Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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19/07/2017
Tantos anos a lutar...
Surgiram nuvens negras de falta de vontade, de
perda de entusiasmo. Caíram aguaceiros de tristeza, com a clara sensação de te
encontrares atado. E, como remate, vieram os desânimos, que nascem de uma
realidade mais ou menos objectiva: tantos anos a lutar... e ainda estás tão
atrasado, tão longe! Tudo isso é necessário, e Deus conta com isso. Para
conseguirmos o "gaudium cum pace" – a paz e a alegria verdadeiras –
havemos de acrescentar à certeza da nossa filiação divina, que nos enche de
optimismo, o reconhecimento da nossa própria fraqueza pessoal. (Sulco, 78)
Mesmo nos momentos em que percebemos mais profundamente a nossa
limitação, podemos e devemos olhar para Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito
Santo, sabendo-nos participantes da vida divina. Nunca existe razão suficiente
para voltarmos atrás: o Senhor está ao nosso lado. Temos que ser fiéis, leais,
encarar as nossas obrigações, encontrando em Jesus o amor e o estímulo para
compreender os erros dos outros e superar os nossos próprios erros. Assim,
todos esses desalentos – os teus, os meus, os de todos os homens – servem
também de suporte ao reino de Cristo.
Reconheçamos as nossas fraquezas, mas confessemos o poder de Deus.
O optimismo, a alegria, a convicção firme de que o Senhor quer servir-se de nós
têm de informar a vida cristã. Se nos sentirmos parte dessa Igreja Santa, se
nos considerarmos sustentados pela rocha firme de Pedro e pela acção do
Espírito Santo, decidir-nos-emos a cumprir o pequeno dever de cada instante:
semear todos os dias um pouco. E a colheita fará transbordar os celeiros. (Cristo que passa, 160)
Reflectindo - 267
Muitas vezes
deixamos que a ansiedade tome conta de nós e nos condicione o bem-estar.
Algo que
estamos à espera que aconteça, alguém que ficou de telefonar ou vir ter
connosco, enfim, a vida corrente de todos os dias.
Há que ter bem
presente que o quer que seja que nos põe nesse estado acontecerá, ou não,
independentemente da nossa ânsia.
Se o assunto é
importante, encomendemos ao Anjo da Guarda, à Santíssima Virgem, e descansemos
tranquilamente.
Ganharemos
muito, sobretudo na tranquilidade que necessitamos para enfrentar algum revés
que eventualmente suceda.
(AMA, reflexões, Carvide, 27.01.2017)
Evangelho e comentário
Evangelho:
Mt 11, 25-27
25Naquela
ocasião, Jesus tomou a palavra e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da
Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos entendidos e as
revelaste aos pequeninos. 26Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado. 27Tudo
me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai, como
ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.»
Comentário:
Pode parecer que se as
revelações de Jesus tivessem sido feitas aos sábios – os chefes do povo – estes
poderiam ter acreditado e, assim, conduzirem por caminho seguro aqueles que
deles dependiam.
Mas, de facto, o Senhor
falou sempre para todos e, a prova disso, é que vários chefes – do Sinédrio,
como Nicodemos, ou de sinagogas – ouviram, entenderam e acreditaram.
Mas, também de facto, os que
acreditaram em Jesus e O seguiram foram muito mais gente do povo anónimo,
talvez sem grande instrução, mas sequiosos de uma doutrina que lhes trouxesse
esperança e alívio ao mesmo tempo.
Quem sabe muito tem muito
maior responsabilidade, esta é a verdade, mas quem sabe pouco tem em si mesmo
uma muito maior disposição para ver e ouvir e, sobretudo, acreditar no que vêm
e ouvem.
(AMA,
comentário sobre Mt 11, 25-27, 16.03.2017)
UM ANÚNCIO DA DEGRADAÇÃO
Vi
na televisão, recentemente, um anúncio de uma conhecida bebida, que é o exemplo
“perfeito” de como este mundo caminha a passos largos para a total degradação.
O anúncio consta de um homem que está a trabalhar numa piscina,
quase em troco nu, e que via limpando o suor da sua cara. Obviamente o actor é
um suposto modelo de homem, passe o termo, irresistível!
