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Leitura espiritual


Amar a Igreja

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Esta Igreja Católica é romana.

Eu saboreio esta palavra: romana!

Sinto-me romano, porque romano quer dizer universal, católico; porque me leva a amar carinhosamente o Papa, il dolce Cristo in terra, como gostava de repetir Santa Catarina de Sena, a quem tenho como amiga amadíssima.

Desde este centro católico romano - sublinhou Paulo VI no discurso de encerramento do Concílio Vaticano II - ninguém é, em teoria, inalcançável; todos podem e devem ser alcançados.

Para a Igreja Católica ninguém é estranho, ninguém está excluído, ninguém se considera afastado.

Venero com todas as minhas forças a Roma de Pedro e de Paulo, banhada pelo sangue dos mártires, centro donde tantos saíram para propagar por todo o mundo a palavra salvadora de Cristo.

Ser romano não implica nenhum particularismo, mas ecumenismo autêntico.

Representa o desejo de dilatar o coração, de abri-lo a todos com as ânsias redentoras de Cristo, que a todos procura e a todos acolhe, porque a todos amou primeiro.

Santo Ambrósio escreveu umas breves palavras, que compõem uma espécie de cântico de alegria: onde está Pedro, aí está a Igreja, e onde está a Igreja não reina a morte, mas a vida eterna.

Porque onde estão Pedro e a Igreja está Cristo, e Ele é a salvação, o único caminho.

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A Igreja é Apostólica

Nosso Senhor funda a sua Igreja sobre a debilidade - mas também sobre a fidelidade - de alguns homens, os Apóstolos, aos quais promete a assistência constante do Espírito Santo.

Leiamos outra vez o texto conhecido, que é sempre novo e actual: Foi-me dado todo o poder no céu e na terra.

Ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei, e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos.

A pregação do Evangelho não surge na Palestina pela iniciativa pessoal de umas tantas pessoas fervorosas.

Que podiam fazer os Apóstolos?

Não valiam absolutamente nada no seu tempo; não eram ricos, nem cultos, nem heróis do ponto de vista humano.

Jesus lança sobre os ombros deste punhado de discípulos uma tarefa imensa, divina.

Não fostes vós que me escolhesses, mas fui eu que vos escolhi a vós, e que vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.

Através de dois mil anos de história, conserva-se na Igreja a sucessão apostólica.

Os bispos, declara o Concilio de Trento, sucederam no lugar dos Apóstolos e estão colocados, como diz o próprio Apóstolo (Paulo), pelo Espírito Santo para reger a Igreja de Deus [i].

E, entre os Apóstolos, o próprio Cristo tornou Simão objecto duma escolha especial:

Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Eu roguei por ti, também acrescenta, para que a tua fé não pereça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos.

Pedro muda-se para Roma e fixa ali a sede do primado, do Vigário de Cristo.

Por isso, é em Roma onde melhor se adverte a sucessão apostólica, e por isso é chamada a Sé apostólica por excelência.

 Proclamou o Concilio Vaticano II, com palavras de um Concilio anterior, o de Florença, que todos os fiéis de Cristo devem crer que a Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice possuem o primado sobre todo o orbe, e que o próprio Romano Pontífice é sucessor do bem-aventurado Pedro, príncipe dos Apóstolos, verdadeiro vigário de Jesus Cristo, cabeça de toda a Igreja e pai e mestre de todos os cristãos.

A ele foi entregue por Nosso Senhor Jesus Cristo, na pessoa do bem-aventurado Pedro, plena potestade de apascentar, reger e governar a Igreja universal.

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A suprema potestade do Romano Pontífice e a sua infalibilidade, quando fala ex cathedra, não são uma invenção humana, pois baseiam-se na explícita vontade fundacional de Cristo.

Que pouco sentido tem enfrentar o governo do Papa com o dos bispos, ou reduzir a validade do Magistério pontifício ao consentimento dos fiéis!

