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02/05/2019

Temas para meditar e reflectir

Primeiros cristãos


Submersos na massa hostil, (os primeiros cristãos) não procuraram no isolamento o remédio para o contágio e a garantia de sobrevivência; sabiam-se levedura de Deus, e a sua silenciosa e eficaz actuação acabou por informar aquela mesma massa. 

Souberam, sobretudo, estar serenamente presentes no seu mundo, não desprezar o seus valores nem desdenhar as realidades terrenas.



(J. OrlandisLa vocación del hombre de hoy, Rialp, 3ª ed., Madrid 1973, p. 48)

Leitura espiritual


DA DOUTRINA SOCIAL
DA IGREJA

INTRODUÇÃO


UM HUMANISMO INTEGRAL E SOLIDÁRIO

b) O significado do documento

11 Os primeiros destinatários deste Documento são os Bispos, que encontrarão as formas mais adequadas para a sua difusão e correta interpretação.
Pertence, com efeito, ao seu «munus docendi» ensinar que «as próprias coisas terrenas e as instituições humanas se destinam também, segundo os planos de Deus Criador, à salvação dos homens, e podem por isso contribuir imenso para a edificação do Corpo de Cristo» [i].

Os sacerdotes, os religiosos e as religiosas e, em geral, os formadores encontrarão nele um guia seguro para o ensinamento e um instrumento de serviço pastoral.
Os fiéis leigos, que procuram o Reino de Deus «ocupando-se das coisas temporais e ordenando-as segundo Deus» [ii], encontrarão nele luzes para o seu específico compromisso.
As comunidades cristãs poderão utilizar este documento para analisar objectivamente as situações, esclarecê-las à luz das palavras imutáveis do Evangelho, haurir princípios de reflexão, critérios de julgamento e orientações para a acção [iii].

12 Este documento é proposto também aos irmãos de outras Igrejas e Comunidades Eclesiais, aos seguidores de outras religiões, bem como a quantos, homens e mulheres de boa vontade, se empenham em servir o bem comum: queiram-no acolher como o fruto de uma experiência humana universal, constelada de inumeráveis sinais da presença do Espírito de Deus.
É um tesouro de coisas novas e antigas [iv], que a Igreja quer compartilhar, para agradecer a Deus, de quem provêm «toda dádiva boa e todo o dom perfeito» [v].
È um sinal de esperança o facto de que hoje as religiões e as culturas manifestem disponibilidade ao diálogo e advirtam a urgência de unir os próprios esforços para favorecer a justiça, a fraternidade, a paz e o crescimento da pessoa humana.

A Igreja Católica une em particular o próprio empenho ao esforço em campo social das demais Igrejas e Comunidades Eclesiais, tanto na reflexão doutrinal como em campo prático.
Juntamente com elas, a Igreja Católica está convencida de que do património comum dos ensinamentos sociais guardados pela tradição viva do povo de Deus derivem estímulos e orientações para uma colaboração cada vez mais estreita na promoção da justiça e da paz [vi].


c) Ao serviço da plena verdade sobre o homem


13 Este Documento é um acto de serviço da Igreja às mulheres e aos homens do nosso tempo, aos quais oferece o património de sua doutrina social, segundo aquele estilo de diálogo com o qual o próprio Deus, no Seu Filho Unigénito feito homem, «fala aos homens como a amigos [vii] e conversa com eles [viii]» [ix].

Inspirado na Constituição pastoral Gaudium et spes, também este documento põe como linha mestra de toda a exposição o homem, aquele «homem considerado na sua unidade e na sua totalidade, o homem, corpo e alma, coração e consciência, pensamento e vontade» [x].

Na perspectiva delineada, «nenhuma ambição terrena move a Igreja; ela tem em vista um só fim: continuar, sob o impulso do Espírito Santo, a obra do próprio Cristo que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para condenar, para servir e não para ser servido» [xi].

14 Com o presente documento a Igreja entende oferecer um contributo de verdade à questão do lugar do homem na natureza e na sociedade, afrontada pelas civilizações e culturas em que se manifesta a sabedoria da humanidade.
Mergulhando as raízes num passado não raro milenar, estas se manifestam nas formas da religião, da filosofia e do génio poético de todo o tempo e de cada povo, oferecendo interpretações do universo e da convivência humana e procurando dar um sentido à existência e ao mistério que a envolve.
Quem sou eu?
Por que a presença da dor, do mal, da morte, malgrado todo o progresso?
A quem aproveitam tantas conquistas alcançadas se o seu preço não raro é insuportável?
O que haverá após esta vida?

Estas perguntas fundamentais caracterizam o percurso do viver humano [xii].

