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14/04/2019

Leitura espiritual


EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL
AMORIS LÆTITIA
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS AOS ESPOSOS CRISTÃOS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS SOBRE O AMOR NA FAMÍLIA 


CAPÍTULO IX

ESPIRITUALIDADE CONJUGAL E FAMILIAR.

O amor assume matizes diferentes, segundo o estado de vida a que cada um foi chamado. Várias décadas atrás, o Concílio Vaticano II, a propósito do apostolado dos leigos, punha em realce a espiritualidade que brota da vida familiar. Dizia que a espiritualidade dos leigos «deverá assumir características especiais» próprias, nomeadamente a partir do «estado do matrimónio e da família», e que os cuidados familiares não devem ser alheios ao seu estilo de vida espiritual. Por isso, vale a pena deter-nos brevemente a descrever algumas características fundamentais desta espiritualidade específica que se desenrola no dinamismo das relações da vida familiar. Espiritualidade da comunhão sobrenatural. Sempre falamos da inabitação de Deus no coração da pessoa que vive na sua graça. Hoje podemos dizer também que a Trindade está presente no templo da comunhão matrimonial. Assim[i] como habita nos louvores do seu povo[ii], assim também vive intimamente no amor conjugal que Lhe dá glória. A presença do Senhor habita na família real e concreta, com todos os seus sofrimentos, lutas, alegrias e propósitos diários. Quando se vive em família, é difícil fingir e mentir, não podemos mostrar uma máscara. Se o amor anima esta autenticidade, o Senhor reina nela com a sua alegria e a sua paz. A espiritualidade do amor familiar é feita de milhares de gestos reais e concretos. Deus tem a sua própria habitação nesta variedade de dons e encontros que fazem maturar a comunhão. Esta dedicação une «o humano e o divino»,369 porque está cheia do amor de Deus. Em suma, a espiritualidade matrimonial é uma espiritualidade do vínculo habitado pelo amor divino.
A comunhão familiar bem vivida é um verdadeiro caminho de santificação na vida ordinária e de crescimento místico, um meio para a união íntima com Deus. Com efeito, as exigências fraternas e comunitárias da vida em família são uma ocasião para abrir cada vez mais o coração, e isto torna possível um encontro sempre mais pleno com o Senhor. Lê-se, na Palavra de Deus, que «quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas»[iii], «permanece na morte»[iv] e «não chegou a conhecer a Deus»[v]. O meu antecessor, Bento XVI, disse que «o fechar os olhos diante do próximo torna cegos também diante de Deus» e que, fundamentalmente, o amor é a única luz que «ilumina incessantemente um mundo às escuras». Somente «se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós»[vi]. Dado que «a pessoa humana tem uma inata e estrutural dimensão social» e «a primeira e originária expressão da dimensão social da pessoa é o casal e a família», a espiritualidade encarna-se na comunhão familiar. Por isso, aqueles que têm desejos espirituais profundos não devem sentir que a família os afasta do crescimento na vida do Espírito, mas é um percurso de que o Senhor Se serve para os levar às alturas da união mística. Unidos em oração à luz da Páscoa. Se a família consegue concentrar-se em Cristo, Ele unifica e ilumina toda a vida familiar. Os sofrimentos e os problemas são vividos em comunhão com a Cruz do Senhor e, abraçados a Ele, pode-se suportar os piores momentos. Nos dias amargos da família, há uma união com Jesus[vii] abandonado, que pode evitar uma ruptura. As famílias alcançam pouco a pouco, «com a graça do Espírito Santo, a sua santidade através da vida matrimonial, participando também no mistério da cruz de Cristo, que transforma as dificuldades e os sofrimentos em oferta de