Nada mais alheio à Igreja do que o equilíbrio de poderes; não nos servem esquemas humanos, por mais atractivos ou funcionais que sejam.
Ninguém na Igreja goza por si mesmo de potestade absoluta, enquanto homem; na Igreja não há outro chefe além de Cristo; e Cristo quis constituir um Vigário seu - o Romano Pontífice - para a sua Esposa peregrina nesta terra.

A Igreja é Apostólica por constituição: a que verdadeiramente é e se chama Católica, deve ao mesmo tempo brilhar pela prerrogativa da unidade, santidade e sucessão apostólica.
Assim, a Igreja é Una, com unidade esclarecida e perfeita de toda a terra e de todas as nações, com aquela unidade da qual é princípio, raiz e origem indefectível a suprema autoridade e mais excelente primazia do bem-aventurado Pedro, príncipe dos Apóstolos, e dos seus sucessores na cátedra romana.

E não existe outra Igreja Católica, senão aquela que, edificada sobre o único Pedro, se levanta pela unidade da fé e pela caridade num único corpo conexo e compacto.

Contribuímos para tornar mais evidente essa apostolicidade aos olhos de todos, manifestando com requintada fidelidade a união com o Papa, que é união com Pedro.

O amor ao Romano Pontífice há-de ser em nós uma formosa paixão, porque nele vemos a Cristo.

Se tivermos intimidade com o Senhor na nossa oração, caminharemos com um olhar desanuviado que nos permitirá distinguir, mesmo nos acontecimentos que às vezes não compreendemos ou que nos causam pranto ou dor, a acção do Espírito Santo.


SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ

(cont)



[i] Act. XX, 28

Temas para reflectir e meditar


Virilidade



Mesmo o pecado mortal, que converte a alma num repugnante cadáver da Graça, é menos perigoso do que o desalento que acaba por minar a alegria do recomeçar constante nos nossos passos da vida interior.
O pecado para os filhos de Deus, para as almas que habitualmente vivem em graça, é um passo em falso, uma queda que as faz levantar com presteza para continuar o caminho da santidade. Pelo contrário, o desalento é um inimigo formidável, que paralisa toda a vibração.

É característico dos espíritos velhos, desses homens «experientes», que em nada vêm o remédio, nem para a sua vida, nem para a do mundo. Temperamentos adocicados e brandos, que necessitam de uma mão férrea que os empurre na ascensão da vida.

Começaram-na porventura com brio; mas uma queda, e outra, e outra...apagaram a luz que os guiava. Na sua vida, só contam experiências negativas, impotência, esterilidade, pequenos fracassos, tentações, descorçoamento. Em tudo vêm impossíveis.

Falta-Lhes a visão cristã da vida: a fé e o sacrifício; e, por isso, todo o trabalho heróico se lhes torna impossível de realizar.

O desalento introduz-se na vida interior quando as almas, levadas ao começo pela consolação do sentimentalismo, sentem que se apaga a chama da devoção sensível sem falsas apreciações, erros funestos da inteligência o que impede progresso interior. A suavidade de que se cercava a presença de Deus nos começos - pequenos presentes que Deus faz a quem Lhe apraz e porque Lhe apraz, e que nada revelam acerca do progresso de uma alma - dever tornar-se uma «presença» de vontade, que pede esforços e estratagemas humanos para se ter Cristo diante dos olhos.

E não sabem fazer isso por erro de formação.

Abomina tu essas devoçõezinhas sentimentalóides, pela falsidade que encerram. Doutro modo, expões-te a avançar muito lentamente nessa vida cristã, viril, que deves percorrer a ritmo acelerado. Olha que na vida interior não é possível estagnar: ou se avança ou se retrocede o Amor não admite equilíbrios.

Não podes cansar-te! O desalento da tua alma deve-se a que manténs na tua vida interior a mesma frivolidade que te consome nas obras humanas. Não andes só à superfície; penetra, aprofunda na tua alma com a oração e com o sacrifício, e esquece os sentimentalismos.

