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Evangelho e comentário


TEMPO COMUM



Evangelho: Mt 25, 14-30

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas, o que recebera um só talento foi escavar a terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’».

Comentário:

Esta parábola – conhecida como a dos “talentos”, tem merecido comentários e meditações por grandes vultos da Igreja, Teólogos e Santos.
É de tal forma “complicada) – à primeira leitura, claro – que podemos ter a visão como que toldada para nos apercebermos da simplicidade e lógica de todo o texto.

Eu penso que a “chave” está aqui:  
Distribuiu os talentos «a cada qual conforme a sua capacidade».

O Senhor, sabemo-lo muito bem – não faz acepção de pessoas e, para Ele, todos os homens – absolutamente – têm o mesmo valor, a mesma dignidade, independentemente das suas capacidades pessoais.

Mas nunca pedirá contas por igual, exigindo uniformemente e sem critério o mesmo retorno.

Não!

Pedirá contas – muito certas – conforme o que cada um fez, como fez, ou, o que não fez e deveria ter feito.

(AMA, comentário sobre Mt 25, 14-30, 29.07.2017)



Temas para reflectir e meditar


Fátima


A mensagem de Fátima é, no seu núcleo fundamental, uma chamada à conversão e à penitência, como no Evangelho (...).
Senhora da mensagem parecia ler com uma perspicácia especial os sinais dos tempos, os sinais do nosso tempo.

A chamada à penitência é uma chamada maternal; e, ao mesmo tempo, é enérgica e feita com decisão.


(São João Paulo IIHomília em Fátima, 1982.05.13) 



Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus

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Alguns, quando ouvem falar de castidade, sorriem.
É um sorriso - um esgar - sem alegria, morto, de mentes retorcidas. A grande maioria, repetem, não acredita nisso!
Eu costumava dizer aos rapazes que me acompanhavam pelos hospitais e bairros da periferia de Madrid, há muitos anos atrás: pensai que há um reino mineral; outro, mais perfeito, o reino vegetal, no qual, à mera existência se acrescenta a vida; e, depois outro, o reino animal, formado quase sempre por seres com sensibilidade e movimento.

Explicava-lhes também, de um modo pouco académico mas expressivo, que deveríamos instituir outro reino: o hominal, o reino dos humanos.
Na verdade, as criaturas racionais possuem uma inteligência admirável, reflexo da Sabedoria divina, que lhes permite raciocinar por sua conta e exercer essa liberdade maravilhosa, com que podem aceitar ou recusar uma coisa ou outra por seu arbítrio.

Pois neste reino dos homens - comentava-lhes eu, com a experiência do meu trabalho sacerdotal tão intenso - para uma pessoa normal, o tema do sexo ocupa um quarto ou quinto lugar.
Primeiro, estão as aspirações da vida espiritual, aquela que cada um tiver; a seguir, as questões que interessam ao homem e à mulher corrente: o pai, a mãe, o seu lar; depois a profissão e, muito além, em quarto ou quinto lugar aparece o impulso sexual.

Por isso, sempre que conheci pessoas que convertiam este assunto no tema central da sua conversa e dos seus interesses, pensei que eram anormais, uns pobres desgraçados, talvez doentes.
E acrescentava, provocando com isto um momento de riso e de piada entre os rapazes, que esses infelizes me faziam tanto dó como um rapaz com a cabeça grande, enorme, de um metro de perímetro!
São gente infeliz e, da nossa parte, além das orações, nasce uma fraterna compaixão, porque desejamos que se curem de tão triste doença.
O que não são é nem mais homens nem mais mulheres que aqueles que como nós, não estão obcecados pelo sexo.

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A castidade é possível

Todos nós temos paixões e todos enfrentamos, em qualquer idade, as mesmas dificuldades.
Temos, por isso, de lutar.
Lembrai-vos do que escrevia S. Paulo: datus est mihi stimulus carnis meæ, angelus Satanæ, qui me colaphizet, rebela-se o estímulo da carne, que é como um anjo de Satanás, que me esbofeteia para que eu não seja soberbo.

Não se pode viver uma vida limpa sem assistência divina.
Deus quer que sejamos humildes e peçamos o seu auxílio.
Deves pedir com confiança a Nossa Senhora, agora mesmo, na solidão acompanhada do teu coração, silenciosamente:
Minha Mãe, este meu pobre coração rebela-se tolamente... se tu não me proteges...
E amparar-te-á para que o guardes puro e percorras o caminho a que Deus te chamou.

