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04/11/2020

Novíssimos

 


O Céu


Contemplar o mistério

Os homens mentem quando dizem "para sempre" em coisas temporais. Só é verdade, com uma verdade total, o "para sempre" da eternidade. - E assim tens de viver tu, com uma fé que te faça sentir sabores de mel, doçuras de céu, ao pensar nessa eternidade que, essa sim, é para sempre! [1]

Pensa quão grato é a Deus Nosso Senhor o incenso que se queima em sua honra; pensa também no pouco que valem as coisas da terra, que mal começam logo acabam... Pelo contrário, um grande Amor te espera no Céu: sem traições, sem enganos: todo o amor, toda a beleza, toda a grandeza, toda a ciência...! E sem enfastiar: saciar-te-á sem saciar. [2]

Se transformarmos os projetos temporais em metas absolutas, suprimindo do horizonte a morada eterna e o fim para que fomos criados - amar e louvar o Senhor e possuí-lo depois no Céu - os intentos mais brilhantes transformam-se em traições e inclusive em instrumento para envilecer as criaturas. Recordai a sincera e famosa exclamação de Santo Agostinho, que tinha experimentado tantas amarguras enquanto não conhecia Deus e procurava fora d'Ele a felicidade: fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansa em Ti! [3]

Na vida espiritual, muitas vezes, é preciso saber perder, de um ponto de vista terreno, para ganhar no Céu. Assim ganha-se sempre. [4]



[1] São Josemaria, Forja, 999[2] São Josemaria, Forja, 995

[3] São Josemaria, Amigos de Deus, 208

[4] São Josemaria, Amigos de Deus, 998

Novíssimos

 


Morte

Contemplar o mistério

 

Tudo tem remédio, menos a morte... E a morte remedeia tudo. [1]

 

Diante da morte, sereno! Quero-te assim. Não com o estoicismo frio do pagão, mas com o fervor do filho de Deus, que sabe que a vida muda, mas não acaba. - Morrer?... - Viver! [2]

 

Não faças da morte uma tragédia, porque o não é! Só filhos sem coração não se entusiasmam com o encontro com os pais! [3]

 

O verdadeiro cristão está sempre preparado para comparecer diante de Deus. Porque, se luta por viver como homem de Cristo, está sempre disposto a cumprir o seu dever. [4]

 

"Achei graça ao ouvi-lo falar na 'conta' que lhe pedirá Nosso Senhor. Não, para vós não será Juiz - no sentido austero da palavra - mas simplesmente Jesus". - Esta frase, escrita por um Bispo santo, que consolou mais de um coração atribulado, bem pode consolar o teu. [5]

 



[1] São Josemaria, 878

[2] São Josemaria, 876

[3] São Josemaria, Sulco, 885

[4] São Josemaria, Sulco, 875

[5] São Josemaria, Caminho, 168

Pensamentos diários

 


A caridade é a rainha das virtudes.

Assim como as pérolas são mantidas juntas num fio, assim também as outras virtudes estão presas à caridade.

Se o fio se parte, as pérolas soltam-se; se a caridade diminui, ou se rompe, as outras virudes dispersam-se.

 

(365 dias com o Santo Padre Pio de Peltrecina, O Grande Amor de Deus)

Virtudes

 


Fidelidade 4

A nossa fidelidade apoia-se na fidelidade de Deus

Os cristãos mantêm firme a confissão da sua esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa (Cfr. Hb 10,23; 11,11) e nos chamou: “O que vos chama é fiel e, por isso, a cumprirá. Ele é o fundamento da nossa fidelidade(1 Ts 5,24). São Paulo não duvida em aplicar essa fidelidade divina à de Jesus Cristo: “mas Deus é fiel: Ele vos confirmará e guardará do Maligno(2 Ts 3,3). Afirmamos que Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre: “Iesus Christus heri et hodie idem, et in sæcula!(Hb 13, 8).

A nossa vida nem sempre é fácil, não é um caminho de rosas. Deus conta com o sofrimento como parte de toda a fidelidade; São Pedro ensina-o: “mesmo os que tenham que sofrer de acordo com a vontade de Deus, que encomendem as suas almas ao Criador, que é fiel, mediante a prática do bem”» (1 Pe 4,19). Estamos marcados pelas consequências do pecado original. A nossa fidelidade constrói-se em particular a partir da aceitação das nossas culpas e da nossa petição de perdão: “se confessamos os nossos pecados, fiel e justo é Ele para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade(1 Jo 1,9). Isto é essencial na nossa vida: para ser fiel é necessário reconhecer as faltas pessoais, pois necessitamos de uma purificação do coração. Se ao aproximarmo-nos do Senhor não começássemos a dizer “mea culpa”, como fazemos na Santa Misa, não chegaríamos a lado nenhum.

