez fora e disse-lhes: «Eis que vo-l'O trago fora, para que conheçais que não encontro n'Ele crime algum». Saiu, pois, Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse-lhes: «Eis aqui o Homem!». Então os príncipes dos sacerdotes e os guardas, quando O viram, gritaram: «Crucifica-O, crucifica-O!». Pilatos disse-lhes: «Tomai-O e crucificai-O, porque eu não encontro n'Ele motivo algum de condenação». Os judeus responderam-lhe: «Nós temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque Se fez Filho de Deus». Pilatos, tendo ouvido estas palavras, temeu ainda mais. Entrou novamente no Pretório e disse a Jesus: «Donde és Tu?». Mas Jesus não lhe deu resposta. Então Pilatos disse-Lhe: «Não me falas? Não sabes que tenho poder para Te soltar e também para Te crucificar?». Jesus respondeu: «Tu não terias poder algum sobre Mim, se não te fosse dado do alto. Por isso, quem Me entregou a ti tem maior pecado».  Desde este momento, Pilatos procurava soltá-l'O. Porém, os judeus gritavam: «Se soltas Este, não és amigo de César!, porque todo aquele que se faz rei, declara-se contra César». Pilatos, tendo ouvido estas palavras, conduziu Jesus para fora e sentou-se no seu tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, em hebraico Gábata. Era o dia da Preparação da Páscoa, cerca da hora sexta. Pilatos disse aos judeus: «Eis o vosso rei!». Mas eles gritaram: «Tira-O, tira-O, crucifica-O!». Pilatos disse-lhes: «Hei-de crucificar o vosso rei?». Os pontífices responderam: «Não temos outro rei senão César». Então entregou-Lho para que fosse crucificado. Tomaram, pois, Jesus que, carregando com a Sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota, onde O crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos redigiu um título, que mandou colocar sobre a cruz. Nele estava escrito: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus». Muitos judeus leram este título, porque o lugar onde foi crucificado ficava perto da cidade. Estava redigido em hebraico, em latim e em grego. Os pontífices dos judeus diziam, porém, a Pilatos: «Não escrevas: Rei dos Judeus, mas: Este homem disse: Eu sou o Rei dos Judeus». Pilatos respondeu: «O que escrevi, está escrito!». Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, tomaram as Suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. Tomaram também a túnica. A túnica não tinha costura, era toda tecida de alto a baixo. Disseram entre si: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver a quem tocará; para que se cumprisse deste modo a Escritura, que diz: “Repartiram entre si as Minhas vestes e lançaram sortes sobre a Minha túnica”. “Os soldados assim fizeram.  Estavam, de pé, junto à cruz de Jesus, Sua mãe, a irmã de Sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena.  Jesus, vendo Sua mãe e, junto dela, o discípulo que amava, disse a Sua mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua mãe». E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-a na sua casa. Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: «Tenho sede». Havia ali um vaso cheio de vinagre. Então, os soldados, ensopando no vinagre uma esponja e atando-a a uma cana de hissopo, chegaram-Lha à boca. Jesus, tendo tomado o vinagre, disse: «Tudo está consumado!». Depois, inclinando a cabeça, entregou o espírito. Os judeus, visto que era o dia da Preparação, para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, porque aquele dia de sábado era de grande solenidade, pediram a Pilatos que lhes fossem quebradas as pernas e fossem retirados. Foram, pois, os soldados e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro com quem Ele havia sido crucificado. Mas, quando chegaram a Jesus, vendo que já estava morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. Quem foi testemunha deste facto o atesta, e o seu testemunho é digno de fé e ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. 36 Porque estas coisas sucederam para que se cumprisse a Escritura: “Não Lhe quebrarão osso algum”.E também diz outro passo da Escritura: “Hão-de olhar para Aquele a quem trespassaram”. Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ainda que oculto por medo dos judeus, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu-o. Foi, pois, e tomou o corpo de Jesus. Nicodemos, aquele que tinha ido anteriormente de noite ter com Jesus, foi também, levando uma composição de quase cem libras de mirra e aloés. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-n'O em lençóis com perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus. Ora, no lugar em que Jesus foi crucificado, havia um horto e no horto um sepulcro novo, em que ninguém tinha ainda sido sepultado.  Por ser o dia da Preparação dos judeus e o sepulcro estar perto, depositaram ali Jesus.

 

****

 

Termina aqui a minha meditação sobre os acontecimentos de Quinta-Feira Santa. 

Confesso a minha dificuldade em manter o espírito sereno embora a emoção e as lágrimas, tomassem por várias vezes conta de mim. 

Fiz o possível por não me deixar dominar pela repulsa contra os que martirizaram e deram a morte ao meu Salvador lembrando-me que Ele pediu o perdão do Pai «porque não sabiam o que faziam». 

