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15/07/2019

Leitura espiritual


"Christus vivit": Exortação Apostólica aos Jovens


Capítulo IV

O GRANDE ANÚNCIO PARA TODOS OS JOVENS


Cristo salva-te

118. A segunda verdade é que, por amor, Cristo entregou-Se até ao fim para te salvar. Os seus braços abertos na cruz são o sinal mais precioso dum amigo capaz de levar até ao extremo o seu amor:
«Ele, que amava os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo» (Jo 13, 1).

São Paulo dizia viver confiado naquele amor que, por ele, se deu totalmente: «A vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gal 2, 20).

119. E Cristo, que nos salvou dos nossos pecados na Cruz, com o mesmo poder da sua entrega total, continua a salvar-nos e a resgatar-nos, hoje. Olha para a sua Cruz, agarra-te a Ele, deixa-te salvar, porque, «quantos se deixam salvar por Ele, são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento»[1].

E, se pecares e te afastares, Ele volta a levantar-te com o poder da sua Cruz. Nunca esqueças que «Ele perdoa setenta vezes sete. Volta uma vez e outra a carregar-nos aos seus ombros. Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria»[2].

120. Nós «fomos salvos por Jesus: porque nos ama e não pode deixar de o fazer. Podemos fazer muitas coisas contra Ele, mas Ele continua a amar-nos e salva-nos. Porque só o que se ama pode ser salvo. Só o que se abraça, pode ser transformado. O amor do Senhor é maior que todas as nossas contradições, que todas as nossas fragilidades e que toda a nossa mesquinhez, mas é precisamente através das nossas contradições, fragilidades e mesquinhez que Ele quer escrever esta história de amor. Abraçou o filho pródigo, abraçou Pedro depois de O ter negado e abraça-nos sempre, sempre, sempre, depois das nossas quedas, ajudando-nos a levantar e ficar de pé. Porque a verdadeira queda - atenção a isto! - a verdadeira queda, aquela que nos pode arruinar a vida, é ficar no chão e não se deixar ajudar»[3].


121. O seu perdão e a sua salvação não são algo que compramos, ou que temos de adquirir com as nossas obras ou com os nossos esforços. Jesus perdoa-nos e liberta-nos gratuitamente. A sua doação na Cruz é algo tão grande que não podemos nem devemos pagar; devemos apenas recebê-lo com imensa gratidão e com a alegria de ser tão amados, ainda antes que o pudéssemos imaginar: «Ele nos amou primeiro» (1 Jo 4, 19).

122. Jovens amados pelo Senhor, oh quanto valeis vós, se fostes redimidos pelo sangue precioso de Cristo!
Queridos jovens, vós «não tendes preço!
Não sois mercadoria em leilão! Por favor, não vos deixeis comprar, não vos deixeis seduzir, não vos deixeis escravizar pelas colonizações ideológicas que incutem ideias estranhas na nossa cabeça, tornando-vos por fim escravos, dependentes, fracassados na vida.
Vós não tendes preço!
Deveis repetir sempre isto: eu não estou em leilão, eu não tenho preço, sou livre!
Apaixonai-vos por esta liberdade, que nos é oferecida por Jesus»[4].

123. Fixa os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E quando te aproximares para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua misericórdia que te liberta de toda a culpa.
Contempla o seu sangue derramado pelo grande amor que te tem e deixa-te purificar por ele.
Assim, poderás renascer sempre de novo.

Ele vive!

124. Mas há uma terceira verdade, que é inseparável da anterior: Ele vive!
É preciso recordá-lo com frequência, porque corremos o risco de tomar Jesus Cristo apenas como um bom exemplo do passado, como uma recordação, como Alguém que nos salvou há dois mil anos.
De nada nos aproveitaria isto: deixar-nos-ia como antes, não nos libertaria.
Aquele que nos enche com a sua graça, Aquele que nos liberta, Aquele que nos transforma, Aquele que nos cura e consola é Alguém que vive.
É Cristo ressuscitado, cheio de vitalidade sobrenatural, revestido de luz infinita.
Por isso dizia São Paulo: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé» (1 Cor15, 17).

125. Mas, se Ele vive, então poderá estar presente em cada momento da tua vida, para o encher de luz.
Assim, nunca mais haverá solidão nem abandono. Ainda que todos nos abandonem, Jesus permanecerá, como prometeu:
«Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).

Tudo preenche com a Sua presença invisível e, para onde quer que vás, lá estará Ele à tua espera.
É que Ele não só veio, mas vem e continuará a vir todos os dias, para te convidar a caminhar para um horizonte sempre novo.

