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14/04/2017

Fátima: Centenário - Poemas

MÃE IMACULADA


Da Virgem-Mãe o seio imaculado,
ficou intacto ao dar o seu Jesus,
como fica o cristal atravessado
pelo raio puríssimo de luz.

Assim é mais sublime o seu estado,
cuja beleza a todos nos seduz,
tem mais encanto o seu olhar sagrado
que nos impele ao bem e a Deus conduz.

Ó Mãe Inviolada, ó Virgem pura,
acolhendo em teus braços com ternura
os filhos que suplicam teu favor,
a paixão lhes inspira da pureza,
ódio intenso à corrupta natureza
e ao erro, ao mal, ao vício eterno horror.

Visconde de Montelo, Paráfrase da Ladainha Lauretana, 1956 [i]



[i] Cónego Manuel Nunes Formigão
1883 - Manuel Nunes Formigão nasce em Tomar, a 1 de Janeiro. 1908 - É ordenado presbítero a 4 de Abril em Roma. 1909 - É laureado em Teologia e Direito Canónico pela Universidade Gregoriana de Roma. 1909 - No Santuário de Lourdes, compromete-se a divulgar a devoção mariana em Portugal. 1917 - Nossa Senhora aceita o seu compromisso e ele entrega-se à causa de Fátima. 1917 / 1919 - Interroga, acompanha e apoia com carinho os Pastorinhos. - Jacinta deixa-lhe uma mensagem de Nossa senhora, ao morrer. 1921 - Escreve o livro: "Os Episódios Maravilhosos de Fátima". 1922 - Integra a comissão do processo canónico de investigação às aparições. 1922 - Colabora e põe de pé o periódico "Voz de Fátima". 1924 - A sua experiência de servita de Nossa Senhora em Lurdes, leva-o a implementar idêntica actividade em Fátima. 1928 - Escreve a obra mais importante: "As Grandes Maravilhas de Fátima". 1928 - Assiste à primeira profissão religiosa da Irmã Lúcia, em Tuy. Ela comunica-lhe a devoção dos primeiros sábados e pede-lhe que a divulgue. 1930 - Escreve "Fátima, o Paraíso na Terra". 1931 - Escreve "A Pérola de Portugal". 1936 - Escreve " Fé e Pátria". 1937 - Funda a revista "Stella". 1940 - Funda o jornal "Mensageiro de Bragança". 1943 - Funda o Almanaque de Nossa Senhora de Fátima. 1954 – Muda-se para Fátima a pedido do bispo de Leiria-Fátima 1956 - Escreve sonetos compilados na "Ladainha Lauretana". 1958 – Morre em Fátima. 06/01/1926 - Funda a congregação das Religiosas Reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima. 11/04/1949 – A congregação por ele fundada é reconhecida por direito diocesano. 22/08/1949 – Primeiras profissões canónicas das Religiosas. 16/11/2000 - A Conferência Episcopal Portuguesa concede a anuência por unanimidade, para a introdução da causa de beatificação e canonização deste apóstolo de Fátima. 15/09/2001 - Festa de Nossa Senhora das Dores, padroeira da congregação - É oficialmente aberto o processo de canonização do padre Formigão. 16/04/2005 – É oficialmente encerrado e lacrado o processso de canonização do padre Formigão.
Fátima, 28 Jan 2017 (Ecclesia) – Decorreu hoje a cerimónia de trasladação dos restos mortais do padre Manuel Nunes Formigão, conhecido como 'o apóstolo de Fátima, do cemitério local para um mausoléu construído na Casa de Nossa Senhora das Dores.
A celebração de trasladação deste sacerdote e servo de Deus começou com uma concentração, rua Francisco Marto, 203, com centenas de pessoas, seguida de saída para o cemitério da Freguesia de Fátima.
Na eucaristia inserida neste evento, na Basílica da Santíssima Trindade, do Santuário de Fátima, D. António Marto destacou uma figura que "se rendeu ao mistério e à revelação do amor de Deus, da beleza da sua santidade tal como brilhou aos pastorinhos de Fátima".
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda o padre Manuel Formigão como alguém que "captou de uma maneira admirável para o seu tempo, a dimensão reparadora da vivência da fé tão sublinhada na mensagem de Fátima".

