Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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01/03/2017
Fátima: Centenário - Oração diária
Senhora de Fátima:
Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.
Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.
Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.
Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:
“Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.
Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.
AMA, Fevereiro, 2017
Doutrina - 226
Compêndio
PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO
DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO»
– «NÓS CREMOS»
CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM
AO ENCONTRO DO HOMEM
A REVELAÇÃO DE DEUS
6. O que é que Deus revela
ao homem?
Deus
revela-se ao homem, na sua bondade e sabedoria. Mediante acontecimentos e
palavras, Deus revela-se a Si mesmo e ao seu desígnio de benevolência, que Ele,
desde a eternidade, preestabeleceu em Cristo a favor dos homens. Tal desígnio
consiste em fazer participar, pela graça do Espírito Santo, todos os homens na
vida divina, como seus filhos adoptivos no seu único Filho.
Princípios e valores: Vida e morte de uma civilização
O vetusto termo helénico «arkhe» significava
fundamentalmente isso que, anipotético, primeiríssimo, literalmente «fora de
série», servia de razão de ser a tudo o mais. Nas suas diferentes formas, «isso»
era o divino. Mais do que as variações, poeticamente interessantes todas elas,
desse mesmo princípio, interessava o sentido que «isso» tinha como o fundamento
absoluto de tudo o mais». «Isso» era o que, absolutamente, se opunha ao nada.
De todas as formas, guardámos estruturalmente em nossa civilização a versão
platónica de um bem actual e infinito positivamente que, ao modo análogo do sol,
irradiava ser de forma totalmente gratuita. Com as mudanças necessárias à
constituição de versões próprias, foi este ícone de «o princípio» que
guardámos.
Até que se resolveu – parece que de forma incausada –
substituir o princípio por valor, em termos universais; princípios por valores,
em termos mundanos.
Ora, há uma diferença abissal entre uma coisa e a outra. O
princípio é absolutamente objectivo, dispensando mesmo, em termos teóricos, um
sujeito que o pense (embora para que se possa tal dizer tenha de haver um
sujeito). Numa analogia pobre e de baixo custo intelectual, podemos dizer que o
princípio funciona como a chamada «lei dos graves» (na realidade, é o
«princípio natural dos graves»): na relação comigo como sujeito, posso eu
julgar que a gravidade não me deve «puxar» para o centro de massa da Terra (e
outros), que a gravidade continuará sendo o que é, enquanto a natureza for o
que é (parece mesmo que a natureza é o conjunto destes mesmos princípios na
coordenação com isso de que são princípios).
O valor, por sua vez, depende sempre de um qualquer
avaliador. Sem este avaliador e o seu ato de avaliação, um valor não pode ser
um «valor». Será outra coisa qualquer, mas um «valor» não é. Ora, sem que se
recorra à absoluta objectividade do princípio, quando se avalia seja o que for,
não há como proceder a tal ato de forma que não seja submetido ao arbítrio do
avaliador. Este pode ser sempre qualquer, daqui sendo implicado que a avaliação
possa ser sempre uma qualquer. Pode até ser “divinamente” justa. Mas como
saber? Estamos no campo minado pela invencível dúvida, como muito bem verificou
o velho Descartes.
Não admira que a nossa dita civilização esteja no estado
caótico em que efectivamente está insistindo em ser fundada sobre valores. É o
preço a pagar por se ter prescindido da objectividade dos princípios e se ter
optado pela subjectividade inultrapassável dos valores
O valor vale sempre e só o que «valer» o ato do avaliador
e este ato vale o que vale o avaliador precisamente como avaliador. Quem avalia
o que o avaliador vale como avaliador?
A tentação de dizer: alguém independente da valoração.
Mas, então, não terá de ser alguém que se apoie em algo como um princípio?
Sendo assim, para que serve a valoração, se tem de ser ela própria valorada
segundo princípios, ou nunca se poderá dizer que valha algo de positivo?
