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18/12/2017

Deus costuma procurar instrumentos fracos

– Estamos gostosamente, Senhor, na tua mão chagada. Aperta-nos com força!, espreme-nos!, de modo que percamos toda a miséria terrena!, que nos purifiquemos, que nos inflamemos, que nos sintamos empapados no teu Sangue! E depois, lança-nos longe!, longe, com fome de messe, para uma sementeira cada dia mais fecunda, por Amor de Ti. (Forja, 5)


Sem grande dificuldade, poderíamos encontrar na nossa família, entre os nossos amigos e companheiros – para não me referir já ao imenso panorama do mundo – tantas pessoas mais dignas do que nós de receber o chamamento de Cristo. Mais simples, mais sábias, mais influentes, mais importantes, mais gratas, mais generosas...

Eu, ao pensar nisto, fico envergonhado. Mas compreendo também que a nossa lógica humana não serve para explicar as realidades da graça. Deus costuma procurar instrumentos fracos para que se manifeste com evidente clareza que a obra é sua. O próprio S. Paulo evoca com estremecimento a sua vocação; e por último, depois de todos, foi também visto por mim, como por um aborto. Porque eu sou o mínimo dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Assim escreve Paulo de Tarso, homem de uma personalidade e de um vigor que a história não fez mais do que engrandecer.

Fomos chamados sem mérito algum da nossa parte, dizia-vos. Realmente, na base da nossa vocação está o conhecimento da nossa miséria, a consciência de que as luzes que iluminam a alma – a fé – o amor com que amamos – a caridade – e o desejo que nos mantém – a esperança – são dons gratuitos de Deus. Por isso, não crescer em humildade significa perder de vista o objectivo da escolha divina: ut essemus sancti, a santidade pessoal.


Agora, tomando como ponto de partida essa humildade, podemos compreender toda a maravilha da chamada divina. A mão de Cristo colheu-nos num trigal: o semeador aperta na sua mão chagada o punhado de trigo; o sangue de Cristo banha a semente, empapa-a. Depois, o Senhor lança ao ar esse trigo, para que, morrendo, seja vida e, afundando-se na terra, seja capaz de multiplicar-se em espigas de oiro. (Cristo que passa, 3)

Temas para meditar

A força do Silêncio, 118


No silêncio, a alegria de Deus torna-se a nossa alegria.


Estar em silêncio diante de Deus é quase como ser semelhante a Deus.



CARDEAL ROBERT SARAH

Evangelho e comentário

Tempo do Advento


Evangelho: Mt 1, 18-25

18 Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava desposada com José; antes de coabitarem, notou-se que tinha concebido pelo poder do Espírito Santo. 19 José, seu esposo, que era um homem justo e não queria difamá-la, resolveu deixá-la secretamente. 20 Andando ele a pensar nisto, eis que o anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, ao qual darás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.» 22 Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 23 Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. 24 Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. 25 E, sem que antes a tivesse conhecido, ela deu à luz um filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus.

Comentário:


Entre muitas outras o Senhor usa-os para transmitir aos homens assuntos de suma importância como neste caso, com São José.

Sem pretender especular pode perceber-se que não conhecendo Deus, isto é, como é Deus, seria difícil a qualquer um aceitar uma mensagem dada directamente, mas, um Anjo tem uma identidade que o ser humano reconhece quase imediatamente.

Depois, pelo teor da mensagem, melhor se convence que quem lhe fala ou inspira o faz por expressa ordem recebida directamente de Deus.

(AMA, comentário sobre Mt 1, 18-25, 12.09.2017)