Nota de AMA:
Este livro de Sonetos foi por sua expressa vontade, depois da sua morte, devidamente autografado, entregue a meu Pai. Guardo o exemplar como autêntica relíquia.

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Meditação em Sexta-Feira Santa

Ah!, escuta isto tão triste:

Eu olhava à Minha volta, miseravelmente abandonado por todos os homens, e os próprios amigos que Me tinham seguido, permaneciam afastados de Mim…
Assim estava… roubadas as Minhas vestes.
Ali estava… reduzido à impotência, vencido.
Tratavam-Me sem piedade…
Para onde quer que Me voltasse, não achava à Minha volta senão dor e amargo sofrimento.
A Meus pés estava a Mãe dolorosa, e o seu coração maternal sofria por tudo o que Eu no Meu corpo padecia.
E estando na angústia e na ansiedade supremas da morte, erguiam-se eles contra Mim e increpavam-Me com gritos cruéis de troça, voltavam para Mim as suas cabeças escarnecendo-Me e aniquilavam-Me dentro dos seus corações completamente como se fora um verme desprezível. Mas Eu continuava firme, e ainda rogava por eles amorosamente ao Meu querido Pai.
Olha como Eu, inocente cordeiro, era comparado aos culpados. 
Por um deles fui escarnecido, mas o outro implorou-Me.
E imediatamente acolhi-o e perdoei-Lhe todos os seus pecados; Eu abri-Lhe as portas do paraíso celestial.
Sim, na Minha inesgotável misericórdia, clamei ao Meu Pai muito amorosamente por aqueles que Me crucificavam, por aqueles que dividiam a Minha roupa… e pelos que a Mim, Rei de todos os reis, Me amarfanhavam no Meu angustioso penar e vergonhosa humilhação.
E estando ali, tão falto de ajuda e tão completamente abandonado, as feridas emanando sangue, os olhos lacrimejantes, os braços distendidos, as veias de todos os Meus membros inchadas, na agonia da morte, rompi em voz lastimosa e invoquei abatido a Meu Pai dizendo:

Deus Meu, porque Me abandonaste?

Vê pois que, estando derramado quase todo o Meu sangue e esgotadas todas as Minhas forças, senti na Minha agonia uma amarga sede; mas ainda estava mais sedento da salvação de todos os homens.
Na Minha sede exacerbada foram então oferecidos vinagre e fel.
E então, uma vez conseguida a salvação humana, disse:

Consummatum est!

Prestei obediência completa a Meu Pai até à morte.
E encomendei nas Suas mãos o Meu espírito dizendo:

Nas Tuas mãos encomendo o Meu espírito.

E a Minha nobre alma abandonou então o Meu divino corpo. Contemplai-Me agora no alto tronco da Cruz.
A Minha mão direita atravessava-a um cravo, a Minha mão esquerda estava perfurada, o Meu braço direito desconjuntado e o esquerdo dolorosamente esticado.
O Meu pé direito trespassado e o esquerdo cruelmente atravessado. Pendia Eu impotente, mortalmente cansados os Meus divinos membros; todos eles; delicados, ficaram esmagados pelo duro suplício da cruz.
O Meu sangue febril, teve de necessariamente de transbordar incontível por várias vezes; coberto por ele e sangrento, o Meu corpo agonizante dava lástima ver-se.
Contempla o espectáculo lamentável:
o Meu corpo jovem, florescente, começava a minguar, a encolher-se a desfazer-se…
O Meu corpo inteiro estava coberto de feridas e cheio de dor…
Os Meus olhos claros, apagados…
Aos Meus ouvidos não chegavam senão troças e ultrajes…
Toda a Terra não Me pode oferecer nenhum lugar para um pequeno descanso, pois a Minha divina cabeça estava vencida pela dor e pela fadiga; a Minha cor, empalidecendo.
Olha:
a Minha formosa figura morria então tal como estivesse sido um homem leproso em vez da formosa encarnação da Sabedoria.
Compadecida de Mim, apagou-se, inclusivamente, a luz dos céus da Hora Sexta à Hora Nona.
Depois disto o Meu lado foi atravessado por uma afiada lança; brotou então um jorro do preciosíssimo sangue e, com ele, uma fonte da água da vida para reanimar tudo o que estava morto e esgotado e reconfortar todos os corações sedentos.