amor». Por outro lado, os momentos de alegria, o descanso ou a festa, e mesmo a sexualidade são sentidos como uma participação na vida plena da sua Ressurreição. Os cônjuges moldam, com vários gestos quotidianos, este «espaço teologal, onde se pode experimentar a presença mística do Senhor ressuscitado». A oração em família é um meio privilegiado para exprimir e reforçar esta fé pascal. Podem-se encontrar alguns minutos cada dia para estar unidos na presença do Senhor vivo, dizer-Lhe as coisas que os preocupam, rezar pelas necessidades familiares, orar por alguém que está a atravessar um momento difícil, pedir-Lhe ajuda para amar, dar-Lhe graças pela vida e as coisas boas, suplicar à Virgem que os proteja com o seu manto de Mãe. Com palavras simples, este momento de oração pode fazer muito bem à família. As várias expressões da piedade popular são um tesouro de espiritualidade para muitas famílias. O caminho comunitário de oração atinge [viii] o seu ponto culminante ao participarem juntos na Eucaristia, sobretudo no contexto do descanso dominical. Jesus bate à porta da família, para partilhar com ela a Ceia Eucarística[ix]. Aqui, os esposos podem voltar incessantemente a selar a aliança pascal que os uniu e reflecte a Aliança que Deus selou com a humanidade na Cruz. A Eucaristia é o sacramento da Nova Aliança, em que se actualiza a acção redentora de Cristo[x]. Constatamos, assim, os laços íntimos que existem entre a vida conjugal e a Eucaristia. O alimento da Eucaristia é força e estímulo para viver cada dia a aliança matrimonial como «igreja doméstica». Espiritualidade do amor exclusivo e libertador. No matrimónio, vive-se também o sentido de pertencer completamente a uma única pessoa. Os esposos assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gastar-se juntos, e assim reflectem a fidelidade de Deus. Esta firme decisão, que marca um estilo de vida, é uma «exigência interior do pacto de amor conjugal»,380 porque, «quem não[xi]. Não esqueçamos que a Aliança de Deus com o seu povo se exprime como um desposório[xii], e a nova Aliança é apresentada também como um matrimónio [xiii] se decide a amar para sempre, é difícil que possa amar deveras um só dia». Mas isto não teria significado espiritual, se fosse apenas uma lei vivida com resignação. É uma pertença do coração, lá onde só Deus vê[xiv]. Cada manhã, quando se levanta, o cônjuge renova diante de Deus esta decisão de fidelidade, suceda o que suceder ao longo do dia. E cada um, quando vai dormir, espera levantar-se para continuar esta aventura, confiando na ajuda do Senhor. Assim, cada cônjuge é para o outro sinal e instrumento da proximidade do Senhor, que não nos deixa sozinhos: «Eu estarei sempre convosco, até ao fim dos tempos»[xv]. Há um ponto em que o amor do casal alcança a máxima libertação e se torna um espaço de sã autonomia: quando cada um descobre que o outro não é seu, mas tem um proprietário muito mais importante, o seu único Senhor. Ninguém pode pretender possuir a intimidade mais pessoal e secreta da pessoa amada, e só Ele pode ocupar o centro da sua vida. Ao mesmo tempo, o princípio do realismo espiritual faz com que o cônjuge não pretenda que o outro satisfaça completamente as suas exigências. É preciso que o caminho espiritual de cada um – como justamente indicava Dietrich Bonhoeffer – o ajude a «desiludir-se»[xvi]  do outro,  a deixar de esperar dessa pessoa aquilo que é próprio apenas do amor de Deus. Isto exige um despojamento interior. O espaço exclusivo, que cada um dos cônjuges reserva para a sua relação pessoal com Deus, não só permite curar as feridas da convivência, mas possibilita também encontrar no amor de Deus o sentido da própria existência. Temos necessidade de invocar cada dia a acção do Espírito, para que esta liberdade interior seja possível.

