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21/12/2017

Implora a misericórdia divina

Realmente, a cada um de nós, como a Lázaro, foi um "veni foras", sai para fora, que nos pôs em movimento. Que pena dão aqueles que ainda estão mortos, e não conhecem o poder da misericórdia de Deus! Renova a tua alegria santa porque, face ao homem que se desintegra sem Cristo, se levanta o homem que ressuscitou com Ele. (Forja, 476)


É bom que tenhamos considerado as insídias destes inimigos da alma: a desordem da sensualidade e a leviandade; o desatino da razão que se opõe ao Senhor; a presunção altaneira, esterilizadora do amor a Deus e às criaturas.

Todas estas disposições de ânimo são obstáculos certos e o seu poder perturbador é grande. Por isso a liturgia faz-nos implorar a misericórdia divina: a ti elevo a minha alma, Senhor, meu Deus. E em ti confio; não seja eu confundido! Não riam de mim os meus inimigos, rezamos no intróito. E na antífona do ofertório iremos repetir: espero em ti,; que eu não seja confundido!

Agora que se aproxima o tempo da salvação, dá gosto ouvir dos lábios de S. Paulo: depois de Deus, Nosso Salvador, ter manifestado a sua benignidade e o seu amor para com os homens, libertou-nos, não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por sua misericórdia.

Se lerdes as Santas Escrituras, descobrireis constantemente a presença da misericórdia de Deus: enche a terra, estende-se a todos os seus filhos, super omnem carnem; cerca-nos, antecede-nos, multiplica-se para nos ajudar e foi continuamente confirmada. Deus tem-nos presente na sua misericórdia, ao ocupar-se de nós como Pai amoroso. É uma misericórdia suave, agradável, como a nuvem que se desfaz em chuva no tempo da seca.


Jesus Cristo resume e compendia toda a história da misericórdia divina: Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. E, noutra ocasião: Sede pois misericordiosos como também vosso Pai é misericordioso. (Cristo que passa, 7)

Temas para meditar

A força do Silêncio, 141



Esquecemos frequentemente que Jesus gostava de estar em silêncio.

Ele partia para o deserto não para Se exilar, mas para encontrar Deus. (…)



CARDEAL ROBERT SARAH

Evangelho e comentário

Tempo do Advento


Evangelho: Lc 1, 39-45

39 Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40 Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42 Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43 E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44 Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45 Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»

Comentário:


Talvez que – poderíamos pensar- depois do Anjo a ter deixado, a Senhor mergulhasse em oração profunda, íntima e intensa com Deus.

Mas, ela surpreende-nos – sempre nos surpreende – porque o que faz é apressar-se a dar assistência à sua prima Isabel que, “já entrada em anos”, bem deveria precisar dela.

Os outros! A Senhora pensa nos outros, sempre, muito antes de os outros lhe pedirem o que for.
Está atenta, disponível, amável e carinhosa e, como em Caná, onde mais uma vez faz o mesmo, não nos diz outra coisa que:
«Fazei o que Ele vos disser»!

(AMA, comentário sobre Lc 1, 39-45, 14.09.2017)






Reflectindo

Expectativa


É uma forma de viver cada dia que passa:

logo... amanhã... para a semana...

o que se espera fazer ou se julga vai suceder.

projectos, desejos, sonhos.

Por isto tudo me esqueço do mais importante:

Viver o presente!



