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Evangelho e comentário


TEMPO COMUM


Santo António de Lisboa

Evangelho: Mt 5, 13-19

13 «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; 15 nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. 16 Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.» 17 «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. 18 Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra. 19 Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu.

Comentário:

No dia em que a Igreja faz memória de Santo António a Liturgia escolhe este trecho do Evangelho de São Mateus com toda a propriedade.

Não houve no seu tempo luz que mais brilhasse que a que o grande Santo espalhava à sua volta sobretudo através da palavra fluida, portentosa, atraente.


Luz que brilha ainda hoje com um fulgor sempre novo porque as suas palavras emanavam directamente do Evangelho, da Palavra de Deus.


O fogo interior que o consumia na ansiosa busca de almas para Cristo levava-o a um incessante peregrinar para levar esse sal e essa luz onde fosse preciso.


(AMA, comentário sobre MT 5, 13-19, Carvide, 13.06.2016)

Temas para reflectir e meditar

Calar

Calar ante o sofrimento alheio é cobardia; 
Calar e não dizer palavras inúteis é penitência; 
Calar quando Deus fala ao coração é silêncio; 
Calar quando não há necessidade de falar é prudência; 
Calar quando o outro espera uma palavra é omissão;
Calar quando outro fala é delicadeza; 
Calar sobre a própria pessoa é humildade;
Calar sobre os defeitos dos outros é caridade; 
Calar ante a injustiça é fraqueza; 
Calar ante o mistério que não entendemos é sabedoria.


(p. l. moya, fluvium 247, 2008, trad ama)

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?






Estou com Ele no tempo da adversidade


Ainda que tudo se vá abaixo e se acabe; ainda que os acontecimentos se sucedam ao contrário do previsto, com tremenda adversidade; nada se ganha perturbando-se. Além disso, recorda a oração confiante do profeta: "O Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso Legislador; o Senhor é o nosso Rei; Ele é quem nos há-de salvar". Reza-a devotamente, todos os dias, para acomodar a tua conduta aos desígnios da Providência, que nos governa para nosso bem. (Forja, 855)

E quando a tentação do desânimo, dos contrastes, da luta, da tribulação, de uma nova noite da alma nos ataca –violenta –, o salmista põe-nos nos lábios e na inteligência aquelas palavras: estou com Ele no tempo da adversidade. Jesus, perante a Tua Cruz, que vale a minha; perante as Tuas feridas, os meus arranhões? Perante o Teu Amor imenso, puro e infinito, que vale o minúsculo fardo que Tu colocaste sobre os meus ombros? E os vossos corações e o meu enchem-se de uma santa avidez, confessando-Lhe – com obras – que morremos de Amor.

Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de compreender as Suas lágrimas; de ver o Seu sorriso, o Seu rosto... Julgo que o melhor modo de o exprimir é voltar a repetir, com a Escritura: como o veado deseja a fonte das águas, assim a minha alma te anela, ó meu Deus! E a alma avança, metida em Deus, endeusada: o cristão tornou-se um viajante sedento, que abre a boca às águas da fonte.

Com esta entrega, o zelo apostólico ateia-se, aumenta dia-a-dia – pegando esta ânsia aos outros – porque o bem é difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não arda em desejos de semear no mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do lado aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por Amor.

Falava antes de dores, de sofrimentos, de lágrimas. E não me contradigo se afirmo que, para um discípulo que procura amorosamente o Mestre, é muito diferente o sabor das tristezas, das penas, das aflições: desaparecem imediatamente, quando aceitamos deveras a Vontade de Deus, quando cumprimos com gosto os Seus desígnios, como filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam rebentar e o suplício pareça insuportável. (Amigos de Deus, nn. 310–311)

Leitura espiritual


CARTA ENCÍCLICA

HAURIETIS AQUAS

DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE O CULTO DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS



IV
NASCIMENTO E DESENVOLVIMENTO PROGRESSIVO
DO CULTO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


1)   Albores do culto ao sagrado coração na devoção às chagas sacrossantas da paixão


46. À vossa consideração, veneráveis irmãos, e à do povo cristão quisemos expor em suas linhas gerais a íntima natureza e as perenes riquezas do culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus, atendo-nos à doutrina da revelação divina como à sua fonte primária.

Estamos persuadidos de que estas nossas reflexões, ditadas pelo próprio ensinamento do Evangelho, mostraram claramente como, em substância, este culto não é outra coisa senão o culto ao amor divino e humano do Verbo encarnado, e também o culto àquele amor com que o Pai e o Espírito Santo amam os homens pecadores.

Porque, como observa o Doutor angélico, a caridade das três Pessoas divinas é o princípio da redenção humana nisto que inundando copiosamente a vontade humana de Jesus Cristo e o seu coração adorável, com a mesma caridade o induziu a derramar o seu sangue para nos resgatar da servidão do pecado:

[1]

"Com um baptismo tenho de ser baptizado, e como me sinto oprimido enquanto ele não se cumpre!"[2].


