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29/01/2018

A dor de corrigir

Esconde-se uma grande comodidade – e às vezes uma grande falta de responsabilidade – naqueles que, constituídos em autoridade, fogem da dor de corrigir, com a desculpa de evitar o sofrimento alheio. Talvez poupem desgostos nesta vida..., mas põem em jogo a felicidade eterna – a deles e a dos outros – pelas suas omissões que são verdadeiros pecados. (Forja, 577)


O santo, para a vida de muitos, é "incómodo". Mas isto não significa que tenha de ser insuportável.

O seu zelo nunca deve ser amargo; a sua correcção nunca deve ferir; o seu exemplo nunca deve ser uma bofetada moral, arrogante, na cara do próximo. (Forja, 578)


Portanto, quando nos apercebemos de que na nossa vida ou na dos outros alguma coisa corre mal, alguma coisa precisa do auxílio espiritual e humano, que nós, filhos de Deus, podemos e devemos prestar, uma clara manifestação de prudência consistirá em dar-lhe remédio oportuno, a fundo, com caridade e com fortaleza, com sinceridade. Não valem as inibições. É errado pensar que com omissões ou adiamentos se resolvem os problemas.


Sempre que a situação o requeira, a prudência exige que se aplique o remédio totalmente e sem paliativos, depois de pôr a chaga a descoberto. Ao notar os menores sintomas do mal, sede simples, verazes, quer sejais vós a curar os outros, quer sejais vós a receber essa assistência. Nesses casos, deve-se permitir à pessoa que está em condições de curar em nome de Deus que aperte de longe a zona infectada e depois de mais perto, até sair todo o pus, de modo que o foco da infecção acabe por ficar bem limpo. Em primeiro lugar, temos que proceder assim connosco mesmos e com quem, por motivos de justiça ou caridade, temos obrigação de ajudar. Rezo nesse sentido especialmente pelos pais e por quem se dedica a tarefas de formação e de ensino. (Amigos de Deus, 157)

Temas para reflectir e meditar

Velhice


O valor da velhice não reside em acumular anos de vida, mas em encher de vida os anos.



(JAVIER ABAD GÓMEZ, Fidelidade, Quadrante 1989 pg. 35)



Evangelho e comentário

Tempo Comum


Evangelho: Mc 5, 1-20

1 Chegaram à outra margem do mar, à região dos gerasenos. 2 Logo que Jesus desceu do barco, veio ao seu encontro, saído dos túmulos, um homem possesso de um espírito maligno. 3 Tinha nos túmulos a sua morada, e ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com uma corrente, 4 pois já fora preso muitas vezes com grilhões e correntes, e despedaçara os grilhões e quebrara as correntes; ninguém era capaz de o dominar. 5 Andava sempre, dia e noite, entre os túmulos e pelos montes, a gritar e a ferir-se com pedras. 6 Avistando Jesus ao longe, correu, prostrou-se diante dele 7 e disse em alta voz: «Que tens a ver comigo, ó Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te, por Deus, que não me atormentes!» 8 Efectivamente, Jesus dizia: «Sai desse homem, espírito maligno.» 9 Em seguida, perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?» Respondeu: «O meu nome é Legião, porque somos muitos.» 10E suplicava-lhe insistentemente que não o expulsasse daquela região. 11 Ora, ali próximo do monte, andava a pastar uma grande vara de porcos. 12 E os espíritos malignos suplicaram a Jesus: «Manda-nos para os porcos, para entrarmos neles.» 13 Jesus consentiu. Então, os espíritos malignos saíram do homem e entraram nos porcos, e a vara, cerca de uns dois mil, precipitou-se do alto no mar e ali se afogou. 14 Os guardas dos porcos fugiram e levaram a notícia à cidade e aos campos. As pessoas foram ver o que se passara. 15 Ao chegarem junto de Jesus, viram o possesso sentado, vestido e em perfeito juízo, ele que estivera possuído de uma legião; e ficaram cheias de temor. 16 As testemunhas do acontecimento narraram-lhes o que tinha sucedido ao possesso e o que se passara com os porcos. 17 Então, pediram a Jesus que se retirasse do seu território. 18 Jesus voltou para o barco e o homem que fora possesso suplicou-lhe que o deixasse andar com Ele. 19 Não lho permitiu. Disse-lhe antes: «Vai para tua casa, para junto dos teus, e conta-lhes tudo o que o Senhor fez por ti e como teve misericórdia de ti.» 20 Ele retirou-se, começou a apregoar na Decápole o que Jesus fizera por ele, e todos se maravilhavam.

