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Temas para reflectir e meditar

Novíssimos


Os que começam a aprofundar a religião devem exercitar-se na meditação das Quatro Últimas Coisas.



(São FILIPE DE NERI, Maxim’s, F.W.Faber, Cromwell Press SN12 8PH, nr. 18-19, trad ama)


Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?

Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer?


A humildade é outro bom caminho para chegar à paz interior. – Foi Ele que o disse: "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração... e encontrareis paz para as vossas almas". (Caminho, 607)

Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Também eu, instado por esta pergunta, contemplo agora Jesus, deitado numa manjedoura, num lugar que só é próprio para os animais. Onde está, Senhor, a tua realeza: o diadema, a espada, o ceptro? Pertencem-lhe e não os quer; reina envolto em panos. É um rei inerme, que se nos apresenta indefeso; é uma criança. Como não havemos de recordar aquelas palavras do Apóstolo: aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo.
Nosso Senhor encarnou para nos manifestar a vontade do Pai. E começa a instruir-nos estando ainda no berço. Jesus Cristo procura-nos – com uma vocação, que é vocação para a santidade –, a fim de consumarmos com Ele a Redenção. Considerai o seu primeiro ensinamento: temos de co-redimir à custa de triunfar, não sobre o próximo, mas sobre nós mesmos. Tal como Cristo, precisamos de nos aniquilar, de sentir-nos servidores dos outros para os conduzir a Deus.
Onde está o nosso Rei? Não será que Jesus quer reinar, antes de mais, no coração, no teu coração? Por isso se fez menino: quem é capaz de ter o coração fechado para uma criança? Onde está o nosso Rei? Onde está o Cristo que o Espírito Santo procura formar na nossa alma? Cristo não pode estar na soberba, que nos separa de Deus, nem na falta de caridade, que nos isola dos homens. Aí não podemos encontrar Cristo, mas apenas a solidão.
No dia da Epifania, prostrados aos pés de Jesus Menino, diante de um Rei que não ostenta sinais externos de realeza, podeis dizer-lhe: Senhor, expulsa a soberba da minha vida, subjuga o meu amor-próprio, esta minha vontade de afirmação pessoal e de imposição da minha vontade aos outros. Faz com que o fundamento da minha personalidade seja a identificação contigo. (Cristo que passa, 31)

Evangelho e comentário

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Epifania do Senhor



Evangelho: Mt 2, 1-12

1 Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos vindos do Oriente. 2 E perguntaram: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.» 3 Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes perturbou-se e toda a Jerusalém com ele. 4 E, reunindo todos os sumos sacerdotes e escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. 5 Eles responderam: «Em Belém da Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades da Judeia; porque de ti vai sair o Príncipe que há-de apascentar o meu povo de Israel.» 7 Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e pediu-lhes informações exactas sobre a data em que a estrela lhes tinha aparecido. 8 E, enviando-os a Belém, disse-lhes: «Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do menino; e, depois de o encontrardes, vinde comunicar-mo para eu ir também prestar-lhe homenagem.» 9 Depois de ter ouvido o rei, os magos puseram-se a caminho. E a estrela que tinham visto no Oriente ia adiante deles, até que, chegando ao lugar onde estava o menino, parou. 10 Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; 11 e, entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonhos para não voltarem junto de Herodes, regressaram ao seu país por outro caminho.

Comentário:

A vinda destes Magos a visitar o Menino é providencial. Julgo que os presentes que trouxeram serviram de pecúlio precioso para a viagem e estadia no Egipto, pelo menos até José arranjar trabalho com que sustentar a Família. Na pobreza e simplicidade do Nascimento do Salvador, Deus não descura os pormenores das necessidades humanas. Poderia muito bem ter feito as coisas de mil maneiras diferentes, mas não, tudo quanto rodeia o Menino é previsto e determinado para ser “humanamente aceitável”, isto é, não há milagres, nem intervenções divinas portentosas e espectaculares. Não. Um Menino nasce em Belém e a humanidade fica a saber que se trata do Messias Salvador. Quem o anuncia são os Anjos do Céu a uns pastores e um sinal celeste a uns Magos. A “chave” desta parcimónia e discrição em tão magnífico acontecimento, está no próprio trecho do Evangelho. De facto, as autoridades e principais de Israel sabiam muito bem onde nasceria o Messias e os sinais que acompanhariam o Seu nascimento.

