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09/10/2020

Leitura espiritual Outubro 09

 Cartas de São Paulo

1.ª Tessalonicenses 2

Comportamento dos missionários –


1 Irmãos, vós próprios bem sabeis que não foi vã a nossa estadia entre vós; 2 mas, tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta. 3É que a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano. 4 Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos corações. 5 Por isso, nunca nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretextos de ambição. Deus é testemunha. 6 Nem procurámos glória da parte dos homens, nem de vós, nem de outros. 7 Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. 8 Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis. 9 Na verdade, irmãos, recordais-vos dos nossos esforços e das nossas canseiras: trabalhando noite e dia para não sermos um peso a nenhum de vós, anunciámo-vos o Evangelho de Deus. 10 Vós sois testemunhas, e Deus também, de como nos comportámos de modo recto, justo e irrepreensível para convosco, os que acreditastes. 11 Sabeis que, tal como um pai trata cada um dos seus filhos, também a cada um de vós 12 exortámos, encorajámos e advertimos a caminhar de maneira digna de Deus, que vos chama ao seu reino e à sua glória. 

 

Acolhimento da Palavra –

13 Por isso, damos continuamente graças a Deus, porque, tendo recebido a palavra de Deus, que nós vos anunciámos, vós a acolhestes não como palavra de homens, mas como ela é verdadeiramente, palavra de Deus, a qual também actua em vós que acreditais. 14 De facto, irmãos, vós tornastes-vos imitadores das igrejas de Deus, que estão na Judeia, em Cristo Jesus, pois também sofrestes, da parte dos vossos compatriotas, o mesmo que elas sofreram da parte dos Judeus; 15  eles mataram o Senhor Jesus e os profetas e agora perseguem-nos: não agradam a Deus e são mal vistos por todos os homens; 16 impedem-nos de pregar aos gentios para que se salvem e, assim, enchem cada vez mais a medida dos seus pecados. Mas, finalmente, a ira de Deus caiu sobre eles.

 

Missão de Timóteo –

17 Mas nós, irmãos, órfãos de vós por breve tempo, longe da vista mas perto de coração, redobrámos esforços para rever o vosso rosto, porque tínhamos um ardente desejo. 18 Por isso, tínhamos decidido ir ter convosco - eu, Paulo, mais que uma vez - mas Satanás no-lo impediu. 19 De facto, quem é a nossa esperança, a nossa alegria e a nossa coroa de glória diante de Nosso Senhor Jesus Cristo, aquando da sua vinda, senão vós? 20 Sim, vós é que sois a nossa glória e a nossa alegria!

 

 

Cristo que passa

 

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A Epístola da Missa lembra-nos que temos que assumir esta responsabilidade de apóstolos com um espírito novo, cheios de animo, despertos. Já é hora de despertarmos do sono, pois estamos mais perto da nossa salvação do que quando recebemos a fé. A noite avança e o dia aproxima-se. Deixemos, pois, as obras das trevas, e revistamo-nos das armas da luz.

 

Dir-me-eis que não é fácil, e não vos faltará razão. Os inimigos do homem, que são os inimigos da sua santidade, tentam impedir essa vida nova, esse revestir-nos do espírito de Cristo. Não encontro melhor enumeração dos obstáculos à fidelidade cristã do que a que estabelece São João: concupiscentia carnis, concupiscentia oculorum et superbia vitae; tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida.

 

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A concupiscência da carne não é apenas o impulso desordenado dos sentidos em geral, nem o apetite sexual, que deve ser ordenado e em si não é mau, porque é uma nobre realidade humana santificável. Por isso, nunca falo de impureza, mas de pureza, já que a todos se dirigem as palavras de Cristo: «Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus». Por vocação divina, uns terão que viver essa pureza no matrimónio; outros, renunciando aos amores humanos, para corresponderem única e apaixonadamente ao amor de Deus. Mas nem uns nem outros escravos da sensualidade, porém senhores do seu corpo e do seu coração, para poderem dá-los sacrificadamente aos outros.