 (AMA. reflexões, 31.07.2007

Leitura espiritual

A PAZ NA FAMÍLIA

A IMAGEM IDEAL E A IMAGEM REAL

Muitos, sem nem darem por isso, fazem dos outros e, concretamente das pessoas da família, como um espelho de si mesmos. Encaram a mulher, o marido, os filhos, como espelhos em que gostariam de ver-se refletidos: sempre lhes agradaria contemplar neles os seus gostos, os seus desejos, os seus sonhos. Os outros só são estimados como projeção de si mesmos.
É preciso virar cento e oitenta graus esse espelho, é preciso abrir o coração e fazer o que, com expressão feliz, Gustavo Corção chamava “a descoberta do outro”.
“O marido, cheio de razões – escreve esse autor –, não admite que a mulher fale de certo modo, tenha tal tique ou qual mania. Que a sua maneira de andar, de partir o pão, de atender o telefone, seja a sua maneira. O confronto diário, entra ano sai ano, é insuportável para cada cônjuge [...]. Cada um se procura a si mesmo na face que lhe fica em frente e, nos dias piores, fica desvairado, atormentado, enlouquecido, como homem que visse no seu espelho uma imagem absurda, diferente da sua, a fazer gestos disparatados e femininos”.
Nesse clima de auto-procura, continua a dizer Corção, as pessoas “são coisas de mim mesmo que circulam fora de mim para melhor me servir. O eu fica no centro de um universo escuro, em volta estão os corpos tributários: este traz-me o café, aquele a carícia”.
Para quebrar esse curto-circuito perverso, é necessário fazer a “descoberta do outro”. A descoberta de que o marido, a mulher, os filhos, são o “outro”, que deve ser compreendido e amado por si mesmo. A caridade cristã leva, então, a ver nos outros membros da família o próximo, “esse que amaremos como a nós mesmos [...]. Vivemos esbarrando no próximo, porque não nos ocorre, na espessura da nossa escuridão, que ele tenha direito à objetividade, que seja o outro” [i].
Sim. Como custa entender que o cônjuge, ou o filho, ou a filha, ou os pais, sejam “eles”! No entanto, esse olhar compreensivo é o primeiro passo do entendimento, da paz, do amor.
Na realidade, qual é a causa mais profunda das desavenças, das brigas, dos maus humores, dos desentendimentos familiares? É que temos uma “imagem ideal” da pessoa (o que desejaríamos que a esposa, o filho, o pai fossem...), mas encontramo-nos a cada passo com a “imagem real”. Essa imagem real – que é a única que existe – irrita, decepciona. O choque com a imagem real, que parece arrebentar os sonhos ideais, azeda e desgasta o dia-a-dia, fere a harmonia familiar, que – rachada já por tantas incompreensões – pode ficar estilhaçada.
O primeiro passo do amor misericordioso consiste em procurar entender os outros, sabendo que são outros. Para isso, antes de mais nada é necessário respeitá-los. Um ser humano é um mundo que deve ser encarado com um respeito imenso. Deus faz assim connosco, dá-nos um enorme valor, embora sejamos – como somos – pobres pecadores: para Ele valemos o preço do sangue de Jesus Cristo.
“Cada criatura humana – diz um autor espiritual – é um enigma, uma palavra velada.
Todo o trabalho da caridade paciente consiste em decifrar esses enigmas e em encontrar o seu sentido” [ii].
Entender exige um acto consciente, um propósito deliberado de compreender. Como dizia um conhecido orientador familiar, “os amantes são aqueles que se amam; os esposos são aqueles que se empenham em amar-se” [iii].
Existe esse ato deliberado, esse empenho, quando alguém diz: “Eu, a partir de hoje, faço o propósito de esforçar-me seriamente por entender a minha mulher; eu quero entender o meu filho”.

OS CANAIS DA COMUNICAÇÃO

Se esse propósito for sincero, quem o fez logo verá que precisa de lutar contra vários defeitos que lhe dificultam a compreensão. Em primeiro lugar, terá de lutar contra o preconceito. No lar, os preconceitos podem ser inúmeros. “Já nos conhecemos!” – dizem uns aos outros; e assim, mal o marido abre a boca, a mulher, sem se dar ao trabalho de escutá-lo, corta: “Você já vem de novo com a mesma história, você não muda”; assim que o pai começa a explicar a dificuldade que tem de aumentar a mesada, logo o filho o interrompe: “Ah, pai, sempre podando”... Antes de ouvir, já se tem o filme do outro, pronto e revelado, como se as pessoas fossem clichês que não pudessem mudar.
Como é importante o “empenho” em entender: “Por que ele ou ela é assim? Como é mesmo por dentro? Que lhe acontece? Que teme? Que desejaria? O que o faz sofrer?...”
Não se trata de fazer “análise”. Deus nos livre do marido “analista” da mulher ou vice-versa. Mas trata-se, sim, de abrir o coração à compreensão. Para isso, é muito necessário aprender a bela arte de escutar, que nos permite amplificar os canais da comunicação, do diálogo compreensivo.
Não pratica certamente essa arte aquele tipo de marido que, chegando a casa com ar cansado, desaba na poltrona. A mulher está ansiosa por falar-lhe, e ele, abanando a cabeça como quem faz uma magnânima concessão a um ser inferior, diz-lhe: – “Vai, fala”. Ela desabafa enquanto ele olha para o infinito, com inexpressividade de peixe. – “Já acabou?”, pergunta ele e recolhe-se atrás do jornal.
Pelo contrário, pratica a arte de escutar aquele que deixa falar o outro: escuta-o com atenção até que termine; evita acusações ou desqualificações; não se serve de expressões do tipo “já sei, não precisa dizer-me”; toma cuidado com as interpretações erróneas de palavras, frases, gestos ou atitudes; sabe pedir amavelmente esclarecimentos; está atento ao assunto da conversa, sem pular abruptamente para outro; evita expressões cortantes como “Isso não admito”, “Não aguento esse modo de falar”, “Você não muda”, etc. [iv].
Só o respeito, sem preconceitos nem precipitações, pode levar a “entender” o outro.
E, quando a compreensão vai crescendo, deixa-se de dizer: “Ele deveria ser assim”, e passasse a dizer: “Ele é assim; portanto, o que é que eu devo fazer?”
Então, como diz o Papa, a nossa misericórdia “reavalia, promove e tira o bem de todas as formas de mal” (ou seja, dos defeitos, das limitações, das más disposições dos outros). É uma verdade comprovada que, quando procuramos compreender uma pessoa, facilmente descobrimos qual é a nossa atitude – a palavra, o silêncio – que mais a poderia ajudar, que poderia fazer-lhe maior bem. Nisso consiste a bondade de que fala São Paulo no texto que estamos a comentar [v]. Quando cada membro da família se esforça por entender os outros, todos acabam “entendendo-se” cada vez mais. Assim garantem a paz.