A nossa fidelidade constrói-se em particular a partir da aceitação das nossas culpas e da nossa petição de perdão. A nossa fidelidade é resposta a uma chamada de Deus, que é fiel e nos quer divinizar dando-nos o Espírito Santo. São Paulo expressa muito bem como o sentido vocacional da nossa existência se desenvolve a partir dessa fidelidade divina: “fiel é Deus, por quem fostes chamados à união com o seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor(1 Cor 1,9; 10,13). De Deus não nos virá nunca a desilusão. Só Ele merece um amor absoluto, pois esse amor vai para além da morte.

Leitura espiritual Novembro 04

 


Evangelho segundo São João

 João VII 1-14



Incredulidade dos parentes de Jesus

1 Depois disto, Jesus continuava pela Galileia, pois não queria andar pela Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo. 2 Estava próxima a festa judaica das Tendas. 3 Disseram-lhe então os seus irmãos: ‘Vai para a Judeia, a fim de os teus discípulos verem as obras que fazes. 4 Pois ninguém faz nada às escondidas, se pretende tornar-se conhecido. Se fazes coisas destas, mostra-te ao mundo.’ 5 Com efeito, nem sequer os seus irmãos criam nele. 6 E Jesus disse-lhes: Para mim ainda não chegou o momento oportuno; mas, para vós, qualquer oportunidade é boa. 7 O mundo não pode odiar-vos; a mim, porém, odeia-me, porque sou testemunha de que as suas obras são más. 8 Ide vós à festa. Eu é que não vou a essa festa, porque o tempo que me está marcado ainda não se completou. 9 Depois de dizer isto, continuou na Galileia. 10 Contudo, depois de os seus irmãos partirem para a festa, Ele partiu também, não publicamente, mas quase em segredo.

 

Comentários do povo

11 Por isso, durante a festa, os judeus procuravam-no e perguntavam: ‘Onde é que Ele está?’ 12 E havia entre o povo grande murmuração a seu respeito. Uns diziam: ‘É um homem de bem’. Outros, porém, afirmavam: ‘Não; o que Ele anda é a desencaminhar o povo!’ 13 No entanto, ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.

 

Jesus ensina no templo

14 Já a festa ia a meio, quando Jesus subiu ao templo e se pôs a ensinar. 15 Os judeus assombravam-se e diziam: ‘Como é que este é letrado, se não estudou?’ 16 Então, Jesus respondeu-lhes, dizendo: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou. 17 Se alguém está disposto a fazer a vontade dele, é capaz de ajuizar se a doutrina procede de Deus, ou se Eu falo por minha conta. 18 Quem fala por sua conta procura a sua glória pessoal; mas, quem procura a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro e nele não há impostura. 19 Porventura Moisés não vos deu a Lei? No entanto, nenhum de vós cumpre a Lei. Porque me quereis matar? 20 Respondeu aquela gente: ‘Tu tens o demónio. Quem é que te quer matar?’ 21 Jesus replicou-lhes: Eu realizei uma única obra e todos estão assombrados. 22 Porque Moisés vos deu a lei da circuncisão - não é que ela venha de Moisés, mas dos Patriarcas - circuncidais um homem mesmo ao sábado. 23 Se um homem recebe a circuncisão ao sábado, para não ser violada a Lei de Moisés, podereis indignar-vos comigo por ter curado completamente um homem ao sábado? 24 Não julgueis pelas aparências; julgai com um juízo recto.

 


Cristo que passa

 

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Permiti-me narrar um facto da minha vida pessoal, ocorrido já há muitos anos.

Certo dia, um amigo de bom coração, mas que não tinha fé, disse-me, indicando um mapa-mundi:

- Ora veja, de norte a sul e de leste a oeste.

- Que queres que eu veja?

- O fracasso de Cristo.

Tantos séculos a procurar meter na vida dos homens a Sua doutrina, e veja os resultados.

Num primeiro momento, enchi-me de tristeza: é uma grande dor, efectivamente, considerar que são muitos os que ainda não conhecem O Senhor e que, entre aqueles que O conhecem, são muitos também os que vivem como se O não conhecessem.

