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19/01/2019

A riqueza da fé


Não sejas pessimista. – Não sabes que tudo quanto sucede ou pode suceder é para bem? – O teu optimismo será a consequência necessária da tua fé. (Caminho, 378)


No meio das limitações inseparáveis da nossa situação presente, porque o pecado ainda habita em nós de algum modo, o cristão vê com nova clareza toda a riqueza da sua filiação divina, quando se reconhece plenamente livre porque trabalha nas coisas do seu Pai, quando a sua alegria se torna constante por nada ser capaz de lhe destruir a esperança.

Pois é também nesse momento que é capaz de admirar todas as belezas e maravilhas da Terra, de apreciar toda a riqueza e toda a bondade, de amar com a inteireza e a pureza para que foi criado o coração humano.

Também é nessa altura que a dor perante o pecado não degenera num gesto amargo, desesperado ou altivo porque a compunção e o conhecimento da fraqueza humana conduzem-no a identificar-se outra vez com as ânsias redentoras de Cristo e a sentir mais profundamente a solidariedade com todos os homens. É então, finalmente, que o cristão experimenta em si com segurança a força do Espírito Santo, de tal maneira que as suas quedas pessoais não o abatem; são um convite a recomeçar e a continuar a ser testemunha fiel de Cristo em todas as encruzilhadas da Terra, apesar das misérias pessoais, que nestes casos costumam ser faltas leves, que apenas turvam a alma; e, ainda que fossem graves, acudindo ao Sacramento da Penitência com compunção, volta-se à paz de Deus e a ser de novo uma boa testemunha das suas misericórdias.

Tal é, em breve resumo que mal consegue traduzir em pobres palavras humanas a riqueza da fé, a vida do cristão, quando se deixa guiar pelo Espírito Santo. (Cristo que passa, 138)

Leitura espiritual


Os pressupostos da Fidelidade

Fidelidade e verdade

A primeira de todas as fidelidades é o amor à verdade.
Não se pode ser fiel sem conhecer a verdade, essa verdade que é a concordância do juízo com o ser das coisas determinado em si mesmo, não “o que me parece” ou “o que me interessa”.

A inteligência pode penetrar nessa realidade interior de todas as coisas, não se limita a estudar os fenómenos, a superfície o acidental em prejuízo do substancial.
A verdade é o fim do entendimento o seu bem autêntico, o seu pleno repouso, a sua perfeição.

(…)

A fé goza do privilégio de saber com certeza que Deus é a Verdade primordial de que procedem todas as verdades.
Recebemos esperançados e alegres a afirmação de Cristo: «Eu sou a verdade» [i]
A Verdade fez-se carne e habitou entre nós: veio cumular a mente e o coração dos homens.
Por isso a inteligência humana adquire o seu autêntico valor quando se conforma com essa Verdade encarnada – Jesus Cristo – e a adopta como medida suprema de juízo e de acção, sacrificando-lhe todas as opiniões, todos os caprichos ou conveniências particulares.

Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. [ii]

A Igreja de Cristo também foi constituída como coluna e alicerce da verdade, como esteio de segurança doutrinal, como voz infalível que  nos garante a existência da verdade e no-la mostra com certeza, delimitando os seus extremos e ajudando-nos a precaver-nos contra os possíveis erros em tudo quanto seja essencial à conduta humana.
É por isso fonte de paz.
A acusação de dogmatismo que lhe fazem não é no fundo senão a homenagem assombrada que lhe prestam aqueles que vivem prisioneiros das suas incertezas.

Sermos possuidores afortunados da verdade não é motivo para nos enchermos de vaidade, mas da fortaleza necessária para expô-la com convicção, defendê-la com amor e difundi-la com valentia tanto nos territórios mais elevados da Verdade Divina, como nas situações simples de resposta aos factos quotidianos; a verdade é indivisível e estende-se luminosa através de toda essa gama de realidades das quais ela própria é fundamento.
Como queria Santo Agostinho, “sem soberba, estamos orgulhosos da verdade”.
A fidelidade pressupõe e exige que a verdade não se submeta ao capricho nem a supostas evoluções, ou mesmo à sua maior ou menor aceitação conforme as épocas ou as mentalidades.
É sempre a mesma e não menos imutável que a natureza das coisas.
Se a solidez e um edifício depende dos seus alicerces o mesmo podemos dizer de uma sociedade; é tão sólida quanto a verdade em que se apoia.