 

Ao tratar da virtude da pureza, costumo acrescentar o qualificativo de santa. A pureza cristã, a santa pureza, não é o orgulho de nos sentirmos puros, não contaminados. É saber que temos os pés de barro, ainda que a graça de Deus nos livre dia a dia das ciladas do inimigo. Considero uma deformação do cristianismo a insistência com que certas pessoas escrevem ou pregam quase exclusivamente sobre esta matéria, esquecendo outras virtudes que são capitais para o cristão e, em geral, para a convivência entre os homens.

 

A santa pureza não é a única nem a principal virtude cristã: é, entretanto, indispensável para perseverarmos no esforço diário da nossa santificação; e sem ela não é possível qualquer dedicação ao apostolado. A pureza é consequência do amor com que entregamos ao Senhor a alma e o corpo, as potências e os sentidos. Não é negação, é afirmação jubilosa.

 

Dizia que a concupiscência da carne não se reduz exclusivamente à desordem da sensualidade: estende-se ao comodismo e à falta de vibração, que impelem a procurar o mais fácil, o mais agradável, o caminho aparentemente mais curto, mesmo à custa de concessões no caminho da fidelidade a Deus.

 

Comportar-se assim equivaleria a abandonar-se incondicionalmente ao império de uma dessas leis, a do pecado, contra a qual nos previne São Paulo: “Encontro, pois, esta lei em mim: quando quero fazer o bem, o mal está junto de mim. Porque me deleito na lei de Deus segundo o homem interior, mas vejo nos meus membros outra lei que se opõe à lei do meu espírito e me subjuga à lei do pecado... Infelix ego homo!, infeliz de mim! Quem me livrará deste corpo de morte?” Ouçamos o que responde o próprio Apóstolo: “a graça de Deus, por Jesus Cristo Nosso Senhor”. Podemos e devemos lutar contra a concupiscência da carne, porque, se formos humildes, ser-nos-á concedida sempre a graça do Senhor.

 

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O outro inimigo, escreve São João, é a concupiscência dos olhos, uma avareza de fundo que leva a apreciar apenas o que se pode tocar: os olhos que ficam como que colados ás coisas terrenas, mas também os olhos que, por isso mesmo, não sabem descobrir as realidades sobrenaturais. Portanto, podemos entender a expressão da Sagrada Escritura como uma referência à avareza dos bens materiais e, além disso, a essa deformação que nos leva a observar o que nos rodeia - os outros, as circunstâncias da nossa vida e do nosso tempo - com visão exclusivamente humana.

 

Os olhos da alma embotam-se; a razão julga-se auto-suficiente e capaz de entender todas as coisas prescindindo de Deus. É uma tentação subtil, que se escuda na dignidade da inteligência; da inteligência que nosso Pai-Deus outorgou ao homem para que O conheça e O ame livremente. Arrastada por essa tentação, a inteligência humana considera-se o centro do universo, entusiasma-se novamente com o sereis como deuses e, enchendo-se de amor por si mesma, vira as costas ao amor de Deus.

 

Deste modo, a nossa existência pode entregar-se sem condições às mãos do terceiro inimigo, a superbia vitae. Não se trata simplesmente de pensamentos efêmeros de vaidade ou de amor próprio: é um endurecimento generalizado. Não nos enganemos, porque tocamos o pior dos males, a raiz de todos os extravios. A luta contra a soberba deve ser constante, porque, como já se disse graficamente, essa paixão morre um dia depois de a pessoa morrer. É a altivez do fariseu, a quem Deus reluta em justificar por encontrar nele uma barreira de auto-suficiência. É a arrogância que leva a desprezar os demais homens, a dominá-los, a maltratá-los: porque onde houver soberba, aí haverá também ofensa e desonra.

 

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Vai chegar o tempo do Advento e é bom que tenhamos considerado as insídias destes inimigos da alma: a desordem da sensualidade e da fácil leviandade; o desatino da razão que se opõe ao Senhor; a presunção altaneira, que esteriliza o amor a Deus e às criaturas. Todos estes estados de ânimo são obstáculos certos, e seu poder perturbador é grande. Por isso a liturgia nos faz implorar a misericórdia divina: A Ti, Senhor, elevo minha alma; em Ti espero; não seja eu confundido, nem se riam de mim os meus adversários, rezamos no Intróito. E na antífona do Ofertório repetiremos: Espero em Ti, não seja eu confundido!