Pode, a propósito, recordar-se a admonição «Conhece-te a ti mesmo», esculpida na arquitrave do templo de Delfos, que está a testemunhar a verdade basilar segundo a qual o homem, chamado a distinguir-se entre todas as criaturas, se qualifica como homem justo enquanto constituidamente orientado a conhecer-se a si mesmo.

15 A orientação que se dá à existência, à convivência social e à história dependem, em grande parte, das respostas dadas a estas questões sobre o lugar do homem na natureza e na sociedade, às quais o presente documento entende dar o seu contributo.
O significado profundo do existir humano, com efeito, revela-se na livre procura da verdade, capaz de oferecer direcção e plenitude à vida, procura à qual tais questões solicitam incessantemente a inteligência e a vontade do homem.
Elas exprimem a natureza humana no seu mais alto nível, porque empenham a pessoa numa resposta que mede a profundidade do seu compromisso com a própria existência.
Trata-se, ademais, de interrogações essencialmente religiosas: «quando o porquê das coisas é indagado a fundo em busca da resposta última e mais exaustiva, então a razão humana atinge o seu ápice e se abre à religiosidade.
Com efeito, a religiosidade representa a expressão mais elevada da pessoa humana, porque é o ápice da sua natureza racional.
Brota da profunda aspiração do homem à verdade, e está na base da busca livre e pessoal que ele faz do divino» [xiii].

16 As interrogações radicais, que desde os inícios acompanham o caminho dos homens, adquirem, no nosso tempo, ainda maior significância, pela vastidão dos desafios, pela novidade dos cenários, pelas opções decisivas que as actuais gerações são chamadas a efectuar.

O primeiro dentre os maiores desafios, frente aos quais a humanidade se encontra, é o da própria verdade do ser-homem.
O confim e a relação entre natureza, técnica e moral são questões que interpelam decisivamente a responsabilidade pessoal e colectiva em vista dos comportamentos que se devem ter, em face daquilo que o homem é, do que pode fazer e do que deve ser.
Um segundo desafio é posto pela compreensão e pela gestão do pluralismo e das diferenças em todos os níveis: de pensamento, de opção moral, de cultura, de adesão religiosa, de filosofia do progresso humano e social.
O terceiro desafio é a globalização, que tem um significado mais amplo e profundo do que o simplesmente económico, pois que se abriu na história uma nova época, que concerne ao destino da humanidade.

17 Os discípulos de Jesus sentem-se envolvidos por estas interrogações, levam-nas eles mesmos no coração e querem empenhar-se, juntamente com todos os homens, na procura da verdade e do sentido da existência pessoal e social.
Para tal procura contribuem com o seu generoso testemunho do dom que a humanidade recebeu:
Deus dirigiu-lhe Sua Palavra no curso da história, antes, Ele mesmo entrou na história para dialogar com a humanidade e revelar-lhe o Seu desígnio de salvação, de justiça e de fraternidade.
No Seu Filho, Jesus Cristo, feito homem, Deus nos libertou do pecado e nos indicou o Caminho a percorrer e a meta à qual tender.


d) Sob o signo da solidariedade, do respeito e do amor


18 A Igreja caminha com toda a humanidade ao longo das estradas da história.
Ela vive no mundo e, mesmo sem ser do mundo [xiv], é chamada a servi-lo seguindo a própria íntima vocação.
Uma tal atitude — que se pode entrever também no presente documento — apoia-se na profunda convicção de que é importante para o mundo reconhecer a Igreja como realidade e fermento da história, assim como para a Igreja não ignorar quanto tem recebido da história e do progresso do género humano [xv].

O Concílio Vaticano II quis dar uma demonstração eloquente da solidariedade, do respeito e do amor para com toda a família humana, instaurando com ela um diálogo sobre tantos problemas, «esclarecendo-os à luz do Evangelho e pondo à disposição do género humano o poder salvífico que a Igreja, conduzida pelo Espírito Santo, recebe do seu Fundador.
Com efeito, é a pessoa humana que se trata de salvar, é a sociedade humana que importa renovar» [xvi].

19 A Igreja, sinal na história do amor de Deus para com os homens e da vocação de todo o género humano à unidade na filiação do único Pai [xvii], também com este documento sobre a sua doutrina social entende propor a todos os homens um humanismo à altura do desígnio de amor de Deus sobre a história, um humanismo integral e solidário, capaz de animar uma nova ordem social, económica e política, fundada na dignidade e na liberdade de toda a pessoa humana, a se realizar na paz, na justiça e na solidariedade.
Um tal humanismo pode realizar-se.
A tendência à unidade «só será possível, se os indivíduos e os grupos sociais cultivarem em si mesmos e difundirem na sociedade os valores morais e sociais, de forma que sejam verdadeiramente homens novos e artífices de uma nova humanidade, com o necessário auxílio da graça» [xviii].