Leitura espiritual

A PAZ NA FAMÍLIA

A HORA E A VEZ DOS MARIDOS

…/2

Mais suave, mas não menos perturbador, é o caso do marido que não pode prescindir de bater bola, mas pode prescindir de dedicar-se à mulher e aos filhos. Acabado o jogo, diz ter necessidade de hidratar-se com uma cervejinha (ponham-se de cinco a sete garrafas), o que o leva também à sesta reparadora e a uns resultados muito parecidos com o do caso anterior.
O egoísmo, às vezes, chega a ser tamanho, que a mulher percebe que o marido não a considera senão como um objecto utilitário e um meio de prazer. Ela garante mesa, roupa limpa, crianças cuidadas, cama e satisfação do apetite sexual.
O sultão deixa-se cuidar, exigente e mal-humorado. Só fica carinhoso e amável quando quer sexo, e então a mulher – com toda a razão – se arrasa toda por dentro, porque se sabe e se sente simplesmente usada, não amada.
Não será sanha excessiva mencionar ainda mais um tipo de egoísmo masculino bem comum?
Para suavizar, falaremos dele literariamente. Tolstoi descreve-o muito bem na famosa novela A morte de Ivan Ilitch.
O magistrado que protagoniza a história percebe, após o nascimento do primeiro filho, que a esposa se está tornando azeda, exigente e rabugenta. Não lhe ocorre perguntar-se como compreendê-la e ajudá-la, mas como livrar-se o mais possível das irritações dela (naquela época, o divórcio ainda não era moeda corrente).
“À medida que aumentavam a irascibilidade e as exigências da mulher – escreve Tolstoi –, Ivan Ilitch ia transportando o centro de gravidade da sua vida para o trabalho [...].
Exigia da vida familiar tão só as comodidades que esta podia dar-lhe [...]. Se tropeçava com alguma resistência ou mau-humor, imediatamente seguia para o seu mundo particular, o do serviço, em que se achava à vontade [...].
Todo o interesse da sua vida se concentrava no mundo do serviço. E esse interesse o absorvia por inteiro” [i].
Não parece necessário acrescentar mais nada: essa fuga do lar, refugiando-se no trabalho, é tão atual neste século como no passado.
E, com isto, encerramos a primeira parte desta obra. Como é lógico, uma descida aos porões nunca é muito agradável, sobretudo se os porões são sombrios, como os que acabamos de visitar. Mas, como essa visita foi apenas um passo prévio para subir aos cimos, vamos guardar, de tudo o que vimos até aqui, um pensamento muito claro.
Tanto o orgulho como o egoísmo comodista coincidem num ponto essencial: no culto ao “eu”, na colocação do “eu” como centro da vida familiar. E, quando isso acontece, a paz familiar torna-se impossível. Esta constatação servir-nos-á de pista de decolagem para a segunda parte, em que procuraremos ganhar altura e adquirir uma perspectiva cristã sobre a vida familiar.

A FAMÍLIA EM PERSPECTIVA

EGOÍSMO E REALIZAÇÃO

Como acabamos de ver, o egoísmo é o rumo errado da família. Sob a tirania do “eu”, a paz familiar torna-se impossível.
À primeira vista, essa afirmação parece óbvia, sobretudo depois de termos contemplado os efeitos devastadores do egoísmo no lar. No entanto, para muitas pessoas, não parece tão óbvia assim.
Por que o egoísmo haveria de ser o rumo errado do casamento e da família? É um facto incontestável que um número elevadíssimo de pessoas julga hoje, na prática, que o egoísmo não só não é errado, como é e deve ser o rumo natural da vida familiar e da vida em geral. Só que, em vez de falarem em egoísmo, falam em realização. Detestam a palavra egoísmo e adoram a palavra realização.
Há, porém, um pequeno detalhe: dentro da sua filosofia de vida, egoísmo e realização significam exactamente a mesma coisa.
Para a maioria das pessoas, com efeito, o casamento, a família – algum tipo de família –, faz parte importante do seu programa de realização pessoal. É natural que os jovens pensem no futuro e planejem o que julgam que os poderá “realizar”, trazendo-lhes bem-estar, crescimento, auto-estima e felicidade. Propõem-se, para isso, umas metas profissionais, e também a meta de um amor humano, da constituição de uma família que encarne os seus sonhos e aspirações.
Até aqui, não há nada a objectar. Acontece, contudo, que esses rapazes e moças – sem nem darem por isso – situam a família dentro de um programa de realização pessoal que está viciado na sua própria raiz pela mentalidade materialista, característica do mundo actual.
Cada vez mais, o mundo desliza para uma civilização utilitarista e hedonista, que entende a realização do indivíduo como o máximo acúmulo de benefícios úteis e de prazeres, com a mínima despesa possível de renúncias e sacrifícios; um mundo em que o relacionamento com as outras pessoas visa, principalmente, o “proveito” e o “prazer” pessoal; em suma, um mundo em que o relacionamento interpessoal tem a forma, o peso e a medida do interesse individual.
O “utilitarismo hedonista”, conhecido vulgarmente com o nome de “direito-de-ser-feliz”, acaba, então, por justificar tudo: larga-se abruptamente o marido ou a mulher, quando manter-se fiel “custa”; parte-se facilmente para uma nova união, à caça da felicidade (de “sentir-se bem”, de encontrar-se “a si mesmo”), ainda que, com isso, se deixem os filhos privados de um verdadeiro lar e machucados com traumas irreversíveis; ou, então, foge-se do sacrifício de ter que criá-los, como faz o chupim, pelo simples sistema de não tê-los ou de matá-los no ventre materno quando, ainda dentro dele, começam a incomodar.
No meio desse radical egoísmo, subsiste, contudo, em muitos casos o desejo de ter uma família..., mas só na medida em que for útil para a realização pessoal; subsiste o desejo de ter filhos, mas somente se isso dá gosto aos pais; e o de não tê-los – este é bem mais frequente –, se há o receio de que perturbem as ascensões profissionais (especialmente a “realização independente” da mulher), ou o lazer, ou as viagens internacionais, ou a posse e consumo de mais bens materiais.
Com que pena ouvia eu, recentemente, o que me contava um rapaz recém-casado, entusiasmado com a ideia de ter logo um filho. Uma jovem vizinha de apartamento, recém-casada também, ao saber do seu entusiasmo, fez um trejeito de nojo e comentou:
“Filhos? Nunca! Só «enchem»!”

