Páginas

03/03/2017

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

Epístolas de São Paulo - 6

Carta aos Romanos – 6 

INTRODUÇÃO (1,1-17)

Apresentação e saudação

1Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus, 2que Ele de antemão prometera por meio dos seus profetas, nas santas Escrituras, 3acerca do seu Filho, nascido da descendência de David segundo a carne, 4constituído Filho de Deus em poder, segundo o Espírito santificador pela ressurreição de entre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso; 5por Ele recebemos a graça de sermos Apóstolos, a fim de, em honra do seu nome, levarmos à obediência da fé todos os gentios, 6entre os quais estais também vós, chamados a ser de Cristo Jesus; 7a todos os amados de Deus que estão em Roma, chamados a ser santos: graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!

Oração pelos cristãos de Roma

8Antes de mais, dou graças ao meu Deus por todos vós, por meio de Jesus Cristo, pois a vossa fé é proclamada em todo o mundo. 9Pois Deus - a quem presto culto no meu espírito, anunciando o Evangelho do seu Filho - me é testemunha de como constantemente me lembro de vós, 10pedindo sempre nas minhas orações que tenha, finalmente, ocasião de ir ter convosco; assim Deus o queira.
11É que eu anseio por vos ver, para vos comunicar algum dom espiritual e assim vos fortalecer, 12ou antes, para, estando convosco, ser reconfortado pela fé que nos é comum, a vós e a mim.
13Não quero que ignoreis, irmãos, que muitas vezes me propus ir ter convosco - do que tenho sido impedido até agora - a fim de também entre vós obter algum fruto, do mesmo modo que entre os restantes gentios. 14Tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes eu sou devedor. 15Daí o propósito que tenho de também vos anunciar o Evangelho, a vós que estais em Roma.

O Evangelho, tema da Carta

16Eu não me envergonho do Evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo o crente, primeiro o judeu e depois o grego. 17Pois nele a justiça de Deus revela-se através da fé, para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé.


(cont)

Hoy el reto del amor es que pidas al Señor que vuelva a entrar en ti.

NO ES UN CHICLE

En la sala de trabajo tenemos unas mesas que nos llegaron de un colegio. Estábamos trabajando sobre ellas y se me cayó un bolígrafo al suelo; me agaché a cogerlo y, al levantarme, miré debajo del tablero de la mesa. Nunca lo había hecho, y comprobé que había unos bultitos verdes, blancos y rosas bordeandola....

Oh, oh... ¿Sabes qué eran? ¡Chicles! ¡Había chicles pegados por todos los sitios! Y me quedé pensando en los chicles. El chicle no se come, se mastica, y hay dos momentos en los que se saca de la boca:

1. Cuando pierde su sabor.

2. Cuando empieza la clase, una reunión... que no sabes muy bien qué hacer con él y, como en el caso de la mesa... lo pegas donde buenamente puedes para resolver el momento de emergencia.

Ahora pienso en el Señor, en cuántos momentos puedes pensar que tu relación con Él ha perdido su sabor, que resulta inoportuno o incómodo en el momento por el que estás pasando, convirtiéndole en ese "chicle" que pegamos debajo de la mesa.

Pero Cristo nunca pierde su sabor y quiere permanecer a tu lado en todo momento. Es el único capaz de colmar aquello que tanto anhela tu corazón, de regalarte la Felicidad con mayúscula en tus circunstancias, en tu ambiente. Puede que haga tiempo que le sacaste de tu vida porque se había convertido en "chicle" para ti, perdiendo su sabor cargado de normas, preceptos inalcanzables y carentes de sentido para ti. Miedos, heridas que no le han dejado entrar.

¿Y si pruebas a tragártelo? Para que Cristo entre en tu vida necesita que le "tragues", necesita entrar en ti y, desde ti, a tu familia, a tu trabajo, a tus amigos. A base de rumiar es verdad que todo se convierte en costumbre, en algo cultural, y pierde su sabor.

Hoy el reto del amor es que pidas al Señor que vuelva a entrar en ti. Despégale de la mesa, deja que entre en ti. ¡ Siéntele vivo!


