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28/12/2017

Piedosos como meninos

– Jesus, considerando agora mesmo as minhas misérias, digo-te: Deixa-te enganar pelo teu filho, como esses pais bons, carinhosos, que põem nas mãos do seu menino a dádiva que dele querem receber..., porque sabem muito bem que as crianças nada têm. E que alvoroço o do pai e o do filho, ainda que ambos estejam no segredo! (Forja, 195)


A vida de oração e de penitência e a consideração da nossa filiação divina transformam-nos em cristãos profundamente piedosos, como meninos pequenos diante de Deus. A piedade é a virtude dos filhos e, para que o filho possa entregar-se nos braços do seu pai, há-de ser e sentir-se pequeno, necessitado. Tenho meditado com frequência na vida de infância espiritual, que não se contrapõe à fortaleza, porque requer uma vontade rija, uma maturidade bem temperada, um carácter firme e aberto.

Piedosos, portanto, como meninos; mas não ignorantes, porque cada um há-de esforçar-se, na medida das suas possibilidades, pelo estudo sério e científico da fé. E o que é isto, senão teologia? Piedade de meninos, sim, mas doutrina segura de teólogos.

O afã por adquirir esta ciência teológica – a boa e firme doutrina cristã – deve-se, em primeiro lugar, ao desejo de conhecer e amar a Deus. Simultaneamente é consequência da preocupação geral da alma fiel por alcançar a mais profunda compreensão deste mundo, que é uma realização do Criador. Com periódica monotonia, há pessoas que procuram ressuscitar uma suposta incompatibilidade entre a fé e a ciência, entre a inteligência humana e a Revelação divina. Tal incompatibilidade só pode surgir, e só na aparência, quando não se entendem os termos reais do problema.


Se o mundo saiu das mãos de Deus, se Ele criou o homem à sua imagem e semelhança e lhe deu uma chispa da sua luz, o trabalho da inteligência deve ser – embora seja um trabalho duro – desentranhar o sentido divino que naturalmente já têm todas as coisas. E, com a luz da fé, compreendemos também o seu sentido sobrenatural, que resulta da nossa elevação à ordem da graça. Não podemos admitir o medo da ciência, visto que qualquer trabalho, se é verdadeiramente científico, tende para a verdade. E Cristo disse: Ego sum veritas. Eu sou a verdade. (Cristo que passa, 10)

Temas para meditar

A força do Silêncio, 204



O silêncio da morte de Jesus transforma, purifica e pacifica o homem.

Permite-lhe estar em comunhão com os sofrimentos e a morte de Cristo, entrar plenamente na vida divina. (…)



CARDEAL ROBERT SARAH

Evangelho e comentário

Tempo de Natal

Santos Inocentes

Evangelho: Mt 2, 13-18

13 Depois de partirem, o anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: «Levanta-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para o matar.» 14 E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egipto, 15 permanecendo ali até à morte de Herodes. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciou pelo profeta: Do Egipto chamei o meu filho. 16 Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o seu território, da idade de dois anos para baixo, conforme o tempo que, diligentemente, tinha inquirido dos magos. 17 Cumpriu-se, então, o que o profeta Jeremias dissera: 18 Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um grande pranto: É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem.

Comentário:

Tendo ocorrido - um facto histórico - há dois mil anos, a matança dos inocentes continua infelizmente bem presente nos dias de hoje.

Não queremos que nasça, não desejamos que venha complicar-nos a vida, de alguma forma, estas, são as razões (sem razão) mais comuns hoje em dia, feitas por gente egoísta insensível que não hesita em matar um inocente antes que veja a luz do mundo.

Tudo isto vem de uma teoria errada que um filho é um direito, uma posse, uma pessoa que nos pertence e da qual podemos dispor à vontade.

Se matar inocentes nos serve, como a Herodes, para ‘proteger’ um direito, um capricho, resolver um problema, disfarçar um medo, então qual é a diferença entre as monstruosidades e quem as pratica?