(Das geistliche Leben II 2ª parte, cap. IV - VON SERVAIS PINCKAERS - HEINRICH SEUSE DENIFLE,) 

Fátima: Centenário - Oração Jubilar de Consagração


Salve, Mãe do Senhor,
Virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima!
Bendita entre todas as mulheres,
és a imagem da Igreja vestida da luz pascal,
és a honra do nosso povo,
és o triunfo sobre a marca do mal.

Profecia do Amor misericordioso do Pai,
Mestra do Anúncio da Boa-Nova do Filho,
Sinal do Fogo ardente do Espírito Santo,
ensina-nos, neste vale de alegrias e dores,
as verdades eternas que o Pai revela aos pequeninos.

Mostra-nos a força do teu manto protector.
No teu Imaculado Coração,
sê o refúgio dos pecadores
e o caminho que conduz até Deus.

Unido/a aos meus irmãos,
na Fé, na Esperança e no Amor,
a ti me entrego.
Unido/a aos meus irmãos, por ti, a Deus me consagro,
ó Virgem do Rosário de Fátima.

E, enfim, envolvido/a na Luz que das tuas mãos nos vem,
darei glória ao Senhor pelos séculos dos séculos.


Ámen.

Hoy el reto del amor es sonreír desde dentro de ti a cinco personas.

ERROR DE CÁLCULO

Estábamos desayunando y llamaron al torno: nos avisaron de que había pasado un camión junto al monasterio y, como llevaba la pluma mal recogida, se había llevado por delante los cables de la luz que cruzan la calle, y también estropeó las tuberías del gas.

¡Ufffff, qué revuelo se preparó! Las casas de enfrente del monasterio se quedaron sin luz y sin gas; los cables de la fachada del convento se habían desprendido llevándose consigo piedras de la tapia...  En un minuto, la zona se llenó de gente. Y todo había sido cuestión de que la pluma del camión no estaba bien recogida.

Cuando nos pasaron las fotos y vimos el destrozo, me impresionó mucho: por no llevar bien recogido todo, se había llevado por delante lo fundamental para vivir en una casa.

Y así ocurre algunas veces en mi vida: por no llevar bien recogido el carácter, los destrozos que hago son impresionantes. Si no llevo dentro de mi vida el amor, sino el juicio, todo lo que me encuentre me lo voy a llevar por delante. Si no llevo dentro de mi vida la paciencia, sino la inquietud, el desasosiego, todo lo que me encuentre lo arrasaré. Y todo por no dejar que mi vida la rija Cristo desde el amor. Él es el único que cambia tu vida, que pone amor donde hay juicio, paciencia donde hay inquietud, cercanía donde hay distancia... Sólo Él sabe cómo tienes que recoger la pluma de tu vida, porque, si no llevas nada sobresaliendo, te darás cuenta de que todo transcurre con paz.

Hoy el reto del amor es sonreír desde dentro de ti a cinco personas. Te vas a dar cuenta de que el amor genera amor; descubrirás que, si optas por orar y amar, tu vida siempre llevará la pluma dentro y, si sobresale alguna vez, pues te bajarás del camión y arreglarás todo lo que te hayas llevado por delante, porque con Cristo todos los problemas tienen solución.


VIVE DE CRISTO

Reflectindo 242

Vaidade

Como definir vaidade?

Talvez como desejo de protagonismo?
Auto consideração?
Ânsia de proeminência?
Julgar-se "especial"?

Mas, de certeza, é sempre uma comparação com outro, ou outros, uma avaliação do que fazem ou dizem, do que sabem ou conhecem e, evidentemente, fazemos, dizemos com mais interesse, conhecermos mais e daremos ainda mais.

Não?
A vaidade não traz estes sentimentos?

Claro que sim porque o vaidoso é alguém que se considera áparte, especial, não se confunde com a massa anónima, é reconhecido, apontado e invejado.

Temos assim que vaidade e a inveja quase sempre andam juntas, em primeiro lugar porque o vaidoso está convencido que é invejado e, depois, porque quer a todo o custo superar o outro em algo que se reconhece - o que é difícil - como menos dotado ou capaz.