VIVE DE CRISTO

Doutrina - 228

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA 

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»

CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM

A REVELAÇÃO DE DEUS

8. Quais as etapas sucessivas da Revelação de Deus?

Deus escolhe Abrão chamando-o a deixar a sua terra para fazer dele “o pai duma multidão de povos” [1], e promete abençoar nele “todas as nações da terra” [2]. Os descendentes de Abraão serão o povo eleito, os depositários das promessas divinas feitas aos patriarcas. Deus forma Israel como seu povo salvando-o da escravidão do Egipto; conclui com ele a Aliança do Sinai, e dá-lhe a sua Lei, por meio de Moisés. Os profetas anunciam uma redenção radical do povo e uma salvação que incluirá todas as nações numa Aliança nova e eterna, que será gravada nos corações. Do povo de Israel, da descendência do rei David, nascerá o Messias: Jesus.




[1] Gn 17,5
[2] Gn 12,3

Bento XVI – Pensamentos espirituais 134

Respeitar a vida

A palavra «respeito» deriva do latim «respicere - observar» - e indica um modo de olhar as coisas e as pessoas que leva a reconhecer a sua consistência, a não se apropriar delas, mas a toma-las em consideração e a cuidá-las.

Em última análise, se são privadas da sua referência a Deus enquanto fundamento transcendente, as criaturas arriscam-se a cair em poder do arbítrio humano que, tal como vemos, pode ser usado de modo insensato.

Homilia na Jornada pela Vida, (5.Fev.06)


(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

Epístolas de São Paulo – 3

Epístola de São Paulo aos Romanos

I. O EVANGELHO QUE NOS DÁ A SALVAÇÃO (1,18-11,36)

Capítulo 2

Pecado dos judeus

1Por isso, não tens desculpa tu, ó homem, quem quer que sejas, que te armas em juiz. É que, ao julgares o outro, a ti próprio te condenas, por praticares as mesmas coisas, tu que te armas em juiz. 2Ora nós sabemos que o julgamento de Deus se guia pela verdade contra aqueles que praticam tais acções. 3Cuidas, então - tu, ó homem que julgas os que praticam tais acções e fazes o mesmo - que escaparás ao julgamento de Deus? 4Ou não estarás tu a desprezar as riquezas da sua bondade, paciência e generosidade, ao ignorares que a bondade de Deus te convida à conversão?
5Afinal, com a tua dureza e o teu coração impenitente, estás a acumular ira sobre ti, para o dia da ira e do justo julgamento de Deus, 6que retribuirá a cada um conforme as suas obras: 7para aqueles que, ao perseverarem na prática do bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibilidade, será a vida eterna; 8para aqueles que, por rebeldia, são indóceis à verdade e dóceis à injustiça, será ira e indignação. 9Tribulação e angústia para todo o ser humano que pratica o mal, primeiro judeu e depois grego! 10Glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu e depois para o grego! 11É que em Deus não existe acepção de pessoas.

A Lei não garante a salvação

12De facto, todos os que sem lei pecaram, também sem lei perecerão; e todos os que sob o regime da Lei pecaram, pela Lei serão julgados. 13É que não são os que ouvem a Lei que são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei é que serão justificados. 14Com efeito, quando há gentios que, não tendo a Lei, praticam, por inclinação natural, o que está na Lei, embora não tenham a Lei, para si próprios são lei.
15Esses mostram que o que a Lei manda praticar está escrito nos seus corações, tendo ainda o testemunho da sua consciência tal como dos pensamentos que, conforme o caso, os acusem ou defendam - 16isto no dia em que Deus, segundo o meu Evangelho, há-de julgar por Jesus Cristo o que de oculto houver nos homens.
17Mas, se tu gostas que te chamem judeu, te apoias na Lei e te glorias de Deus, 18conheces a sua vontade e sabes, instruído pela Lei, o que há de melhor a fazer; 19se estás convencido de ser guia de cegos, luz dos que vivem nas trevas, 20educador dos ignorantes, mestre dos simples, por estares na posse do conhecimento e da verdade que têm na Lei a sua expressão...
21Ora, como é que tu, que ensinas os outros, não te ensinas a ti próprio? Pregas que se não deve roubar, e roubas? 22Que dizes que não se deve cometer adultério, e cometes adultério? Que abominas os ídolos, e saqueias os seus templos? 23Tu, que te glorias da Lei, ofendes a Deus pela transgressão da Lei! 24De facto, o nome de Deus por vossa causa é blasfemado entre os gentios, conforme está escrito.