Vê-se então uma rapariga nova, (que depois se depreende ser a
filha da família que vive na casa), que olha atentamente, podemos dizer,
excitadamente, para o “trabalhador” em causa.
Noutra janela, um rapaz, (que depois se depreende ser o filho da
família que vive na casa), com uma postura nitidamente efeminada, faz a mesma
coisa que a rapariga, ou seja, olha atenta e excitadamente para o “limpador” da
piscina.
Na cena seguinte, ambos, a rapariga e o rapaz, correm para o
frigorífico, para ir buscar uma garrafa da tal bebida, e fazem uma corrida, com
alguns percalços, para ver qual é o primeiro a servir o “trabalhador”, na mira
óbvia de lhe agradar para os fins que se percebem.
Espantamo-nos então porque ao chegarem perto do homem, verificam
que ele já está a beber a tal bebida, que lhe foi trazida por aquela que se
presume ser a mãe dos jovens, e que também está “embevecida” com a figura do
referido homem.
Não preciso explicar a ninguém o que tudo isto significa de
degradação moral, mas ainda posso acrescentar que, como é óbvio numa mensagem
destas, produzida para este mundo cada vez mais amoral, a figura do pai não
existe!
E assim nos entra pela casa adentro a agenda política e social de
um mundo em degradação.
Chamam-lhe “politicamente correcto”, o que em boa verdade se chama
e é apenas a “obra do diabo”!
Até mesmo, com tristeza o digo, algumas vozes da Igreja defendem
que a Palavra de Deus, os ensinamentos de Cristo, devem ser reinterpretados à
“luz” do mundo, ou seja, deste mundo amoral.
(Antes que alguém se aproveite deste escrito, aviso desde já que
não me refiro de modo nenhum ao Papa Francisco.)
Caminhamos apressadamente para o “fim do império romano”, ou seja,
uma degradação que não terá retorno, a não ser quando de alguma forma
“implodir” a sociedade de hoje, para renascer uma nova sociedade.
E quem se levantar para dizer algo, para protestar, para tentar
mostrar a imoralidade da mensagem, etc., é “apontado a dedo”, é gozado, é
perseguido pelas inúmeras organizações criadas por gente política com uma
agenda bem precisa de degradação da sociedade.
E, no entanto, a Palavra de Deus “nunca” foi tão actual:
«Envio-vos como ovelhas para
o meio dos lobos; sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as
pombas. Tende cuidado com os homens: hão-de entregar-vos aos tribunais e
açoitar-vos nas suas sinagogas; sereis levados perante governadores e reis, por
minha causa, para dar testemunho diante deles e dos pagãos.
Mas, quando vos
entregarem, não vos preocupeis nem como haveis de falar nem com o que haveis de
dizer; nessa altura, vos será inspirado o que tiverdes de dizer. Não sereis vós
a falar, mas o Espírito do vosso Pai é que falará por vós. O irmão entregará o
seu irmão à morte, e o pai, o seu filho; os filhos hão-de erguer-se contra os
pais e hão-de causar-lhes a morte. E vós sereis odiados por todos, por causa do
meu nome. Mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo.»
Mt 10, 16-22
«Então, irão entregar-vos à
tortura e à morte e, por causa do meu nome, todos os povos irão odiar-vos.
Nessa altura, muitos sucumbirão e hão-de trair-se e odiar-se uns aos outros.
Surgirão muitos falsos profetas, que hão-de enganar a muitos. E porque se
multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos; mas aquele que se
mantiver firme até ao fim será salvo.» Mt 24, 9-13
Não nos calemos, não deixemos sobretudo de dar testemunho cristão,
repitamos uns aos outros “não tenhas medo”, porque a nossa força, a nossa
confiança, a nossa esperança, vem de Deus, do Deus que nos criou no Seu amor.
«Foi-me dado todo o poder no
Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto
vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos
tempos.» Mt 28, 19-20
(Joaquim Mexia Alves, Marinha Grande, 17 de Julho de 2017)
Epístolas de São Paulo – 106
APÊNDICE (13,1-25)
Últimas recomendações
- 1 Que permaneça a caridade fraterna. 2 Não vos esqueçais da
hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos.