47. Aliás, é persuasão nossa que o culto tributado ao amor de Deus e de Jesus Cristo para com o género humano, através do símbolo augusto do coração transfixado do Redentor, nunca esteve completamente ausente da piedade dos fiéis, embora a sua manifestação clara e a sua admirável difusão em toda a Igreja se haja realizado em tempos não muito distantes de nós, sobretudo depois que o próprio Senhor revelou este divino mistério a alguns de seus filhos após havê-los cumulado com abundância de dons sobrenaturais, e os elegeu para seus mensageiros e arautos.


48. De facto, sempre houve almas especialmente consagradas a Deus que, inspirando-se nos exemplos da excelsa Mãe de Deus, dos apóstolos e de insignes padres da Igreja, tributaram culto de adoração, de acção de graças e de amor à humanidade santíssima de Cristo, e de modo especial às feridas abertas no Seu corpo pelos tormentos da paixão salvadora.


49. Aliás, como não reconhecer nas próprias palavras:

"Senhor meu e Deus meu"[3], pronunciadas pelo apóstolo Tomé e reveladoras da sua súbita transformação de incrédulo em fiel, uma clara profissão de fé, de adoração e de amor, que da humanidade chagada do Salvador se elevava até a majestade da Pessoa divina?


50. Mas, ainda que o coração ferido do Redentor tenha sempre levado os homens a venerarem o Seu infinito amor a tempos sempre tiveram valor as palavras do profeta Zacarias que o evangelista João aplicou a Jesus crucificado:

"Verão a quem traspassaram"[4], todavia cumpre reconhecer que só gradualmente esse coração chegou a ser objecto de culto especial, como imagem do amor humano e divino do Verbo encarnado.


2)Princípio e progresso do culto ao Sagrado Coração na Idade Média e nos séculos seguintes


51. Querendo agora indicar somente as etapas gloriosas percorridas por este culto na história da piedade cristã, mister é recordar, antes de tudo, os nomes de alguns daqueles que bem podem ser considerados os porta-estandartes desta devoção, a qual, em forma privada e de modo gradual, se foi difundindo cada vez mais nos institutos religiosos.

Assim, por exemplo, distinguiram-se por haver estabelecido e promovido cada vez mais este culto ao Coração Sacratíssimo de Jesus:
São Boaventura, Santo Alberto Magno, Santa Gertrudes, Santa Catarina de Sena, Beato Henrique Suso, São Pedro Canísio e São Francisco de Sales.

A São João Eudes deve-se o primeiro ofício litúrgico em honra do Sagrado Coração de Jesus, cuja festa se celebrou pela primeira vez, com o beneplácito de muitos bispos de França, a 20 de Outubro de 1672.

Mas entre todos os promotores desta excelsa devoção merece lugar especial Santa Margarida Maria Alacoque, que, com a ajuda do seu director espiritual, o Beato Cláudio de la Colombière, e com o seu ardente zelo, conseguiu, não sem admiração dos féis, que este culto adquirisse um grande desenvolvimento e, revestido das características do amor e da reparação, se distinguisse das demais formas da piedade cristã.[5]


52. Basta essa evocação daquela época em que se propagou o culto do coração de Jesus para nos convencermos plenamente de que o seu admirável desenvolvimento se deve principalmente ao facto de se achar ele em tudo conforme com a índole da religião cristã, que é religião de amor. Por conseguinte, não se pode dizer nem que este culto deve a sua origem a revelações privadas, nem que apareceu de improviso na Igreja, mas sim que brotou espontaneamente da fé viva, da piedade fervorosa de almas prediletas para com a pessoa adorável do Redentor e para com aquelas suas gloriosas feridas, testemunhos do Seu amor imenso que intimamente comovem os corações. Evidente é, portanto, que as revelações com que foi favorecida Santa Margarida Maria não acrescentaram nada de novo à doutrina católica. A importância delas consiste em que – ao mostrar o Senhor o seu coração sacratíssimo – de modo extraordinário e singular quis atrair a consideração dos homens para a contemplação e a veneração do amor misericordioso de Deus para com o género humano. De fato, mediante manifestação tão excepcional, Jesus Cristo expressamente e repetidas vezes indicou o seu coração como símbolo com que estimular os homens ao conhecimento e à estima do seu amor; e ao mesmo tempo constituiu-o sinal e penhor de misericórdia e de graça para as necessidades da Igreja nos tempos modernos.


PIO PP. XII.


(Revisão da versão portuguesa por AMA)

Notas:



[1] Cf. Summa theol., III, q. 48, a. 5; ed. Leon., t. XI,1903, p. 467.
[2] Lc 12,50
[3] Jo 20,28
[4] Jo 19,37; cf. Zc 12,10
[5] Cf. Carta enc. Miserentissimus Redemptor: AAS 20(1928), pp.167-168.