Ser circuncidado não garante a salvação


25A circuncisão é, de facto, proveitosa, se pões a Lei em prática. Mas se és um transgressor da Lei, então a tua circuncisão passa a ser incircuncisão. 26Se, portanto, quem não é circuncidado observa os preceitos da Lei, não deverá a sua incircuncisão ser considerada como circuncisão? 27E ele, que, não sendo fisicamente circuncidado, cumpre a Lei, há-de julgar-te a ti que, com a letra da Lei e a circuncisão, és um transgressor da Lei. 28É que não é aquele que o manifesta exteriormente que é judeu, nem a circuncisão é aquela que se manifesta exteriormente na carne. 29Mas aquele que o é no íntimo, esse sim é que é judeu, e a circuncisão que conta é a do coração, operada pelo Espírito e não por causa da letra da Lei. Esse é que merece louvor, não dos homens, mas de Deus.

Evangelho e comentário

Tempo de Cinzas


Evangelho: Mt 9, 14-15

Naquele tempo, os discípulos de João Baptista foram ter com Jesus e perguntaram-Lhe: «Por que motivo nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?» Jesus respondeu-lhes: «Podem os companheiros do esposo ficar de luto, enquanto o esposo estiver com eles? Dias virão em que o esposo lhes será tirado e nessa altura hão-de jejuar».

Comentário:

Concluo que, neste trecho do Evangelho, Jesus Cristo deixa perceber que o jejum é um “remédio” contra a tristeza.

De facto, “os companheiros do esposo” vivem uma alegria permanente exactamente porque O têm na sua companhia logo, não terão motivo para jejuar.

Bem… mas o jejum é sobretudo penitência voluntária e livre, nunca uma espécie de regra imposta por qualquer lei ou disposição, pessoa ou entidade.

É de estranhar que tantos critiquem o jejum penitencial quando, muitas vezes, são capazes de o fazer com enorme violência e quase extremismo por razões de estética!

(ama, comentário sobre Mt 9, 14-15, 23.11.2016)






Reflectindo - 231

Abrir os olhos

Estava numa aflição: não via nada; tinha os olhos abertos mas não enxergava absolutamente nada. Parecia estar mergulhado numa escuridão absoluta, profunda, total.
Ouvia ruídos à minha volta, conseguia identificar pessoas a falar e a mover-se, veículos a transitar nas ruas e muitos outros ruídos comuns no dia-a-dia a quem vive numa cidade.
Estava assustado e muito, muito preocupado pois não fazia a menor ideia do que se passava comigo. Não me doía nada, sentia-me muito bem e, se não fosse a escuridão em que estava mergulhado, poderia dizer que não se passava nada de anormal, fora do comum.

Levei a ponta dos dedos à cara para me certificar que tinha as pálpebras abertas e, de facto, estavam...

A minha preocupação subiu uns graus, sentia-me perdido, confuso, desnorteado. Percebi então que também não conseguia falar. Bem abria a boca na tentativa de gritar, chamar a atenção de alguém, mas não saía um som da minha garganta.

Estava cego e mudo! Triste e amarga realidade!

Isto aconteceu-me hoje, há pouco, sem eu dar conta.

Mas...quantas vezes, esta aflição, me atinje, porque, numa desatenção, num afrouxar da guarda, fecham-se-me os olhos e os ouvidos incapacitam-se para ouvir e, eu, fico assim, cego e surdo.

Nestas situações só me oiço e vejo a mim próprio. Fico como que numa câmara de eco forrada a espelhos, oiço-me e vejo-me repetidamente.

Na porta desta câmara, para que não restem dúvidas a ninguém, pende um letreiro: ORGULHO.


AMA, reflexões, 22.09.2014



Vai perseverantemente ao Sacrário

Vai perseverantemente ao Sacrário, fisicamente ou com o coração, para te sentires seguro, para te sentires sereno: mas também para te sentires amado... e para amar! (Forja, 837)


Copio umas palavras de um sacerdote, dirigidas aos que o seguiam no seu empreendimento apostólico: "Quando contemplardes a Sagrada Hóstia exposta na custódia sobre o altar, olhai que amor, que ternura a de Cristo. Explico-o pelo amor que vos tenho; se pudesse estar longe trabalhando e, ao mesmo tempo, junto de cada um de vós, com que gosto o faria!


