Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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05/09/2019
Leitura espiritual
Amigos
de Deus
208
Mas se abundam os temerosos e os frívolos,
nesta nossa terra muitos homens rectos, impelidos por um nobre ideal - ainda
que sem motivo sobrenatural, por filantropia - afrontam toda a espécie de
privações e consomem-se generosamente a servir os outros, a ajudá-los nos seus
sofrimentos ou nas suas dificuldades.
Sinto-me
sempre levado a respeitar, e mesmo a admirar a tenacidade de quem trabalha
decididamente por um ideal limpo.
No
entanto, considero minha obrigação recordar que tudo o que iniciamos aqui, se é
empresa exclusivamente nossa, nasce com o selo da caducidade.
Meditai
as palavras da Escritura: contemplei tudo
o que as minhas mãos tinham feito e as canseiras que tive ao fazê-lo e vi que
tudo era vaidade e vento que passa e que nada havia de proveitoso debaixo do
sol.
Esta precariedade não sufoca a esperança.
Pelo
contrário, quando reconhecemos a pequenez e a contingência das iniciativas
terrenas, o trabalho abre-se à autêntica esperança que eleva toda a actividade
humana e a converte em lugar de encontro com Deus.
Essa
tarefa é assim iluminada com uma luz perene, que afasta as trevas das
desilusões.
Mas
se transformarmos os projectos temporais em metas absolutas, suprimindo do
horizonte a morada eterna e o fim para que fomos criados - amar e louvar o
Senhor e possuí-lo depois no Céu - os intentos mais brilhantes transformam-se
em traições e inclusive em instrumento para envilecer as criaturas.
Recordai
a sincera e famosa exclamação de Santo Agostinho, que tinha experimentado
tantas amarguras enquanto não conhecia Deus e procurava fora d'Ele a
felicidade: fizeste-nos, Senhor, para Ti,
e o nosso coração está inquieto enquanto não descansa em Ti!
Talvez
não exista nada mais trágico na vida dos homens do que os enganos padecidos
pela corrupção ou pela falsificação da esperança, apresentada com uma
perspectiva que não tem como objecto o amor que sacia sem saciar.
A mim, e desejo que a vós suceda o mesmo, a
segurança de me sentir - de me saber - filho de Deus enche-me de verdadeira
esperança que, por ser virtude sobrenatural, ao ser infundida nas criaturas, se
acomoda à nossa natureza e é também virtude muito humana.
Sou
feliz com a certeza do Céu que alcançaremos, se permanecermos fiéis até ao fim;
com a felicidade que nos chegará, quoniam
bonus, porque o meu Deus é bom e é infinita a sua misericórdia. Esta
convicção incita-me a compreender que só o que está marcado com o selo de Deus
revela o sinal indelével da eternidade e tem um valor imperecível.
Por
isso, a esperança não me separa das coisas desta terra, antes me aproxima
dessas realidades de um modo novo, cristão, que procura descobrir em tudo a
relação da natureza, caída, com Deus Criador e com Deus Redentor.
209
Em
que esperar
Dado que o mundo oferece muitos bens,
apetecíveis para este nosso coração, que reclama felicidade e busca
ansiosamente o amor, talvez alguns perguntem: nós, os cristãos, em que devemos
esperar? Além disso, queremos semear a paz e a alegria às mãos cheias, não
ficamos satisfeitos com a consecução da prosperidade pessoal e procuramos que
estejam contentes todos os que nos rodeiam.
Por desgraça, alguns, com uma visão digna
mas rasteira, com ideais exclusivamente caducos e fugazes, esquecem que os
anelos do cristão se hão-de orientar para cumes mais elevados: infinitos.
O
que nos interessa é o próprio Amor de Deus, é gozá-lo plenamente, com um júbilo
sem fim.
Temos
comprovado, de muitas maneiras, que as coisas da terra hão-de passar para
todos, quando este mundo acabar; e já antes, para cada um, com a morte, porque
nem as riquezas nem as honras acompanham ninguém ao sepulcro.
Por
isso, com as asas da esperança, que anima os nossos corações a levantarem-se
para Deus, aprendemos a rezar: in te
Domine speravi, non confundar in æternum, espero em Ti, Senhor, para que me
dirijas com as tuas mãos agora e em todos os momentos pelos séculos dos
séculos.
210
O Senhor não nos criou para construirmos
aqui uma Cidade definitiva, porque este mundo é o caminho para o outro, que é
morada sem pesar.
No
entanto, nós, os filhos de Deus, não devemos desligar-nos das actividades
terrenas em que Deus nos coloca para as santificarmos, para as impregnarmos da
nossa bendita fé, a única que dá verdadeira paz, alegria autêntica às almas e
aos diversos ambientes.