3 Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos que são
maltratados, porque também vós tendes um corpo. 4 Seja o matrimónio honrado por
todos e imaculado o leito conjugal, pois Deus julgará os impuros e os
adúlteros. 5 Vivei sem avareza, contentando-vos com o que possuís, porque o
próprio Deus disse: Não te deixarei nem te abandonarei. 6 Assim, podemos dizer
confiadamente: O Senhor é o meu auxílio; não temerei; que poderá fazer-me um
homem? 7 Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a palavra de Deus;
observai o êxito da sua conduta e imitai a sua fé. 8 Jesus Cristo é o mesmo, ontem,
hoje e pelos séculos. 9 Não vos deixeis levar por doutrinas diversas e
estranhas, porque é bom que o coração seja fortalecido pela graça e não por
alimentos, que de nada aproveitaram aos que insistiam nessa observância. 10 Nós
temos um altar do qual não têm o direito de comer os que servem na tenda. 11 De
facto, os corpos dos animais, cujo sangue é levado pelo Sumo Sacerdote ao
santuário para a expiação dos pecados, são queimados fora do acampamento. 12 Por
isso, também Jesus, para santificar o povo com o seu próprio sangue, padeceu
fora das portas. 13 Saiamos, então, ao seu encontro fora do acampamento,
suportando a sua humilhação, 14 porque não temos aqui cidade permanente, mas
procuramos a futura. 15 Por meio dele, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício
de louvor, ist o é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. 16 Não vos
esqueçais de fazer o bem e de repartir com os outros, pois são esses os
sacrifícios que agradam a Deus. 17 Sede submissos e obedecei aos que vos guiam,
pois eles velam pelas vossas almas, das quais terão de prestar contas; que eles
o façam com alegria e não com gemidos, o que não seria vantajoso para vós.
18 Rezai por nós, pois estamos convencidos de ter uma boa consciência e
desejamos comportar-nos bem em tudo. 19 Exorto-vos com maior insistência a que o
façais, para que eu vos seja restituído mais depressa.
Epístolas de São Paulo – 105
IV. A FÉ PERSEVERANTE (10,19-12,29)
A fé exemplar dos
antepassados
- 1 Ora a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza
daquelas que não se vêem. 2 Foi por ela que os antigos foram aprovados. 3 Pela
fé, sabemos que o mundo foi organizado pela palavra de Deus, de modo que o que
se vê provém de coisas não visíveis. 4 Pela fé, Abel ofereceu a Deus um
sacrifício maior que o de Caim; com base nela, foi declarado justo, porque Deus
aceitou os seus dons e, por meio dela, fala ainda depois da morte. 5 Pela fé,
Henoc foi arrebatado, para não ver a morte, e não foi encontrado porque Deus o
tinha levado. Porém, antes de ser levado, obtivera o testemunho de que tinha
agradado a Deus. 6 Ora, sem a fé é impossível agradar-lhe; e quem se aproxima de
Deus tem de acreditar que Ele existe e recompensa aqueles que o procuram. 7 Pela
fé, Noé, avisado acerca de coisas que ainda se não viam, e, tomando o aviso a
sério, construiu uma Arca para salvar a sua família; por essa fé, condenou o
mundo e tornou-se herdeiro da justiça que se obtém pela fé. 8 Pela fé, Abraão,
ao ser chamado, obedeceu e partiu para um lugar que havia de receber como
herança e partiu sem saber para onde ia. 9 Pela fé, estabeleceu-se como
estrangeiro na Terra Prometida, habitando em tendas, tal como Isaac e Jacob,
co-herdeiros da mesma promessa, 10 pois esperava a cidade bem alicerçada, cujo
arquitecto e construtor é o próprio Deus. 11 Pela fé, também Sara, apesar da sua
avançada idade, recebeu a possibilidade de conceber, porque considerou fiel
aquele que lho tinha prometido. 12 Por isso, de um só homem, e já marcado pela
morte, nasceu uma multidão tão numerosa como as estrelas do céu e incontável
como a areia da beira-mar. 13 Foi na fé que todos eles morreram, sem terem obtido
os bens prometidos, mas tendo-os somente visto e saudado de longe, confessando
que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. 14 Ora, os que assim falam
mostram que procuram uma pátria. 15 Se eles tivessem pensado naquela que tinham
deixado, teriam tido oportunidade de lá voltar; 16 mas agora eles aspiram a uma
pátria melhor, isto é, à pátria celeste. Por isso, Deus não se envergonha de
ser chamado o «seu Deus», porque preparou para eles uma cidade. 17 Pela fé,