Poderíamos complicar um pouco mais, porque o assunto a
tal se presta. Mas o que nos interessa mostrar é que não admira que a nossa
dita civilização esteja no estado caótico em que efectivamente está (parece que
apenas a guarda pretoriana do caos pensa que isso que guarda não é caótico),
insistindo em ser fundada sobre valores. É o preço a pagar por se ter
prescindido da objectividade dos princípios e se ter optado pela subjectividade
inultrapassável dos valores.
E, não, não são as buscas de consensos que podem
substituir a ausência de princípios. O consenso não é objectivo senão como uma
espécie de algoritmo político obtido por uma operação qualquer de integração de
subjectividades. O que resulta é tão subjectivo quanto cada uma das partes. Uma
assembleia não é objectiva senão nos resultados do que através do algoritmo
subjectivo das suas decisões – consensuais ou não – decide. Não nos esqueçamos
do algoritmo de consensualidade entre suficientes alemães capaz de em janeiro
de 1933 levar Hitler ao poder.
Foi um ato de valoração, que valorou positivamente os novos
valores propostos em Mein Kampf. Poucos perceberam ou quiseram perceber que
tais valores violavam mortalmente princípios como o da universal dignidade
humana.
É tempo de regressar à objectividade dos princípios.
Poder-se-ia começar pelo «imperativo categórico» kantiano: laico e anticaótico.
Américo Pereira, Universidade Católica Portuguesa,
Faculdade de Ciências Humanas
Publicado em 16.01.2017
Epístolas de São Paulo – 1
Apresentação
Foi
durante o Inverno de 55-56, em Corinto, que Paulo escreveu esta Carta,
provavelmente a última (16,23). Acabara de resolver os conflitos com as
comunidades de Filipos (Fl 3,2-4) e Corinto (1 e 2 Cor), e considerava
terminada a evangelização da parte oriental do império romano: as comunidades
cristãs que fundara nas maiores cidades se encarregariam de irradiar o
Evangelho para as províncias (15,23).
Assim, podia finalmente visitar os cristãos de Roma (1,13-15; 15,22-24) e seguir de lá até à Espanha, a província
ocidental do império.
Antes,
porém, quer entregar aos cristãos de Jerusalém a colecta de solidariedade que,
desde o “concílio”, organizou nas suas comunidades (15,25-28; Gl 2,10). Receia, no entanto,
não ser bem aceite (15,30-32). Afinal, é em Jerusalém que mais o contestam, por
não exigir que os gentios abracem certos preceitos da Lei judaica para serem
cristãos. Sabe, por isso, que a aceitação da colecta em Jerusalém levaria, na
prática, ao reconhecimento das suas comunidades; e, com uma unidade eclesial de
judeus e gentios assim obtida, seria mais fácil a missão em Espanha. Daí que a
maior parte da Carta seja escrita em forma de diálogo com um judeu (2,1-5). É
às dúvidas dos cristãos de Jerusalém que se consideravam o verdadeiro Israel
que ele responde.
DESTINATÁRIOS
Possivelmente,
essas dúvidas eram conhecidas dos cristãos de Roma. Também aí o cristianismo,
levado talvez por comerciantes vindos do Oriente, se iniciara nas sinagogas
judaicas. Pelo menos foi nelas que se gerou o conflito entre judeus e cristãos,
que fez com que o imperador Cláudio, no ano 49, os expulsasse da capital (Act 18,2). Os poucos que ficaram
tiveram que separar-se da sinagoga e assim sobreviver, o que era difícil, uma
vez que ainda não podiam contar com o apoio de uma estrutura eclesial
organizada.
Por
este facto, não admira que muitos deles se tenham apoiado em tradições e
práticas judaicas para a santificação do dia-a-dia, como as referentes a
alimentos e à guarda do sábado. Paulo fala disso nos cap. 14-15.
É
que, entretanto, tinha crescido o número dos que consideravam secundárias tais
normas; e a minoria dos que as seguiam era mesmo olhada com desprezo.
Além
disso, segundo dá a entender no cap. 16, os cristãos estavam divididos por
várias comunidades, reunidas em diferentes casas, como aliás já acontecia com
as sinagogas. Paulo dirige-se a todos na mesma Carta e, com isso, já está a
tentar levá-los à reconciliação e à unidade.
