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30/09/2020

Reflexão - Cristianismo


O cristianismo tem o dom de secar e curar a única ferida profunda da natureza humana, e isto isto vale mais para o seu êxito que toda uma enciclopédia de conhecimentos científicos e toda uma biblioteca de controvérsias; por isso o cristianismo há-de durar enquanto dure a natureza humana.

(Card. J. H. Newman, O Sentido religioso, pg. 417)

Leitura espiritual Setembro 30


Cartas de São Paulo

Tito - 3

Obediência às autoridades –
1 Recorda-lhes que sejam submissos e obedientes aos governantes e autoridades, que estejam prontos para qualquer boa obra, 2 que não digam mal de ninguém, nem sejam conflituosos, mas sejam afáveis, mostrando sempre amabilidade para com todos os homens. 3 Pois também nós éramos outrora insensatos, rebeldes, extraviados, escravos de toda a espécie de paixões e prazeres, vivendo na maldade e na inveja, odiados e odiando-nos uns aos outros. 4 Mas, quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, 5 Ele salvou-nos, não em virtude de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas da sua misericórdia, mediante um novo nascimento e renovação do Espírito Santo, 6 que Ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, 7 a fim de que, justificados pela sua graça, nos tornemos, segundo a nossa esperança, herdeiros da vida eterna. 8 Esta palavra é digna de fé, e desejo que tu fales com firmeza destas coisas, para que os que acreditaram em Deus se empenhem na prática de boas obras, pois isso é bom e útil para os homens. 9 Evita, porém, as discussões insensatas, as genealogias, bem como as contendas legalistas, pois são inúteis e vãs. 10 Depois de uma ou duas advertências, afasta-te do sectário, 11 pois bem sabes que esse homem está transviado, peca e a si mesmo se condena.

Recomendações e saudação –
12 Quando te enviar Ártemas ou Tíquico, apressa-te em vir ter comigo a Nicópolis, pois decidi passar lá o Inverno. 13 Providencia solicitamente quanto à viagem de Zenas, o jurista, e de Apolo, de modo que nada lhes falte. 14 Também os nossos devem aprender a empenhar-se em boas obras, para atender às necessidades prementes, de modo que não deixem de produzir frutos. 15 Saúdam-te todos os que estão comigo. Saúda todos os que nos amam na fé. A graça esteja com todos vós.

Amigos de Deus

273
         
Além disso, quem disse que para falar de Cristo, para difundir a sua doutrina, era preciso fazer coisas especiais, fora do comum?
Faz a tua vida normal; trabalha onde estás a trabalhar, procurando cumprir os deveres do teu estado, acabar bem o que é próprio da tua profissão ou do teu ofício, superando-te, melhorando-te dia-a-dia.
Sê leal, compreensivo com os outros e exigente contigo mesmo.
Sê mortificado e alegre.
Será esse o teu apostolado.
E, sem saberes porquê, tendo perfeita consciência das tuas misérias, os que te rodeiam virão ter contigo e, numa conversa natural, simples - à saída do trabalho, numa reunião familiar, no autocarro, ao dar um passeio, em qualquer parte - falareis de inquietações que em todas as almas existem, embora às vezes alguns não queiram dar por isso.
Mas cada vez as perceberão melhor, desde que comecem a procurar Deus a sério.

Pede a Maria, Regina apostolorum, que te decidas a participar nas ân­sias de sementeira e de pesca que estão no Coração do seu Filho. Garanto-te que, se começares, terás a barca cheia, como os pescadores da Galileia.
E Cristo na margem, à tua espera. Porque a pesca é sua.


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Todas as festas de Nossa Senhora são grandes, porque constituem ocasiões que a Igreja nos oferece para demonstrar com factos o nosso amor a Santa Maria.
Mas se tivesse de escolher entre essas festividades, preferiria a de hoje: a Maternidade divina da Santíssima Virgem.

Esta celebração leva-nos a considerar alguns dos mistérios centrais da nossa fé, fazendo-nos meditar na Encarnação do Verbo, obra das três pessoas da Santíssima Trindade.
Maria, Filha de Deus Pai, pela Encarnação do Senhor no seu seio ima­culado é Esposa de Deus Espírito Santo e Mãe de Deus Filho.

Quando a Virgem, livremente, respondeu sim aos desígnios que o Criador lhe revelou, o Verbo divino assumiu a natureza humana - a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria.
A natureza divina e a humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro Homem; eterno Unigénito do Pai e, a partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso, Nossa Senhora é Mãe do Verbo encarnado, da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que uniu a si para sempre - sem confusão - a natureza humana.
Podemos dizer bem alto à Virgem Santa, como o melhor louvor, estas palavras que exprimem a sua mais alta dignidade: Mãe de Deus.