Abraão, quando foi posto à prova, ofereceu Isaac, e estava preparado para
oferecer o seu único filho, ele que tinha recebido as promessas e 18 a quem
tinha sido dito: Por meio de Isaac será assegurada a tua descendência. 19 De
facto, ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso,
numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho. 20 Pela fé, Isaac abençoou
Jacob e Esaú, relativamente às coisas futuras. 21 Pela fé, Jacob, estando para
morrer, abençoou cada um dos filhos de José e prostrou-se, apoiando-se na
extremidade do seu bastão. 22 Pela fé, José, no fim da vida, evocou o êxodo dos
filhos de Israel e deu instruções acerca dos seus ossos. 23 Pela fé, Moisés,
acabado de nascer, foi escondido durante três meses pelos seus pais, porque
viram que o menino era belo e não tiveram medo do decreto do rei. 24 Pela fé,
Moisés, já crescido, recusou ser chamado filho da filha do Faraó, 25 preferindo
ser maltratado com o povo de Deus, a desfrutar por breve tempo o gozo do
pecado. 26 Ele considerou a humilhação de Cristo uma riqueza maior do que os
tesouros do Egipto, pois tinha os olhos fixos na recompensa. 27 Pela fé, deixou
o Egipto, sem temer a ira do rei, mantendo-se firme, como se contemplasse o
Invisível. 28 Pela fé, celebrou a Páscoa e fez a aspersão do sangue, a fim de
que o Exterminador não tocasse nos primogénitos de Israel. 29 Pela fé,
atravessaram o Mar Vermelho como se fosse terra seca, ao passo que os egípcios
foram engolidos quando tentavam passar. 30 Pela fé, caíram as muralhas de
Jericó, depois de terem sido circundadas durante sete dias. 31 Pela fé, Raab, a
prostituta, não pereceu com os incrédulos, por ter acolhido pacificamente os
espiões. 32 Que mais direi? Faltar-me-ia o tempo se quisesse falar acerca de
Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, David e Samuel e dos profetas, 33 os quais, pela
fé, conquistaram reinos, exerceram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a
boca de leões, 34 extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada,
da fraqueza, recobraram a força, tornaram-se fortes na guerra, e puseram em
fuga exércitos estrangeiros. 35 Algumas mulheres recuperaram os seus mortos por
meio da ressurreição. Alguns foram torturados, não querendo aceitar a
libertação, para obterem uma ressurreição melhor; 36 outros sofreram a prova dos
escárnios e dos flagelos, das cadeias e da prisão. 37 Foram apedrejados,
serrados ao meio, mortos ao fio da espada; andaram errantes cobertos de peles
de ovelhas e de cabras, necessitados, atribulados e maltratados; 38 homens de
quem o mundo não era digno, andaram vagueando pelos desertos, pelos montes,
pelas grutas e pelas cavidades da terra. 39 E todos estes, apesar de terem
recebido um bom testemunho, graças à sua fé, não alcançaram a realização da
promessa, 40 porque Deus tinha previsto algo de melhor para nós, de modo que
eles não alcançassem a perfeição sem nós.
Pequena agenda do cristão
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito:
Simplicidade e modéstia.
Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.
Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.
Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.
Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.
Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?
Fátima: Centenário - Vida de Maria - 30
A voz do Magistério
O Magnificat é um cântico
que revela em filigrana a espiritualidade dos anawim bíblicos, isto é, daqueles fiéis que se reconhecem
"pobres" não só no desapego de qualquer idolatria da riqueza e do
poder, mas também na humildade profunda do coração, despojado da tentação do
orgulho, aberto à irrupção da graça divina que salva…
O primeiro movimento do
cântico mariano [i] é
uma espécie de voz solista que se eleva em direcção ao céu para alcançar o
Senhor. Ouvimos precisamente a voz de Nossa Senhora que fala assim do seu
Salvador, que fez maravilhas na sua alma e no seu corpo. Com efeito, observe-se
o ressoar constante da primeira pessoa: "A minha alma... o meu espírito...
meu salvador... chamar-me-ão bem-aventurada... fez grandes coisas em
mim...". A alma da oração é, portanto, a celebração da graça divina que
transbordou no coração e na existência de Maria, tornando-a a Mãe do Senhor.