Tem
sido esta a minha pregação constante desde 1928: urge cristianizar a sociedade;
levar a todos os estratos desta nossa humanidade o sentido sobrenatural, de
modo que uns e outros nos empenhemos em elevar à ordem da graça a ocupação
diária, a profissão ou o ofício.
Desta
forma, todas as ocupações humanas se iluminam com uma esperança nova, que
transcende o tempo e a caducidade do mundano.
Pelo Baptismo, somos portadores da palavra
de Cristo, que serena, que inflama e aquieta as consciências feridas.
E
para que o Senhor actue em nós e por nós, temos de lhe dizer que estamos
dispostos a lutar em cada dia, ainda que nos vejamos frouxos e inúteis, ainda
que sintamos o peso imenso das misérias pessoais e da pobre debilidade pessoal.
Temos
de lhe repetir que confiamos n'Ele, na sua ajuda: se é preciso, como Abraão,
contra toda a esperança.
Assim
trabalharemos com renovado empenho e ensinaremos as pessoas a reagirem com
serenidade, livres de ódios, de receios, de ignorância, de incompreensões, de
pessimismos, porque Deus tudo pode.
211
Onde quer que nos encontremos, esta é a
exortação do Senhor: vigiai!
Em
face deste apelo de Deus, alimentemos nas nossas consciências os desejos
esperançosos de santidade, com obras.
Dá-me,
meu filho, o teu coração, sugere-nos o Senhor ao ouvido. Deixa-te de construir
castelos com a fantasia, decide-te a abrir a tua alma a Deus, pois
exclusivamente no Senhor acharás o fundamento real para a tua esperança e para
fazer o bem aos outros.
Quando
não lutamos connosco mesmos, quando não rechaçamos terminantemente os inimigos
que estão dentro da cidadela interior - o orgulho, a inveja, a concupiscência
da carne e dos olhos, a auto-suficiência, a tresloucada avidez da libertinagem
- quando não existe essa peleja interior, os mais nobres ideais definham como a
flor do feno; ao romper o sol ardente, a erva seca, a flor cai e acaba a sua
vistosa formosura.
Depois,
pela menor fenda brotarão o desalento e a tristeza, como plantas daninhas e
invasoras.
Jesus não se conforma com um assentimento
titubeante.
Pretende,
tem direito a que caminhemos com inteireza, sem concessões às dificuldades.
Exige
passos firmes concretos; pois, de ordinário, os propósitos gerais servem para
pouco.
Os
propósitos pouco delineados parecem-me entusiasmos falazes que intentam calar
as chamadas divinas percebidas pelo coração; fogos fátuos, que não queimam nem
dão calor e que desaparecem com a mesma fugacidade com que surgiram.
Por isso, convencer-me-ei de que as tuas
intenções de alcançar a meta são sinceras, se te vir caminhar com determinação.
Faz
o bem, revendo as tuas atitudes habituais quanto à ocupação de cada instante;
pratica a justiça, precisamente nos ambientes que frequentas, ainda que a
fadiga te vença; fomenta a felicidade dos que te rodeiam, servindo os outros
com alegria no lugar do teu trabalho, com esforço para o acabar com a maior
perfeição possível, com a tua compreensão, com o teu sorriso, com a tua atitude
cristã.
E
tudo por Deus, com o pensamento na sua glória, com o olhar no alto, anelando a
Pátria definitiva, pois só esse fim vale a pena.
212
Tudo
posso
Se não lutas, não me digas que procuras
identificar-te mais com Cristo, conhecê-lo, amá-lo.
Quando
empreendemos o caminho real de seguir a Cristo, de nos portarmos como filhos de
Deus, não se nos oculta o que nos aguarda: a Santa Cruz, que temos de
contemplar como o ponto central onde se apoia a nossa esperança de nos unirmos
ao Senhor.
Digo-vos desde já que este programa não é
uma empresa cómoda; viver da maneira que o Senhor assinala pressupõe esforço.
Leio-vos a enumeração do Apóstolo, quando refere as suas peripécias e os seus
sofrimentos para cumprir a vontade de Jesus:
Dos
judeus recebi cinco vezes quarenta açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas; uma vez apedrejado; três vezes
naufraguei; uma noite e um dia estive no abismo do mar. Muitas vezes, em
viagens, perigos de rios, perigos de ladrões, perigos dos da minha nação,
perigos dos gentios, perigos na cidade, perigos no descampado, perigos no mar,
perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e misérias, em muitas vigílias, com
fome e com sede, com muitos jejuns, com frio e nudez. Além destas coisas
exteriores, pesam sobre mim as ocupações de cada dia pela solicitude de todas
as igrejas.