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Fé do povo cristão

Sempre foi esta a doutrina certa da fé.
Contra os que a negaram, o Concílio de Éfeso proclamou que se alguém não confessa que o Emanuel é verdadeiramente Deus e que, por isso, a Santíssima Virgem é Mãe de Deus, visto que gerou segundo a carne o Verbo de Deus encarnado, seja anátema.

A história conservou-nos testemunhos da alegria dos cristãos perante estas decisões claras, nítidas, que reafirmavam aquilo em que todos já acreditavam: “Todo o povo da cidade de Éfeso, desde as primeiras horas da manhã até à noite, permaneceu ansioso à espera da resolução... Quando se soube que o autor das blasfémias tinha sido deposto, todos a uma voz começaram a glorificar a Deus e a aclamar o Sínodo, porque tinha caído o inimigo da fé. Logo que saímos da igreja fomos acompa­nhados com archotes a nossas casas. Era de noite: toda a cidade estava alegre e iluminada.”

Assim escreve São Cirilo e não posso negar que, mesmo passados dezasseis séculos, aquela reacção de piedade me impressiona profundamente.

Queira Deus Nosso Senhor que esta mesma fé arda nos nossos corações e que se erga dos nossos lábios um cântico de acção de graças, porque a Trindade Santíssima, ao escolher Maria para Mãe de Cristo, homem como nós, pôs cada um de nós sob o seu manto maternal.
É Mãe de Deus e nossa Mãe.

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A Maternidade divina de Maria é a raiz de todas as perfeições e privilégios que a adornam.
Por esse título, foi concebida imaculada e está cheia de graça, é sempre virgem, subiu ao céu em corpo e alma, foi coroada Rainha de toda a criação, acima dos anjos e dos santos.
Mais que Ela, só Deus.
A Santíssima Virgem, por ser Mãe de Deus, possui uma dignidade, de certo modo infinita, do bem infinito que é Deus.
Não há perigo de exageros.
Nunca aprofundaremos bastante este mistério inefável; nunca poderemos agradecer suficientemente à Nossa Mãe a familiaridade que nos deu com a Santíssima Trindade.

Éramos pecadores e inimigos de Deus.
A Redenção não só nos livra do pecado e reconcilia com o Senhor; mas converte-nos em filhos, entrega-nos uma Mãe, a mesma que gerou o verbo, segundo a Humanidade.
Pode haver maior prodigalidade, maior excesso de amor?
Deus ansiava redimir-nos, dispunha de muitas possibilidades para executar a sua Santíssima Vontade, segundo a sua infinita sabedoria. Escolheu uma que dissipa todas as dúvidas possíveis sobre a nossa salvação e glorificação.
Como o primeiro Adão não nasceu de homem e de mulher, mas foi plasmado em terra, assim também o último Adão, que havia de curar a ferida do primeiro, tomou um corpo formado no seio de uma virgem para ser, segundo a carne, igual à carne dos que pecaram.

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Mãe do amor formoso

Ego quasi vitis fructificavi...; como a videira deitei formosos ramos e as minhas flores deram saborosos e ricos frutos.
Assim lemos na Epístola. Que esse aroma de suavidade que é a devo­ção à nossa Mãe abunde na nossa alma e na alma de todos os cristãos e nos leve à confiança mais completa em quem vela sempre por nós.

Eu sou a Mãe do amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança, lições que hoje nos recorda Santa Maria.
Lição de amor formoso, de vida limpa, de um coração sensível e apaixonado, para que aprendamos a ser fiéis ao serviço da Igreja. Este não é um amor qualquer; é o Amor.
Aqui não há traições, nem cálculos, nem esquecimentos.
Um amor formoso, porque tem como princípio e como fim o Deus três vezes Santo, que é toda a Beleza e toda a Bondade e toda a Grandeza.

Mas também se fala de temor.
Não concebo outro temor senão o de nos afastarmos do Amor.
Porque Deus Nosso Senhor não nos quer abatidos, timoratos ou com uma entrega anódina.
Precisa de que sejamos audazes, valentes, delicados.
O temor, que o texto sagrado nos recorda, traz-nos à lembrança aquela outra queixa da Escritura: “procurei o amado da minha alma; procurei-o e não o encontrei.