 

Agora que se aproxima o tempo da salvação, é consolador ouvir dos lábios de São Paulo: “Depois que Deus Nosso Salvador manifestou sua benignidade e amor aos homens, livrou-nos não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por sua misericórdia”.

 

Se percorrermos as Santas Escrituras, descobriremos constantemente a presença da misericórdia de Deus: enche a terra, estende-se a todos os seus filhos, super omnem carnem; rodeia-nos, antecede-nos, multiplica-se para nos ajudar, e foi continuamente confirmada. Ao ocupar-se de nós como Pai amoroso, Deus tem-nos presentes na Sua misericórdia: uma misericórdia suave, agradável como a nuvem que se desfaz em tempo de seca.

 

Jesus Cristo resume e compendia toda a história da misericórdia divina: «Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.» E em outra ocasião: «Sede misericordiosos, como vosso Pai celestial é misericordioso». Ficaram também muito gravadas em nós, entre tantas outras cenas do Evangelho, a clemência com a mulher adúltera, as parábolas do filho pródigo, da ovelha perdida e do devedor perdoado, a ressurreição do filho da viúva de Naim. Quantas razões de justiça para explicar este grande prodígio! Morreu o filho único daquela pobre viúva, aquele que dava sentido à sua vida e podia ajudá-la na sua velhice. Mas Cristo não faz o milagre por justiça; Ele o faz por compaixão, porque Se comove interiormente perante a dor humana.

 

Que segurança nos deve produzir a comiseração do Senhor! «Clamará por mim e eu o ouvirei, porque sou misericordioso». É um convite, uma promessa que não deixará de cumprir. Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e auxílio da graça no tempo oportuno. Os inimigos da nossa santificação nada conseguirão, porque essa misericórdia de Deus nos protege por antecipação; e se por nossa culpa e fraqueza caímos, o Senhor socorre-nos e levanta-nos. Tinhas aprendido a evitar a negligência, a afastar de ti a arrogância, a adquirir piedade, a não ser prisioneiro das questões mundanas, a não preferir o caduco ao eterno. Mas, como a debilidade humana não pode manter um passo decidido num mundo resvaladiço, o bom Médico indicou-te também remédios contra a desorientação, e o Juiz misericordioso não te negou a esperança do perdão.

 

 

8             

A existência do cristão desenvolve-se neste clima da misericórdia divina. Esse é o âmbito do esforço com que procura comportar-se como filho do Pai. E quais os principais meios para conseguirmos que a vocação se fortaleça? Hoje indicar-te-ei dois, que são quais eixos vivos da conduta cristã: a vida interior e a formação doutrinal, o conhecimento profundo da nossa fé.

 

Vida interior, em primeiro lugar. Como são poucos ainda os que a entendem! Ao ouvirem,falar de vida interior, pensam na escuridão do templo, quando não no ambiente rarefeito de certas sacristias. Há mais de um quarto de século venho dizendo que não é isso. O que descrevo é a vida interior de um simples cristão, que habitualmente se encontra em plena rua, ao ar livre; e que na rua, no trabalho, na família e nos momentos de lazer permanece atento a Jesus o dia todo. E o que é isso senão vida de oração contínua? Não é verdade que compreendeste a necessidade de ser alma de oração, com uma relação de amizade com Deus que te leve a endeusar-te? Essa é a fé cristã e assim o compreenderam sempre as almas de oração. Escreve Clemente de Alexandria: “Torna-se Deus o homem que quer o mesmo que Deus quer”.

 

A princípio custa; é preciso esforçar-se por dirigir o olhar para o Senhor, por agradecer a Sua piedade paternal e concreta para connosco. Pouco a pouco, o amor de Deus - embora não seja coisa de sentimentos - torna-se tão palpável como uma flechada na alma. É Cristo que nos persegue amorosamente: Eis que estou à tua porta e chamo. Como vai a tua vida de oração? Não sentes às vezes, durante o dia, desejos de conversar mais com Ele? Não Lhe dizes: mais tarde contar-te-ei isto, mais tarde conversarei contigo sobre isto?