Mas Cristo, Ele sim, pode fazê-lo! E Ele, que nos ama com um amor infinitamente superior ao que podem albergar todos os corações da Terra, ficou para que possamos unir-nos sempre à sua Humanidade Santíssima e para nos ajudar, para nos consolar, para nos fortalecer, para que sejamos fiéis". (Forja, 838)



As manifestações externas de amor devem nascer do coração e prolongar-se com o testemunho da conduta cristã. Se fomos renovados com a recepção do Corpo do Senhor, temos de o manifestar com obras. Que os nossos pensamentos sejam sinceros: de paz, de entrega, de serviço. Que as nossas palavras sejam verdadeiras, claras, oportunas; que saibam consolar e ajudar, que saibam sobretudo levar aos outros a luz de Deus. Que as nossas acções sejam coerentes, eficazes, acertadas: que tenham esse bonus odor Christi, o bom odor de Cristo, por recordarem o seu modo de Se comportar e de viver. (Cristo que passa, 156)

Leitura espiritual

Civita Dei
A CIDADE DE DEUS

Vol. 1

LIVRO VIII

CAPÍTULO XXV

O que pode haver de comum nos santos anjos e nos homens.

De forma nenhuma se deve, portanto, procurar a benevolência e a beneficência dos deuses bons, ou melhor, dos anjos bons, pela pretensa mediação dos demónios, mas pela imitação da boa vontade dos anjos, pela qual estamos com eles, com eles vivemos e com eles adoramos o Deus que eles adoram, embora não os possamos ver com os nossos olhos carnais.

É na medida em que a dissemelhança da nossa vontade e a fragilidade da nossa débil natureza nos torna miseráveis que nós deles estamos afastados, não pelo lugar do corpo mas pelo mérito da vida. O que nos impede de nos unirmos a eles não é o facto de habitarmos na terra numa condição carnal, é o gosto do nosso coração impuro pelos bens terrenos. Quando sararmos para sermos tais quais eles são, então aproximar-nos-emos deles pela fé, se acreditarmos que pela sua assistência, Aquele que fez a felicidade deles fará a nossa.

CAPÍTULO XXVI

Toda a religião dos pagãos se reduz ao culto dos homens mortos.

Bom é que se preste a devida atenção à maneira como o dito egípcio se exprime quando se lamenta por estar a chegar o tempo em que do Egipto desaparecerão estas instituições, obras, como ele confessa, de homens perdidos nos seus graves erros, incrédulos e cheios de aversão pelo culto da religião divina. Entre outras coisas diz ele:

Então esta terra, santíssima sede de santuários e de templos, ficará toda cheia de sepulcros e de mortos [i],
como se, caso não desaparecesse aquele culto, os homens não tivessem que morrer ou tivessem que ser sepultados em lugar diferente da terra. Com certeza que, à medida que forem passando os tempos e os dias, irá aumentando também o número dos sepulcros porque irá aumentando o número dos mortos.

Mas o que parece entristecê-lo é que aos templos e aos santuários dos ídolos iriam suceder os monumentos dos nossos mártires, de maneira que, ao lerem isto os que são animados duma mentalidade oposta e hostil à nossa, pensarão que adoramos os mortos nos túmulos como os pagãos adoravam os deuses nos templos. A cegueira dos ímpios é tão grande que, a bem dizer, chegam a chocar contra as montanhas, recusando-se a ver o que salta aos olhos. Não reparam que em todos os escritos pagãos não se encontram, ou dificilmente se encontram, deuses que não tenham sido homens que, uma vez falecidos, se tomaram objecto de honras divinas. Ponho de parte a afirmação de Varrão, ou seja: que todos os mortos são por eles considerados deuses — os deuses manes. Prova-o com os ritos sagrados oferecidos a quase todos os mortos, nomeadamente com os jogos fúnebres, sinal máximo, para ele, da sua divindade, pois estes jogos são ordinariamente reservados aos deuses.

O próprio Hermes, de quem agora se trata, no mesmo livro em que parece prever o futuro, exclama pesaroso:

Então esta terra, santíssima de santuários e de templos, ficará toda cheia de sepulcros e de mortos [ii],
testemunhando assim que os deuses do Egipto mais não são que homens mortos. Com efeito, depois de ter declarado que os seus antepassados cometeram graves erros acerca da noção dos deuses e, incrédulos, sem consideração pelo culto e pela religião divina, inventaram a arte de fabricar deuses, acrescenta:

A esta inventada arte, juntaram uma virtude apropriada tirada da natureza do mundo; misturaram-na com aquela mas, como não podiam fazer almas, evocaram almas de demónios ou de anjos, infundindo-as nas imagens santas e nos mistérios divinos para que, mercê dessas almas, os ídolos tivessem o poder de praticar o bem e o mal [iii].