MOTIVO DA CARTA
Só
com os cristãos de Roma unidos poderá Paulo contar com o apoio, em meios e
pessoas, para a evangelização da Espanha. É sobretudo por esta razão que quer
visitá-los e é a preparar a visita que lhes escreve (1,8-17; 15,22-24).
Fá-lo,
baseando-se na sua condição de Apóstolo dos gentios (1,1.5; 15,15-16) e com os
direitos e deveres que isso lhe dá sobre os cristãos de Roma, cuja maioria é
proveniente do paganismo (1,6.13.15); mas reconhece, ao mesmo tempo, que não
tem sobre eles a mesma autoridade que teria, se fossem uma comunidade por ele
fundada (15,14-21).
Assim,
antes de lhes comunicar abertamente o objectivo da visita em 15,24, expõe-lhes
longamente o Evangelho de que se tornou Apóstolo e que anuncia (1,18-11,36),
procurando esclarecer os pontos mais polémicos.
DIVISÃO E CONTEÚDO
A
Carta aos Romanos poderá dividir-se em quatro partes:
Introdução:
1,1-17;
I. O
Evangelho da Salvação: 1,18-11,36;
II.
Vida de acordo com o Evangelho: 12,1-15,13;
Conclusão:
15,14-16,27.
TEOLOGIA
Na
primeira parte, Paulo expõe o seu Evangelho (cap. 1-11): a salvação realizada
por Deus em Cristo é universal e exclusiva; estende-se a judeus e gentios e só
pode adquirir-se pela fé, já que, sem Cristo, nem sequer os judeus estão em
condições de cumprir a Lei e salvar-se, assim, pelos próprios meios
(1,18-5,21). E é por causa disso que Paulo é acusado de destruir as duas
realidades constitutivas de Israel: a sua eleição, como povo de Deus, e a Lei,
como norma de vida (3,1-8). Nos cap. 6-8 responde à questão sobre a Lei: a fé
em Cristo não é contra a Lei, mas é mesmo o único meio que nos torna capazes de
a cumprirmos. Nos cap. 9-11 mostra como a Igreja de Cristo, ao acolher os
pagãos, não perdeu as suas raízes no povo cuja eleição começa em Abraão; pelo
contrário, só quando todos, pagãos e judeus, aderirem a Cristo, se cumprirão
plenamente as promessas de Deus.
Na segunda parte (cap.
12-16), Paulo exorta à unidade, que provém da participação comum no amor de
Cristo e se manifesta no bom relacionamento entre os de dentro e os de fora da
Igreja (cap. 12-13) e, sobretudo, na aceitação da sensibilidade e diversidade
próprias de cada um (14,1-15,13). Temos aqui o Evangelho na sua expressão
prática. 15,14-16,27 é a conclusão.
Leitura espiritual
Vol. 1
LIVRO
VIII
CAPÍTULO XX
Será de crer que os deuses
bons preferem comunicar com os demónios a fazê-lo com os homens?
Realmente
há um motivo urgente e dos mais prementes que exige a mediação dos demónios
entre os deuses e os homens: o de haver quem apresente os desejos dos homens
aos deuses e o de haver quem traga destes o favor aos homens. Que motivo é
esse? Qual a importância desta necessidade? É que, dizem, nenhum deus se pode
misturar com o homem.
Preclara
santidade, não há dúvida, a de um deus que não tem contactos com o homem
suplicante, mas os tem com um demónio arrogante;
não se põe em contacto com o homem penitente,
mas fá-lo com o demónio enganador;
não contacta com o homem que se refugia na
divindade, mas comunica com o demónio que se finge divindade;
não se mistura com o homem que pede perdão,
mas mistura-se com o demónio que aconselha a corrupção;
não comunica com o homem que nos seus livros
filosóficos expulsa os poetas da cidade bem organizada, mas comunica com o
demónio que solicita aos príncipes e aos pontífices da cidade que, em cena, se
representem as galhofas dos poetas;
não se mistura com o homem que proíbe que se
inventem crimes à conta dos deuses, mas põe-se em contacto com o demónio que se
compraz nesses falsos crimes;
não se põe em comunicação com o homem que
castiga os crimes da magia com leis justas, mas comunica com o demónio que
ensina e pratica as artes mágicas;
não se mistura com o homem que procura não
imitar os demónios, mas mistura-se com o demónio que espreita a ocasião de
enganar o homem.