Se não se corrige, o vaidoso, torna-se alguém insuportável e, seguramente, num solitário.



(ama, reflexões, 2016.11.23)

Doutrina – 269

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ

SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ

CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

48. Como é que a Igreja exprime a sua fé trinitária?

A Igreja exprime a sua fé trinitária confessando um só Deus em três Pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. As três Pessoas divinas são um só Deus, porque cada uma delas é idêntica à plenitude da única e indivisível natureza divina. Elas são realmente distintas entre si, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho.



Epístolas de São Paulo – 45

2ª Epístola de São Paulo aos Coríntios

III. DEFESA DE PAULO (10,1-13,13)

Capítulo 10

Refutação das calúnias

1Sou eu mesmo, Paulo, quem vos exorta pela mansidão e bondade de Cristo. Eu, que sou tão humilde quando estou no meio de vós, na vossa presença, mas tão ousado para convosco, quando estou longe! 2Rogo-vos que, quando estiver presente, não me obrigueis a usar da autoridade com que penso dever afrontar aqueles que consideram o nosso comportamento inspirado por critérios humanos. 3Pois, embora vivamos numa natureza frágil, não lutamos por motivos humanos. 4As armas do nosso combate não são de origem humana, mas, por Deus, são capazes de destruir fortalezas. Destruímos os sofismas 5e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus e cativamos todo o pensamento para o conduzir à obediência a Cristo. 6Estamos prontos a punir qualquer desobediência, quando a vossa obediência for completa. 7Olhai as coisas de frente. Se alguém está convencido de pertencer a Cristo, tome consciência, de uma vez por todas, de que assim como ele é de Cristo, também nós o somos. 8E ainda que eu me gloriasse em excesso do poder que Deus nos deu para a vossa edificação, e não para a vossa ruína, não teria de que me envergonhar. 9Não quero, porém, dar a impressão de querer intimidar-vos por cartas, 10porque - dizem eles - «as suas cartas são duras e enérgicas, mas quando está presente é fraco e a sua palavra, desprezível.» 11Aquele que assim fala saiba que, tal como sou em palavras, por cartas, quando estou ausente, tal serei também por acções, quando estiver presente. 12Em verdade, não ousamos igualar-nos ou comparar-nos a alguns daqueles que se recomendam a si mesmos. Medindo-se pela sua própria medida e comparando-se consigo mesmos, dão provas de pouco senso. 13Quanto a nós, não nos gloriaremos desmedidamente, mas de acordo com a norma que Deus nos atribuiu para poder chegar até vós. 14De facto, não ultrapassamos os limites, como seria o caso, se não tivéssemos chegado até vós, pois fomos mesmo ter convosco com o Evangelho de Cristo. 15Não nos gloriamos desmedidamente com trabalhos alheios. Temos a esperança de que, com os progressos da vossa fé, cresceremos cada vez mais em vós, segundo a norma que nos foi dada, 16levando o Evangelho para além das vossas fronteiras, sem contudo entrarmos em campo alheio, para não nos gloriarmos de trabalhos já feitos. 17Quem se gloria, que se glorie no Senhor, 18pois não é aquele que se recomenda a si próprio que é aprovado, mas aquele que o Senhor recomenda.


Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS


Vol. 2

LIVRO X

CAPÍTULO XVIII

A oposição dos contrários torna mais patente a beleza do Mundo na ordem que Deus lhe conferiu.

Deus não teria criado nenhum, já não digo dos anjos, mas mesmo nenhum dos homens, cuja malícia futura previra, se igualmente não tivesse conhecido os meios de os mudar em proveito dos bons, e assim embelezar a ordem dos séculos, com o um formosíssimo poema de variadas antíteses. Realmente, aquilo a que se chama antítese é um dos mais graciosos ornamentos do discurso que em latim se poderia   chamar oposição ou, mais expressivamente, contraste. Embora este termo não esteja em uso entre nós, a figura é um dos ornamentos de estilo de que o latim, ou antes, as línguas de todos os povos, também faz uso. Na segundo Epístola aos Coríntios é por antíteses que o apóstolo Paulo rodeia com suavidade aquela passagem em que diz:

Com as armas da justiça combatemos à direita e à esquerda: gloriosos e obscuros desacreditados e honrados, como sedutores e verídicos, como se nos ignorassem e nos conhecessem, quase moribundos e, todavia, pujantes de vida, castigados, mas não exterminados, tristes, mas sempre alegres, pobres mas a muitos enriquecendo, nada tendo e tudo possuindo. [i]

Ora, assim com o a oposição dos contrários em beleza o discurso, assim também um a espécie de eloquência, não das palavras, mas das coisas, põe em relevo, por uma semelhante oposição, a beleza do Mundo. Isto no-lo manifesta com toda a clareza o livro do Eclesiástico desta maneira:

Em frente do mal está o bem; em face da morte está a vida. Da mesma forma em frente do justo está o pecador.

E assim contempla todas as obras do Altíssimo: todas, duas a duas, uma oposta à outra.
[ii]


CAPÍTULO XIX

Como é que parece que se deve entender o que está escrito Deus separou a luz das trevas.

A própria obscuridade da palavra divina tem esta vantagem: suscita e esclarece várias explicações verdadeiras quando uns a entendem de uma forma e outros de outra forma (contanto que o que numa passagem se entende com dificuldade se confirme com o testemunho de factos manifestos ou com outras passagens bem claras;
— quer se acabe, enquanto se esclarecem muitas questões, por encontrar o pensamento do escritor, quer, embora continue oculto, se manifestem outras verdades durante o aprofundar dessa obscuridade). Parece-me que não é uma opinião em desacordo com as obras de Deus ver a criação dos anjos na criação da luz primitiva e a separação dos anjos santos dos anjos impuros nesta frase:

E Deus separou a luz das trevas e à luz chamou dia e
noite às trevas,
[iii]

— pois só pôde separar estas coisas Aquele que antecipadamente pôde saber, antes da queda, quais viriam a cair e, privados da luz da verdade, permaneceriam nas trevas do orgulho. Quanto ao dia e à noite que conhecemos, isto é, a nossa luz e as nossas trevas, Deus ordenou a esses luzeiros do Céu que ferem os nossos sentidos que estabelecessem a separação, ao dizer:

Façam-se luzeiros no firmamento do céu para que brilhem sobre a terra e separem o dia da noite;[iv]

e pouco depois:

E Deus fez dois grandes luzeiros o maior para presidir ao dia e o menor para presidir à noite; e fez também as estrelas. E colocou-os Deus no firmamento do céu para brilharem sobre a terra e presidirem ao dia e à noite e separarem a luz das trevas.[v]

Mas entre esta luz que é a sociedade santa dos anjos aos quais o brilho da verdade dá um esplendor inteligível, e as trevas contrárias, isto é, os sombrios espíritos dos maus anjos desviados da luz da justiça só pode estabelecer a divisão Aquele para quem o mal futuro (mal não da natureza mas da vontade) não pode estar escondido ou obscuro.


CAPÍTULO XX

Acerca das palavras E viu Deus que a luz era boa, proferidas logo a seguir à separação da luz das trevas.

Convém, por fim, não esquecer que, quando Deus disse:

Faça-se a luz e a luz foi feita [vi]

logo acrescenta:

E Deus viu que a luz era boa [vii]

— e isto, antes de Deus ter separado a luz das trevas e de ter chamado dia à luz e noite às trevas, para que não parecesse que lhe agradavam as tais trevas misturadas com a luz. De facto, sendo inimputáveis as trevas (entre as quais e esta luz visível aos nossos olhos os luzeiros do Céu estabeleceram a separação), não foi antes, mas depois desta separação que se disse:

E Deus viu que isso era bom.[viii]

O que se disse foi:

E pô-los no firmamento do céu para brilharem sobre a terra e presidirem ao dia e à noite e separarem a luz das trevas. E Deus viu que isso era bom.[ix]

Ambas — luz e trevas — lhe agradavam porque ambas eram sem pecado. Mas quando Deus diz:

Faça-se a luz e a luz foi feita
E Deus viu que a luz era boa,

e em seguida se lê:

E separou Deus a luz das trevas e Deus chamou dia à
luz e noite às trevas,

não acrescenta:

E Deus viu que isso era bom

para evitar chamar a um a e outra conjuntamente quando uma das duas era má, aliás não por natureza, mas por seu próprio vício. Foi por isso que apenas a luz agradou ao Criador. Quanto às trevas angélicas, embora tivessem de ser submetidas a uma ordem, não tinham, porém, de ser destinadas a ser aprovadas.