Filhos: humildade, humildade!
Aprendamos a ser humildes.
Para guardar o Amor é preciso prudência, é preciso vigiar com cuidado e não se deixar dominar pelo medo.
Entre os clássicos de espiritualidade, muitos comparam o demónio a um cão raivoso, preso a uma corrente: se não nos aproximarmos, não morde, ainda que ladre continuamente.
Se fomentardes a humildade nas vossas almas, de certeza que evitareis as tentações, reagireis com a valentia de fugir e socorrer-vos-eis diariamente do auxílio do Céu para avançar com garbo por este caminho de apaixonados.

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Reparai que aquele que está apodrecido pela concupiscência da carne não consegue andar espiritualmente e é incapaz de qualquer obra boa.
É um aleijado que permanece estirado no chão como um trapo.
Nunca vistes os doentes com paralisias progressivas, que não conseguem ter força nem pôr-se de pé?
Às vezes nem sequer mexem a cabeça!
Pois isso acontece, na vida sobrenatural, aos que não são humildes e aos que se entregaram cobardemente à luxúria.
Não vêem, não ouvem, nem percebem nada.
Estão paralíticos e parecem loucos.
Cada um de nós deve invocar o Senhor e a Mãe de Deus e pedir-lhes a humildade e a decisão de aproveitar piedosamente o divino remédio da confissão.
Não permitais que se instale na vossa alma um foco de podridão, ainda que seja muito pequeno.
Falai!
Quando a água corre, é límpida; quando estagna, forma um charco, enche-se de porcaria repugnante e em vez de água potável passa a ser um caldo de bichos.

Que a castidade é possível e constitui uma fonte de alegria, sabei-lo tão bem como eu, muito embora tenhais consciência de que exige, de quando em quando, alguma luta.
Ouçamos de novo S. Paulo: Comprazo-me na lei de Deus, segundo o homem interior, mas, ao mesmo tempo, encontro nos meus membros outra lei, a qual resiste à lei do meu espírito e me subjuga à lei do pecado, que está nos membros do meu corpo. Oh, que homem tão infeliz eu sou! Quem me livrará deste corpo de morte?
Grita mais ainda, se precisas, mas não exageremos: sufficit tibi gratia mea, basta-te a minha graça, responde-nos o Senhor.

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Tive oportunidade de observar, em algumas ocasiões, como reluziam os olhos de um desportista, perante os obstáculos que tinha de saltar.
Que vitória!
Observai como domina as dificuldades!
Assim nos contempla Deus, que ama a nossa luta: seremos sempre vencedores, porque nunca nos nega a omnipotência da sua graça.
E não importa então que haja luta, porque Ele não nos abandona.

A castidade é combate e não renúncia, já que respondemos com uma afirmação gozosa, com uma entrega livre e alegre.
Não deves limitar-te a fugir da queda ou da ocasião, nem o teu comportamento deve reduzir-se, de maneira alguma, a uma negação fria e matemática.
Já te convenceste de que a castidade é uma virtude e, como tal, deve desenvolver-se e aperfeiçoar-se?
Não basta ser continente, cada um segundo o seu estado.
Insisto: temos de viver castamente, com virtude heróica.
Este comportamento é um acto positivo, com o qual aceitamos de boa vontade o pedido de Deus: Præbe, fili mi, cor tuum mihi et oculi tui vias meas custodiant, entrega-me, meu filho, o teu coração e espraia os teus olhos pelos meus campos de paz.

Pergunto-te eu, agora: como encaras tu esta batalha?
Bem sabes que a luta já está vencida, se a mantivermos desde o princípio. Afasta-te imediatamente do perigo, mal percebas as primeiras chispas de paixão, e até antes.
Fala, além disso, com quem dirige a tua alma; se possível antes, porque abrindo o coração de par em par não serás derrotado.
Um acto repetido várias vezes cria um hábito, uma inclinação, uma facilidade.
É preciso, pois, batalhar para alcançar o hábito da virtude, o hábito da mortificação, para não recusar o Amor dos Amores.

Meditai no conselho de S. Paulo a Timóteo: Te ipsum castum custodi, conserva-te a ti mesmo puro, para estarmos, também, sempre vigilantes, decididos a defender o tesouro que Deus nos entregou.
Ao longo da minha vida, quantas e quantas pessoas não ouvi queixarem-se: Ah! Se eu tivesse cortado ao princípio!
E diziam-no cheias de aflição e de vergonha.

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Com o coração todo entregue

Devo recordar-vos que não encontrareis a felicidade fora das vossas obrigações cristãs.
Se as abandonardes, ficar-vos-á um enorme remorso e sereis uns pobres infelizes.
Então até mesmo as coisas mais correntes, que são lícitas e trazem um bocadinho de felicidade, se podem tornar amargas como fel, azedas como o vinagre, repugnantes como o rosalgar.