TRÊS DESVIOS E UM BRADO DE ALERTA

Se pensarmos bem, perceberemos que esses egoístas procuram a paz e a felicidade por três vias tortas – desvios e não caminhos –, que não podem proporcionar a paz simplesmente porque são uma radical inversão dos valores, porque são uma “desordem”, no sentido mais profundo dessa palavra.
Lembremo-nos de que a paz, como dizia Santo Agostinho, é a tranquilidade na ordem.
A paz, com efeito, vem da harmonia, da ordem equilibrada e certa, quer no interior do ser humano, quer nas suas relações com Deus e com o próximo: da ordem dos valores, dos amores, dos deveres, da ordem entre o que é apenas um meio e o que é um fim, entre o que tem valor absoluto e o que tem valor relativo, entre o que é eterno e o que é transitório.
Pois bem, a verdadeira ordem “humana” postula três coisas: colocar o amor acima do prazer, o dever moral acima do gosto pessoal, e Deus e o próximo acima dos interesses mesquinhos do “eu”. A sociedade utilitarista e hedonista, no entanto, preconiza o contrário:
apregoa que deve colocar-se o prazer acima do amor, o gosto acima do dever moral, e o “eu” acima de Deus e dos outros. Nesse quadro de valores invertidos, a paz da alma, que precisa do ar saudável da ordem para subsistir, não acha como respirar e se extingue.
São muito ilustrativas as biografias de grandes desfrutadores (gente famosa na tela dos cinemas e das televisões, e nos cadernos especiais dos jornais e revistas), que – após terem feito a experiência de seis, sete ou mais casamentos, todos esfrangalhados – acabam procurando em vão nas drogas ou no álcool a paz que destruíram com o seu egoísmo.
É natural que, em face dessa civilização do interesse e da fruição, o Papa João Paulo II erga a sua voz – como um brado de alerta e de esperança – em defesa da “civilização do amor”. O diagnóstico que faz na sua Carta às famílias é de uma lucidez transparente: “O utilitarismo é uma civilização da produção e do desfrute, uma civilização das «coisas» e não das «pessoas»; uma civilização em que as pessoas se usam como se usam as coisas.
No contexto da civilização do desfrute, a mulher pode tornar-se para o homem um objecto, os filhos um obstáculo para os pais, a família uma instituição embaraçosa para a liberdade dos membros que a compõem [...].
Na base do utilitarismo ético, está, como se sabe, a procura desenfreada do «máximo» de felicidade: mas de uma felicidade utilitarista, vista apenas como prazer, como imediata satisfação e vantagem exclusiva do próprio indivíduo, fora das exigências objetivas do verdadeiro bem ou mesmo contra elas”  [ii].

(cont)

FRANCISCO FAUS [iii]




[i] Leão Tolstoi, Obra completa, vol. III, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1993, págs. 917-918;
[ii] Carta às famílias, n. 13;
[iii] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canónico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, os títulos:
O valor das dificuldades; O homem bom; Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens; A língua; A paciência; A voz da consciência.

Diálogos apostólicos - II Parte

O JUÍZO PARTICULAR E FINAL – 7 


Pergunto:

No juízo final saber-se-á tudo? 

Respondo:

No juízo final sairão à luz pública as obras boas e más de cada pessoa com as suas consequências. Incluídas as omissões ou obras boas que se deixaram de fazer.
Os bons receberão a honra pública pelas suas boas acções, ainda que na terra tenha passado ocultas. Os seus pecados já confessados e purificados não terão importância salvo para aplaudir a sua contrição e a misericórdia divinas. Por exemplo, são Pedro será muito celebrado por ser a pedra sobre a qual se edificou a Igreja; as suas negações não têm nem terão nenhuma relevância: o seu arrependimento é o que conta.

Os condenados sofrerão a confusão e desonra pública que a sua obstinação merece.

Bento XVI – Pensamentos espirituais 167

Jesus e a Igreja

Koinonía

A comunhão é um dom que também tem consequências muito reais: faz-nos sair da solidão e de nós mesmos e torna-nos participantes no amor que nos une a Deus e uns aos outros. Se pensarmos nas divisões e nos conflitos que afligem as relações entre as pessoas, os grupos e os povos, facilmente compreenderemos a grandeza deste dom [...].

A «comunhão» é realmente a Boa Nova, o remédio que o Senhor nos dá contra a solidão que hoje a todos ameaça, o dom precioso que nos faz sentir acolhidos e amados em Deus, na unidade do seu povo reunido em nome da Trindade.

Catequese da audiência geral, (29.Mar.06)

 (in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

Pequena agenda do cristão

SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?