(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] II Cor., VI, 7-10.
[ii] Ecles., XXXIII, 15.
[iii] Gen., I, 4-6.
[iv] Gen., I, 14.
[v] Gen., I, 16-18.
[vi] Gen., I, 3.
[vii] Ibid.
[viii] Ibid.
[ix] Ibid.

Evangelho e comentário

Semana Santa

Sexta-Feira da Paixão do Senhor

Evangelho: Jo 18, 1. 19-42

Naquele tempo, Jesus saiu com os seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia lá um jardim, onde Ele entrou com os seus discípulos. Judas, que O ia entregar, conhecia também o local, porque Jesus Se reunira lá muitas vezes com os discípulos. Tomando consigo uma companhia de soldados e alguns guardas, enviados pelos príncipes dos sacerdotes e pelos fariseus, Judas chegou ali, com archotes, lanternas e armas. Sabendo Jesus tudo o que Lhe ia acontecer, adiantou-Se e perguntou-lhes: «A quem buscais?». Eles responderam-Lhe: «A Jesus, o Nazareno». Jesus disse-lhes: «Sou Eu». Judas, que O ia entregar, também estava com eles. Quando Jesus lhes disse: «Sou Eu», recuaram e caíram por terra. Jesus perguntou-lhes novamente: «A quem buscais?». Eles responderam: «A Jesus, o Nazareno». Disse-lhes Jesus: «Já vos disse que sou Eu. Por isso, se é a Mim que buscais, deixai que estes se retirem». Assim se cumpriam as palavras que Ele tinha dito: «Daqueles que Me deste, não perdi nenhum». Então, Simão Pedro, que tinha uma espada, desembainhou-a e feriu um servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas Jesus disse a Pedro: «Mete a tua espada na bainha. Não hei-de beber o cálice que meu Pai Me deu?». Então, a companhia de soldados, o oficial e os guardas dos judeus apoderaram-se de Jesus e manietaram-n’O. Levaram-n’O primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote nesse ano. Caifás é que tinha dado o seguinte conselho aos judeus: «Convém que morra um só homem pelo povo». Entretanto, Simão Pedro seguia Jesus com outro discípulo. Esse discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote, enquanto Pedro ficava à porta, do lado de fora. Então o outro discípulo, conhecido do sumo sacerdote, falou à porteira e levou Pedro para dentro. A porteira disse a Pedro: «Tu não és dos discípulos desse homem?». Ele respondeu: «Não sou». Estavam ali presentes os servos e os guardas, que, por causa do frio, tinham acendido um braseiro e se aqueciam. Pedro também se encontrava com eles a aquecer-se. Entretanto, o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. Jesus respondeu-lhe: «Falei abertamente ao mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Porque Me interrogas? Pergunta aos que Me ouviram o que lhes disse: eles bem sabem aquilo de que lhes falei». A estas palavras, um dos guardas que estava ali presente deu uma bofetada a Jesus e disse-Lhe: «É assim que respondes ao sumo sacerdote?». Jesus respondeu-lhe: «Se falei mal, mostra-Me em quê. Mas, se falei bem, porque Me bates?». Então Anás mandou Jesus manietado ao sumo-sacerdote Caifás. Simão Pedro continuava ali a aquecer-se. Disseram-lhe então: «Tu não és também um dos seus discípulos?». Ele negou, dizendo: «Não sou». Replicou um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha: «Então eu não te vi com Ele no jardim?». Pedro negou novamente, e logo um galo cantou. Depois, levaram Jesus da residência de Caifás ao Pretório. Era de manhã cedo. Eles não entraram no pretório, para não se contaminarem e assim poderem comer a Páscoa. Pilatos veio cá fora ter com eles e perguntou-lhes: «Que acusação trazeis contra este homem?». Eles responderam-lhe: «Se não fosse malfeitor, não t’O entregávamos». Disse-lhes Pilatos: «Tomai-O vós próprios, e julgai-O segundo a vossa lei». Os judeus responderam: «Não nos é permitido dar a morte a ninguém». Assim se cumpriam as palavras que Jesus tinha dito, ao indicar de que morte ia morrer. Entretanto, Pilatos entrou novamente no pretório, chamou Jesus e perguntou-Lhe: «Tu és o Rei dos judeus?». Jesus respondeu-lhe: «É por ti que o dizes, ou foram outros que to disseram de Mim?». Disse-Lhe Pilatos: «Porventura sou eu judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a Mim. Que fizeste?». Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui». Disse-Lhe Pilatos: «Então, Tu és Rei?». Jesus respondeu-lhe: «É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz». Disse-Lhe Pilatos: «Que é a verdade?». Dito isto, saiu novamente para fora e declarou aos judeus: «Não encontro neste homem culpa nenhuma. Mas vós estais habituados a que eu vos solte alguém pela Páscoa. Quereis que vos solte o Rei dos judeus?». Eles gritaram de novo: «Esse não. Antes Barrabás». Barrabás era um salteador. Então Pilatos mandou que levassem Jesus e O açoitassem. Os soldados teceram uma coroa de espinhos, colocaram-Lha na cabeça e envolveram Jesus num manto de púrpura. Depois aproximavam-se d’Ele e diziam: «Salve, Rei dos judeus». E davam-Lhe bofetadas. Pilatos saiu novamente para fora e disse: «Eu vo-l’O trago aqui fora, para saberdes que não encontro n’Ele culpa nenhuma». Jesus saiu, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse-lhes: «Eis o homem». Quando viram Jesus, os príncipes dos sacerdotes e os guardas gritaram: «Crucifica-O! Crucifica-O!». Disse-lhes Pilatos: «Tomai-O vós mesmos e crucificai-O, que eu não encontro n’Ele culpa alguma». Responderam-lhe os judeus: «Nós temos uma lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque Se fez Filho de Deus». Quando Pilatos ouviu estas palavras, ficou assustado. Voltou a entrar no pretório e perguntou a Jesus: «Donde és Tu?». Mas Jesus não lhe deu resposta. Disse-Lhe então Pilatos: «Não me falas? Não sabes que tenho poder para Te soltar e para Te crucificar?». Jesus respondeu-lhe: «Nenhum poder terias sobre Mim, se não te fosse dado do alto. Por isso, quem Me entregou a ti tem maior pecado». A partir de então, Pilatos procurava libertar Jesus. Mas os judeus gritavam: «Se O libertares, não és amigo de César: todo aquele que se faz rei é contra César». Ao ouvir estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado «Lagedo», em hebraico «Gabatá». Era a Preparação da Páscoa, por volta do meio-dia. Disse então aos judeus: «Eis o vosso Rei!». Mas eles gritaram: «À morte, à morte! Crucifica-O!». Disse-lhes Pilatos: «Hei-de crucificar o vosso Rei?». Replicaram-lhe os príncipes dos sacerdotes: «Não temos outro rei senão César». Entregou-lhes então Jesus, para ser crucificado. E eles apoderaram-se de Jesus. Levando a cruz, Jesus saiu para o chamado Lugar do Calvário, que em hebraico se diz Gólgota. Ali O crucificaram, e com Ele mais dois: um de cada lado e Jesus no meio. Pilatos escreveu ainda um letreiro e colocou-o no alto da cruz; nele estava escrito: «Jesus, o Nazareno, Rei dos judeus». Muitos judeus leram esse letreiro, porque o lugar onde Jesus tinha sido crucificado era perto da cidade. Estava escrito em hebraico, grego e latim. Diziam então a Pilatos os príncipes dos sacerdotes dos judeus: «Não escrevas: ‘Rei dos judeus’, mas que Ele afirmou: ‘Eu sou o Rei dos judeus’». Pilatos retorquiu: «O que escrevi está escrito». Quando crucificaram Jesus, os soldados tomaram as suas vestes, das quais fizeram quatro lotes, um para cada soldado, e ficaram também com a túnica. A túnica não tinha costura: era tecida de alto a baixo como um todo. Disseram uns aos outros: «Não a rasguemos, mas lancemos sortes, para ver de quem será». Assim se cumpria a Escritura: «Repartiram entre si as minhas vestes e deitaram sortes sobre a minha túnica». Foi o que fizeram os soldados. Estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Ao ver sua Mãe e o discípulo predilecto, Jesus disse a sua Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua Mãe». E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa. Depois, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: «Tenho sede». Estava ali um vaso cheio de vinagre. Prenderam a uma vara uma esponja embebida em vinagre e levaram-Lha à boca. Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou: «Tudo está consumado». E, inclinando a cabeça, expirou. Por ser a Preparação, e para que os corpos não ficassem na cruz durante o sábado, – era um grande dia aquele sábado – os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados vieram e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao outro que tinha sido crucificado com ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. Aquele que viu é que dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro. Ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. Assim aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz: «Nenhum osso Lhe será quebrado». Diz ainda outra passagem da Escritura: «Hão-de olhar para Aquele que trespassaram». Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, embora oculto por medo dos judeus, pediu licença a Pilatos para levar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu-lho. José veio então tirar o corpo de Jesus. Veio também Nicodemos, aquele que, antes, tinha ido de noite ao encontro de Jesus. Trazia uma mistura de quase cem libras de mirra e aloés. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em ligaduras juntamente com os perfumes, como é costume sepultar entre os judeus. No local em que Jesus tinha sido crucificado, havia um jardim e, no jardim, um sepulcro novo, no qual ainda ninguém fora sepultado. Foi aí que, por causa da Preparação dos judeus, porque o sepulcro ficava perto, depositaram Jesus.