Peçamos a Jesus, cada um de vós e eu também: Senhor! Eu proponho-me lutar e sei que Tu não perdes batalhas.

E compreendo que, se alguma vez as perco, é porque me afastei de Ti!
Leva-me pela tua mão e não Te fies de mim!
Não me soltes!

Pensareis: mas eu sou tão feliz, Padre!
Eu amo Jesus Cristo e, ainda que seja de barro, desejo chegar à santidade com a ajuda de Deus e da sua Mãe Santíssima!
Não o duvido.
Apenas te previno com estas exortações para o caso de se te apresentar alguma dificuldade.

Tenho também de te repetir que a existência do cristão - a tua e a minha - é de Amor.
Este nosso coração nasceu para amar e, quando não se lhe dá um afecto puro, limpo e nobre, vinga-se e enche-se de miséria.
O verdadeiro amor de Deus, que pode traduzir-se por viver uma vida bem limpa, está tão longe da sensualidade como da insensibilidade e tão longe de qualquer sentimentalismo como da ausência de coração ou da sua dureza.

É uma pena não ter coração.
Os que nunca aprenderam a amar com ternura são uns infelizes.
Nós, os cristãos, estamos apaixonados pelo amor: o Senhor não nos quer secos, insensíveis, como matéria inerte.
Quer-nos impregnados do seu carinho!
Aquele que, por Deus, renunciou a um amor humano, não é um solteirão, como aquela pessoa triste, infeliz, que anda sempre de asa murcha, por ter desprezado a generosidade de amar limpamente.

(cont)


Diante de Deus tu és uma criança


Diante de Deus, que é Eterno, tu és uma criança mais pequena do que, diante de ti, um miúdo de dois anos. E, além de criança, és filho de Deus. – Não o esqueças. (Caminho, 860)

Se reparardes bem, é muito diferente a queda de uma criança e a queda de uma pessoa crescida. Para as crianças, uma queda, em geral, não tem importância; tropeçam com tanta frequência! E se começam a chorar, o pai lembra-lhes: os homens não choram. Assim se encerra o incidente com o empenho do miúdo por contentar o seu pai.
(…) Se procurarmos portar-nos como eles, os tropeções e os fracassos – aliás inevitáveis – na vida interior, nunca se transformarão em amargura. Reagiremos com dor, mas sem desânimo, e com um sorriso que brota, como a água límpida, da alegria da nossa condição de filhos desse Amor, dessa grandeza, dessa sabedoria infinita, dessa misericórdia, que é o nosso Pai. Aprendi durante os meus anos de serviço ao Senhor a ser filho pequeno de Deus. E isto vos peço: que sejais quasi modo geniti infantes, meninos que desejam a palavra de Deus, o pão de Deus, o alimento de Deus, a fortaleza de Deus para se comportarem de agora em diante, como homens cristãos. (Amigos de Deus, 146)


Doutrina – 499


CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
Compêndio



SEGUNDA SECÇÃO

OS SETE SACRAMENTOS DA IGREJA


CAPÍTULO PRIMEIRO

OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

282. Como é que Jesus está presente na Eucaristia?


Jesus Cristo está presente na Eucaristia dum modo único e incomparável.
De facto, está presente de modo verdadeiro, real, substancial: com o seu Corpo e o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade.
Nela está presente em modo sacramental, isto é, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho, Cristo completo: Deus e homem.

Evangelho e comentário


TEMPO COMUM



Evangelho: Mt 25, 1-13

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a dez virgens, que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo: as que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora».

Comentário:

Porque é que o Senhor não me conhece?

Só por ter chegado um pouco tarde ao encontro!

Bom, mas, eu, estive de facto à espera, bastante tempo, tanto que se me acabou o azeite e tive de ir comprá-lo!

O Senhor não tem isto em conta?

Não se trata de o Senhor querer ou não querer conhecer-me.
Eu é que me exclui do Seu convívio porque abandonei a “espera” e, quando Ele entrou, não estava ali para entrar com Ele.

Tive um motivo para o fazer, de facto… mas, O Senhor não tem nada a ver com isso, ou tem?

Ele chega, abre-se a porta e, quem está à espera, preparado, entra no gozo do seu Senhor.

Que não sei nem o dia nem a hora!

Pois não, por isso tenho de estar preparado SEMPRE!