 

Nos momentos expressamente dedicados a esse colóquio com o Senhor, o coração se expande, a vontade se fortalece, a inteligência - ajudada pela graça - embebe em realidades sobrenaturais as realidades humanas. E, como fruto, surgem sempre propósitos claros, práticos, de melhorar a conduta, de tratar delicadamente, com caridade, todos os homens, de nos empenharmos a fundo - com o empenho dos bons esportistas - nesta luta cristã de amor e de paz.

 

A oração torna-se contínua, como o palpitar do coração, como o pulso. Sem essa presença de Deus, não há vida contemplativa; e, sem vida contemplativa, de pouco vale trabalhar por Cristo, porque, se Deus não edifica a casa, em vão trabalham os que a constroem.

 

 

 





Reflexão – Paz


A paz não pode reduzir-se a simples ausência de conflitos armados, mas deve entender-se como ‘o fruto de uma ordem atribuída à sociedade humana pelo seu divino Fundador’. (...) enquanto resultado de uma ordem desenhada e querida pelo amor de Deus, a paz tem a sua verdade intrínseca e inapelável, e corresponde ‘a um anseio e a uma esperança que nós temos de maneira inapagável.
A vida de união íntima de Cristo com a Igreja nutre-se com os auxílios espirituais comuns a todos os fiéis, muito especialmente com a participação activa na sagrada liturgia. Os leigos devem servir-se destes auxílios de tal forma que, ao cumprir devidamente as suas obrigações no meio do mundo, nas circunstâncias normais da vida, não separem a união com
Ante as faltas do próximo, a resposta do cristão é compreender, rezar e, quando oportuno, ajudar através da correcção fraterna, que o próprio Senhor recomendou (Mt. 18, 15-17) e que desde sempre se viveu na Igreja.

(Francisco Fernández carvajal, Falar com Deus, Tempo comum, 12ª Semana, 2ª F.)

Sabendo-me pescador de homens... não pesco?


O Senhor quer de ti um apostolado concreto, como o da pesca daqueles cento e cinquenta e três grandes peixes apanhados à direita da barca, e não outros. E perguntas-me: "Como é que, sabendo-me pescador de homens, vivendo em contacto com muitos companheiros e podendo discernir a quem deve ser dirigido o meu apostolado específico, afinal não pesco?... Falta-me amor? Falta-me vida interior?"
...Escuta a resposta dos lábios de Pedro, naquela outra pesca milagrosa: - «Mestre, cansámo-nos de trabalhar toda a noite, e não apanhámos nada; apesar disso, sob a Tua palavra, lançarei a rede». Em nome de Jesus, começa de novo. Revigorado. - Fora com essa moleza! (Sulco, 377)

O apostolado, essa ânsia que vibra no íntimo do cristão, não é coisa separada da vida de todos os dias; confunde-se com o próprio trabalho, convertido em ocasião de encontro pessoal com Cristo. Nesse trabalho, ombro a ombro com os nossos colegas, com os nossos amigos, com os nossos parentes, lutando pelos mesmos interesses, podemos ajudá-los a chegar a Cristo, que nos espera na margem do lago... Antes de ser apóstolo, pescador. Também, pescador depois de ser apóstolo. Antes e depois, a mesma profissão. (...)
Passa ao lado dos Seus Apóstolos, junto daquelas almas que se Lhe entregaram... E eles não se dão conta disso! (...) «Lançai a rede para o lado direito da barca e encontrareis. Lançaram a rede e já não a podiam tirar por causa da grande quantidade de peixes». Agora compreendem. Recordam o que tinham ouvido tantas vezes dos lábios do Mestre: Pescadores de homens, apóstolos!... E compreendem que tudo é possível, porque é Ele quem dirige a pesca. (...)
«Os outros discípulos foram com a barca, porque não estavam distantes de terra, senão duzentos côvados, tirando a rede cheia de peixes». Em seguida põem a pesca aos pés do Senhor, porque é sua, para que aprendamos que as almas são de Deus, que ninguém nesta terra pode atribuir a si mesmo essa propriedade, que o apostolado da Igreja - a palavra e a realidade da salvação - não se baseia no prestígio de algumas pessoas, mas na graça divina. (Amigos de Deus, 264-267)