Isto pode acontecer, se o homem não compreendeu, até ao fundo, o que significa amar a Deus.
Sucede então que o coração se deixa arrastar por coisas que não conduzem ao Senhor.
E, por consequência, perdemo-Lo de vista.
Outras vezes será talvez o Senhor quem se esconde; ele sabe porquê.
Anima-nos assim a procurá-Lo com maior ardor e, quando O desco­brimos, exclamamos cheios de júbilo; encontrei-o e já não o deixarei.

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O Evangelho da Santa Missa recordou-nos aquela cena comovente de Jesus que fica em Jerusalém ensinando no templo.
Maria e José perguntaram por ele a parentes e conhecidos.
E, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém à sua procura.
A Mãe de Deus, que procurou com afã o seu Filho, perdido sem sua culpa e que sentiu a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a voltar atrás, a rectificar o que for preciso, quando, pelas nossas leviandades ou pecados, não consigamos descobrir Cristo.
Teremos assim a alegria de o abraçar de novo, para lhe dizer que nunca mais o perderemos.

Maria é Mãe da ciência, porque com Ela se aprende a lição que mais importa: que nada vale a pena se não estamos junto do Senhor, que de nada servem todas as maravilhas da terra, todas as ambições satisfeitas, se no nosso peito não arde a chama de amor vivo, a luz da santa esperança, que é uma antecipação do amor interminável, na nossa Pátria definitiva.




Se te faltar afã apostólico, tornar-te-ás insípido


Como quer O Mestre, tu tens de ser – bem metido neste mundo, que nos coube em sorte, e em todas as actividades dos homens – sal e luz. Luz, que ilumina as inteligências e os corações; sal, que dá sabor e preserva da corrupção. Por isso, se te faltar afã apostólico, tornar-te-ás insípido e inútil, defraudarás os outros e a tua vida será um absurdo. (Forja, 22)

Muitos, com ar de autojustificação, perguntam-se: Eu, porque é que me vou meter na vida dos outros?
– Porque tens obrigação, por seres cristão, de te meteres na vida dos outros, para os servires!
Porque Cristo Se meteu na tua vida e na minha! (Forja, 24)

Se fores outro Cristo, se te comportares como filho de Deus, onde estiveres queimarás: Cristo abrasa, não deixa indiferentes os corações. (Forja, 25)


Pequena agenda do cristão


Quarta-Feira

PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


29/09/2020

Reflexão: Amor

O Amor, nas suas diversas formas – conjugal, paterno, materno, filial, fraterno, de amizade -, é requisito necessário para não nos sentirmos sós.


(Javier Echevarría, Itinerários de Vida Cristiana, Planeta, 2001, pg. 131)






Leitura espiritual Setembro 29


Cartas de São Paulo

Tito - 2

Qualidades dos anciãos e dos jovens –
1 Tu, porém, ensina o que é conforme à sã doutrina. 2 Os anciãos sejam sóbrios, dignos, prudentes, firmes na fé, na caridade e na paciência. 3 Do mesmo modo, as anciãs tenham um comportamento reverente, não sejam caluniadoras nem escravas do vinho, mas mestras de virtude, 4 a fim de ensinarem as jovens a amar os maridos e os filhos, 5 a serem prudentes, castas, boas donas de casa e dóceis aos maridos, de modo que a palavra de Deus não seja difamada. 6 Exorta igualmente os jovens a serem moderados, 7 apresentando-te em tudo a ti próprio como exemplo de boas obras, de integridade na doutrina, de dignidade, 8 de palavra sã e irrepreensível, para que os adversários fiquem confundidos, por não terem nada de mal a dizer de nós.

Os escravos –
9 Exorta os escravos a serem em tudo dóceis aos seus senhores, procurando agradar-lhes em tudo e não os contradizendo 10 nem defraudando, mas mostrando-se totalmente leais, a fim de honrarem em tudo a doutrina de Deus nosso Salvador. 11 Com efeito, manifestou-se a graça de Deus, portadora de salvação para todos os homens, 12 para nos ensinar a renúncia à impiedade e aos desejos mundanos, a fim de vivermos no século presente com sobriedade, justiça e piedade, 13 aguardando a bem-aventurada esperança e a gloriosa manifestação do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo. 14 Ele entregou-se por nós, a fim de nos resgatar de toda a iniquidade e de purificar e constituir um povo de sua exclusiva posse e zeloso na prática do bem. 15 Assim é que deves falar, exortar e repreender com toda a autoridade. E que ninguém te despreze.