A verdade tem os seus direitos: não pode ser moldada arbitrariamente, como o barro, para produzir figuras variadas.
É a inteligência que, em face da verdade, se deve ir moldando a si própria, adquirindo novas formas que são os seus conhecimentos, enriquecendo-se até limites quase infinitos, sobrenaturais.

A falsificação deliberada da verdade é um dos estigmas do nosso tempo, sobretudo quando essa forma de pensamento e de acção é elevada à categoria de estratégia em que a deformação das palavras e dos actos se converte em arma habilmente manejada por pessoas esquecidas de todo o senso moral, de toda a responsabilidade ética.
Dá-se assim lugar à tentativa de querer impor pontos de vista pessoais e opináveis, à falta de respeito pelos que pensam de maneira diferente, à exaltação, intransigência e à obstinação.

A verdade é algo sagrado, dom divino, digno de ser tratado com reverência, delicadeza e amor.



(Excertos do livro FIDELIDADE, de Javier Abad Gómez, 1989)
(Revisão da versão portuguesa por AMA)





[i] Jo14, 6
[ii] Jo 17,37

Temas para reflectir e meditar

ORDEM



A beleza radiosa da ordem mundial encontra-se precisamente nos contrastes, quando também o mal está presente e tem de servir o bem.


(Gisbert GreshakeDer Preis der Liebe, Bestnnung uber das Leid, Freiburg, 1978, p. 14 ss., trad ama)

Pequena agenda do cristão

SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Cristo também vive agora


Vive junto de Cristo! Deves ser, no Evangelho, uma personagem mais, convivendo com Pedro, com João, com André..., porque Cristo também vive agora: "Iesus Christus, heri et hodie, ipse et in saecula!" Jesus Cristo vive!, hoje como ontem; é o mesmo, pelos séculos dos séculos. (Forja, 8)

É esse amor de Cristo que cada um de nós deve se esforçar por realizar na sua vida. Mas para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma ideia geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores e atitudes. É preciso contemplar a sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz, serenidade, paz.
Quando se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu carácter, para nos identificarmos com essa pessoa. Por isso temos de meditar na vida de Jesus, desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua Ressurreição. Nos primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa vida, acudam à memória as palavras e os actos do Senhor.
Sentir-nos-emos assim metidos na sua vida. Na verdade, não se trata apenas de pensar em Jesus e de imaginar aqueles episódios; temos de meter-nos em cheio neles, como actores. (Cristo que passa, 107)

Evangelho e comentário




TEMPO COMUM



Evangelho: Mc 2, 13-17

13 Jesus saiu de novo para a beira-mar. Toda a multidão ia ao seu encontro, e Ele ensinava-os. 14 Ao passar, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.» E, levantando-se, ele seguiu Jesus. 15 Depois, quando se encontrava à mesa em casa dele, muitos cobradores de impostos e pecadores também se puseram à mesma mesa com Jesus e os seus discípulos, pois eram muitos os que o seguiam. 16 Mas os doutores da Lei do partido dos fariseus, vendo-o comer com pecadores e cobradores de impostos, disseram aos discípulos: «Porque é que Ele come com cobradores de impostos e pecadores?» 17 Jesus ouviu isto e respondeu: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os enfermos. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»

Comentário:

O Senhor esclarece, uma vez mais, a natureza, o fim da Sua missão, da Sua vinda ao mundo: «Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.»

Pergunta-se: quem se atreve a dizer que não é pecador?
Os Santos deixam-nos constância da sua humildade reconhecendo-se pecadores.

Nós… sabemos muito bem que somos pecadores até porque, só os perfeitos não pecam nunca e, na terra, não há ninguém perfeito.

Daí que, concluímos, Jesus Cristo veio por causa de todos os homens e a todos chama irmãos e a todos – absolutamente – quer, deseja veementemente, que façam parte do Seu rebanho e tenham a salvação eterna.

(AMA, comentário sobre Mc 2, 13-17, 13.11.2018)