(ama, comentário sobre Mt 2, 1-12, 2009.12.04)

Leitura espiritual



SOBRE A CHAMADA À SANTIDADE
NO MUNDO ACTUAL

Capítulo I

A CHAMADA À SANTIDADE

A tua missão em Cristo

19. Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque «esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação» (1 Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projecto do Pai que visa reflectir e encarnar, num momento determinado da história, um aspecto do Evangelho.
20. Esta missão tem o seu sentido pleno em Cristo e só se compreende a partir d’Ele. No fundo, a santidade é viver em união com Ele os mistérios da sua vida; consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com Ele. Mas pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspetos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor. A contemplação destes mistérios, como propunha Santo Inácio de Loyola, leva-nos a encarná-los nas nossas opções e atitudes. [i] Porque «tudo, na vida de Jesus, é sinal do seu mistério», [ii] «toda a vida de Cristo é revelação do Pai»,[iii] «toda a vida de Cristo é mistério de redenção», [iv] «toda a vida de Cristo é mistério de recapitulação»,[v] e «tudo o que Cristo viveu, Ele próprio faz com que o possamos viver n’Ele e Ele vivê-lo em nós». [vi]
21. O desígnio do Pai é Cristo, e nós n’Ele. Em última análise, é Cristo que ama em nós, porque a santidade «mais não é do que a caridade plenamente vivida».[vii] Por conseguinte, «a medida da santidade é dada pela estatura que Cristo alcança em nós, desde quando, com a força do Espírito Santo, modelamos toda a nossa vida sobre a Sua». [viii] Assim, cada santo é uma mensagem que o Espírito Santo extrai da riqueza de Jesus Cristo e dá ao seu povo.
22. Para identificar qual seja essa palavra que o Senhor quer dizer através dum santo, não convém deter-se nos detalhes, porque nisso também pode haver erros e quedas. Nem tudo o que um santo diz é plenamente fiel ao Evangelho, nem tudo o que faz é autêntico ou perfeito. O que devemos contemplar é o conjunto da sua vida, o seu caminho inteiro de santificação, aquela figura que reflecte algo de Jesus Cristo e que sobressai quando se consegue compor o sentido da totalidade da sua pessoa. [ix]
23. Isto é um vigoroso apelo para todos nós. Também tu precisas de conceber a totalidade da tua vida como uma missão. Tenta fazê-lo, escutando a Deus na oração e identificando os sinais que Ele te dá. Pede sempre, ao Espírito Santo, o que espera Jesus de ti em cada momento da tua vida e em cada opção que tenhas de tomar, para discernir o lugar que isso ocupa na tua missão. E permite-Lhe plasmar em ti aquele mistério pessoal que possa reflectir Jesus Cristo no mundo de hoje.
24. Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo com a tua vida. Deixa-te transformar, deixa-te renovar pelo Espírito para que isso seja possível, e assim a tua preciosa missão não fracassará. O Senhor levá-la-á a cumprimento mesmo no meio dos teus erros e momentos negativos, desde que não abandones o caminho do amor e permaneças sempre aberto à sua acção sobrenatural que purifica e ilumina.

A actividade que santifica

25. Dado que não se pode conceber Cristo sem o Reino que Ele veio trazer, também a tua missão é inseparável da construção do Reino: «procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça» (Mt 6, 33). A tua identificação com Cristo e os seus desígnios requer o compromisso de construíres, com Ele, este Reino de amor, justiça e paz para todos. O próprio Cristo quer vivê-lo contigo em todos os esforços ou renúncias que isso implique e também nas alegrias e na fecundidade que te proporcione. Por isso, não te santificarás sem te entregares de corpo e alma, dando o melhor de ti neste compromisso.
26. Não é saudável amar o silêncio e esquivar o encontro com o outro, desejar o repouso e rejeitar a actividade, buscar a oração e menosprezar o serviço. Tudo pode ser recebido e integrado como parte da própria vida neste mundo, entrando a fazer parte do caminho de santificação. Somos chamados a viver a contemplação mesmo no meio da acção, e santificamo-nos no exercício responsável e generoso da nossa missão.

27. Poderá porventura o Espírito Santo enviar-nos para cumprir uma missão e, ao mesmo tempo, pedir-nos que fujamos dela ou que evitemos doar-nos totalmente para preservarmos a paz interior? Obviamente não; mas, às vezes, somos tentados a relegar para posição secundária a dedicação pastoral e o compromisso no mundo, como se fossem «distracções» no caminho da santificação e da paz interior. Esquecemo-nos disto: «não é que a vida tenha uma missão, mas a vida é uma missão». [x]

28. Um compromisso movido pela ansiedade, o orgulho, a necessidade de aparecer e dominar, certamente, não será santificador. O desafio é viver de tal forma a própria doação, que os esforços tenham um sentido evangélico e nos identifiquem cada vez mais com Jesus Cristo. Por isso, é usual falar, por exemplo, duma espiritualidade do catequista, duma espiritualidade do clero diocesano, duma espiritualidade do trabalho. Pela mesma razão, na Evangelii gaudium, quis concluir com uma espiritualidade da missão, na Laudato si’ com uma espiritualidade ecológica, e na Amoris laetitia com uma espiritualidade da vida familiar.