Amigos de Deus

266
        
«Os discípulos, todavia - escreve São João - não sabiam que era Jesus. Disse-lhes, pois, Jesus: Moços, tendes alguma coisa de comer?»
Esta cena tão familiar de Cristo, a mim, enche-me de alegria.
Que diga isto Jesus Cristo, Deus!
Ele, que já tem corpo glorioso!
«Lançai a rede para o lado direito da barca e encontrareis.
Lançaram a rede e já não a podiam tirar por causa da grande quanti­dade de peixes
Agora compreendem.
Recordam o que tinham ouvido tantas vezes dos lábios do Mestre: Pescadores de homens, apóstolos!...
E compreendem que tudo é possível, porque é Ele Quem dirige a pesca.

«Então aquele discípulo que Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor!»
O amor vê.
E de longe.
O amor é o primeiro a captar aquela delicadeza.
O Apóstolo adolescente, com o firme carinho que sentia por Jesus, pois amava Cristo com toda a pureza e toda a ternura de um coração que nunca se corrompera, exclamou: «É o Senhor!»

«Simão Pedro, mal ouviu dizer que era o Senhor, cingiu a túnica e lançou-se ao mar.»
Pedro é a fé.
E lança-se ao mar, com uma audácia maravilhosa.
Com o amor de João e a fé de Pedro, aonde podemos nós chegar!?

267
         
As almas são de Deus

«Os outros discípulos foram com a barca, porque não estavam distantes de terra, senão duzentos côvados, tirando a rede cheia de peixes.» Em seguida põem a pesca aos pés do Senhor, porque é sua, para que aprendamos que as almas são de Deus, que ninguém nesta terra pode atribuir a si mesmo essa propriedade, que o apostolado da Igreja - a palavra e a realidade da salvação - não se baseia no prestígio de algumas pessoas, mas na graça divina.

Jesus Cristo interroga Pedro por três vezes, como se lhe quisesse dar a oportunidade de reparar a sua tripla negação.
Pedro já aprendeu, escarmentado com a sua própria miséria: está pro­fundamente convencido de que são inúteis aqueles seus alardes temerários; tem consciência da sua debilidade.
Por isso, põe tudo nas mãos de Cristo: Senhor, tu sabes que eu te amo... «Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo
E que responde Cristo?
«Apascenta os meus cordeiros; apascenta as minhas ovelhas
Não as tuas, não as vossas; as Minhas!
Porque foi Ele quem criou o homem, Ele quem o redimiu, Ele quem comprou cada alma, uma a uma, repito, com o preço do seu Sangue.

Quando os donatistas, no século V, lançavam os seus ataques contra os católicos, diziam ser impossível que o bispo de Hipona, Agostinho, professasse a verdade, porque tinha sido um grande pecador. E Santo Agostinho sugeria aos seus irmãos na fé como haviam de replicar: “Agostinho é bispo na Igreja Católica.
Ele leva a carga, de que há-de dar contas a Deus.
Conheci-o entre os bons.
Se é mau, ele o sabe; se é bom, nem por isso deposito nele a minha esperança.
Porque a primeira coisa que aprendi na Igreja Católica foi a não pôr a minha esperança num homem.

Não fazemos o nosso apostolado.
Então, como havemos de dizer?
Fazemos - porque Deus o quer, porque assim no-lo mandou: ide por todo o mundo e pregai o Evangelho - o apostolado de Cristo.
Os erros são nossos; os frutos, do Senhor.

268
        
Audácia para falar de Deus

E como realizaremos esse apostolado?
Antes de mais, com o exemplo, vivendo de acordo com a Vontade do Pai, como Jesus Cristo nos revelou com a sua vida e os seus ensinamentos.
Fé verdadeira é aquela que não permite que as acções contradigam o que se afirma com as palavras.
Devemos medir a autenticidade da nossa fé examinando a nossa con­duta pessoal. Se não nos esforçamos por realizar com os nossos actos o que confessamos com os lábios, não somos sinceramente crentes

269
         
Vem agora a propósito recordar um episódio que põe em evidência o esplêndido vigor apostólico dos primeiros cristãos.
Não tinha passado um quarto de século desde que Jesus subira aos céus e já em muitas cidades e povoados se propagava a sua fama.
A Éfeso chega um homem chamado Apolo, varão eloquente e versado nas Escrituras.
Estava instruído no caminho do Senhor; pregava com fervor de espírito e ensinava com exactidão o que dizia respeito a Jesus, embora só conhecesse o baptismo de João.

