Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
Páginas
▼
28/12/2018
Não deixes de rezar, eu escuto-te
Os
santos, anormais?... Chegou a hora de acabar com esse preconceito! Havemos de
ensinar, com a naturalidade sobrenatural da ascética cristã, que nem sequer os
fenómenos místicos são anormais; têm a naturalidade própria desses fenómenos,
tal como outros processos psíquicos ou fisiológicos têm a sua (Sulco, 559)
Eu
falo da vida interior de cristãos normais e correntes, que habitualmente se
encontram em plena rua, ao ar livre; e que na rua, no trabalho, na família e
nos momentos de diversão estão unidos a Jesus todo o dia. E o que é isto senão
vida de oração contínua? Não é verdade que compreendeste a necessidade de ser
alma de oração, numa intimidade com Deus que te leva a endeusar-te? (...)
A
princípio custará. É preciso esforçarmo-nos por nos dirigir ao Senhor, por lhe
agradecermos a sua piedade paternal e concreta para connosco. Pouco a pouco o
amor de Deus torna-se palpável – embora isto não seja coisa de sentimentos –
como uma estocada na alma. É Cristo que nos persegue amorosamente: Eis que
estou à porta e chamo. Como anda a tua vida de oração? Não sentes às vezes,
durante o dia, desejos de falar mais devagar com Ele? Não Lhe dizes: logo vou
contar-te isto e aquilo; logo vou conversar sobre isso contigo?
Nos
momentos dedicados expressamente a esse colóquio com o Senhor o coração
expande-se, a vontade fortalece-se, a inteligência – ajudada pela graça – enche
a realidade humana com a realidade sobrenatural. E, como fruto, sairão sempre
propósitos claros, práticos, de melhorares a tua conduta, de tratares
delicadamente, com caridade, todos os homens, de te empenhares a fundo – com o
empenho dos bons desportistas – nesta luta cristã de amor e de paz.
A
oração torna-se contínua como o bater do coração, como as pulsações. Sem essa
presença de Deus não há vida contemplativa. E sem vida contemplativa de pouco
vale trabalhar por Cristo, porque em vão se esforçam os que constroem se Deus
não sustenta a casa. (Cristo que passa,
8)
Leitura espiritual
O
ESPELHO DOS NOSSOS DEFEITOS
Estamos vendo que a falta
de bondade se manifesta, entre outras coisas, pela reacção que os defeitos
alheios provocam em nós: umas vezes, de impaciência; outras, de desprezo ou
cansaço.
Ejá percebemos que tais
reacções não são propriamente “provocadas” pelos defeitos dos outros, mas são
“activadas” pelo nosso egoísmo ou pelo nosso orgulho.
Talvez compreendamos
melhor o que se passa connosco se percebermos que, devido ao nosso egoísmo e à
nossa auto-suficiência, a primeira coisa que notamos nos outros é a sombra que os
seus defeitos projectam sobre o espelho dos nossos próprios defeitos.
Por outras palavras, os defeitos
alheios incomodam-nos precisamente porque ferem um defeito nosso.
Alguns exemplos podem
esclarecer-nos.
Não é raro que um marido
se sinta tremendamente aborrecido quando, ao chegar a casa cansado no fim do expediente,
a mulher se dedica a martelar-lhe os ouvidos com uma longa cantilena de reclamações
e lamentos: o elenco das contrariedades do dia.
A reacção espontânea do marido
é perder o bom humor:
“Por que não me deixa em paz?
Será que não compreende
que tenhodireito a um pouco de tranquilidade após um dia de trabalho estafante?”
Aparentemente, este marido
tem razão.
E certamente a esposa
faria bem se guardasse para si as suas queixas e se ocupasse em tornar mais
amável o convívio familiar.
Mas também é verdade que a
reacção de impaciência e desgosto do marido não nasceu do amor: a ladainha
enfadonha da mulher projectou-lhe uma sombra sobre o seu comodismo, feriu o seu
comodismo, e por isso o perturbou.
Fosse um homem de coração
generoso, e a fraqueza da mulher se projectaria sobre o espelho do amor
compreensivo, e nesse caso a reacção seria outra.
Poderíamos falar também da
impaciência do pai que recebe o boletim do colégio do filho enfeitado de
vermelhos.
É natural que esse mau
desempenho nos estudos preocupe o pai e até que o deixe indignado.
É lógico que tenha uma
conversa menos suave com o filho.
Mas, ao mesmo tempo, seria
muito bom que analisasse o seu coração e se perguntasse: estou reagindo só por
amor ao filho, pelo seu bem, ou porque me humilha que o meu garoto seja dos
últimos da classe, e isso projecta uma sombra no espelho da minha vaidade?
Pode muito bem acontecer
que o sentimento predominante seja este último, e então a impaciência é a reacção
de um defeito pessoal atingido.
O mesmo poderíamos dizer
quando notamos que possuímos uma grande facilidade para “ver” que os nossos
colegas são antipáticos, pouco inteligentes, maçantes e desleais..., quando, na
realidade, o que “não vemos” é que estamos deixando-nos dominar pela inveja,
pois o que nos aborrece é que, apesar de tantas deficiências que observamos
neles, estão-se saindo melhor do que nós e tendo maior sucesso no seu trabalho.