(ama, comentário sobre Mt 2, 13-18, 28.12.2012)







Reflectindo

Querer e poder


É um dito que se ouve com frequência: “querer é poder”!

Só que querer não é a mesma coisa que poder. 
Evidentemente enquanto um é um sentimento o outro é uma expressão da vontade

Por isso se pode dizer: posso, mas não quero ou, claro está, o inverso.


O que o aforismo significa é que uma vontade forte ajuda a capacidade de actuar e a determinação para atingir um fim, um objectivo.



(AMA, reflexões, 01.08.2017)

Leitura espiritual

MARIA, A MÃE DE JESUS 5


A MÃE DO REDENTOR

Considerávamos nas páginas anteriores o facto da maternidade divina de Maria: Ela é verdadeira Mãe de Deus.
Agora vamos dar mais um passo, adentrando no mistério dessa maternidade e procurando ver o seu alcance, as suas dimensões.
Vimos que Maria não foi meramente receptora passiva das graças e dons de Deus. Foi “chamada” por Deus para ser a Mãe do Seu Filho, e correspondeu ao chamamento com um amor livre e uma entrega total. Poderia ter recusado. Não o fez. Pela sua livre e completa correspondência, quis ser Mãe. “Jesus nasceu – escreve Guitton – do consentimento de Maria” [i].
Não há dúvida de que Deus, querendo a resposta livre de Maria, mostrou que desejava contar com a sua cooperação para realizar a Redenção da humanidade.
O Concílio Vaticano II, na Constituição Lumen Gentium, expressa com clareza este desígnio de Deus: “É com razão que os Santos Padres consideram Maria não como um mero instrumento passivo, mas julgam-na cooperando para a salvação humana com livre fé e obediência. Pois Ela, como diz Santo Irineu, «obedecendo, fez-se causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano» [ii].
Esta colaboração de Maria não ficou limitada ao momento do “faça-se”, no dia da Anunciação, mas acompanhou todas as etapas da vida e da missão salvadora de Cristo, “desde o momento da sua conceição virginal até o momento da sua morte” [iii].

A VIDA OCULTA DE CRISTO

Pensemos, primeiro, na infância de Jesus.
Foi um período em que Deus confiou o seu Filho inteiramente aos cuidados de Maria. Dela Jesus dependia em tudo, como qualquer criança depende de sua mãe: da sua solicitude, do seu amor, da sua dedicação. Podemos até dizer que, falando humanamente, Jesus Menino subsistia ao amparo da maternidade de Maria. E foi no clima desse amor materno – e do aconchego dado também pelo amor de São José – que o Menino cresceu e se desenvolveu. Mas, já na infância o papel de Maria vai além dessa dedicação materna.
Por acaso já reparamos que foi precisamente a Virgem Santíssima quem, pela primeira vez, manifestou Jesus aos homens como seu Salvador?
É um facto. A graça de Cristo em favor dos homens começou a actuar no mundo pelas mãos de Maria. Foi aos pés de Nossa Senhora que desabrochou a fé dos pastores e dos Magos, os primeiros adoradores daquele recém-nascido que, como anunciaram os Anjos na noite de Natal, “é o Cristo, o Senhor” [iv].
Como é significativo que Deus tenha disposto que os primeiros encontros das almas com Jesus ocorressem através da Mãe! Vislumbra-se aí um desígnio divino, que o Evangelho irá explicitando cada vez mais. Ainda na infância de Cristo, é também Maria – acompanhada por seu esposo castíssimo, São José – quem apresenta Jesus no Templo de Jerusalém, oferecendo-o a Deus Pai. A apresentação do Menino vem a ser como um prenúncio da oferenda definitiva do Filho que Maria irá fazer trinta e três anos depois, ao pé da Cruz. No momento da apresentação, o Espírito Santo já vaticina à Mãe, através das palavras proféticas de Simeão, esta última e radical oferenda: Uma espada – uma espada de dor – transpassará a tua alma [v].
À infância de Jesus une-se, perfazendo trinta anos, a vida oculta no lar de Nazaré. Trinta anos! É a maior parte da vida do Senhor. Um longo período em que Cristo já está a salvar-nos. Porque esse período de vida oculta não foi um compasso de espera, sem relevo nem transcendência. Nesses anos, Jesus, vivendo junto de Maria e de José, estava redimindo a humanidade. Cada um dos seus atos, cada um dos seus gestos tinha infinito valor redentor. Pois bem, na vida oculta – como causa alegria considerar esta verdade! –, Cristo nos salva justamente cumulando de amor e de sentido divino as pequenas coisas da existência cotidiana: a vida em família, de que a Mãe é o centro; o trabalho na oficina de José; o descanso e as pequenas alegrias e sacrifícios do cotidiano..., enchendo de luz divina o caminho por onde discorre a vida da imensa maioria dos homens [vi].
Mas, se prestarmos atenção ao que o Evangelho nos relata sobre a vida oculta, descobriremos ainda algo mais. Como é que o Evangelho resume a atitude interior de Jesus ao longo desses trinta anos? De uma maneira muito simples, mas carregada de ensinamentos. São Lucas define com três palavras essa atitude: Era-lhes submisso [vii].
Quanto não diz esta breve frase! O Filho de Deus, o próprio Deus feito homem, quis passar a maior parte da sua vida obedecendo a Maria e a José – numa voluntária e amorosa submissão – e deixando-se guiar por eles. Sejam quais forem as consequências espirituais que se possam deduzir disto – e são muitas –, basta-nos agora sublinhar duas realidades: por um lado, Jesus Cristo quis ligar, vincular estreitamente a maior parte da sua vida terrena à vida de sua Mãe; por outro, decidiu – se nos é permitido falar assim – dar um enorme peso à vontade de sua Mãe, até o ponto de, como dizíamos, ter vivido trinta anos fazendo-lhe caso, obedecendo-lhe. Esta disposição de obediência de Cristo à Mãe é de grande importância para compreendermos o papel que Deus quis atribuir a Maria.