Comentário:

Na verdade, não há comentário a fazer a não ser aconselhar a leitura detida e muito consciente deste trecho do Evangelho escrito por São João.

(ama, nota a Jo 18, 1. 19-42, 12.12.2016)





Meu Pai do Céu, ajuda-me

A ti, que desmoralizas, repetir-te-ei uma coisa muito consoladora: a quem faz o que pode, Deus não lhe nega a Sua graça. Nosso Senhor é Pai, e se um filho lhe diz na quietude do seu coração: Meu Pai do Céu, aqui estou, ajuda-me... Se recorre à Mãe de Deus, que é Mãe nossa, vai para a frente. Mas Deus é exigente. Pede amor de verdade; não quer traidores. É preciso ser fiel a essa luta sobrenatural, que é ser feliz na terra à força de sacrifício. (Via Sacra, 10ª Estação, n. 3)

Recorrei semanalmente – e sempre que o necessiteis, sem dar lugar aos escrúpulos – ao santo Sacramento da Penitência, ao sacramento do perdão divino. Revestidos da graça, caminharemos por entre os montes e subiremos a encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos. Utilizando estes recursos com boa vontade e rogando ao Senhor que nos conceda uma esperança cada dia maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem filhos de Deus: Se Deus está connosco, quem nos poderá derrotar? Optimismo, portanto. Incitados pela força da esperança, lutaremos para apagar a mancha viscosa que espalham os semeadores do ódio e redescobriremos o mundo com uma perspectiva jubilosa, porque saiu formoso e limpo das mãos de Deus, e restituir-lho-emos assim belo, se aprendermos a arrepender-nos.

Cresçamos na esperança, que deste modo nos consolidaremos na fé, verdadeiro fundamento das coisas que se esperam e prova das que não se veem. Cresçamos nesta virtude, que é suplicar ao Senhor que aumente a sua caridade em nós, porque só se confia verdadeiramente no que se ama com todas as forças. E vale a pena amar o Senhor. Vós haveis experimentado, como eu, que a pessoa enamorada se entrega confiante, com uma sintonia maravilhosa, em que os corações batem num mesmo querer. E que será o Amor de Deus? Não sabeis que Cristo morreu por cada um de nós? Sim, por este nosso coração pobre, pequeno, se consumou o sacrifício redentor de Jesus.


Frequentemente, o Senhor fala-nos do prémio que nos ganhou com a sua Morte e Ressurreição. Vou preparar um lugar para vós. Depois que eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo para que, onde eu estou, estejais Vós também. O Céu é a meta do nosso caminho terreno. Jesus Cristo precedeu-nos e ali, na companhia da Virgem e de S. José – a quem tanto venero – dos Anjos e dos Santos, aguarda a nossa chegada. (Amigos de Deus, nn. 219–220)