Toda a noite se tinham afadigado os companheiros de Pedro, tentando pescar nas águas de Genesaré, e nada tinham conseguido. Mas logo que chegam a terra, antes de serem vencidos pelo cansaço e pelo desânimo, começam a lavar e a remendar aquelas redes vazias, preparando a pesca da noite seguinte. Assim são os homens da Esperança.

Remam com esforço contra a corrente, bendizendo a Deus quando o Céu os favorece, e sem se desalentarem quando se encapelam as ondas do mar.

Que pena ver tantas almas generosas com sede e nostalgia das alturas, mas descoroçoadas e abatidas pelo desalento!

Nessas inteligências falta um valor divino que nas coisas humanas é absolutamente necessário: a vida de fé, uma fé sacrificada.

Se falta a fé, em quem poderemos confiar?

Vive a virtude da firmeza, que é a seiva e a vitalidade de todos os teus actos, e curar-se-á a anemia do teu espírito.

Arranca da terra a tua alma - com confiança na bondade divina - esse espantalho, esse fantasma que te assusta e te detém, esse desalento pessimista que te faz levar uma vida de animal burguês.

Com insistência sussurra ele aos teus ouvidos: não vês que não podes? Que isso não é para ti? Não ouves falar de santidade e de heroísmo? De ambição e de guerras?

Sê viril na tua reacção. Olha para Cristo e escuta João e Tiago: «Possumus!» E pela primeira vez, sentirás que em ti reverdeje outra virtude luminosa: a juventude.

(JESUS URTEAGA, O Valor Divino do Humano, Éfeso, 1ª ed., Lisboa 1988, nr. 126)



Pequena agenda do cristão

Sexta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Evangelho e comentário


TEMPO COMUM



Evangelho: Lc 9, 18-22

Um dia, Jesus orava sozinho, estando com Ele apenas os discípulos. Então perguntou-lhes: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Eles responderam: «Uns, João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?». Pedro tomou a palavra e respondeu: «És o Messias de Deus». Ele, porém, proibiu-lhes severamente de o dizerem fosse a quem fosse e acrescentou: «O Filho do homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas; tem de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia».

Comentário:

A pergunta de Jesus destina-se claramente a provocar uma resposta de Pedro que, como chefe dos discípulos, tem como que a incumbência de dar uma resposta concludente e conclusiva.

E assim sucede, inspirado pelo Espírito Santo, Pedro declara inequivocamente que Jesus Cristo é o Messias.

Mas, esta revelação, destina-se, por enquanto, só aos discípulos que seguem Jesus, virá o momento em que Ele achará conveniente tornar pública essa declaração de Pedro.

Compreende-se, há, em primeiro lugar, que fortalecer a fé e confiança daqueles que terão como principal encargo anunciar o Reino de Deus e, aí sim, declarar sem rebuços a divindade de Jesus Cristo.

(AMA, comentário sobre Lc 9, 18-22, 27.06.2019)


Senhor, tantas almas longe de Ti!


Vejo a tua Cruz, meu Jesus, e alegro-me com a tua graça, porque o prémio do teu Calvário foi para nós o Espírito Santo... E dás-te a mim, cada dia, amoroso – louco! – na Hóstia Santíssima... E fizeste-me filho de Deus e deste-me a tua Mãe! Não me basta a acção de graças; vai-se-me o pensamento: – Senhor, Senhor, tantas almas longe de Ti! Fomenta na tua vida as ânsias de apostolado, para que o conheçam..., e o amem..., e se sintam amados! (Forja, 27)

Que respeito, que veneração, que carinho temos de sentir por uma só alma, ante a realidade de que Deus a ama como algo seu! (Forja, 34)

Ante a aparente esterilidade do apostolado, assaltam-te as cristas de uma onda de desalento, que a tua fé repele com firmeza... Mas reparas que necessitas de mais fé, humilde, viva e operativa.
– Tu, que desejas a salvação das almas, grita como o pai daquele rapaz doente, possesso: "Domine, adiuva incredulitatem meam!" – Senhor, ajuda a minha incredulidade!
Não duvides: o milagre repetir-se-á. (Forja, 257)