[i] Concílio Vaticano II, Decr. Christus Dominus, 12: AAS 58 (1966) 678.
[ii] Concílio Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, 31: AAS 57 (1965) 37.
[iii] Cf. Paulo VI, Carta apost. Octogésima adveniens, 4: AAS 63 (1971) 403.
[iv] cf. Mt 13, 52
[v] Tg 1, 17
[vi] Cf. Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 92: AAS 58 (1966) 1113-1114.
[vii] cf. Ex 33, 11; Jo 15, 14-15
[viii] cf. Bar 3, 38
[ix] Concílio Vaticano II, Const. dogm. Dei verbum, 2: AAS 58 (1966) 818.
[x] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 3: AAS 58 (1966) 1026.
[xi] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 3: AAS 58 (1966) 1027.
[xii] Cf. Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 10: AAS 58 (1966) 1032.
[xiii] João Paulo II, Alocução na Audiência Geral (19 de Outubro de 1983), 2: L’Osservatore Romano, ed. em Português, 23 de Outubro de 1983, p. 12.
[xiv] cf. Jo 17, 14-1
[xv] Cf. Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 44: AAS 58 (1966) 1064.
[xvi] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 3: AAS 58 (1966) 1026.
[xvii] Cf. Concílio Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, 1: AAS 57 (1965) 5.
[xviii] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, 30: AAS 58 (1966) 1050

Evangelho e comentário



TEMPO DE PÁSCOA



Santo Atanásio – Doutor da Igreja

Evangelho: Jo 3, 31-36

31 Aquele que vem do Alto está acima de tudo. Quem é da terra à terra pertence e fala da terra. Aquele que vem do Céu está acima de tudo 32 e dá testemunho daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. 33 Quem aceita o seu testemunho reconhece que Deus é verdadeiro; 34 pois aquele que Deus enviou transmite as palavras de Deus, porque dá o Espírito sem medida. 35 O Pai ama o Filho e tudo põe na sua mão. 36 Quem crê no Filho tem a vida eterna; quem se nega a crer no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus.

Comentário:

As sucessivas traduções dos Evangelhos para várias línguas, colocaram muitas vezes palavras ou expressões que não devem corresponder, no seu sentido lato, às palavras que Jesus terá usado.
Será o caso, por exemplo, da expressão: «a ira de Deus permanece sobre ele».
A palavra “ira” era muito usada no AT que considerava Deus como uma espécie de chefe guerreiro sempre disposto a usar as forças celestes contra os inimigos do povo escolhido.
Bem ao contrário, Jesus Cristo vem dizer que Deus é misericordioso e compassivo e que tudo fará para que o homem tenha suficientes meios e possibilidades de salvação.
Perdão e misericórdia em lugar de imposição ou castigo.

(AMA, comentário sobre Jo 3 31-36 07.04.2016)

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?






Que em cada um de vós esteja a alma de Maria


– Minha Mãe! As mães da terra olham com maior predilecção para o filho mais débil, o mais doente, o menos esperto, o pobre defeituoso... Senhora!, eu sei que tu és mais Mãe que todas as mães juntas... E como sou teu filho... E como sou débil, e doente..., e defeituoso..., e feio... (Forja, 234)

As mães não contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhes demonstram, não pesam nem medem com critérios mesquinhos. Uma pequena demonstração de amor, saboreiam-na como se fosse mel e acabam por conceder muito mais do que receberam. Se assim fazem as mães boas da terra, imaginai o que poderemos esperar da nossa Mãe, Santa Maria!

Agrada-me voltar, em pensamento, àqueles anos em que Jesus permaneceu junto de sua Mãe e que abarcam quase toda a vida de Nosso Senhor neste mundo. Vê-lo pequeno quando Maria cuida d'Ele e o beija e o entretém... Vê-lo crescer diante dos olhos enamorados de sua Mãe e de José, seu pai na terra... Com quanta ternura e com quanta delicadeza Maria e o Santo Patriarca se preocupariam com Jesus durante a sua infância! E, em silêncio, aprenderiam muito e constantemente d'Ele. As suas almas ir-se-iam afazendo à alma daquele Filho, Homem e Deus. Por isso, a Mãe – e, depois dela, José – conhece como ninguém os sentimentos do coração de Cristo e os dois são o caminho melhor, diria até que o único, para chegar ao Salvador.

Que em cada um de vós, escrevia Santo Ambrósio, esteja a alma de Maria, para louvar o Senhor; que em cada um esteja o espírito de Maria, para se regozijar em Deus. (Amigos de Deus, 280–281)