(AMA, comentário sobre Mt 25, 1-13, 2010.08.09)



Temas para reflectir e meditar


Santíssima Virgem


Pois apesar de ter merecido dar à luz o Filho do Altíssimo, era Ela humilíssima, e ao nomear-se não se antepõe ao seu esposo, dizendo: Eu e o teu pai, mas: Teu pai e eu.
Não teve em conta a dignidade do seu seio, mas a hierarquia conjugal.
A humildade de Cristo, com efeito, não tinha de ser para a sua mãe uma escola de soberba.


(Stº. agostinhoSermão 51, 18.)



Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus


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Sabeis muito bem, por o terdes ouvido e meditado frequentemente, que para todos nós, cristãos, Jesus Cristo é o modelo.
Tê-lo-eis ensinado a muitas almas, através desse apostolado - convívio humano com sentido divino - que faz já parte do vosso eu.
Tê-lo-eis recordado oportunamente, ao empregar esse meio maravilhoso da correcção fraterna, possibilitando a quem vos escutava comparar o seu procedimento com o do nosso Irmão primogénito, o Filho de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe.

Jesus é o modelo.
Ele mesmo o disse: Discite a me, aprendei de mim!
Quero hoje falar-vos de uma virtude que, sem ser a única nem a primeira, actua na vida cristã como o sal que preserva da corrupção e constitui a pedra de toque da alma apostólica: a virtude da santa pureza.

É verdade que a caridade teologal é a virtude mais alta, mas a castidade é a exigência sine qua non, condição imprescindível para chegar ao diálogo íntimo com Deus.
Quem não a guarda, se não luta, acaba por ficar cego.
Não vê nada, porque o homem animal não pode perceber as coisas que são do Espírito de Deus .

Animados pela pregação do Mestre, nós queremos ver com olhos limpos: bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.

A Igreja sempre apresentou estas palavras como um convite à castidade.
Guardam um coração sadio, escreve S. João Crisóstomo, os que possuem uma consciência completamente limpa ou os que amam a castidade.
Nenhuma virtude é tão necessária como esta para ver a Deus.

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O exemplo de Cristo

Jesus Cristo, Nosso Senhor, foi, ao longo da sua vida sobre a terra, coberto de impropérios e maltratado de todas as maneiras possíveis.
Lembrais-vos?
Diziam que se comportava como um revoltoso e afirmaram que estava endemoninhado.
Noutra altura, interpretaram mal as manifestações do seu Amor infinito e classificaram--no como amigo de pecadores.

Mais tarde, a Ele, que é a própria penitência e a própria temperança, lançam-lhe à cara que frequentava a mesa dos ricos.
Também lhe chamam depreciativamente fabri filius, filho do trabalhador, do carpinteiro, como se isso fosse uma injúria.
Permite que o rotulem de bebedor e comilão...
Deixa que o acusem de tudo, excepto de que não é casto.
Não os deixou dizer isso, porque quer que nós conservemos com toda a nitidez esse exemplo: um modelo maravilhoso de pureza, de limpeza, de luz, de amor que sabe queimar todo o mundo para o purificar.

Gosto de me referir à santa pureza, contemplando sempre a conduta de Nosso Senhor, porque Ele a viveu com grande delicadeza.
Reparai no que relata S. João quando, Jesus, fatigatus ex itinere, sedebat sic supra fontem, cansado no caminho se sentou à borda do poço.

Procurai recolher-vos e reviver devagar a cena: Jesus Cristo, perfectus Deus, perfectus homo, está fatigado do caminho e do trabalho apostólico, tal como algumas vezes deve ter sucedido convosco, que vos sentis arrasados por já não poderdes mais.
É comovedor observar o Mestre esgotado.
Além disso, tem fome: os discípulos tinham ido ao povoado vizinho para buscar alimentos.
E tem sede.


Mas, mais do que a fadiga do corpo, consome-o a sede de almas.
Por isso, ao chegar a samaritana, aquela mulher pecadora, o coração sacerdotal de Cristo derrama-se, diligente, para recuperar a ovelha perdida, esquecendo o cansaço, a fome e a sede.

Ocupava-se o Senhor com aquela grande obra de caridade, quando os apóstolos voltaram da cidade e mirabantur quia cum muliere loquebatur, ficaram surpreendidos por estar a falar a sós com uma mulher.
Como era cuidadoso!
Que amor à virtude encantadora da santa pureza, que nos ajuda a ser mais fortes, mais rijos, mais fecundos, mais capazes de trabalhar por Deus, mais capazes de tudo o que é grande!