Já dizia o Padre Vieira
que “os olhos vêem pelo coração; e assim como quem vê por vidros de diversas
cores, todas as coisas lhe parecem daquela cor, assim as vistas se tingem dos
mesmos humores de que estão bem ou mal c os corações” (Sermão da quinta
Quarta-feira, 1669).
Quando o coração é limpo e
bom, enxerga as coisas limpas e boas do mundo, especialmente as coisas limpas e
boas dos outros.
Se está manchado, projecta
a sua sujidade em tudo.
Se fôssemos mais humildes
e esquecidos de nós mesmos, ao percebermos que as fraquezas e os erros dos
outros fazem saltar como uma mola os nossos próprios defeitos, começaríamos por
tentar limpar esses nossos defeitos.
Um pequeno insecto pousado
sobre uma ferida aberta incomoda muito.
Mas se curarmos essa
ferida, a presença do insecto sobre a pele sadia será quase imperceptível.
Meditando nestes aspectos,
Santo Agostinho sugeria um sistema excelente:
“Procurai adquirir as
virtudes que julgais faltarem aos vossos irmãos, e já não vereis os seus
defeitos, porque vós mesmos não os tereis” (Enarrat. in Psalmis, 30, 2, 7).
Vale a pena tentar essa
experiência. Suponhamos, por exemplo, que estamos a conviver com uma pessoa
ríspida.
Fala bruscamente, agride
com comentários, critica tudo.
Isso “provoca-nos” e impele-nos
a retrucar com a mesma moeda: quase sem repararmos, também nós nos tornamos agressivos
e azedos.
Esforcemo-nos por dar uma virada.
Tentemos, como ensina São
Paulo, vencer o mal com o bem (Rom 12, 21).
Iniciemos decididamente
uma campanha de paciência, amabilidade e mansidão.
É muito provável que
aconteçam duas coisas: primeiro, que a pessoa que nos “provoca” fique desarmada
perante a nossa afabilidade, e mude; segundo, que nós mesmos, com a alma limpa
de preocupações egoístas, venhamos a descobrir que aquela rispidez “incompreensível”
outra coisa não era senão a amargura de alguém que não sentia reconhecido e
valorizado o seu trabalho; ou então era o queixume surdo de quem tinha ânsias
de um pouco mais de atenção que ninguém lhe dava.
Uma vez feita essa
constatação, já não veremos mais um defeito que aborrece, mas uma carência que,
com carinho, procuraremos aliviar. Passaremos a olhar o problema com o calor
aconchegante da bondade.
Como dizia alguém,
“somente nos irritam os nossos defeitos”. As agulhadas e impertinências dos
outros são “cutucões” sobre os nossos defeitos, que Deus permite para que os vejamos
melhor e nos decidamos a vencê-los.
Se arrancarmos os nossos
defeitos, as “pedras” do nosso campo – da nossa alma –, não sentiremos mais os
“pontapés” dos outros, porque não terão onde tropeçar.
Se todos nós
compreendêssemos estas verdades simples, haveria mais paz nas famílias e, em
geral, no convívio humano, e muitas desavenças crónicas abririam passagem à harmonia.
Francisco
Faus [i]
[i]
Francisco Faus é licenciado em Direito pela
Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canónico pela Universidade de São
Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde
exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes
universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas
delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, entre outros, os
títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos
homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.
Evangelho e comentário
TEMPO DE NATAL
Santos Inocentes
Evangelho: Mt 2, 13-18
13
Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe:
«Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu
te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» 14 E ele levantou-se
de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, 15 permanecendo ali
até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta:
Do Egipto chamei o meu filho. 16 Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado
pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de
todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que,
diligentemente, tinha inquirido dos magos. 17 Cumpriu-se, então, o que o
profeta Jeremias dissera: 18 Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um
grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque
já não existem.
Comentário:
«Em sonhos»
já referimos que ao Varão Ilustre, Deus lhe fazia conhecer a Sua Vontade em
sonhos.
Parece estranho, talvez, que algo tão importante seja
assim transmitido.
Será que São José não "mereceria" uma
comunicação "directa" através de um anjo, por exemplo, como Zacarias
ou a Santíssima Virgem?
Penso que não se trata de "merecimento" mas
antes da soberana vontade e disposição do Senhor em comunicar com os Seus
filhos.
O sonho foi quase sempre o "modo" escolhido
e não tem que se inferir que terá mais ou menos "categoria".
Hoje talvez que o nome apropriado seja
"inspirações" que é o modo como o Espírito Santo comunica com homens.
Saber reconhecer e interpretar o que o Senhor nos quer
dizer, isso, é que é importante e deveras interessa.
(AMA, comentário sobre Mt 2, 13-18, 28.12.2016)
Temas para reflectir e meditar
Sacerdócio
O sacerdócio é um sacramento, não um poder do qual a Igreja pode dispor segundo a sua complacência.
O sacerdócio é um sacramento, não um poder do qual a Igreja pode dispor segundo a sua complacência.
(bento xvi, conversa com os párocos de Roma, 2006.03.02)
Pequena agenda do cristão
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito:
Contenção; alguma privação; ser humilde.
Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.
Lembrar-me:
Filiação divina.
Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.
Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?