Comentário:

Para os que validam a "teoria" que a possessão diabólica não existe verdadeiramente, que é, mais ou menos, uma figura de retórica, aqui está gravado para todo o sempre, a prova do que negam.
O possesso reconhece Jesus como O Filho de Deus e declara expressamente que, sabe, Este veio ao mundo para lhe retirar o poder quase discricionário que a queda dos pais da humanidade, lhe consentira.
O demónio só pode fazer o mal, proporcionar sofrimento e dor, ainda que, não poucas vezes, se sirva do prazer, da fortuna e, até da felicidade, - que são sempre efémeras - para atingir os seus fins.
É, portanto, da sua natureza, fazer o mal, sendo-lhe impossível praticar qualquer acto bom.
Em suma, tenta atingir Deus, através das Suas criaturas, os homens.
Como se vê neste episódio que S. Marcos relata: pretende "vingar-se" de Jesus e, aparentemente consegue-o, os gerasenos não aceitam a presença de Jesus.
Como o conseguiu o demónio?
Provocando a hecatombe dos porcos.
Mas - e o evangelista refere-o expressamente - só o pode fazer depois de Jesus lho ter consentido.
Então, Cristo, é também "responsável" pela rejeição dos gerasenos?
Claro que não!
Permite a tentação de O rejeitarem face ao elevado prejuízo com os porcos, mas dá-lhes os meios para a vencerem com a constatação do enormíssimo ganho que é a cura do pobre endemoninhado.
Sosseguemo-nos!
O Senhor nunca permitirá que o demónio tenha o menor poder sobre nós se, nós, não o consentirmos.

(ama, comentário sobre Mc 5, 1-20, 02.10.2017)







Leitura espiritual

CAPÍTULO V

O SUBLIME CONHECIMENTO DE CRISTO

  1.   «Para que eu O possa conhecer a Ele…»

…/2

E foi precisamente aquela palavra  que me ajudou a compreender a diferença.
Foi sobretudo a frase: «para que eu O possa conhecer…» e foi, particularmente, aquele pronome “Ele”, que me impressionou.
Parecia que continha mais coisas sobre Jesus que os mais completos tratados de cristologia.
“Ele”, Jesus Cristo, o meu Senhor “em carne e osso”.
Apercebi-me então que eu conhecia muitos livros sobre Jesus, doutrina, heresias e conceitos, porém não O conhecia a Ele, como pessoa concreta e viva.
Pelo menos, não O conhecia quando d’Ele me aproximava, através do estudo da história e da teologia.
Até então, eu tinha adquirido um conhecimento impessoal da pessoa de Cristo.
Uma contradição e um paradoxo que infelizmente é tão frequente!

E porquê era “impessoal” este conhecimento?
Porque Ele nos deixa neutrais perante a pessoa de Cristo, ao passo que o conhecimento que Paulo tinha lhe fazia considerar todo o resto como uma perda e como lixo, e lhe incutia no coração um irresistível anseio de chegar a Cristo, e de desembaraçar-se de tudo, até do seu próprio corpo, para estar com Ele.
A pessoa é uma realidade única
Diversamente de todas as outras coisas criadas, a pessoa só pode ser conhecida “em pessoa”, isto é, estabelecendo com ela uma relação directa de modo que ela deixe de ser um “esse” e se torne um “ele”, ou melhor um “tu!”