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Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação... que cada um saiba usar o seu corpo santa e honestamente, não se abandonando às paixões, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus.
Pertencemos totalmente a Deus, com a alma e com o corpo, com a carne e com os ossos, com os sentidos e com as potências.
Pedi-lhe com confiança: Jesus, guarda o nosso coração! Faz com que o meu coração seja grande, forte e terno, afectuoso e delicado, transbordante de caridade para Ti, para servir todas as almas.

O nosso corpo é santo, templo de Deus, precisa S. Paulo.
Esta exclamação do Apóstolo recorda-me o chamamento à santidade, que o Mestre dirige a todos os homens: Estote perfecti sicut et Pater vester caelestis perfectus est.
O Senhor pede a todos, sem discriminação alguma, correspondência à graça.
O Senhor exige a cada um, de acordo com a sua situação pessoal, a prática das virtudes próprias dos filhos de Deus.

Por isso, ao recordar-vos que o cristão tem de guardar uma castidade perfeita, estou a referir-me a todos: aos solteiros, que devem cingir-se a uma completa continência, e aos casados, que vivem castamente, cumprindo as obrigações próprias do seu estado.



Com o espírito de Deus, a castidade, longe de ser um peso incómodo e humilhante, torna-se uma afirmação gozosa, porque o querer, o domínio e a vitória não são dados pela carne nem vêm do instinto, mas procedem da vontade, sobretudo se está unida à do Senhor.
Para ser castos e não simplesmente continentes ou honestos, temos de submeter as paixões à razão, por uma causa elevada, por um impulso de Amor.

Comparo esta virtude a umas asas que nos permitem levar os mandamentos, a doutrina de Deus por todos os ambientes da terra, sem receio de ficar enlameados.
Essas asas, tal como as da aves majestosas que sobem mais alto que as nuvens, pesam e pesam muito, mas, se faltassem, não seria possível voar.
Gravai isto na vossa mente, decididos a não ceder quando sentirdes a garra da tentação, que se insinua apresentando a pureza como uma carga insuportável.
Ânimo!
Subi até ao sol, em busca do Amor!

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Com Deus nos nossos corpos

Causou-me sempre muita pena o costume de algumas pessoas - tantas! - que escolhem como nota constante dos seus ensinamentos a impureza.
Com isso, conseguem - comprovei-o em bastantes almas - exactamente o contrário do que pretendem, porque a impureza é matéria mais pegajosa que o pez e deforma as consciências com complexos ou medos, como se a pureza da alma fosse um obstáculo quase insuperável.
Nós não faremos assim!
Temos de tratar da santa pureza com pensamentos positivos e limpos, com palavras modestas e claras.

Discorrer sobre este tema, significa dialogar sobre o Amor.
Tenho de vos dizer que para esse efeito me ajuda considerar a Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, a maravilha inefável de Deus que se humilha, até fazer-se homem.
E que não se sente aviltado por ter tomado carne igual à nossa, com todas as suas limitações e fraquezas, menos o pecado, porque nos ama com loucura!
Ele não se rebaixa com o seu aniquilamento e, em troca, levanta-nos, deificando-nos o corpo e a alma.
Responder afirmativamente ao seu Amor com um carinho claro, ardente e ordenado, isso é a virtude da castidade.

Temos de gritar a todo o mundo com a palavra e com o testemunho da nossa conduta: não empeçonhemos o coração, como se fôssemos pobres animais dominados pelos instintos mais baixos.
Um escritor cristão exprime-o assim:
Reparai que o 0coração do homem não é pequeno, pois abraça muitas coisas.
Medi essa grandeza, não pelas suas dimensões físicas, mas pelo poder do seu pensamento, capaz de alcançar o conhecimento de tantas verdades.
É possível preparar o caminho do Senhor no coração, traçar uma vereda direita, para que passem por ali o Verbo e a Sabedoria de Deus.
Preparai com uma conduta honesta e com obras irrepreensíveis o caminho do Senhor, aplanai a estrada para que o Verbo de Deus caminhe por vós sem tropeçar e vos dê o conhecimento dos seus mistérios e da sua vinda.

Revela-nos a Escritura Santa que a grandiosa obra da santificação, tarefa oculta e magnífica do Paráclito, se verifica na alma e no corpo.
Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? - clama o Apóstolo.
Tomarei eu, pois, os membros de Cristo e fá-los-ei membros de uma prostituta? (...)
Não sabeis, porventura, que os vossos corpos são templos do Espírito Santo, que habita em vós, o qual vos foi dado por Deus e que não pertenceis a vós mesmos, porque fostes comprados por um grande preço? Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.

(cont)