Continua a seguir, como que a querer provar isto com exemplos:

Teu avô, ó Asclépio, foi o primeiro inventor da medicina. Dedicaram-lhe um templo no monte da Líbia, perto da Praia dos Crocodilos. E lá que repousa o homem que ele foi, isto é, o seu corpo. Porém o resto dele, ou antes ele todo — se é que o homem todo está no sentimento da vida — , voltou ao Céu numa condição melhor, e agora, com a sua divindade, presta aos homens enfermos os socorros que costumava prestar com a arte da medicina [iv].
Ei-lo pois a afirmar que um morto é adorado como um deus no próprio lugar onde tinha a sua sepultura. Mas engana-se e engana-nos ao dizer que ele voltou ao Céu. Acrescenta ainda o seguinte:

Hermes, o avô de quem eu tenho o nome, não assiste e não cura, na cidade em que habita (a) e que traz o seu nome, todos os mortais que de toda a parte até ele acorrem [v].
Realmente Hermes «o antigo», ou seja, Mercúrio, que ele afirma ser seu avô, reside, ao que se diz, em Hermópolis, cidade que dele tirou o nome. Aí estão, pois, dois deuses — Esculápio e Mercúrio — que, na sua opinião, foram homens. Acerca de Esculápio, gregos e latinos pensam o mesmo. Quanto a Mercúrio muitos pensam que ele não foi um mortal, embora o nosso Hermes afirme que ele foi seu avô. Mas na realidade este é um e aquele é outro, embora tenham o mesmo nome. Não insisto se um é distinto do outro. O certo é que este, como Esculápio, de homem se tornou deus, segundo o testemunho de seu neto Trismegisto, varão de tão grande autoridade entre os seus.

Acrescenta ainda:

Quanto a ísis, esposa de Osíris, sabemos quanto de bem ela fa z se está propícia, e quanto pode prejudicar se está irada [vi].
Depois, para mostrar que são deste género os deuses feitos pelos homens com a dita arte (dá assim a entender que os demónios, na sua opinião, provêm de almas de mortos que foram encerradas em estátuas, mercê da dita arte inventada por homens presos a graves erros, incrédulos e irreligiosos — pois esses que tais deuses faziam, almas é que não podiam fazer), depois de ter dito acerca de ísis o que já referi:

Quanto ela pode prejudicar se está irada6, acrescenta logo a seguir: Na verdade os deuses da terra e do mundo facilmente se irritam, pois são formados e compostos pelos homens de uma dupla natureza [vii].
Diz ele ex utraque natura (duma dupla natureza), ou seja, de alma e corpo, sendo a alma o demónio, e o corpo o ídolo. E prossegue:

Daí resulta que os ídolos são chamados pelos egípcios «santos animais» e que as diversas cidades honram as almas daqueles que foram divinizados em vida, chegando a viver sob as suas leis e a tomar o seu nome [viii].

Onde estão as fúnebres lamentações de Hermes pela terra do Egipto, sede santíssima de santuários e de templos que um dia ficará toda cheia de sepulcros e de mortos? Realmente, o espírito falacioso, que a Hermes inspirava estas lamentações, foi obrigado a confessar, por seu intermédio, que esta terra estava já repleta de sepulcros e de mortos adorados pelos egípcios como deuses. Mas, por seu intermédio, era a dor dos demónios que se expressava: lamentavam estes a eminência das suas penas junto das «memórias» dos santos mártires. E que será em muitos destes sítios que eles sofrerão torturas, farão confissões e serão expulsos dos corpos dos possessos.

CAPÍTULO XXVII

Maneira de os cristãos honrarem os mártires.

E, todavia, nós não instituímos para estes mesmos mártires nem templos, nem sacerdócio, nem ritos sagrados, nem sacrifícios porque, para nós, eles não são deuses: o Deus deles é o nosso Deus. E certo que veneramos as suas «memórias» como santos homens de Deus, que até à morte combateram pela verdade para fazerem conhecer a verdadeira religião, provando a falsidade, a mentira do paganismo. Se antes deles homens houve que partilharam de tais sentimentos, por medo esses homens tais sentimentos reprimiam.