Sob este ponto de vista, o conhecimento da pessoa de Cristo é desigual até pelo conhecimento que se tem da sua humanidade e divindade, ou seja, das naturezas de Cristo.
Estas últimas, sendo objectos e partes do todo, podem-se objectivar e estudar.
Mas a pessoa não. A pessoa é um ser vivente e inteiro. Não pode, por isso, ser considerada plenamente se não conservar esse atributo de inteiro e se não entrar em relação com ele.
Reflectindo sobre o conceito da pessoa em Deus, Stº Agostinho, e com ele toda a teologia latina, chegou à conclusão que pessoa significa “relação”.
O pensamento moderno, mesmo o profano, confirmou esta intuição.
«A verdadeira personalidade consiste na revelação de si mesmo mergulhando noutra pessoa [i].
A pessoa é pessoa no acto em que se abre para um “tu” e nesta relação adquire consciência de si mesma.
Ser pessoa é um “ser em relação”.
Isto é válido de modo eminente para as pessoas divinas da Santíssima Trindade, que são “puras relações”, embora subsistentes; mas, de maneira diferente, presta-se também para outras pessoas, tanto para a nossa como para a de Cristo.
A pessoa não se conhece, portanto, na sua realidade a não ser quando se entra em “relação” com ela.
Eis a razão pela qual se não pode conhecer Jesus como pessoa, senão através de uma ligação pessoal, de mim para ti. Com Ele.
Noutras palavras, reconhecendo-O como Senhor nosso.

Entrar numa relação pessoal com Jesus não é a mesma coisa que entrar em relação com uma pessoa qualquer.
Para ser uma relação “verdadeira”, esta deve levar-nos a reconhecer e a aceitar Jesus por aquilo que Ele é, ou seja, Senhor.
O Apóstolo, no texto atrás referido, fala de um “superior”, “eminente” e mesmo “sublime” (hyperechon) conhecimento de Cristo, diferente de todos os outros conhecimentos, é certamente diferente do conhecimento que se tem de Jesus segundo a carne, segundo a história, como se diz hoje, de modo externo e “científico”.
E diz também em que consiste esse superior conhecimento: consiste em reconhecer a Cristo como Senhor:
«… Perante o sublime conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor?».
Assim, o sublime conhecimento de Cristo, o conhecimento “pessoal” que se tem d’Ele, consiste então nisto:
Que eu reconheça Jesus como meu Senhor; isto quer dizer: como meu significado, minha razão de ser, meu supremo bem, finalidade da minha vida, minha alegria, minha glória, minha lei, meu Chefe, meu Salvador, Aquele a quem pertenço.

Por aqui se pode ver como é possível ler – e até escrever – livros e livros sobre Jesus Cristo e, todavia, não se conhecer Jesus Cristo na realidade.
O conhecimento de Jesus é um conhecimento muito especial.
Assemelha-se ao conhecimento que se tem da própria Mãe.
Quem conhece verdadeiramente a sua Mãe?
Será porventura quem leu montes de livros sobre a maternidade ou estudou a ideia de maternidade através de várias culturas e religiões?
Não, certamente!
Conhece a sua Mãe, o filho que um dia, já crescido, reconhece ter sido formado no seu seio e ter vindo ao mundo através das dores do seu parto e toma conhecimento da ligação única no mundo que existe entre ele e ela.
Trata-se em muitos casos de uma “revelação” e numa espécie de “iniciação” no mistério da vida.

O mesmo sucede com Jesus.
Conhece Jesus por aquilo que Ele é verdadeiramente – e isto de modo intrínseco não extrínseco – todo aquele que, um dia, por revelação, não da carne ou do sangue como na Mãe, mas sim do Pai Celeste, descobre ter nascido d’Ele, pela Sua morte na Cruz, e de existir, espiritualmente, para Ele.
Conhece Jesus aquele que tendo lido em Isaías o poema do servo sofredor, sente toda a força misteriosa daquela relação “nós-ele”, sbre a qual se rege todo esse poema.

Ele foi ferido pelas nossas iniquidades,
O castigo que nos dá a salvação caiu sobre ele;
Nós fomos sarados pelas sua chagas…
O Senhor carregou sobre Ele
A iniquidade de todos nós.
Isaías, 53,5-6
       

(cont)
rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.





[i] Hegel

Pequena agenda do cristão

SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?