Espiritualidade da solicitude, da consolação e do estímulo.

«Os esposos cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé um para com o outro, para com os filhos e demais familiares». Deus convida-os a gerar e a cuidar. Por isso mesmo, a família «foi desde sempre o “hospital” mais próximo».
Prestemo-nos cuidados, apoiemo-nos e estimulemo-nos mutuamente, e vivamos tudo isto como parte da nossa espiritualidade familiar. A vida em casal é uma participação na obra fecunda de Deus, e cada um é para o outro uma permanente provocação do Espírito. O amor de Deus exprime-se «através das palavras vivas e concretas com que o homem e a mulher se declaram[xvii]  o seu amor conjugal». Assim, os dois são entre si reflexos do amor divino, que conforta com a palavra, o olhar, a ajuda, a carícia, o abraço. Por isso, «querer formar uma família é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história de construir um mundo onde ninguém se sinta só». Toda a vida da família é um «pastoreio» misericordioso. Cada um, cuidadosamente, desenha e escreve na vida do outro: «A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações (...) não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo»[xviii].
Cada um é um «pescador de homens»[xix] que, em nome de Jesus, lança as redes [xx] para os outros, ou um lavrador que trabalha nesta terra fresca que são os seus entes queridos, incentivando o melhor deles. A fecundidade matrimonial implica promover, porque «amar uma pessoa é esperar dela algo indefinível e imprevisível; e é, ao mesmo tempo, proporcionar-lhe de alguma forma os meios para satisfazer tal expectativa». Isto é um culto a Deus, pois foi Ele que semeou muitas [xxi] coisas boas nos outros, com a esperança de que as façamos crescer. É uma experiência espiritual profunda contemplar cada ente querido com os olhos de Deus e reconhecer Cristo nele. Isto exige uma disponibilidade gratuita que permita apreciar a sua dignidade. É possível estar plenamente presente diante do outro, se uma pessoa se entrega gratuitamente, esquecendo tudo o que existe em redor. Assim a pessoa amada merece toda a atenção. Jesus era um modelo, porque, quando alguém se aproximava para falar com Ele, fixava nele o seu olhar, olhava com amor[xxii]. Ninguém se sentia transcurado na sua presença, pois as suas palavras e gestos eram expressão desta pergunta: «Que queres que te faça?»[xxiii]. Vive-se isto na vida quotidiana da família. Nela, recordamos que a pessoa que vive connosco merece tudo, pois tem uma dignidade infinita por ser objecto do amor imenso do Pai. Assim floresce a ternura, capaz de «suscitar no outro a alegria de sentir-se amado. Exprime-se, de modo particular, no debruçar-se com delicada atenção sobre os limites do outro, especialmente quando aparecem de forma evidente».
Sob o impulso do Espírito, o núcleo familiar não só acolhe a vida gerando-a no próprio seio, mas abre-se também, sai de si para derramar [xxiv] o seu bem nos outros, para cuidar deles e procurar a sua felicidade. Esta abertura exprime-se particularmente na hospitalidade, que a Palavra de Deus encoraja de forma sugestiva: «Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos»[xxv]. Quando a família acolhe e sai ao encontro dos outros, especialmente dos pobres e abandonados, é «símbolo, testemunho, participação da maternidade da Igreja». Na realidade, o amor social, reflexo da Trindade, é o que unifica o sentido espiritual da família e a sua missão fora de si mesma, porque torna presente o querigma com todas as suas exigências comunitárias. A família vive a sua espiritualidade própria, sendo ao mesmo tempo uma igreja doméstica e uma célula viva para transformar o mundo. As palavras do Mestre [xxvi] e as de São Paulo[xxvii] sobre o matrimónio estão inseridas – não por acaso – na dimensão última e definitiva da nossa existência, que precisamos de recuperar. Assim, os esposos poderão reconhecer o sentido do caminho que estão a percorrer. Com efeito, como recordamos [xxviii] [xxix]. [xxx] Sobre os aspectos sociais da família, várias vezes nesta Exortação, nenhuma família é uma realidade perfeita e confeccionada duma vez para sempre, mas requer um progressivo amadurecimento da sua capacidade de amar. Há um apelo constante que provém da comunhão plena da Trindade, da união estupenda entre Cristo e a sua Igreja, daquela comunidade tão bela que é a família de Nazaré e da fraternidade sem mácula que existe entre os Santos do céu. Mas contemplar a plenitude que ainda não alcançámos permite-nos também relativizar o percurso histórico que estamos a fazer como família, para deixar de pretender das relações interpessoais uma perfeição, uma pureza de intenções e uma coerência que só poderemos encontrar no Reino definitivo. Além disso, impede-nos de julgar com dureza aqueles que vivem em condições de grande fragilidade. Todos somos chamados a manter viva a tensão para algo mais além de nós mesmos e dos nossos limites, e cada família deve viver neste estímulo constante. Avancemos, famílias; continuemos a caminhar! Aquilo que se nos promete é sempre mais. Não percamos a esperança por causa dos nossos limites, mas também não renunciemos a procurar a plenitude de amor e comunhão que nos foi prometida. Oração à Sagrada Família Jesus, Maria e José, em Vós contemplamos o esplendor do verdadeiro amor, confiantes, a Vós nos consagramos. Sagrada Família de Nazaré, tornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, autênticas escolas do Evangelho e pequenas igrejas domésticas. Sagrada Família de Nazaré, que nunca mais haja nas famílias episódios de violência, de fechamento e divisão; e quem tiver sido ferido ou escandalizado seja rapidamente consolado e curado. Sagrada Família de Nazaré, fazei que todos nos tornemos conscientes do carácter sagrado e inviolável da família, da sua beleza no projecto de Deus. Jesus, Maria e José, ouvi-nos e acolhei a nossa súplica. Ámen.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no Jubileu Extraordinário da Misericórdia, a 19 de Março – solenidade de São José – do ano 2016, quarto do meu Pontificado.