A VIDA PÚBLICA

A vida oculta de Jesus – envolta na normalidade do cotidiano no lar de Nazaré – teve, contudo, o seu termo. Com a idade de trinta anos, Cristo inicia uma nova etapa, completamente diferente: sai aos campos, às ruas e praças, prega a Boa Nova, faz milagres, rodeia-se de multidões... É a vida pública. Aparentemente, há uma ruptura radical com a sua anterior forma de existência. E também parece quebrar-se de maneira quase completa o encanto vivido no lar de Nazaré. Quem lê o Evangelho depara na vida pública com a ausência quase total de Maria. Teria Ela encerrado a sua missão? Não seria isso o que Jesus já teria insinuado aos doze anos, quando ficou no Templo, separando-se de seus pais? Após três dias de procura aflita, quando Maria e José reencontram o Menino conversando no Templo com os doutores da Lei, a Mãe pergunta-lhe com ansiedade: Filho, por que procedeste assim connosco? A resposta parece prenunciar que a futura missão do Messias deverá realizar-se com completa independência da Mãe: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai? [viii]. Será que essas palavras excluem a Mãe de Jesus da sua vida pública, quando o Filho de Deus se ocupa plenamente nas coisas de seu Pai? Todas estas interrogações exigem que prestemos uma particular atenção a tudo o que o Evangelho nos diz sobre Maria ao longo da nova etapa que se abre na vida de Cristo com o seu ministério público.

(cont)

FRANCISCO FAUS. [ix]





[i] Jean Guitton, A Virgem Maria, Tavares Martins, Porto, 1959, pág. 233
[ii] Concílio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, n. 56
[iii] Const. Lumen Gentium, n. 57
[iv] Lc 2, 11
[v] cfr. Lc 2, 22-35
[vi] cfr. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, Quadrante, São Paulo, 1975, págs. 14-15
[vii] Lc 2, 51
[viii] cfr. Lc 2, 41-52
[ix] MARIA, A MÃE DE JESUS QUADRANTE, São Paulo Copyright © 1987 Quadrante, Sociedade de Publicações Culturais

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?