126. Contempla Jesus feliz, transbordando de alegria.
Alegra-te com o teu Amigo que triunfou.
Mataram o Santo, o Justo, o Inocente, mas Ele venceu.
O mal não tem a última palavra.
Também na tua vida, o mal não terá a última palavra, porque o teu Amigo, que te ama, quer triunfar em ti.
O teu Salvador vive.

127. Se Ele vive, isso é uma garantia de que o bem pode triunfar na nossa vida e de que as nossas fadigas servirão para alguma coisa. Então podemos deixar de nos lamentar e podemos olhar em frente, porque com Ele é possível sempre olhar em frente.
Esta é a certeza que temos:
Jesus é o vivente eterno; agarrados a Ele, viveremos e atravessaremos, ilesos, todas as formas de morte e violência que se escondem no caminho.

128. Qualquer outra solução será frágil e temporária: talvez se mostre útil por algum tempo, mas de novo nos encontraremos desprotegidos, abandonados, expostos às intempéries.
Pelo contrário, com Ele, o coração está enraizado numa segurança basilar, que perdura mais além de tudo.
São Paulo diz querer estar unido a Cristo, para poder assim «conhecê-l'O a Ele, na força da sua ressurreição» (Flp 3, 10).

Tal é a força que se manifestará sempre de novo na tua existência, porque Ele veio para dar-te a vida, e «vida em abundância» (cf. Jo 10, 10).

129. Se conseguires apreciar com o coração a beleza deste anúncio e te deixares encontrar pelo Senhor; se te deixares amar e salvar por Ele; se entrares na sua intimidade e começares a conversar com Cristo vivo sobre as coisas concretas da tua vida, esta será a grande experiência, será a experiência fundamental que sustentará a tua vida cristã.
Esta será também a experiência que poderás comunicar a outros jovens.
Porque, «ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo»[5].

O Espírito dá vida

130. Nestas três verdades (Deus ama-te, Cristo é o teu salvador, Ele vive), aparece Deus Pai e aparece Jesus.
Mas, onde estão o Pai e Jesus Cristo, também está o Espírito Santo.
É Ele que prepara e abre os corações para receberem este anúncio, é Ele que mantém viva esta experiência de salvação, é Ele que te ajudará a crescer nesta alegria se O deixares agir.
O Espírito Santo enche o coração de Cristo ressuscitado e de lá, como duma fonte, derrama-Se na tua vida.
E quando O recebes, o Espírito Santo faz-te entrar cada vez mais no coração de Cristo, para que te enchas sempre mais com o seu amor, a sua luz e a sua força.

131. Todos os dias invoca o Espírito Santo, para que renove em ti constantemente a experiência do grande anúncio.
Porque não?
Tu não perdes nada e Ele pode mudar a tua vida, pode iluminá-la e dar-lhe um rumo melhor.
Não te mutila, não te tira nada, antes ajuda-te a encontrar da melhor maneira aquilo que precisas.
Precisas de amor?
Não o encontrarás na devassidão, usando os outros, possuindo ou dominando os outros; n’Ele, o encontrarás duma forma que te fará verdadeiramente feliz.
Buscas intensidade?
Não a viverás acumulando objectos, gastando dinheiro, correndo desesperadamente atrás das coisas deste mundo; chegará duma maneira muito mais bela e satisfatória, se te deixares guiar pelo Espírito Santo.

132. Buscas paixão?
Deixa-te enamorar por Ele, porque - como se lê no estupendo poema Enamora-te! - «nada pode ser mais importante do que encontrar Deus, ou seja, enamorar-se d’Ele de maneira definitiva e absoluta.

Aquilo de que te enamoras, prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo.
Será isso a decidir o que te arranca da cama pela manhã, o que fazes no final da tarde, como transcorres os teus fins de semana, aquilo que lês, o que conheces, aquilo que te destroça o coração e o que te faz transbordar de alegria e gratidão.
Enamora-te!
Permanece no amor!
Tudo será diferente»[6].

Este amor de Deus, que se apodera apaixonadamente de toda a vida, é possível pelo Espírito Santo, porque «o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5, 5).

133. Ele é a fonte da juventude melhor.
Com efeito, quem confia no Senhor «é como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, e a sua folhagem fica sempre verdejante» (Jr 17, 8).
Enquanto «os adolescentes se cansam e se fatigam» (Is 40, 30), aqueles que esperam, confiados no Senhor, «renovam as suas forças.
Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer» (Is 40, 31).