Sinto-me feliz, triste e alegre ao mesmo tempo porque sei que Cristo Se sujeitou voluntariamente a todos estes indizíveis sofrimentos e humilhações por mim, para me tornar Seu Irmão, para merecer por mim a Vida Eterna. 

Senhor, que eu saiba aproveitar todo o tempo que entenderes conceder-me para viver neste mundo para Te louvar e servir. Amen.

 

(AMA), Quinta-Feira Santa, 2021

 

 

 

 

 

 



[i] Cfr. Jo Capts 13 a 18

[ii] Cfr. Mc XIV, 12-16

[iii] Lc 22, 14

[iv] Cfr. 1 Cor 11, 20

[v] Cfr. Lu 22, 23

[vi] Cfr. Fil. 2, 7

[vii] Cfr. Lc 22,15

[viii] Cfr. Jo 13,34

[ix] Cfr. Mc 14,18-19

[x] Cfr. Jo . 14, 1; 16, 17; etc.

[xi] Cfr. Jo. 16, 20, ss.

[xii] Cfr. Is 8, 10;. Lc 24, 29;. Mt 28., 20; Sacrosanctum Concilium, 10

[xiii] Cfr. Lc 24,31-32

[xiv] Cfr. Jo 13,34-35

[xv] Jo 13,33

[xvi] Jo  13, 36

[xvii] Cfr. Mt 26, 21

[xviii] Mc 14, 30

[xix] Lc 22, 61

[xx] Mt 26, 75

[xxi] Jo 21, 15 e segs

[xxii] Cfr. Mt 16, 18

[xxiii] Lc 22, 31-32

[xxiv] Jo 13,21

[xxv] Ibid.

[xxvi] Jo 13, 30

[xxvii] In Jo. Tract. 62;PL 35, 1803

[xxviii] Mc 14, 21

[xxix] 1 Cor. 4, 1

[xxx] cf. Col. 1, 24

[xxxi] Jo 14, 5-6

[xxxii] Cf. Io . 17, 22

[xxxiii] cf. 1 Cor.10, 17

[xxxiv] Cfr. Homilia de São Paulo VI, na Santa Missa “Cena Domini”.Quinta-Feira Santa,08, Abril, 1971, © Copyright - Libreria Editrice Vaticana

[xxxv] Lc 22, 12

[xxxvi] Cfr.Lc XXII, 24-30

[xxxvii] Cfr. Javier Echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Pg. 157

[xxxviii] Cfr. Mt XXVI, 21-25

[xxxix] São Josemaria, Sulco 618

[xl] Cfr. Jo 14, 27

[xli] Cfr. 14, 30

[xlii] Cfr. Jo XIII, 1-20

[xliii] Cfr. Jo XIV, 1-31

[xliv] Cfr. Jo XV, 1 - 27

[xlv] Jo XVI, 1-31

[xlvi] Jo XVII, 1- 26

[xlvii] Cfr. Lc 22, 19-20

[xlviii] De SS. Eucharistia, cap. 1

[xlix] São Paulo VI, Encíclica Mysterium Fidei

[l] Oração do Anjo de Portugal na sua primeira aparição aos Pastorinhos de Fátima

[li] AMA, 2009,  (Com autorização eclesiástica.=

[lii] Cfr. Mc 14, 31-35

[liii] Cfr. Mc 14, 26

[liv] Cfr Mc 14,32-42; Lc 22,39-46

[lv] Cfr Lc 22, 44

[lvi] Cfr. Mc 14, 36

[lvii] Cfr. M. Montenegro, Via Crucis, Palabra, 6ª Ed., Madrid, 1971, nr. 48

[lviii] Cfr. Javier Echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Cap. I, 10

[lix] Cfr. Mc 14,43-50; Lc 22,47-53; Jo 18,3-12

[lx] Cfr. Jo XVIII, 3-12

[lxi] Cfr. Mt IX, 4

[lxii] Cfr, Lc 15, 17

[lxiii] Cfr, Lc 15, 18

[lxiv] Cfr, Lc 15, 20

[lxv] Cfr. Lc15, 20

[lxvi] Cfr, Lc 15, 18

[lxvii] Cfr. Lc 15, 22-23

[lxviii] Cfr. Lc15, 24

[lxix] Lc 22, 48

[lxx] Mt 26, 50

[lxxi] Cfr. Sal 54, 13

[lxxii] Cfr. Luís De la Palma, La Passión del Señor, pg. 59-60

[lxxiii] Cfr. Jo

[lxxiv] Cfr Jo 18, 13-16, 17-73

[lxxv] Cfr. Lc 22, 55-62

[lxxvi] Cfr. Bíblia Sagrada, Univ Navarra, coment. Lc 22, 55-62

[lxxvii] Vultuum requiram!