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Temas para reflectir e meditar

Vida humana



O fracasso dos que não crêem: vivem a vida porque nasceram, quando a vida deve ser vivida por se ter de morrer.



(joão mohanaSofrer e amar, Livros do Brasil, p. 67)


Evangelho e comentário




TEMPO DA QUARESMA




Evangelho: Mt 18, 21-35

21 Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» 22 Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23 Por isso, o Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. 24 Logo ao princípio, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 25 Não tendo com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, a fim de pagar a dívida. 26 O servo lançou-se, então, aos seus pés, dizendo: ‘Concede-me um prazo e tudo te pagarei.’ 27 Levado pela compaixão, o senhor daquele servo mandou-o em liberdade e perdoou-lhe a dívida. 28 Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: ‘Paga o que me deves!’ 29 O seu companheiro caiu a seus pés, suplicando: ‘Concede-me um prazo que eu te pagarei.’ 30 Mas ele não concordou e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto lhe devia. 31 Ao verem o que tinha acontecido, os outros companheiros, contristados, foram contá-lo ao seu senhor. 32 O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; 33 não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?’ 34 E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia. 35 Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração.»


Comentário:

O que o Senhor quer dizer na resposta a Pedro contando a parábola que acabámos de ler, é que devemos perdoar como Deus Nosso Senhor nos perdoa.

Isto é… SEMPRE!

Não interessa nem a gravidade da ofensa nem a repetição da mesma – ou outras – de qualquer importância.
O cristão ofendido está pronto a perdoar até para que o que diz no Pai-Nosso seja verdadeiro e coerente.

(AMA, comentário sobre Mt 18, 21-35, 14.12.2018)

Serenidade. – Por que te zangas?


Serenidade. – Por que te zangas, se zangando-te ofendes a Deus, incomodas os outros, passas tu mesmo um mau bocado... e por fim tens de te acalmar? (Caminho, 8)


Isso mesmo que disseste, di-lo noutro tom, sem ira, e ganhará força o teu raciocínio e, sobretudo não ofenderás a Deus. (Caminho, 9)

Não repreendas quando sentes a indignação pela falta cometida. – Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. – E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de repreender. – Conseguirás mais com uma palavra afectuosa, do que ralhando três horas. – Modera o teu génio. (Caminho, 10)

Quando realmente te abandonares no Senhor, aprenderás a contentar-te com o que suceder, e a não perder a serenidade, se as tarefas – apesar de teres posto todo o teu empenho e empregado os meios convenientes – não saem a teu gosto... Porque terão "saído" como convém a Deus que saiam. (Sulco, 860)

Sendo para bem do próximo, não te cales, mas fala de modo amável, sem destemperança nem aborrecimento. (Forja, 960)

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Leitura espiritual

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL

AMORIS LÆTITIA

DO SANTO PADRE FRANCISCO

AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS

ÀS PESSOAS CONSAGRADAS AOS ESPOSOS CRISTÃOS E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS SOBRE O AMOR NA FAMÍLIA 



CAPÍTULO V

O AMOR QUE SE TORNA FECUNDO

Os idosos.

«Não me rejeites no tempo da velhice; não me abandones, quando já não tiver forças»[i].
É o brado do idoso, que teme o esquecimento e o desprezo. Assim como Deus nos convida a ser seus instrumentos para escutar a súplica dos pobres, assim também espera que ouçamos o brado dos idosos.
Isto interpela as famílias e as comunidades, porque «a Igreja não pode nem quer conformar-se com uma mentalidade de impaciência, e muito menos de indiferença e desprezo, em relação à velhice. Devemos despertar o sentido colectivo de gratidão, apreço, hospitalidade, que faça o idoso sentir-se parte viva da sua comunidade.[ii]
Os idosos são homens e mulheres, pais e mães que, antes de nós, percorreram o nosso próprio caminho, estiveram na nossa mesma casa, combateram a nossa mesma batalha diária por uma vida digna.
Por isso, «como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descarte com a alegria transbordante dum novo abraço entre jovens e idosos!»
São João Paulo II convidou-nos a prestar atenção ao lugar do idoso na família, porque há culturas que, «especialmente depois dum desenvolvimento industrial e urbanístico desordenado, forçaram, e continuam a forçar, os idosos a situações inaceitáveis de marginalização».
Os idosos ajudam a perceber «a continuidade das gerações», com «o carisma de lançar uma ponte» entre elas. Muitas vezes são os avós que asseguram a transmissão dos grandes valores aos seus netos, e «muitas pessoas podem constatar que devem a sua iniciação na vida cristã precisamente aos avós».
As suas palavras, as suas carícias ou a simples presença ajudam as crianças a reconhecer que a história não começa com elas, que são herdeiras dum longo caminho e que é necessário respeitar o fundamento que as precede.[iii]
Quem quebra os laços com a história terá dificuldade em tecer relações estáveis e reconhecer que não é o dono da realidade. Com efeito, «a atenção aos idosos distingue uma civilização. Numa civilização, presta-se atenção ao idoso? Há lugar para o idoso? Esta civilização irá em frente, se souber respeitar a sabedoria dos idosos».

