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Pequena agenda do cristão

Sexta-Feira

PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS


SÃO MATEUS

Cap III

1 Naqueles dias, apareceu João, o Baptista, a pregar no deserto da Judeia. 2 Dizia: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu.» 3 Foi deste que falou o profeta Isaías, quando disse: Uma voz clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. 4 João trazia um traje de pêlos de camelo e um cinto de couro à volta da cintura; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. 5 Iam ter com ele os de Jerusalém os de toda a Judeia e os da região do Jordão, 6 e eram por ele baptizados no Jordão, confessando os seus pecados. 7 Vendo, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao seu baptismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? 8 Produzi, pois, frutos dignos de conversão 9 e não vos iludais a vós mesmos, dizendo: ‘Temos por pai a Abraão!’ Pois, digo-vos: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão. 10 O machado já está posto à raiz das árvores, e toda a árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo. 11 Eu baptizo-vos com água, para vos mover à conversão; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu e não sou digno de lhe descalçar as sandálias. Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo e no fogo. 12 Tem na sua mão a pá de joeirar; limpará a sua eira e recolherá o trigo no celeiro, mas queimará a palha num fogo inextinguível.» 13 Então, veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser baptizado por ele. 14 João opunha-se, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser baptizado por ti, e Tu vens a mim?» 15 Jesus, porém, respondeu-lhe: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça.» João, então, concordou. 16 Uma vez baptizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. 17 E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado.»

Comentário:

8 –
Está claríssimo: não basta considerar-se “filho de Deus”, é necessário- absolutamente – proceder como tal. A isto pode chamar-se: “unidade de vida”, ser, de facto, o que se afirma e proceder de acordo com o que se diz.Sem esta “unidade de vida”, os homens – os cristãos – andaram sempre à deriva, sem rumo ou direcção.

12 –
Esta imagem do “joeirar” é muito explícita e séria: Jesus Cristo vem para instaurar um Reino Novo onde só terão lugar aqueles que aceitem e sigam os caminhos que Deus Nosso Senhor nos indica como os correctos e convenientes para a nossa salvação eterna. Sem imposições mas respeitando a liberdade que concedeu aos homens, põe sobre os seus ombros a responsabilidade de escolher.

13 –
O baptismo de Cristo é, de facto, um acontecimento extraordinário. O próprio senhor da vida e da morte quer receber o sacramento que inicia a vida cristã. Seria necessário? Talvez não, já que em qualquer altura o Senhor poderia institui–lo, mas temos de pensar, até usando a pura lógica, se Jesus vai iniciar a Sua vida pública parece natural que queira receber o mesmo benefício que o homem Seu irmão recebe ao iniciar a sua vida de união com Deus. Parece que assim o Senhor fica mais unido a todos os que O seguem no caminho do Reino de Deus.
O Baptismo é como sabemos o sacramento da iniciação da vida cristã. Abre-nos as portas da vida com Deus e, ao tornar-nos Seus filhos outorga-nos essa extraordinária categoria e grandeza. Nunca é demais salientar a importância deste sacramento, negá-lo a qualquer pessoa adulta ou adiá-lo nos primeiros dias de vida é uma violência sem explicação nem justificação alguma. Nunca se poderão imaginar sequer as consequências que tal comportamento trará para a pessoa.

15 –
Jesus “explica” a João Baptista a “razão” pela qual deve ser baptizado: «Convém que cumpramos assim toda a justiça.» É, efectivamente, a missão do Salvador: Cumprir a Justiça de Deus. Tal significa que não há qualquer comparação entre esta “Justiça” e a justiça dos homens porque, enquanto aquela se cumprirá sempre – graças à Salvação que Jesus Cristo trouxe à humanidade -, a justiça dos homens é volúvel e sujeita a fracassos. Mas a humanidade tem um paradigma, algo que deve seguir e tentar imitar para que a justiça que lhe compete seja aceitável: aceitar, em tudo, a Justiça Divina.

17 –

        Esta «voz vinda do Céu», que muitos puderam ouvir, confirma de modo absoluto e iniludível a Divindade de Jesus Cristo. Trata-se de uma revelação categórica e decisiva e, como tal, não poderá ser uignorada por todos aqueles que a ouviram e, muito provavelmente, a transmitiram a muitos outros. É uma “confirmação” da afirmação do Baptista: « aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu e não sou digno de lhe descalçar as sandálias».