 

Mas essa impressão durou apenas um instante, para logo dar lugar ao amor e à acção de graças, porque Jesus quis que cada um dos homens fosse cooperador livre da Sua obra redentora.

Cristo não fracassou: a Sua doutrina está continuamente a fecundar o Mundo.

A redenção realizada por Ele é suficiente e superabundante.

Deus não quer escravos, mas sim filhos e, portanto, respeita a nossa liberdade.

A salvação continua e nós participamos dela: é vontade de Cristo que - segundo as palavras fortes de São Paulo – “cumpramos na nossa carne, na nossa vida, o que falta à Sua Paixão, pro Corpore eius, quod est Ecclesia, em benefício do seu corpo, que é a Igreja”.

 

Vale a pena jogar a vida, entregar-se por inteiro, para corresponder ao amor e à confiança que Deus deposita em nós.

Vale a pena, acima de tudo, que nos decidamos a tomar a sério a nossa fé cristã.

Quando recitamos o Credo, professamos crer em Deus Pai Todo-Poderoso, em Seu Filho Jesus Cristo que morreu e foi ressuscitado, no Espírito Santo, Senhor que dá a vida.

Confessamos que a Igreja una, santa, católica e apostólica, é o corpo de Cristo, animado pelo Espírito Santo.

Alegramo-nos com a remissão dos nossos pecados e com a esperança da futura ressurreição.

Mas, essas verdades penetrarão até ao fundo do coração ou ficarão apenas nos lábios?

A mensagem divina de vitória, alegria e paz do Pentecostes deve ser o fundamento inquebrantável do modo de pensar, de reagir e de viver de todo o cristão.

 

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Força de Deus e fraqueza humana

 

Non est abbreviata manus Domini, a mão de Deus não diminuiu; Deus não é menos poderoso hoje do que em outras épocas, nem é menos verdadeiro o Seu amor pelos homens.

A nossa fé ensina-nos que a criação inteira, o movimento da Terra e dos astros, as acções rectas das criaturas e tudo quando há de positivo no decurso da História, tudo, numa palavra, veio de Deus e a Deus se ordena.

 

A acção do Espírito Santo pode passar-nos despercebida, porque Deus não nos dá a conhecer os Seus planos e porque o pecado do Homem turva e obscurece os dons divinos.

Mas a Fé recorda-nos que o Senhor age constantemente:

Ele é que nos criou e nos conserva no ser; Ele, com a Sua graça, conduz a criação inteira para a liberdade da glória dos filhos de Deus.

 

Por isso, a Tradição cristã resumiu a atitude que devemos adoptar para com o Espírito Santo num só conceito: docilidade.

Sermos sensíveis àquilo que o Espírito divino promove à nossa volta e em nós mesmos: aos carismas que distribui, aos movimentos e instituições que suscita, aos efeitos e decisões que faz nascer nos nossos corações...

O Espírito Santo realiza no Mundo as obras de Deus. Como diz o hino litúrgico, é dador das graças, luz dos corações, hóspede da alma, descanso no trabalho, consolo no pranto.

Sem a Sua ajuda nada há no homem que seja inocente e valioso, pois é Ele que lava o que está sujo, que cura o que está doente, que aquece o que está frio, que corrige o extraviado, que conduz os homens ao porto da salvação e do gozo eterno.

 

Mas esta nossa fé no Espírito Santo deve ser plena e completa. Não é uma crença vaga na Sua presença no mundo; é uma aceitação agradecida dos sinais e realidades a que quis vincular a Sua força de um modo especial.

Anunciou Jesus: «Quando vier o Espírito de Verdade Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará».

O Espírito Santo é o Espírito enviado por Cristo, para operar em nós a santificação que Ele nos mereceu para nós na Terra.

 

É por isso que não pode haver fé no Espírito Santo, se não houver fé em Cristo, na doutrina de Cristo, nos sacramentos de Cristo, na Igreja de Cristo.

Não é coerente com a fé cristã, não crê verdadeiramente no Espírito Santo, quem não ama a Igreja, quem não tem confiança nela, quem se compraz apenas em mostrar as deficiências e limitações dos que a representam, quem a julga por fora e é incapaz de se sentir seu filho.

 

E sou levado a considerar até que ponto será extraordinariamente importante e abundantíssima a acção do Divino Paráclito enquanto o sacerdote renova o sacrifício do Calvário, quando celebra a Santa Missa nos nossos altares.