A falta de memória histórica é um defeito grave da nossa sociedade. É a mentalidade imatura do «já está ultrapassado».
Conhecer e ser capaz de tomar posição perante os acontecimentos passados é a única possibilidade de construir um futuro que tenha sentido. Não se pode educar sem memória: «Recordai os dias passados»[iv]. As histórias dos idosos fazem muito bem às crianças e aos jovens, porque os ligam à história vivida tanto pela família como pela vizinhança e o país. Uma família que não respeita nem cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma família desintegrada; mas uma família que recorda é uma família com futuro. Por isso, «numa civilização em que não há espaço para os idosos ou onde eles são descartados porque criam problemas, tal sociedade traz em si o vírus da morte»,[v] porque «se separa das próprias raízes».
O fenómeno contemporâneo de sentir-se órfão, em termos de descontinuidade, desenraizamento e perda das certezas que dão forma à vida, desafia-nos a fazer das nossas famílias um lugar onde as crianças possam lançar raízes no terreno duma história colectiva.

Ser irmão.

A relação entre os irmãos aprofunda-se com o passar do tempo, e «o laço de fraternidade que se forma na família entre os filhos, quando se verifica num clima de educação para a abertura aos outros, é uma grande escola de liberdade e de paz. Em família, entre irmãos, aprendemos a convivência humana (…). Talvez nem sempre estejamos conscientes disto, mas é precisamente a família que introduz a fraternidade no mundo. A partir desta primeira experiência de fraternidade, alimentada pelos afectos e pela educação familiar, o estilo da fraternidade irradia-se como uma promessa sobre a sociedade inteira».
Crescer entre irmãos proporciona a bela experiência de cuidar uns dos outros, de ajudar e ser ajudado. Por isso, «a fraternidade na família, resplandece de modo especial quando vemos a solicitude, a paciência e o carinho com que é circundado o irmãozinho ou a irmãzinha mais frágil, doente ou deficiente».[vi]

Faz falta reconhecer que «ter um irmão, uma irmã que te ama é uma experiência forte, inestimável, insubstituível», mas é preciso ensinar, com paciência, os filhos a tratar-se como irmãos. Esta aprendizagem, por vezes fadigosa, é uma verdadeira escola de sociabilidade. Nalguns países, existe uma forte tendência para ter apenas um filho, pelo que a experiência de ser irmão começa a ser rara. Nos casos em que não se pôde ter mais de um filho, é preciso encontrar formas de a criança não crescer sozinha ou isolada.

Um coração grande.

Com efeito, além do círculo pequeno formado pelos cônjuges e seus filhos, temos a família alargada, que não pode ser ignorada. Com efeito, «o amor entre o homem e a mulher no matrimónio e, de forma derivada e ampla, o amor entre os membros da mesma família – entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre parentes e familiares – é animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que leva a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar».[vii]

Aí se integram também os amigos e as famílias amigas, e mesmo as comunidades de famílias que se apoiam mutuamente nas suas dificuldades, no seu compromisso social e na fé. Esta família alargada deveria acolher, com tanto amor, as mães solteiras, as crianças sem pais, as mulheres abandonadas que devem continuar a educação dos seus filhos, as pessoas deficientes que requerem muito carinho e proximidade, os jovens que lutam contra uma dependência, as pessoas solteiras, separadas ou viúvas que sofrem a solidão, os idosos e os doentes que não recebem o apoio dos seus filhos, até incluir no seio dela «mesmo os mais desastrados nos comportamentos da sua vida».
E pode também ajudar a compensar as fragilidades dos pais, ou a descobrir e denunciar a tempo possíveis situações de violência ou mesmo de abuso sofridas pelas crianças, dando-lhes um amor sadio e um sustentáculo familiar, quando os seus pais não o podem assegurar.
Por fim, não se pode esquecer que, nesta família alargada, estão também o sogro, a sogra e todos os parentes do cônjuge. Uma delicadeza própria do amor é evitar vê-los como concorrentes, como pessoas perigosas, como invasores.[viii]
A união conjugal exige que se respeite as suas tradições e costumes, se procure compreender a sua linguagem, evitar maledicências, cuidar deles e integrá-los dalguma forma no próprio coração, embora se deva preservar a legítima autonomia e a intimidade do casal. Estas atitudes são também uma excelente maneira de exprimir a generosidade da dedicação amorosa ao próprio cônjuge.

(cont)

(revisão da versão portuguesa por AMA)


[i] (Sl 71/70, 9)
[ii] Cf. Relatio Finalis 2015, 17-18.
[iii] Francisco, Catequese (4 de Março de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 05/III/2015), 16. Catequese (11 de Março de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 12/III/2015), 16. 214 Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 27: AAS 74 (1982), 113. Discurso aos participantes no «Fórum Internacional sobre o Envelhecimento Activo» (5 de Setembro de 1980), 5: Insegnamenti 3/2 (1980), 539; L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 21/IX/1980), 14. 216 Relatio Finalis 2015, 18.
[iv] (Heb 10, 32)
[v] Francisco, Catequese (4 de Março de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 05/III/2015), 16.
[vi] Discurso no Encontro com os Idosos (28 de Setembro de 2014): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 02/X/2014), 8. 220 Idem, Catequese (18 de Fevereiro de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 19/II/2015), 20.
[vii] Discurso no Encontro com os Idosos (28 de Setembro de 2014): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 02/X/2014), 8. 220 Idem, Catequese (18 de Fevereiro de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 19/II/2015), 20.
[viii] João Paulo II, Exort. ap. Familiaris consortio (22 de Novembro de 1981), 18: AAS 74 (1982), 101. 224 Francisco, Catequese (7 de Outubro de 2015): L’Osservatore Romano (ed. semanal portuguesa de 08/X/2015), 24.