O CUME DA MISERICÓRDIA

O cume da misericórdia, como ensina Cristo, é o perdão. Mas, na vida em família, o perdão, muitas vezes é o cúmulo da dificuldade. Como custa perdoar no lar! E, no entanto, é muito mais daninho para a paz familiar guardar rancores, curtir ressentimentos e andar com revides, do que explodir momentaneamente, dando vazão à ira, ao grito e ao sopapo.
Creio que todos nós experimentamos um estremecimento quando encaramos de frente duas declarações de Cristo:
– depois de nos ensinar a rezar: perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, Jesus acrescenta: Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará (Mt 6, 12.15). Já imaginamos o que seria, para nós, o dia do Juízo, se Deus nos perdoasse só como nós perdoamos os outros?
– o segundo ensinamento deixa-nos pensativos e um tanto perturbados. Repetindo de certa forma o anterior, introduz um novo matiz. Cristo acaba de narrar a parábola do servo cruel, que tendo sido perdoado de uma grande dívida pelo seu senhor, não perdoa um companheiro que lhe deve uma insignificância. O senhor do servo castiga-o severamente e, como moral da parábola, Cristo conclui: Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um não perdoar a seu irmão de todo o coração (Mt 18, 35).
Há pessoas que parecem ter no coração um computador com capacidade de muitos gigas, em cuja memória se vão guardando todas as mágoas, perfeitamente contabilizadas:
“Não se lembrou do meu aniversário”, “Faz dez anos que não me traz flores nem bombons”, “Ela não aceitou a minha explicação «verdadeira» sobre os meus atrasos à noite e acusa-me de infidelidade”, “Quando éramos namorados, no dia tantos de tantos de mil novecentos e tantos, às dezoito e trinta e cinco horas, na esquina das ruas tal e qual, ele me ofendeu dizendo xis ou ípsilon”, “Ela passa o dia na casa da sua mãe, como se não tivesse marido e filhos”, “Ele não quis ir ao casamento do meu sobrinho, sabendo que magoava toda a minha família”, “Você disse isso porque meus pais são pobres”, e assim por diante.
Basta que qualquer faísca provoque uma irritação, basta uma má interpretação, uma crítica, uma zombaria ou um protesto, para que a pessoa que se sente ofendida “clique” no seu computador invisível e apareça no vídeo o arquivo dos “agravos”, com uma lista interminável. Essa enxurrada de reminiscências negativas cai então como um raio sobre o outro, reacende a fogueira das acusações mútuas e aumenta o círculo vicioso dos rancores e das recriminações. Adeus à paz! São Paulo sabia bem de que massa estamos feitos e, por isso, pensando no amor que gera a paz, dizia, como víamos acima: Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se um tiver contra outro motivo de queixa. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós (Ef 3, 13).
Como são importantes os pequenos perdões no lar! Esforcemo-nos, pelo menos, por calar-nos: não retruquemos, não firamos sensibilidades. Façamos um propósito espiritual altamente recomendável: “Nas discussões, lá em casa, eu faço questão de dizer a penúltima palavra”. Quem se obstina em dizer a última, inevitavelmente atiça a chama da discussão.
Mas calar-se não é carneirismo? Será que tenho que aceitar todas as injustiças e humilhações? Não. Às vezes, pode-se – e deve-se – cortar energicamente e na hora um despropósito, mas não há necessidade de cair numa interminável discussão, nem de ficar remoendo horas e dias. Outras vezes, convirá calar e esperar, e mais tarde, tentar um diálogo sereno e esclarecedor ou fazer uma correção tranquila; em outras ocasiões, nada facilitará tanto o arrependimento do outro como mostrar-lhe – sem humilhá-lo – grandeza de alma. Uma pessoa ofendida que trata bem, com coração magnânimo, aquele que o ofendeu, é moralmente “superior”, não pelo orgulho, mas pela bondade. Com isso, desarma o agressor, que pode perceber a sua tola mesquinhez em contraste com esse amor maior.

(cont)

FRANCISCO FAUS [vi]





[i] Gustavo Corção, A descoberta do outro, Agir, Rio de Janeiro, 1967, págs. 226-228;
[ii] Um Cartuxo, Silêncio com Deus, Aster, Lisboa, 1956, págs. 141-142;
[iii] Pedro-Juan Viladrich, A família “soberana”, em L'Osservatore Romano, 26.08.1994, pág. 5;
[iv] cfr. a obra do psiquiatra Enrique Rojas, Remedios para el desamor, Ediciones TH, Madrid, 1990, págs. 228 e segs.;
[v] Sobre a bondade, cfr. Francisco Faus, O homem bom, Quadrante, São Paulo, 1990.
[vi] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canónico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, os títulos:
O valor das dificuldades; O homem bom; Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens; A língua; A paciência; A voz da consciência.

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?