Gosto, nestas conversas com o Senhor, de me
cingir à realidade em que se desenvolve a nossa vida, sem inventar teorias, nem
sonhar com grandes renúncias, com heroicidades, que habitualmente não
acontecem.
Importa
que aproveitemos o tempo, que se nos escapa das mãos e que, segundo o critério
cristão, é mais do que ouro, porque representa uma antecipação da glória que
depois nos será concedida.
Logicamente, na nossa jornada, não
toparemos com tais nem com tantas contradições como as que ocorreram na vida de
Saulo. Nós descobriremos a baixeza do nosso egoísmo, os golpes da sensualidade,
as investidas de um orgulho inútil e ridículo e muitas outras claudicações:
tantas, tantas fraquezas.
Descoroçoar?
Não.
Com
S. Paulo, repitamos ao Senhor: sinto
complacência nas minhas enfermidades, nos ultrajes, nas necessidades, nas
perseguições, nas angústias por amor de Cristo; pois quando estou fraco, então
sou mais forte.
(cont)
Evangelho e comentário
Evangelho: Lc 5, 1-11
Naquele tempo, estava a multidão
aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se
na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os
pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu
para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da
terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou
de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca».
Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos
nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam
tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram
sinal aos companheiros que estavam no outro barco para os virem ajudar; eles
vieram e encheram ambos os barcos de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o
sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor,
afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se
apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada.
Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros
de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de
homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram
Jesus.
Comentário:
A
pesca exige qualidades e aptidões que nem todos têm.
Lembramos,
hoje, uma importantíssima: A confiança!
Sem
esta virtude é muito difícil resistir aos fracassos e maus resultados. Mas, o
pescador sabe que, algures no mar onde navega, o peixe existe e que, mais tarde
ou mais cedo não deixará de entrar na rede que uma e outra vez lança às águas.
Compara-se
muito o apostolado pessoal com a pesca e é, de facto, uma comparação muito
real.
Como
dissemos, para se obterem resultados na pesca, há que insistir com confiança no
trabalho mil vezes repetido e não desistir nunca pois não é de crer que, sem
mais, o peixe salte das águas para dentro do barco.
Pois
também não devemos esperar que o objecto do nosso apostolado venha subitamente,
ter connosco aceitando aquele convite que alguma vez fizemos e que não tornámos
a repetir.
Será
a nossa insistência sem desfalecimento nem intervalos que produzirá os frutos
que esperamos mas, atenção, tal como neste trecho do Evangelho de São Lucas [i] é fundamental que sigamos fielmente as instruções –
direcção espiritual – que nos vão sendo dadas por quem pode e tem autoridade
para o fazer.
Entregues
a uma tarefa por nosso livre alvedrio, sem direcção e ajuda pouco ou nada
conseguiremos.
(AMA, comentário sobre Lc
5, 1-11, 10.02.2019)
Pequena agenda do cristão
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito:
Participar na Santa Missa.
Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.
Lembrar-me:
Comunhões espirituais.
Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.
Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?
Temas para reflectir e meditar
Quando descobrem claramente o bem, esquadrinham para examinar se
há, além disso, algum mal oculto.
(são gregório magno, Moralia,
6, 22, trad cast ama)
Jesus ficou na Eucaristia por amor
A
frequência com que visitamos o Senhor está em função de dois factores: fé e
coração; ver a verdade, e amá-la. (Sulco,
818)
O
coração! De vez em quando, sem poderes evitá-lo, projecta-se uma sombra de luz
humana, uma recordação grosseira, triste, "saloia"...
Vai
imediatamente ao Sacrário, física ou espiritualmente; e voltarás à luz, à
alegria, à Vida! (Sulco, 817)
Assoma
muitas vezes a cabeça ao oratório, para dizeres a Jesus: –... abandono-me nos
teus braços.
Deixa
a seus pés o que tens: as tuas misérias!
Desta
maneira, apesar da turbamulta de coisas que levas dentro de ti, nunca perderás
a paz. (Forja, 306)
Jesus
ficou na Eucaristia por amor..., por ti.
Ficou,
sabendo como o receberiam os homens... e como o recebes tu.
Ficou,
para que o comas, para que o visites e lhe contes as tuas coisas e, falando
intimamente com Ele na oração junto do Sacrário e na recepção do Sacramento, te
apaixones cada dia mais e faças com que outras almas – muitas! – sigam o mesmo
caminho. (Forja, 887)