TIPOGRAFIA VATICANA

(Revisão da versão portuguesa or AMA)



[i] Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, 4. 368 Cf. ibidem. 254
[ii] (cf. Sl 22/21, 4)
[iii] (1 Jo 2, 11)
[iv] (1 Jo 369 Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 49. 255 3, 14)
[v] (1 Jo 4, 8)
[vi] (1 Jo 4, 12)
[vii] 370 Carta enc. Deus caritas est (25 de Dezembro de 2005), 16: AAS 98 (2006), 230. 371 Ibid., 39: o. c., 250. 372 João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de Dezembro de 1988), 40: AAS 81 (1989), 468. 373 Ibidem. 256
[viii] 374 Relatio Finalis 2015, 87. 375 João Paulo II, Exort. ap. pós-sinodal Vita consecrata (25 de Marco de 1996), 42: AAS 88 (1996), 416. 376 Cf. Relatio Finalis 2015, 87. 257
[ix] (cf. Ap 3, 20)
[x] (cf. Lc 22, 20)
[xi] Cf. João Paulo II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 57: AAS 74 (1982)
[xii] (cf. Ez 16, 8.60; Is 62, 5; Os 2, 21-22)
[xiii] (cf. Ap 19, 7; 21, 2; Ef 5, 25). 379 Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 11. 380 João Paulo II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 11: AAS 74 (1982), 93. 258
[xiv] (cf. Mt 5, 28)
[xv] (Mt 28, 20)
[xvi] 381 Idem, Homilia na Eucaristia celebrada para as famílias, em Córdova/Argentina (8 de Abril de 1987), 4: Insegnamenti 10/1 (1987), 1161-1162; L´Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 08/V/1987), 6. 259
[xvii] 382 Cf. Gemeinsames Leben (Munique 1973), 18. 383 Conc. Ecum. Vat. II, Decr. sobre o apostolado dos leigos Apostolicam actuositatem, 11. 384 Francisco, Catequese (10 de Junho de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 11/VI/2015), 16. 26
[xviii] (2 Cor 3, 2-3)
[xix] (Lc 5, 10)
[xx] (cf. Lc 5, 5)
[xxi] 385 João Paulo II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 12: AAS 74 (1982), 93. 386 Francisco, Discurso na Festa das Famílias e Vigília de Ora- ção, em Filadélfia (26 de Setembro de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 08/X/2015), 2. 387 Gabriel Marcel, Homo viator: prolégomènes à une métaphysique de l´espérance (Paris 1944), 63. 261
[xxii] (cf. Mc 10, 21)
[xxiii] (Mc 10, 51)
[xxiv] Relatio Finalis 2015, 88. 262
[xxv] (Heb 13, 2)
[xxvi] (cf. Mt 22, 30)
[xxvii] (cf. 1 Cor 7, 29-31)
[xxviii] Cf. João Paulo II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 44: AAS 74 (1982), 136. 49: o. c., 141
[xxix] Ibd
[xxx] cf. Pont. Conselho «Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 248- 254.

Temas para reflectir e meditar


Mais acções de graças?

Pois claro! E, mesmo assim, fico muito aquém do que deveria, do que desejo!
Gratias Tibi, repito sem cessar, Gratias Tibi!