 

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Nós, os cristãos, trazemos em vasos de barro os grandes tesouros da graça:

Deus confiou os Seus dons à frágil e débil liberdade humana e, embora a Sua força certamente nos assista, a nossa concupiscência, o nosso comodismo e o nosso orgulho repelem-na por vezes e levam-nos a cair em pecado.

Em muitas ocasiões, de há mais de um quarto de século para cá, ao recitar o Credo e ao afirmar a minha fé na divindade da Igreja, una, santa, católica e apostólica, costumo acrescentar: apesar dos pesares.

Quando alguma vez me acontece comentar este costume e alguém me pergunta a que quero referir-me, respondo: aos teus pecados e aos meus.

 

Tudo isto é certo, mas não autoriza de maneira nenhuma a julgar a Igreja por critérios humanos, sem fé teologal, atendendo apenas ao maior ou menor valor de certos eclesiásticos ou de certos cristãos. Proceder assim é ficar à superfície.

O mais importante na Igreja não é ver como correspondemos nós, os homens, mas sim o que Deus realiza.

A Igreja é isto mesmo: Cristo presente entre nós; Deus que vem até à humanidade para a salvar, chamando-nos com a sua revelação, santificando-nos com a Sua graça, sustentando-nos com a Sua ajuda constante, nos pequenos e grandes combates da vida de todos os dias.

 

Podemos chegar a desconfiar dos homens, e cada um está obrigado a desconfiar pessoalmente de si mesmo e a concluir cada um dos seus dias com um mea culpa, com um acto de contrição profundo e sincero. Mas não temos o direito de duvidar de Deus.

E duvidar da Igreja, da sua origem divina, da eficácia salvífica da sua pregação e dos seus sacramentos, é duvidar do próprio Deus; é não acreditar plenamente na realidade da vinda do Espírito Santo.

 

Escreve São João Crisóstomo: “Antes de Cristo ser crucificado, - - não havia nenhuma reconciliação. E, enquanto não houve reconciliação, não foi enviado o Espírito Santo”.

A ausência do Espírito Santo era sinal da ira divina.

Agora que O vês enviado em plenitude, não duvides da reconciliação. Mas, se perguntarem: onde está agora O Espírito Santo?

Falar da Sua presença quando se davam milagres, quando eram ressuscitados os mortos e curados os leprosos, era possível; mas como saber, agora, que está deveras presente?

Não vos preocupeis. Hei-de demonstrar-vos que o Espírito Santo está também agora entre nós...

Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos dizer Senhor, Jesus, pois ninguém pode invocar Jesus como Senhor senão no Espírito Santo(I Cor. 12,3).

 

Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos orar com confiança, porque ao rezar dizemos Pai Nosso, que estais nos Céus (Mat. 6,9).

Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos chamar Pai a Deus. Como sabemos isso?

É porque o Apóstolo nos ensina: “E, porque somos filhos, Deus mandou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba Pai(Gal, 4,6).

 

Portanto, quando invocares Deus Pai, recorda-te de que foi o Espírito Santo que, ao mover a tua alma, te deu essa oração.

Se não existisse o Espírito Santo, não haveria na Igreja palavra alguma de sabedoria ou de ciência, pois está escrito: “Porque... a um é dada pelo Espírito a palavra da sabedoria(I Cor, 12, 8)...

Se o Espírito Santo não estivesse presente, a Igreja não existiria. Mas, se a Igreja existe, é certo que o Espírito Santo não falta”.

 

Acima das deficiências e limitações humanas, repito, a Igreja é isto: sinal e, de certo modo - não no sentido estrito em que dogmaticamente se definiu a essência dos sete sacramentos da Nova Aliança - o sacramento universal da presença de Deus no Mundo.

Ser cristão é ter sido regenerado por Deus e enviado aos homens para lhes anunciar a salvação. Se tivéssemos fé firme e viva e déssemos a conhecer Cristo com audácia, veríamos que ante os nossos olhos se realizariam milagres como os da era apostólica.

 

Porque a verdade é que também agora se dá vista aos cegos, que tinham perdido a capacidade de olhar para o Céu e de contemplar as maravilhas de Deus; também agora se dá liberdade a coxos e entrevados, que se encontravam tolhidos pelas próprias paixões e cujo coração já não sabia amar; também agora se dá ouvido aos surdos, que não desejavam o conhecimento de Deus, e se consegue que falem os mudos, que tinham amordaçada a língua por não quererem confessar as suas derrotas; também agora se ressuscitam mortos, em que o pecado destruíra a vida.