29. Isto não implica menosprezar os momentos de quietude, solidão e silêncio diante de Deus. Antes pelo contrário! Com efeito, as novidades contínuas dos meios tecnológicos, o fascínio de viajar, as inúmeras ofertas de consumo, às vezes, não deixam espaços vazios onde ressoe a voz de Deus. Tudo se enche de palavras, prazeres epidérmicos e rumores a uma velocidade cada vez maior; aqui não reina a alegria, mas a insatisfação de quem não sabe para que vive. Então, como não reconhecer que precisamos de deter esta corrida febril para recuperar um espaço pessoal, às vezes doloroso mas sempre fecundo, onde se realize o diálogo sincero com Deus? Em certos momentos, deveremos encarar a verdade de nós mesmos, para a deixar invadir pelo Senhor; e isto nem sempre se consegue, se a pessoa «não se vê à beira do abismo da tentação mais opressiva, se não sente a vertigem do precipício do abandono mais desesperado, se não se encontra absolutamente só, no cume da solidão mais radical». [xi] Assim, encontramos as grandes motivações que nos impelem a viver, em profundidade, as nossas tarefas.

30. Os próprios meios de distracção que invadem a vida actual levam-nos também a absolutizar o tempo livre, no qual podemos utilizar, sem limites, aqueles dispositivos que nos proporcionam divertimento e prazeres efémeros. [xii] Em consequência disso, ressente-se a própria missão, o compromisso esmorece, o serviço generoso e disponível começa a retrair-se. Isto desnatura a experiência espiritual. Poderá ser saudável um fervor espiritual que convive com a acédia na acção evangelizadora ou no serviço dos outros?

31. Precisamos dum espírito de santidade que impregne tanto a solidão como o serviço, tanto a intimidade como a tarefa evangelizadora, para que cada instante seja expressão de amor doado sob o olhar do Senhor. Desta forma, todos os momentos serão degraus no nosso caminho de santificação.

Mais vivos, mais humanos

32. Não tenhas medo da santidade. Não te tirará forças, nem vida nem alegria. Muito pelo contrário, porque chegarás a ser o que o Pai pensou quando te criou e serás fiel ao teu próprio ser. Depender d’Ele liberta-nos das escravidões e leva-nos a reconhecer a nossa dignidade. Isto vê-se em Santa Josefina Bakhita, que, «escravizada e vendida como escrava com apenas sete anos de idade, sofreu muito nas mãos de patrões cruéis. Apesar disso compreendeu a verdade profunda que Deus, e não o homem, é o verdadeiro Patrão de todos os seres humanos, de cada vida humana. Esta experiência torna-se fonte de grande sabedoria para esta humilde filha da África». [xiii]

33. Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo. Assim nos ensinaram os Bispos da África ocidental: «Somos chamados, no espírito da nova evangelização, a ser evangelizados e a evangelizar através da promoção de todos os baptizados para que assumam as suas tarefas como sal da terra e luz do mundo, onde quer que se encontrem». [xiv]

34. Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida «existe apenas uma tristeza: a de não ser santo». [xv]

(cont) 

(Revisão da versão portuguesa por AMA) 




[i] Cf. Exercícios espirituais, 102-312.
[iii] Ibid., 516.
[iv] Ibid., 517.
[v] Ibid., 518.
[vi] Ibid., 521.
[vii] Bento XVI, Catequese (Audiência geral, 13 de abril de 2011): Insegnamenti, VII (2011), 451.
[viii] Ibidemo. c., 450.
[ix] Cf. Hans U. von Balthasar, «Teología y santidad», Communio VI/87, 486-493.
[x] Xavier Zubiri, Naturaleza, historia, Dios (Madrid 31999), 427.
[xi] Carlos M. Martini, As confissões de Pedro (Cinisello Balsamo 2017), 69.
[xii] É necessário distinguir, esta distracção superficial, duma cultura saudável do repouso, que nos abre ao outro e à realidade com um espírito disponível e contemplativo.
[xiii] São João Paulo II, Homilia na Missa de canonização (1 de outubro de 2000), 5: AAS 92 (2000), 852.
[xiv] Conferência Episcopal Regional da África Ocidental, Mensagem pastoral no final da II Assembleia Plenária (29 de fevereiro de 2016), 2.
[xv] A mulher pobre (Régio Emília 1978), II, 375.