Na mente desse homem já se tinha insinuado a luz de Cristo.
Ouvira falar d'Ele e anuncia-o aos outros.
Mas ainda lhe faltava um pouco de caminho para se informar melhor, abraçar totalmente a fé e amar deveras o Senhor.
Áquila e Priscila, um casal em que ambos são cristãos, ouvem as suas palavras e não ficam inactivos, indiferentes.
Não pensam: este já sabe bastante; não temos por que lhe dar lições.
Como eram almas com autêntica preocupação apostólica, foram ter com Apolo, levaram-no consigo e instruíram-no mais a fundo na doutrina do Senhor.

270
        
Admirai também o comportamento de S. Paulo: prisioneiro, por divulgar os ensinamentos de Cristo, não desaproveita ocasião alguma para difundir o Evangelho. Diante de Festo e Agripa, não duvida em declarar: “Graças ao auxílio de Deus, perseverei até ao dia de hoje, dando testemunho da verdade a pequenos e grandes, não pregando senão o que Moisés e os profetas disseram que havia de suceder: que Cristo havia de padecer, e que seria o primeiro a ressuscitar dos mortos, e que anunciaria a luz a este povo e aos gentios.”

O apóstolo não se cala, não oculta a sua fé nem a actividade apostólica que tinha provocado o ódio dos seus perseguidores; continua a anunciar a salvação a toda a gente.
E com uma audácia maravilhosa enfrenta-se com Agripa: “Crês, ó rei Agripa, nos profetas? Eu sei que crês.”
Quando Agripa comenta: “Por pouco não me persuades a fazer-me cris­tão, Paulo disse-lhe: Prouvera a Deus que, por pouco ou muito, não somente tu, mas também quantos me ouvem se fizessem hoje tais como eu sou, menos estas cadeias.”

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Donde tirava São Paulo esta força?
Omnia possum in eo qui me confortat!
Tudo posso, porque só Deus me dá esta fé, esta esperança, esta caridade.
Custa-me muito acreditar na eficácia sobrenatural de um apostolado que não esteja apoiado, solidamente centrado, numa vida de contínua intimidade com o Senhor.
E isto no meio do trabalho, dentro de casa ou no meio da rua, com todos os problemas mais ou menos importantes que surgem todos o dias.
Em qualquer sítio onde se esteja, mas com o coração em Deus.
E então as nossas palavras e as nossas acções - até as nossas misérias! - exalarão o bonus odor Christi, o bom odor de Cristo, que os outros forçosamente hão-de sentir: aí está um verdadeiro cristão.

272        

Se cedesses à tentação de perguntar a ti mesmo: quem me manda a mim meter-me nisto? teria de responder-te: Manda-to, pede-to o próprio Cristo.
A messe é grande e os operários são poucos.
Rogai, pois, ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe.
Não digas, comodamente: eu para isto não sirvo; para isto já há outros; não estou feito para isto...
Não.
Para isto não há outros.
Se tu pudesses falar assim, todos podiam dizer a mesma coisa.
O pedido de Cristo dirige-se a todos e cada um dos cristãos. Ninguém está dispensado: nem por razões de idade, nem de saúde, nem de ocupação.
Não há desculpas de nenhum género.
Ou produzimos frutos de apostolado ou a nossa fé será estéril.




É curto o nosso tempo para amar


Um filho de Deus não tem medo da vida nem medo da morte, porque o fundamento da sua vida espiritual é o sentido da filiação divina: Deus é meu Pai, pensa, e É O Autor de todo o bem, É toda a Bondade. – Mas tu e eu procedemos, de verdade, como filhos de Deus? (Forja, 987)

Para nós, cristãos, a fugacidade do caminho terreno deve incitar-nos a aproveitar melhor o tempo, não a temer Nosso Senhor, e muito menos a olhar a morte como um final desastroso. Um ano que termina – já foi dito de mil modos, mais ou menos poéticos – com a graça e a misericórdia de Deus, é mais um passo que nos aproxima do Céu, nossa Pátria definitiva.
Ao pensar nesta realidade, compreendo perfeitamente aquela exclamação que São Paulo escreve aos de Corinto: “tempus breve est!”, que breve é a nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam, no mais íntimo do seu coração, como uma censura à falta de generosidade e como um convite constante a ser leal. Realmente é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos, nem que atiremos irresponsavelmente este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós. (…)
Há-de chegar também para nós esse dia, que será o último e não nos causa medo. Confiando firmemente na graça de Deus, estamos dispostos desde este momento, com generosidade, com fortaleza, pondo amor nas pequenas coisas, a acudir a esse encontro com o Senhor, levando as lâmpadas acesas, porque nos espera a grande festa do Céu. (Amigos de Deus, 39–40)


