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14/09/2019

Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá


Amigos de Deus


259
         
Fainas de pesca

Eis que mandarei muitos pescadores, promete o Senhor, e pescarei esses peixes.
Assim nos indica Deus o nosso grande trabalho: pescar.

Falando ou escrevendo, às vezes compara-se o mundo com o mar. E há muita verdade nessa comparação.
Na vida humana, tal como no mar, há períodos de calma e períodos de borrasca, de tranquilidade e de forte ventania.
Muitas vezes, os homens nadam em águas amargas, no meio de gran­des vagas; caminham no meio de tormentas; viajam cheios de tristeza, mesmo quando parece que têm alegria, mesmo quando falam ruidosamente: gargalhadas que pretendem encobrir o seu desalento, o seu desgosto, a sua vida sem caridade nem compreensão.
E devoram-se uns aos outros, tanto os homens como os peixes...

É missão dos filhos de Deus conseguir que todos os homens entrem - com liberdade - dentro da rede divina, para que se amem.
Se somos cristãos, temos de converter-nos nos pescadores de que fala o profeta Jeremias.
Jesus Cristo também utilizou repetidamente essa metáfora: "Segui-me e Eu vos farei pescadores de homens", diz a Pedro e a André.

260
        
Acompanhemos Jesus nesta pesca divina.
Jesus está junto do lago de Genesaré e as pessoas comprimem-se à sua volta, ansiosas por ouvirem a palavra de Deus.
Tal como hoje!
Não estais a ver?
Estão desejando ouvir a mensagem de Deus, embora o dissimulem exteriormente.
Talvez alguns se tenham esquecido da doutrina de Cristo; talvez outros, sem culpa sua, nunca a tenham aprendido e olhem para a religião como coisa estranha... mas convencei-vos de uma realidade sempre actual: chega sempre um momento em que a alma não pode mais; em que não lhe bastam as explicações vulgares; em que não a satisfazem as mentiras dos falsos profetas.
E, mesmo que nem então o admitam, essas pessoas sentem fome, desejam saciar a sua inquietação com os ensinamentos do Senhor.

Deixemos S. Lucas continuar a sua narrativa: E viu duas barcas à beira do lago; e os pescadores tinham saído e lavavam as redes. Entrando numa das barcas, que era a de Simão Pedro, pediu-lhe que se afas­tasse um pouco da terra.
E sentando-se dentro, ensinava o povo.
Quando acabou a sua catequese, ordenou a Simão: Faz-te mais ao largo e lançai as vossas redes para pescar; é Cristo o dono da barca; é Ele quem prepara a faina.
Para isso é que veio ao mundo: para tratar de que os seus irmãos descubram o caminho da glória e do amor ao Pai.
Não fomos nós, portanto, quem inventou o apostolado cristão.
Nós, os homens, só o dificultamos, com a nossa rudeza, com a nossa falta de fé.

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Replicou-lhe Simão: Mestre, trabalhámos durante toda a noite e não apanhámos nada.
A resposta de Simão parece razoável.
Costumavam pescar de noite, e precisamente aquela noite tinha sido infrutífera.
Para que haviam de pescar de dia?
Mas Pedro tem fé: Porém, sobre a tua palavra, lançarei a rede. Resolve proceder como Cristo lhe sugeriu; compromete-se a trabalhar, fiado na Palavra do Senhor.
E que acontece?
Tendo feito isto, apanharam tão grande quantidade de peixes, que a sua rede se rompia.
Então fizeram sinal aos companheiros que estavam na outra barca, para que os viessem ajudar.
Vieram e encheram tanto ambas as barcas, que quase se afundavam.

Ao sair para o mar com os discípulos, Jesus não pensava só nesta pesca.
E por isso, quando Pedro se lança aos seus pés e confessa com humildade: Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador, Nosso Senhor respondeu-lhe: Não temas. De hoje em diante serás pescador de homens.
E nessa nova pesca também não faltará a eficácia divina, pois, apesar das suas misérias pessoais, os Apóstolos serão instrumentos de gran­des prodígios