Mais uma vez se verifica que a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes.

E, como os primeiros fiéis cristãos, também nós nos alegramos ao admirar a força do Espírito Santo e a sua acção na inteligência e na vontade das suas criaturas.

 

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Dar a conhecer a Cristo

 

Todos os acontecimentos da vida - os de cada existência individual e, de algum modo, os das grandes encruzilhadas da História - vejo-os como outros tantos chamamentos que Deus faz aos homens para olharem de frente a verdade e como ocasiões oferecidas a nós, cristãos, para anunciarmos com as nossas obras e as nossas palavras, auxiliados pela graça, o Espírito a que pertencemos.

 

Cada geração de cristãos deve redimir e santificar o seu tempo: para tanto, precisa de compreender e de compartilhar os anseios dos homens, seus iguais, a fim de lhes dar a conhecer, com dom de línguas, como corresponder à acção do Espírito Santo, à efusão permanente das riquezas do Coração divino.

A nós, cristãos, compete anunciar nestes dias, ao mundo a que pertencemos e em que vivemos, a antiga e sempre nova mensagem do Evangelho.

 

Não é verdade que toda a gente de hoje - assim, em geral ou em bloco - esteja fechada ou permaneça indiferente ao que a fé cristã ensina sobre o destino e o ser do Homem.

Não é certo que os homens do nosso tempo se ocupem só das coisas da Terra e se desinteressem de olhar para o Céu.

Embora não faltem ideologias - e pessoas para as sustentarem - que estão fechadas, na nossa época não há apenas atitudes rasteiras, mas também altos ideais; não há apenas cobardia, mas heroísmo, e ao lado das desilusões permanecem grandes aspirações.

Há pessoas que sonham com um mundo novo, mais justo e mais humano, enquanto outras, talvez decepcionadas diante do fracasso dos seus primeiros ideais, se refugiam no egoísmo de buscarem a sua própria tranquilidade ou de se deixarem ficar mergulhadas no erro.

 

A todos os homens e todas as mulheres, estejam onde estiverem, em momentos de exaltação ou de crise ou de derrota, devemos fazer chegar o anúncio solene e claro de São Pedro, durante os dias que se seguiram ao Pentecostes: “Jesus é a pedra angular, o Redentor, tudo da nossa vida, pois fora d'Ele não foi dado outro nome, aos homens, debaixo do céu, pelo qual possamos ser salvos”.

 

Deus não perde batalhas

 


Se tiveres caído, levanta-te com mais esperança! Só o amor-próprio não entende que o erro, quando se rectifica, ajuda a conhecer-nos e a humilhar-nos. (Sulco, 724)

 

Para a frente, aconteça o que acontecer! Bem agarrado ao braço do Senhor, considera que Deus não perde batalhas. Se, por qualquer motivo, te afastas d'Ele, reage com a humildade de começar e de recomeçar; de fazer de filho pródigo todos os dias, inclusive repetidamente nas vinte e quatro horas do dia; de reconciliar o teu coração contrito na Confissão, verdadeiro milagre do Amor de Deus. Neste Sacramento maravilhoso, o Senhor limpa a tua alma e inunda-te de alegria e de força para não desanimares na tua luta e para voltares de novo sem cansaço a Deus, mesmo quando tudo te pareça obscuro. Além disso, a Mãe de Deus, que é também nossa Mãe, protege-te com a sua solicitude maternal e dá-te confiança no teu caminhar.

A sagrada Escritura adverte que até o justo cai sete vezes. Sempre que leio estas palavras, a minha alma estremece com um forte abalo de amor e de dor. Uma vez mais, vem o Senhor ao nosso encontro, com essa advertência divina, para nos falar da sua misericórdia, da sua ternura, da sua clemência, que nunca acabam. Estai seguros: Deus não quer as nossas misérias, mas não as desconhece e conta precisamente com essas debilidades para que nos façamos santos. (...)

Prostro-me diante de Deus e exponho-lhe claramente a minha situação. Logo tenho a segurança da sua assistência e oiço no fundo do meu coração o que ele me repete devagar: meus es tu!. Sabia – e sei – como és; para a frente! (Amigos de Deus, 214–215)

 

Reflexão

 


Consequências

 

Se acreditamos que os méritos, as boas obras, as virtudes que possamos ter se reflectem nos nossos filhos, nos nossos netos, nos outros... como não considerar que as nossas faltas, vícios e pecados não tenham o mesmo efeito!


(AMA, 2020)