Quem dentre os fiéis já alguma vez ouviu um sacerdote, de pé, diante do altar, mesmo diante de um altar construído para a glória e o culto de Deus sobre o corpo de um santo mártir, dizer nas suas orações: «ofereço-te este sacrifício ó Pedro, ó Paulo, ó Cipriano» pois é diante das suas «memórias» que o sacrifício é oferecido ao Deus que fez os homens e os mártires, associando-os aos seus santos anjos na glória celeste? É também nessa solenidade que nós rendemos graças ao verdadeiro Deus pela sua vitória e nos exortamos pela renovação da sua memória a partilharmos das suas coroas e das suas palmas \ invocando a protecção de Deus.

Todas as homenagens trazidas pelos fiéis aos túmulos dos mártires são, portanto, testemunhos prestados à sua memória — não são ritos nem sacrifícios oferecidos aos mortos como se deuses fossem.

Alguns transportam para lá mesmo alimentos — o que não fazem os melhores cristãos e, na maior parte das terras não há esse costume. Aliás, os que o fazem, depois de colocarem os alimentos sobre o túmulo e de recitarem as suas orações, levam-nos para os comerem ou mesmo para os distribuírem pelos indigentes, desejando apenas santificá-los pelos méritos dos mártires em nome do Senhor dos mártires. Mas quem conhece o único sacrifício dos cristãos que também lá é oferecido, sabe que não se trata de sacrifícios oferecidos aos mártires.

Nós não veneramos os nossos mártires nem com honras divinas nem com crimes humanos como fazem os pagãos com os seus deuses. Nós não lhes oferecemos sacrifícios nem transformamos as torpezas em cerimónias sagradas. Pelo contrário, acerca de ísis, esposa de Osíris, deusa do Egipto, e acerca dos seus antepassados que, segundo consta das suas escrituras, foram todos reis (esta Isis quando oferecia um sacrifício aos seus antepassados encontrou um feixe de cevada e apresentou as espigas ao rei, seu marido, e a Mercúrio, conselheiro deste rei — donde pretenderem que ela e Ceres são a mesma), acerca de Isis e dos seus antepassados leiam os que quiserem e puderem, e nisso meditem os que já leram, quantas e quão grandes são as maldades destes (contadas não por poetas, mas constantes dos seus livros religiosos) que Alexandre relatou por escrito a sua mãe Olimpíada de acordo com as revelações do sacerdote Leão — e verão a favor de que homens, depois de mortos, e de que factos foi instituído culto como se deuses fossem!

Não ousem comparar, seja no que for, tais deuses, mesmo que os tomem por deuses, aos nossos santos mártires que, mesmo assim, não tomamos por deuses. Nós não instituímos sacerdotes em sua honra, nós não lhes oferecemos sacrifícios — o que seria inconveniente, abusivo, ilícito, pois só a Deus estão reservados. Nem nos divertimos com os seus crimes nem com esses jogos torpes com que celebram as infâmias dos seus deuses — quer eles as tenham cometido quando eram homens, quer as tenham inventado, se as não cometeram, para agrado dos maléficos demónios. Não foi a um demónio deste género que Sócrates teve como Deus, se é que algum teve! Mas com certeza, querendo sobressair nessa arte, foram eles que proporcionaram um deus semelhante a um homem inocente e alheio àquela arte de fabricar deuses.

Para quê mais? Ninguém duvida, por muito pouco esperto que seja, de que estes espíritos não devem ser venerados, tendo em mira a vida bem-aventurada que virá depois da morte. Mas dirão talvez: todos os deuses são bons, mas, quanto aos demónios, uns são bons outros são maus. Aos considerados bons é que se deve prestar culto para se chegar à vida eternamente feliz.

No próximo livro veremos quanto vale esta opinião

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Asclepius, XXVIV , ed. Festugière-Nock, p. 327.
[ii] Id. Ib., XXXVII, p. 348.
[iii] Id. Ib., XXXVIII, p. 347-348.
[iv] Id. Ib., XXVII, p. 347.
[v] Id. Ib., XXXVIII, p. 347-348.
[vi] Id. Ib., XXVII, p. 346.
[vii] Asclepius, XXXVII, ed. cit. p. 348.
[viii] Id. Ib., p. 348.

Pequena agenda do cristão

Sexta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?