262
        
Os milagres repetem-se

Atrevo-me a assegurar que também o Senhor fará de nós instrumentos capazes de realizar milagres e até, se for preciso, dos mais extraordinários, se lutarmos diariamente por alcançar a santidade, cada um dentro do seu estado, no meio do mundo, no exercício da sua profissão, na vida normal e corrente.
Daremos luz aos cegos...
Quem não poderia contar mil casos de cegos, quase de nascença, que recobraram a vista, recebendo todo o esplendor da luz de Cristo?
E de outros que eram surdos, e outros mudos, que não podiam ouvir ou articular uma palavra como filhos de Deus...
E que purificaram os seus sentidos, e já ouvem, e já se exprimem como homens, não como animais!... In nomine Iesu!, em nome de Jesus, os seus Apóstolos dão agilidade àquele aleijado, que era incapaz de uma acção útil...
E àquele outro, um poltrão, que conhecia as suas obrigações mas não as cumpria... - Em nome do Senhor, surge et ambula!; levanta-te e caminha!
E um outro, já morto, apodrecido, que tresandava a cadáver, também ouviu a voz de Deus, como no milagre do filho da viúva de Naim - Rapaz, eu te ordeno: levanta-te!
Faremos milagres como os de Cristo, milagres como os dos primeiros Apóstolos...
Talvez esses prodígios se tenham dado contigo mesmo, ou comigo... Talvez fôssemos cegos, ou surdos, ou estropiados, ou cheirássemos a cadáver, e a palavra do Senhor nos tivesse levantado da nossa prostração...
Pois bem: se amamos Cristo, se o seguimos com sinceridade, se não nos procuramos a nós mesmos mas tão só a Ele, em seu nome poderemos transmitir a outros de graça, o que de graça nos foi concedido.

263
        
Tenho pregado constantemente sobre esta possibilidade sobrenatural e humana que Deus, nosso Pai, pôs nas mãos dos seus filhos: a de participar na Redenção operada por Cristo.
E enche-me de alegria encontrar esta mesma doutrina nos textos dos Padres da Igreja.
S. Gregório Magno explica: Os cristãos tiram as serpentes, quando ar­rancam o mal do coração dos outros com a exortação ao bem...
A imposição das mãos sobre os enfermos ocorre quando se vê que o próximo enfraquece na prática do bem e se lhe oferece ajuda de mil maneiras, robustecendo-o com a força do exemplo.
Estes milagres são tanto maiores quanto se passam no campo espiritual, dando vida, não aos corpos, mas às almas.
Também vós, se não vos desleixardes, podereis operar estes prodígios com a ajuda de Deus.

Deus quer que todos se salvem.
Isto é um convite e uma responsabilidade que pesam sobre cada um de nós.
A Igreja não é um reduto de privilegiados.
A grande Igreja será porventura uma exígua parte da Terra?
A grande Igreja é o mundo inteiro.
Assim escrevia Santo Agostinho, acrescentando: Aonde quer que te dirijas, aí está Cristo. Tens por herança os confins da Terra. Vem! Toma posse dela toda comigo.

Recordais como estavam as redes?
Carregadas, a transbordar.
Não cabiam mais peixes.
Deus espera ardentemente que se encha a sua casa.
É Pai e gosta de viver com todos os filhos à sua volta.

264
        
Apostolado na vida corrente

Vejamos agora aquela outra pesca que se deu depois da Paixão e Morte de Jesus Cristo.
Pedro negou três vezes o Mestre e chorou de pena humildemente.
O galo, com o seu canto, recordou-lhe as advertências do Senhor e ele pediu perdão do fundo da alma.
Enquanto espera, contrito, na promessa da Ressurreição, exerce o seu ofício e vai pescar.
A propósito desta pesca, pergunta-se com frequência por que é que Pedro e os filhos de Zebedeu voltaram à ocupação que tinham antes de o Senhor os chamar.
Efectivamente eram pescadores quando o Senhor lhes disse: Segui-me e Eu vos farei pescadores de homens.
Aos que se surpreendem com esta conduta deve-se responder que não estava proibido aos Apóstolos exercer a sua profissão, visto que se tratava de coisa legítima e honesta.

O apostolado, essa ânsia que vibra no íntimo do cristão, não é coisa separada da vida de todos os dias; confunde-se com o próprio trabalho, convertido em ocasião de encontro pessoal com Cristo.
Nesse trabalho, ombro a ombro com os nossos colegas, com os nossos amigos, com os nossos parentes, lutando pelos mesmos interesses, podemos ajudá-los a chegar a Cristo, que nos espera na margem do lago...
Antes de ser apóstolo, pescador.
Também, pescador depois de ser apóstolo.
Antes e depois, a mesma profissão.

265
         
Que mudança há então?
Há mudança na alma, porque nela entrou Cristo, tal como entrou na barca de Pedro.
Abrem-se amplos horizontes, maior ambição de servir e um desejo ir­reprimível de anunciar a todas as criaturas as magnalia Dei, as coisas maravilhosas que o Senhor faz, se lho permitimos.
Aqui não posso deixar de recordar que o trabalho, digamos profissional dos sacerdotes é um ministério divino e público, que abarca exigentemente toda a sua vida.
Pode-se dizer até, de um modo geral, que se a um sacerdote lhe sobra tempo para trabalhos que não sejam propriamente sacerdotais, é certo que não cumpre os deveres do seu ministério.

Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu, e outros dois dos seus discípulos.
Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar.
Responderam-lhe: Também nós vamos contigo.
Foram, pois, e entraram numa barca.
Naquela noite nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus apresentou-se na praia.

Passa ao lado dos seus Apóstolos, junto daquelas almas que se lhe entregaram...
E eles não se dão conta disso!
Quantas vezes está Cristo, não perto de nós, mas dentro de nós, e temos uma vida tão humana!
Cristo está ao nosso lado e não recebe um olhar de carinho, uma palavra de amor, uma obra de serviço por parte dos seus filhos!

(cont)


Pequena agenda do cristão

SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Evangelho e comentário


TEMPO COMUM


Exaltação da Santa Cruz

Evangelho: Jo 3, 13-17

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Ninguém subiu ao Céu senão Aquele que desceu do Céu: o Filho do homem. Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele»

Comentário:

Esta afirmação de Jesus Cristo: «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» contem toda a razão que moveu a Vontade de Deus em e enviar o Seu Filho Unigénito ao mundo.

O Criador via a que a criatura humana estava irremediavelmente perdida depois do pecado de Adão e Eva, por si só, fizesse o que fizesse, não poderia salvar-se por que o “fosso” aberto pelo pecado original lhe era impossível de transpor.
O Amor de Deus pelas criaturas é de tal ordem que unicamente prevê a sua salvação, ou seja, a sua companhia por toda a eternidade.

Mas, esta “decisão” do Senhor tem, talvez, um objectivo principal: teria de ser de tal forma grandiosa, excedendo todo o amor de forma total e definitiva que a partir desse momento acontece uma clivagem tão profunda e marcante que a criatura jamais será a mesma.

Mantendo a sua liberdade dá-lhe a possibilidade se ser Seu filho verdadeiro e com Ele gozar a bem aventurança eterna.

(AMA, comentário sobre Jo 3, 13-17, 19.06.2019)

Temas para reflectir e meditar


Sonhador

Pois é, sou um sonhador!

É, na verdade, gasto muito tempo a sonhar.
Não me faz bem nem mal, ocupa o tempo sempre tão excessivo.

Que sonho?
Tudo, sonho sobre tudo o que, realmente, é muito, talvez excessivo.
Como se trata de sonhar, posso fazer projectos o que ocupa imenso tempo, mas sempre com o cuidado de não ter nem expectativas nem ilusões e, assim, nunca tenho nem desilusões nem sinto fracassos.

Poderá haver quem pense que sonhar é afastar a realidade muitas vezes por cobardia, outras como refúgio.
A realidade da vida corrente não proporciona muitos momentos de sonho porque nos entra porta dentro exigindo respostas ou reacções imediatas.
Prefiro pensar que não há nada verdadeiramente urgente e que toda a questão pode esperar um pouco ou algum tempo por uma resposta.

Uma virtude desde logo: evita as precipitações.

AMA, 10.04.2018

A transfiguração do Senhor


O Céu. "Nem olho algum viu, nem ouvido algum ouviu, nem passaram pelo pensamento do homem as coisas que Deus preparou para aqueles que O amam". Não te incitam à luta estas revelações do Apóstolo? (Caminho, 751)

E transfigurou-Se diante deles. E o Seu rosto ficou refulgente como o Sol e as Suas vestes tornaram-se brancas como a neve (Mt 17, 2).

Jesus: ver-Te, falar contigo! Permanecer assim, contemplando-Te; abismado na imensidade da Tua formosura, e nunca, mais deixar de Te contemplar! Ó Cristo, quem Te pudesse ver! Quem Te visse, para ficar ferido de amor por Ti!
E eis que da nuvem uma voz dizia: Este é o meu Filho dilecto em quem pus toda a minha complacência: ouvi-O (Mt 17, 5).

Senhor nosso, aqui nos tens, dispostos a escutar tudo o que nos quiseres dizer. Fala-nos; estamos atentos à Tua voz. Que as Tuas palavras, caindo na nossa alma, inflamem a nossa vontade, para que se lance fervorosamente a obedecer-Te!

Vultum tuum, Domine, requiram (S 26,8) – buscarei, Senhor, o Teu rosto. Encanta-me cerrar os olhos, e considerar que chegará o momento – quando Deus quiser – em que poderei vê-lo, não como num espelho, e sob imagens obscuras…, mas face a face (1 Cor 13, 12). Sim, o meu coração está sedento do Deus, do Deus vivo; quando irei e verei a face de Deus? (S 41, 3). (Santo Rosário. 4. º Mistério luminoso)

Doutrina – 51 t

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
Compêndio



SEGUNDA SECÇÃO

OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA


CAPÍTULO PRIMEIRO

OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

284. A fracção do pão divide Cristo?


A fracção do pão não divide Cristo: Ele está presente todo inteiro em cada uma das espécies eucarísticas e em cada uma das suas partes.