(AMA, 2018)

Temas para reflectir e meditar

EXAME

O de Jesus o Nazareno, que foi um profeta poderoso… (Lc 24,29) Fixai-vos neste contraste. Eles dizem: (…) «Que foi! …» E têm-No ao lado, está caminhando com eles, está na sua companhia indagando a razão, as raízes íntimas da sua tristeza!
Que foi…” dizem eles. 
Nós, se fizéssemos um exame sincero, um pormenorizado exame da nossa tristeza, dos nossos desalentos, do nosso estar às voltas com a vida, encontraríamos uma ligação clara com esta passagem do Evangelho. 
Comprovaríamos que espontaneamente dizemos: “Jesus foi…”, “Jesus disse…”, porque esquecemos que, como no caminho de Emaús, Jesus está vivo, ao nosso lado agora mesmo. 
Esta redescoberta aviva a fé, ressuscita a esperança, é sinal que nos aponta Cristo como gozo presente: Jesus é, Jesus prefere; Jesus diz; Jesus manda, agora, agora mesmo.

(A. G. DorronsoroDios y la gente, Rialp, Madrid, 973, nr. 103, trad ama)

A conversão dos filhos de Deus


Jesus disse que não ao Demónio, ao príncipe das trevas. E imediatamente se manifesta a luz: Então o Diabo deixou-O e chegaram os Anjos e serviram-no. Jesus suportou a prova, uma prova verdadeira, porque, comenta Santo Ambrósio, não procedeu como Deus, usando do seu poder (se não, de que nos serviria o seu exemplo?) mas, como homem, serviu-Se dos auxílios que tem em comum connosco.

O Demónio, com retorcida intenção, citou o Antigo Testamento: Deus enviará os seus Anjos para que protejam o Justo em todos os seus caminhos. Mas Jesus, recusando-se a tentar seu Pai, devolve a essa passagem bíblica o seu verdadeiro sentido. E, como prémio da sua fidelidade, chegado o tempo, apresentam-se os mensageiros de Deus Pai para O servirem.

Vale a pena reparar no modo de proceder de Satanás com Jesus Cristo: argumenta com textos dos Livros Sagrados, retorcendo, desfigurando de forma blasfema o seu sentido. Mas Jesus não se deixa enganar: o Verbo feito carne bem conhece a Palavra divina, escrita para salvação dos homens e não para confusão e condenação. Quem está unido a Jesus Cristo pelo Amor - tal é a conclusão que devemos tirar - nunca se deixará enganar por manejos fraudulentos da Sagrada Escritura, porque sabe que é obra típica do Demónio procurar confundir a consciência cristã utilizando com dolo os mesmos termos usados pela eterna Sabedoria, tentando fazer da luz trevas.

Contemplemos um pouco esta intervenção dos Anjos na vida de Jesus, pois assim entenderemos melhor o seu papel - a missão angélica - em toda a vida humana. A tradição cristã apresenta os Anjos da Guarda como grandes amigos, colocados por Deus junto de cada homem para o acompanharem nos seus caminhos. E por isso convida-nos a ganhar intimidade com eles e a recorrer a eles.

A Igreja, fazendo-nos meditar nestas passagens da vida de Cristo, recorda-nos que, em tempo de Quaresma, em que nos reconhecemos pecadores, cheios de misérias, necessitados de purificação, também tem cabimento a alegria. É que a Quaresma é simultaneamente um tempo de fortaleza e de júbilo: devemos encher-nos de ânimo, visto que a graça do Senhor não nos faltará, pois Deus estará a nosso lado e enviar-nos-á os seus Anjos, para que sejam nossos companheiros de viagem, nossos prudentes conselheiros ao longo do caminho, nossos colaboradores em todos os empreendimentos. In manibus portabunt te, ne forte offendas ad lapidem pedem tuum, diz o salmo: Os Anjos levar-te-ão nas suas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra.

É preciso saber tratar com intimidade os anjos. Recorre a eles agora, diz ao teu Anjo da Guarda que estas águas sobrenaturais da Quaresma não deslizaram em vão sobre a tua alma, mas nela penetraram até ao fundo, porque tens um coração contrito. Pede-lhes que levem ao Senhor a boa vontade que a graça fez germinar na nossa miséria, como um lírio nascido numa esterqueira. Sancti Angeli Custodes nostri: defendite nos in proelio, ut non pereamus in tremendo judicio - Santos Anjos da Guarda: defendei-nos na batalha, para que não pereçamos no terrível juízo. (Cristo que passa 63)