Recebo tanto e retribuo tão pouco!

Bem sei: Tu, Senhor, dás-me como Quem És; eu, Senhor, retribuo como quem sou.

Tu O Todo-poderoso meu Senhor e meu Deus; eu como pobre criatura cujo único "pergaminho" é, por Tua graça, ser Teu filho!


AMA, reflexão, 02.02.2019

Evangelho e comentário



TEMPO DA QUARESMA



Domingo de Ramos

Evangelho: Lc 23, 1-49,

1 Levantando-se todos, levaram-no a Pilatos 2 e começaram a acusá-lo, nestes termos: «Encontrámos este homem a sublevar o povo, a impedir que se pagasse tributo a César e a dizer-se Ele próprio o Messias-Rei.» 3 Pilatos interrogou-o: «Tu és o rei dos judeus?» Jesus respondeu: «Tu o dizes.» 4 Pilatos disse, então, aos sumos-sacerdotes e à multidão: «Nada encontro de culpável neste homem.» 5 Mas eles insistiram, dizendo: «Ele amotina o povo, ensinando por toda a Judeia, desde a Galileia até aqui.» 6 Ao ouvir isto, Pilatos perguntou se o homem era galileu; 7 e, ao saber que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, que também se encontrava em Jerusalém nesses dias. 8 Ao ver Jesus, Herodes ficou extremamente satisfeito, pois havia bastante tempo que o queria ver, devido ao que ouvia dizer dele, esperando que fizesse algum milagre na sua presença. 9 Fez-lhe muitas perguntas, mas Ele nada respondeu. 10 Os sumos sacerdotes e os doutores da Lei, que lá estavam, acusavam-no com veemência. 11 Herodes, com os seus oficiais, tratou-o com desprezo e, por troça, mandou-o cobrir com uma capa vistosa, enviando-o de novo a Pilatos. 12 Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois eram inimigos um do outro. 13 Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo, 14 e disse-lhes: «Trouxestes este homem à minha presença como se andasse a revoltar o povo. Interroguei-o diante de vós e não encontrei nele nenhum dos crimes de que o acusais. 15 Herodes tão-pouco, visto que no-lo mandou de novo. Como vedes, Ele nada praticou que mereça a morte. 16 Vou, portanto, libertá-lo, depois de o castigar.» 17 Ora, em cada festa, Pilatos era obrigado a soltar-lhes um preso. 18 E todos se puseram a gritar: «A esse mata-o e solta-nos Barrabás!» 19 Este último fora metido na prisão por causa de uma insurreição desencadeada na cidade, e por homicídio. 20 De novo, Pilatos dirigiu-lhes a palavra, querendo libertar Jesus. 21 Mas eles gritavam: «Crucifica-o! Crucifica-o!» 22 Pilatos disse-lhes pela terceira vez: «Que mal fez Ele, então? Nada encontrei nele que mereça a morte. Por isso, vou libertá-lo, depois de o castigar.» 23 Mas eles insistiam em altos brados, pedindo que fosse crucificado, e os seus clamores aumentavam de violência. 24 Então, Pilatos decidiu que se fizesse o que eles pediam. 25 Libertou o que fora preso por sedição e homicídio, que eles reclamavam, e entregou-lhes Jesus para o que eles queriam. 26 Quando o iam conduzindo, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus. 27 Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. 28 Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos; 29 pois virão dias em que se dirá: ‘Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram.’ 30 Hão-de, então, dizer aos montes: ‘Caí sobre nós!’ E às colinas: ‘Cobri-nos!’ 31 Porque, se tratam assim a árvore verde, o que não acontecerá à seca?» 32 E levavam também dois malfeitores, para serem executados com Ele. 33 Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. 34 Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem.» Depois, deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes. 35 O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros; salve-se a si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito.» 36 Os soldados também troçavam dele. Aproximando-se para lhe oferecerem vinagre, 37diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!» 38 E por cima dele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus.» 39 Ora, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-te a ti mesmo e a nós também.» 40 Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Nem sequer temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? 41 Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo que as nossas acções mereciam; mas Ele nada praticou de condenável.» 42 E acrescentou: «Jesus, lembra-te de mim, quando estiveres no teu Reino.» 43 Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.» 44 Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a região até às três horas da tarde. 45 O Sol tinha-se eclipsado e o véu do templo rasgou-se ao meio. 46 Dando um forte grito, Jesus exclamou: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.» Dito isto, expirou. 47 Ao ver o que se passava, o centurião deu glória a Deus, dizendo: «Verdadeiramente, este homem era justo!» 48 E toda a multidão que se tinha aglomerado para este espectáculo, vendo o que acontecera, regressava batendo no peito. 49 Todos os seus conhecidos e as mulheres que o tinham acompanhado desde a Galileia mantinham-se à distância, observando estas coisas.