CAPÍTULO XXI
Será que os deuses se
utilizam dos demónios como mensageiros e intérpretes? Será que não sabem que
são enganados? Ou querem sê-lo?
Tamanho
absurdo, tamanha indignidade, não há dúvida de que se impõe fortemente, se,
realmente, os deuses etéreos que se ocupam das questões humanas, nunca vierem a
saber o que fazem os homens, se os demónios aéreos não lho comunicarem, — pois
que o éter está longe da terra e suspenso lá no alto, mas o ar, esse está
contíguo ao éter e à terra.
Ó
sabedoria admirável! Que pensarão estes filósofos de tais deuses, que têm por
óptimos, senão que eles se ocupam das questões humanas apenas para que pareça
que não são indignos de culto — mas que, devido à distância dos elementos, eles
as ignoram? Julgam que os demónios são indispensáveis e que, portanto, se lhes
deve prestar culto já que é por eles que os deuses podem saber o que se passa
entre os homens e prover às suas necessidades quando for preciso. Porque assim
é, o demónio é mais conhecido dos deuses bons devido à proximidade do seu corpo
do que o homem devido à bondade da sua alma. Que deplorável estupidez! Ou antes
— que ridícula e detestável vacuidade, para não dizer vã divindade! Realmente,
se pelo seu espírito, livre de todo o obstáculo corporal, os deuses podem ver o
nosso espírito, não terão necessidade para isso dos demónios como
intermediários. Mas se é por intermédio dos corpos, das manifestações corporais
da alma, (tais como a linguagem, a fisionomia, o gesto), que os deuses etéreos
percebem — e daí inferem o que os demónios lhes anunciam — então podem ser
ludibriados pelas mentiras dos demónios. Mas se a divindade não pode ser
enganada pelos demónios, também a mesma divindade não pode ignorar o que
fazemos.
Eu quereria, portanto, que me dissessem
então:
— se os demónios comunicaram aos deuses que
as fantasias dos poetas acerca dos crimes dos deuses desagradaram a Platão e se
os mesmos demónios esconderam aos deuses que se compraziam com tais crimes;
— ou se se calaram acerca destes dois pontos,
preferindo deixar os deuses na ignorância do caso;
— ou se lhes revelaram estes dois pontos — a
piedosa sabedoria de Platão a respeito dos deuses e a sua própria libertinagem
ultrajante para com os deuses;
— ou então se lhes encobriram as decisões de
Platão de proibir que a licenciosa impiedade dos poetas desonrasse os deuses
com pretensos crimes sem que eles por sua vez, nem temessem nem se
envergonhassem de revelar o seu iníquo amor pelos jogos cénicos que celebram as
ignomínias dos deuses.
Escolham
a resposta que quiserem a estas quatro questões que lhes pus; mas reparem no
mal que pensam dos deuses bons, seja qual for a resposta.
Se
escolherem a primeira, terão que conhecer que não foi permitido aos deuses bons
comunicarem com o bom Platão quando este procurava proibir que tais deuses
fossem injuriados, mas era-lhes permitido comunicar com os demónios quando
estes se compraziam com essas injúrias. Realmente, os deuses bons não
conheciam este homem bom, deles tão distante, senão por intermédio dos demónios
maus a quem não podiam conhecer apesar de serem vizinhos.
Se
escolherem o segundo e disserem que ambos os casos tinham sido ocultados pelos
demónios de maneira a que os deuses ignorassem totalmente não só a
religiosíssima lei de Platão, mas também a sacrílega complacência dos demónios
— que é que de útil podem os deuses conhecer acerca dos homens por intermédio
dos demónios mensageiros, se nem sequer conhecem as decisões que em sua honra
tomou a piedade dos homens bons contra o desregramento dos demónios maus?