Franciscus

Revisão da versão portuguesa por AMA


Notas



[1] Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium (24 de Novembro de 2013), 1:
AAS 105 (2013), 1019.
[2] Ibid., 3: o. c., 1020.
[3] Francisco, Discurso na Vigília da XXXIV Jornada Mundial da Juventude (Panamá 26 de Janeiro de 2019): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 05/II/2019), 6.
[4] Francisco, Discurso no encontro com os jovens durante o Sínodo, na Aula Paulo VI (6 de Outubro de 2018):L’Osservatore Romano(ed. portuguesa de 11/X/2018), 8.
[5] Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est (25 de dezembro de 2005), 1: AAS 98 (2006), 217.
[6] Pedro Arrupe, Enamora-te.

Evangelho e comentário


TEMPO COMUM



São Boaventura – Doutor da Igreja

Evangelho: Mt 10, 34 1-1,1



Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Não penseis que Eu vim trazer a paz à terra. Não vim trazer a paz, mas a espada. De facto, vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora da sua sogra, de maneira que os inimigos do homem são os de sua casa. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa». Depois de ter dado estas instruções aos seus doze discípulos, Jesus partiu dali, para ir ensinar e pregar nas cidades daquela gente. 


Comentário:

A Liturgia repete, no mesmo ano, o mesmo trecho de São Mateus. Porquê?

Julgo que o tema é por demais importante para que os cristãos tenham bem claro o que Ele pede aos que O seguem ou, desejam segui-lo.

Não esconde nem “emoldura” a verdade, bem ao contrário, mostra as dificuldades e obstáculos que os que optarem por esse caminho, hão-de encontrar.

Mas, a verdade, é que nunca faltaram – nem faltarão jamais- homens e mulheres de todas as reças e condições sociais, que optarão por esse caminho e – atenção – não necessariamente retirados do mundo, nos claustros de um convento.

Na vida corrente, podemos encontrar a cada passo pessoas que vivem no mundo, mas “não são do mundo” porque tudo quanto fazem é para honrar e dar glória Deus.

São estes “alicerces” em que se apoia a santidade da Igreja de Jesus Cristo, em que nos apoiamos todos os cristãos, que nos servem e exemplo a seguir, nos animam e são, de certo modo, a garantia de que é possível viver como Deus quer que vivamos.

(AMA, comentário sobre Mt 10, 34 -11, 1, 17.07.2017)




Temas para Reflectir e meditar


"Pobre e mal-agradecido"


Isto dizia-se dantes quando se dava algo a alguém necessitado e a pessoa nem "obrigado" dizia.
E eu?

Eu que só recebo – constantemente -  lembro-me de agradecer?


(AMA, reflexões, 10.07.2018)

Pequena agenda do cristão

SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça "boa cara" que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?








Que a tua vida não seja uma vida estéril


Que a tua vida não seja uma vida estéril. – Sê útil. – Deixa rasto. – Ilumina, com o resplendor da tua fé e do teu amor. Apaga, com a tua vida de apóstolo, o rasto viscoso e sujo que deixaram os semeadores impuros do ódio. – E incendeia todos os caminhos da Terra com o fogo de Cristo que levas no coração. (Caminho, 1)

Se cedesses à tentação de perguntar a ti mesmo: quem me manda a mim meter-me nisto? teria de responder-te: manda-to, pede-to o próprio Cristo. A messe é grande e os operários são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe. Não digas, comodamente: eu para isto não sirvo; para isto já há outros; não estou feito para isto... Não. Para isto não há outros. Se tu pudesses falar assim, todos podiam dizer a mesma coisa. O pedido de Cristo dirige-se a todos e cada um dos cristãos. Ninguém está dispensado: nem por razões de idade, nem de saúde, nem de ocupação. Não há desculpas de nenhum género. Ou produzimos frutos de apostolado ou a nossa fé será estéril.

Além disso, quem disse que para falar de Cristo, para difundir a sua doutrina, era preciso fazer coisas especiais, fora do comum? Faz a tua vida normal; trabalha onde estás a trabalhar, procurando cumprir os deveres do teu estado, acabar bem o que é próprio da tua profissão ou do teu ofício, superando-te, melhorando-te dia-a-dia. Sê leal, compreensivo com os outros e exigente contigo mesmo. Sê mortificado e alegre. Será esse o teu apostolado. E, sem saberes porquê, tendo perfeita consciência das tuas misérias, os que te rodeiam virão ter contigo e, numa conversa natural, simples – à saída do trabalho, numa reunião familiar, no autocarro, ao dar um passeio, em qualquer parte – falareis de inquietações que em todas as almas existem, embora às vezes alguns não queiram dar por isso. Mas cada vez as perceberão melhor, desde que comecem a procurar Deus a sério. (Amigos de Deus, 272–273)