Comentário:

Sobressai uma frase do evangelista nesta descrição da Paixão de Jesus:
«Nesse dia, Herodes e Pilatos ficaram amigos, pois eram inimigos um do outro.»

Esta amizade – melhor seria dizer conivência – tem uma raiz iníqua.
Cimenta-se na perfídia e na ignorância, no despotismo e na falta absoluta de critério.

Que amizade será esta? Que frutos se poderão esperar?

Se amizade significa estar de acordo, corroborar o que o outro pensa ou defende como sendo a verdade, então, esta “amizade” não pode vingar nem subsistir.

E, de facto, o fim dos dois “amigos” é uma desgraça pessoal para cada um e uma vergonha para os seus descendentes.

(AMA, comentário sobre Lc 23, 1-49, 16.01.2019)

Deus está junto de nós continuamente


É preciso convencermo-nos de que Deus está junto de nós continuamente. – Vivemos como se o Senhor estivesse lá longe, onde brilham as estrelas, e não consideramos que também está sempre ao nosso lado. E está como um pai amoroso – quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos – ajudando-nos, inspirando-nos, abençoando... e perdoando. Quantas vezes fizemos desanuviar a fronte dos nossos pais, dizendo-lhes, depois de uma travessura: não torno a fazer mais! – Talvez naquele mesmo dia tenhamos tornado a cair... – E o nosso pai, com fingida dureza na voz, de cara séria, repreende-nos..., ao mesmo tempo que se enternece o seu coração, conhecedor da nossa fraqueza, pensando: pobre rapaz, que esforços faz para se portar bem! É necessário que nos embebamos, que nos saturemos de que é Pai e muito Pai nosso, o Senhor que está junto de nós e nos Céus. (Caminho, 267)


Descansai na filiação divina. Deus é um Pai cheio de ternura, de amor infinito. Chama-lhe Pai muitas vezes durante o dia e diz-lhe – a sós, na intimidade do teu coração – que o amas, que o adoras, que sentes o orgulho e a força de seres seu filho. Tudo isto pressupõe um autêntico programa de vida interior, que é preciso canalizar através das tuas relações de piedade com Deus – poucas, mas constantes, insisto – que te permitirão adquirir os sentimentos e as maneiras de um bom filho.

Devo prevenir-te, no entanto, contra o perigo da rotina – verdadeiro sepulcro da piedade – a qual se apresenta frequentemente disfarçada com ambições de realizar ou empreender gestas importantes, enquanto se descuida comodamente a devida ocupação quotidiana. Quando notares essas insinuações, põe-te diante do Senhor com sinceridade. Pensa se não te terás aborrecido de lutar sempre nas mesmas coisas, porque na realidade não estavas à procura de Deus. Vê se não terá decaído a tua perseverança fiel no trabalho, por falta de generosidade, de espírito de sacrifício. Nesse caso, as tuas normas de piedade, as pequenas mortificações, a actividade apostólica que não produz fruto imediato parecem-te tremendamente estéreis. Estamos vazios e talvez comecemos a sonhar com novos planos, para calar a voz do nosso Pai do Céu, que exige de nós uma lealdade total. E, com um pesadelo de grandezas na alma, lançamos no esquecimento a realidade mais certa, o caminho que sem dúvida nos conduz direitos à santidade. Aí temos um sinal evidente de que perdemos o ponto de vista sobrenatural, a convicção de que somos meninos pequenos, a persuasão de que o nosso Pai fará em nós maravilhas, se recomeçarmos com humildade. (Amigos de Deus, n. 150)

Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?