Se
escolherem o terceiro e responderem que os deuses conheceram por mediação dos
demónios, não só a decisão de Platão de proibir os ultrajes aos deuses, mas
também a malícia dos demónios que exultam de alegria perante esses ultrajes —
constituirá isso uma mediação ou um insulto? Os deuses ouvem uma coisa e outra,
de uma e de outra tomam conhecimento — e não expulsam da sua presença os
malignos demónios cujos desejos e actos se opõem à dignidade dos deuses e ao
espírito religioso de Platão, e, pelo contrário, transmitem ao bom e distante
Platão os seus benefícios por intermédio destes perversos vizinhos? De tal modo
estão sujeitos a esta como que prisão dos elementos que podem aliar-se aos seus
caluniadores, mas não o podem fazer com os que os defendem. Conhecem uma e
outra — a calúnia e a defesa — mas não podem mudar o peso do ar e da terra.
Se
escolherem o último, o quarto, escolhem o que de todos é o pior. Se os demónios
deram conhecimento aos deuses das criminosas ficções dos poetas acerca deles
imortais e das ultrajantes chacotas teatrais — e do ardente apetite e da
deleitosa complacência que experimentam em tudo isto; se, por outro lado, lhes
esconderam que Platão, com filosófica gravidade, achou por bem que todas estas
coisas deviam ser expulsas de uma república excelente — quem pode suportar que
os deuses bons se vejam forçados a conhecer por tais intermediários os males
dos perversos, mesmo os dos próprios intermediários, e não podem conhecer os
bens dos filósofos, àqueles contrários, sendo certo que aqueles são uma injúria
para com os deuses e que estes são para os mesmos deuses uma honra?
C A P ÍT U L O XXII
Contra a opinião de Apuleio,
impõe-se a rejeição do culto dos demónios.
Pois
que é impossível escolher qualquer das quatro hipóteses sem fazer dos deuses
tão mau conceito, só nos resta deixar de crer naquilo que Apuleio se esforça,
com os filósofos do seu parecer, por nos convencer: — que, entre os deuses e os
homens, os demónios exercem o papel de mensageiros e intérpretes para levarem
aos deuses os nossos pedidos e deles nos trazerem o seu auxílio. Pelo
contrário, são espíritos ávidos de malfazer, totalmente alheados da justiça,
inchados de soberba, pálidos de inveja, destros em enganos. Habitam certamente
no ar porque precipitados das alturas do Céu Superior devido a falta
inexplicável, foram condenados a habitarem esta espécie de prisão apropriada ao
seu estado. Todavia, lá porque o ar está acima da terra e das águas, nem por
isso são superiores em mérito aos homens. Estes ultrapassam-nos à vontade, não
pelo seu corpo terrestre, mas pela piedade da sua mente que escolheu para seu
amparo o verdadeiro Deus.
Sem
dúvida que dominam muitos homens indignos de participarem da verdadeira
religião, tornando-os seus prisioneiros e escravos. A maioria destes homens
deixou-se persuadir de que os demónios eram deuses devido ao aspecto falsamente
miraculoso dos seus actos e das suas predições. Mas outros, reparando nos seus
vícios com um pouco mais de atenção e de cuidado, não puderam admitir a sua
divindade. É por isso que os demónios se fingiram intermediários entre os
deuses e os homens e intercessores dos seus benefícios. Pelo menos esta honra,
julgaram que lha não deviam recusar aqueles que não acreditavam na sua
divindade, já que eram maus e os deuses são todos bons; todavia não ousavam
declará-los totalmente indignos das honras divinas com receio sobretudo de
ofenderem povos que viam inveterados na superstição e entregues ao seu culto
com tantos ritos e templos.
(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
Evangelho e comentário
Quarta Feira de Cinzas
Evangelho:
Mt 6, 1-6. 16-18
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tende cuidado em não praticar as
vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Aliás, não
tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está nos Céus. Assim, quando deres
esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas
sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: já
receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o
que faz a direita, para que a tua esmola fique em segredo; e teu Pai, que vê o
que está oculto, te dará a recompensa. Quando rezardes, não sejais como os
hipócritas, porque eles gostam de orar de pé, nas sinagogas e nas esquinas das
ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua
recompensa. Tu, porém, quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora
a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.