Pequena agenda do cristão




TeRÇa-Feira

PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Orações sugeridas:

salmo ii

Regnum eius regnum sempiternum est et omnes reges servient et obedient. 
Quare fremerunt gentes et populi meditati sunt inania?
Astiterum reges terrae et principes convenerunt in unum adversus Dominum et adversus christum eius.
Dirumpamus vincula eorum et proiciamos a nobis iugum ipsorum.
Qui habitabit in caelis, irridebit eos, Dominus subsanabit eos.
Ego autem constitui regem meum super sion montem sanctum meum.
Praedicabo decretum eius Dominus dixit ad me: filius meus es tu; ego hodie genui te.
Postula a me, et dabo tibi gentes hereditatem tuam et possessionem tuam terminos terrae.
Reges eos in virga ferrea et tamquam vas figuli confringes eos.
Et nunc, reges, intelegite, erudimini, qui indicatis terram.
Servite Domino in timore et exultate ei cum tremore.
Apprehendite disciplinam ne quando irascatur et pereatis via, cum exarcerit in brevi ira eius.
Beati omnes qui confident in eo.
Gloria Patri...
Regnum eius regnum sempiternum est et omnes reges servient et obedient.
Oremus:
Omnipotens et sempiterne Deus qui in dilecto Filio Tuo universorum rege omnia instaurare voluisti concede propitius ut cunctae familiae gentium pecati vulnere disgregatae eius suavissimo subdantur imperio: Qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum.

Exame Pessoal

Sabes Senhor, qual é, talvez a minha maior fraqueza? É pensar em demasiado mim, nos meus problemas, nas minhas tristezas, naquilo que me acontece e no que gostaria me acontecesse. Nas voltas e reviravoltas que dou sobre mim mesmo, sobre a minha vida.
E os outros? Sim, os outros que rezam por mim, que se interessam por mim, que têm paciência para comigo, que me desculpam as minhas faltas e as minhas fraquezas, que estão sempre prontos a ouvir-me a atender-me, que não se importam de esperar que eu os compense pelo bem que me fazem, que não me pressionam para que pague o que me emprestam, que não me criticam nem julgam com a severidade que mereço.
Ajuda-me Senhor, a ser, pelo menos reconhecido e a devolver o bem que recebo e, além disso a não julgar, a não emitir opinião, critica ou conceito, vendo nos outros, a maior parte das vezes, os defeitos e fraquezas que eu próprio possuo.[i]

Senhor, ajuda-me a pensar nos outros em vez de estar aqui, mergulhado nos meus problemas, girando à volta de mim mesmo, concentrado apenas no que me diz respeito. Os outros! Todos os outros. Os que conheço, de quem sou amigo ou familiar e aqueles que me são desconhecidos. São Teus filhos como eu, logo, todos são meus irmãos. Se somos irmãos somos também herdeiros, convém, portanto que me preocupe com aqueles que vão partilhar a herança comigo.[ii]

Noverim me

Oh Deus que me conheces perfeitamente tal como sou, ajuda-me a conhecer-me a mim mesmo, para que possa combater com eficácia os enormes defeitos do meu carácter, em particular...
Chamaste-me, Senhor, pelo meu nome e eu aqui estou: com as minhas misérias, as minhas debilidades, com palavras maiores que os actos, intenções mais vastas que as obras e desejos que ultrapassam a vontade.
Porque não sou nada, não valho nada, não sei nada e não posso nada, entrego-me totalmente nas Tuas mãos para que, por intercessão de minha Mãe, Maria Santíssima, de São José, meu Pai e Senhor, do Anjo da Minha Guarda e de São Josemaria, possa adquirir um espírito de luta perseverante.[iii]
   
Meu Senhor e meu Deus, tira-me tudo o que me afaste de Ti.
Meu Senhor e meu Deus, dá-me tudo o que me aproxime de Ti
Meu Senhor e meu Deus, desapega-me de mim mesmo, para que eu me dê todo a ti.
Eu sei que podeis tudo e que, para Vós, nenhum projecto é impossível.[iv]

Faz-me santo, meu Deus, ainda que seja à força.[v]

Nada te perturbe / nada te atemorize Tudo passa / Deus não muda A paciência tudo alcança / Quem a Deus tem Nada falta / só Deus basta.[vi]