A estrutura íntima do seu
canto é, portanto, o louvor, o agradecimento, a alegria agradecida. Mas este
testemunho pessoal não é solitário, intimista ou puramente individualista,
porque a Virgem Mãe está consciente de ter uma missão a cumprir pela humanidade
e de que a sua vida se insere na história da salvação. E assim pode dizer:
"A sua misericórdia estende-se de geração em geração sobre aqueles que o
temem"[ii].
Com este louvor ao Senhor, Nossa Senhora dá voz a todas as criaturas redimidas,
que no seu Fiat, assim como na figura de Jesus nascido da Virgem, encontram a
misericórdia de Deus.
Neste ponto desenvolve-se o
segundo movimento poético e espiritual do Magnificat[iii].
Ele possui uma tonalidade mais coral, como que se à voz de Maria se associasse
a da inteira comunidade dos fiéis que celebram as escolhas surpreendentes de
Deus. No original grego do Evangelho de Lucas temos sete verbos no aoristo [iv],
que indicam igual número de acções que o Senhor realiza de modo permanente na
história: "Manifestou o poder do seu braço... dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu-os de bens...
despediu os ricos... acolheu Israel".
Nestas sete acções divinas é
evidente o "estilo" no qual o Senhor da história inspira o seu
comportamento: ele declara-se do lado dos últimos. O seu projecto com
frequência está escondido sob o terreno obscuro das vicissitudes humanas, que
vêem triunfar "os soberbos, os poderosos e os ricos". Contudo a sua
força secreta está destinada a revelar-se no final, para mostrar quem são os
verdadeiros predilectos de Deus: "Os que o temem", fiéis à sua
palavra; "os humildes, os famintos, Israel seu servo", isto é, a
comunidade do povo de Deus que, como Maria, está constituída por aqueles que
são "pobres", puros e simples de coração. É aquele "pequeno
rebanho" que está convidado a não temer, porque ao Pai aprouve conceder-lhe
o seu reino[v]. E assim
este cântico convida a associarmo-nos a este pequeno rebanho, a ser realmente
membros do Povo de Deus na pureza e na simplicidade do coração no amor de Deus.
Aceitemos então o convite,
que no seu comentário ao texto do Magnificat, nos dirige santo Ambrósio. O
grande Doutor da Igreja diz: "Esteja em cada um a alma de Maria que
engrandece o Senhor, esteja em todos o espírito de Maria que exulta em Deus;
se, segundo a carne, uma só é a mãe de Cristo, segundo a fé todas as almas
geram Cristo; de facto, cada uma acolhe em si o Verbo de Deus... A alma de
Maria engrandece o Senhor, e o seu espírito exulta em Deus, porque, consagrada
com a alma e com o espírito ao Pai e ao Filho, ela adora com afecto devoto um
só Deus, do qual tudo provém, e um só Senhor, em virtude do qual todas as
coisas existem"[vi].
Neste maravilhoso comentário
do Magnificat de santo Ambrósio sensibiliza-me de modo particular a palavra
surpreendente: "Se, segundo a carne, uma só é a mãe de Cristo, segundo a
fé todas as almas geram Cristo: de facto cada uma acolhe em si o Verbo de
Deus". Assim o santo Doutor, interpretando as palavras de Nossa Senhora,
convida-nos a fazer com que o Senhor encontre um abrigo na nossa alma e na
nossa vida. Não devemos apenas levá-lo no coração, mas devemos levá-lo ao
mundo, de forma que também nós possamos gerar Cristo para o nosso tempo.
Peçamos ao Senhor que nos ajude a magnificá-lo com o Espírito e com a alma de
Maria e a levar de novo Cristo ao nosso mundo.
Bento
XVI (séc. XXI), Discurso na audiência geral, 15-II-2006.