Quando jejuardes, não tomeis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram
o rosto, para mostrarem aos homens que jejuam. Em verdade vos digo: já
receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava
o rosto, para que os homens não percebam que jejuas, mas apenas o teu Pai, que
está presente em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a
recompensa».
Comentário:
Jesus Cristo dá um conselho
que nos pode deixar algo perplexos:
«quando rezares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em
segredo»
Quererá
isto dizer que a oração comunitária, por exemplo, não é aconselhável ou não é
querida por Deus?
Temos
de ter cuidado com as interpretações que fazemos do Evangelho.
Muitas
das chamadas “seitas” fazem exactamente isso para justificarem as suas
práticas. Retirar as palavras fora do contexto e da época em que foram
proferidas é erro crasso e caminho que só pode conduzir a más interpretações.
Na
sociedade de então – do tempo de Cristo – era costume a oração pública nas ruas
e nas praças (como de resto se pratica noutras religiões), mas o intuito era o
aparato, o dar nas vistas, o alcandorar-se a uma posição especial e, não,
servir de exemplo, mas de inveja e admiração.
Jesus
virá a pôr as coisas “no seu lugar” quando disser que onde estiverem dois ou
mais reunidos em Seu Nome, Ele estará no meio deles.
(ama, comentário sobre Mt 6, 1-6. 16-18, 21.11.2016)
Dispostos a uma nova rectificação
Os teus parentes, os teus colegas, os teus
amigos, vão notando a diferença, e reparam que a tua mudança não é uma mudança
passageira; que já não és o mesmo. Não te preocupes. Para a frente! Cumpre o
"vivit vero in me Christus" – agora é Cristo quem vive em ti! (Sulco, 424)
Qui habitat in adiutorio Altissimi in
protectione Dei coeli commorabitur – Habitar sob a protecção de Deus, viver com Deus: eis a
arriscada segurança do cristão. É necessário convencermo-nos de que Deus nos
ouve, de que está sempre solícito por nós, e assim se encherá de paz o nosso
coração. Mas viver com Deus é indubitavelmente correr um risco, porque o Senhor
não Se contenta compartilhando; quer tudo. E aproximar-se d'Ele um pouco mais significa
estar disposto a uma nova rectificação, a escutar mais atentamente as suas
inspirações, os santos desejos que faz brotar na nossa alma, e a pô-los em
prática.
Desde a nossa primeira decisão consciente de viver integralmente a
doutrina de Cristo, é certo que avançámos muito pelo caminho da fidelidade à
sua Palavra. Mas não é verdade que restam ainda tantas coisas por fazer? Não é
verdade que resta, sobretudo, tanta soberba? É precisa, sem dúvida, uma outra
mudança, uma lealdade maior, uma humildade mais profunda, de modo, que,
diminuindo o nosso egoísmo, cresça em nós Cristo, pois illum oportet crescere, me autem minui, é preciso que Ele cresça e
que eu diminua.
Não é possível deixar-se ficar imóvel. É necessário avançar para a
meta que S. Paulo apontava: não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim. A
ambição é alta e nobilíssima: a identificação com Cristo, a santidade. Mas não
há outro caminho, se se deseja ser coerente com a vida divina que, pelo
Baptismo, Deus fez nascer nas nossas almas. O avanço é o progresso na
santidade; o retrocesso é negar-se ao desenvolvimento normal da vida cristã.
Porque o fogo do amor de Deus precisa de ser alimentado, de aumentar todos os
dias arreigando-se na alma; e o fogo mantém-se vivo queimando novas coisas. Por
isso, se não aumenta, está a caminho de se extinguir. (Cristo que Passa,
58)
Pequena agenda do cristão
Quarta-Feira
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito:
Simplicidade e modéstia.
Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.
Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.
Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.
Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.
Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?