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20/09/2016

Leva-me pela tua mão, Senhor

Há uma quantidade muito considerável de cristãos que seriam apóstolos... se não tivessem medo. São os mesmos que depois se queixam, porque o Senhor (dizem eles!) os abandona... Que fazem eles com Deus? (Sulco, 103)

Também a nós nos chama e nos pergunta como a Tiago e João: Potestis bibere calicem quem ego bibiturus sum?; estais dispostos a beber o cálice (este cálice da completa entrega ao cumprimento da vontade do Pai) que eu vou beber? "Possumus"!. Sim, estamos dispostos! – é a resposta de João e Tiago... Vós e eu, estamos dispostos seriamente a cumprir, em tudo, a vontade do nosso Pai, Deus? Demos ao Senhor o nosso coração inteiro ou continuamos apegados a nós mesmos, aos nossos interesses, à nossa comodidade, ao nosso amor-próprio? Há em nós alguma coisa que não corresponda à nossa condição de cristãos e que nos impeça de nos purificarmos? Hoje apresenta-se-nos a ocasião de rectificar.
É necessário que nos convençamos de que Jesus nos dirige pessoalmente estas perguntas. É Ele que as faz, não eu. Eu não me atreveria a fazê-las a mim próprio. Eu vou continuando a minha oração em voz alta e vós, cada um de vós, por dentro, está confessando ao Senhor: Senhor, que pouco valho! Que cobarde tenho sido tantas vezes! Quantos erros! Nesta ocasião e naquela... nisto e naquilo... E podemos exclamar também: ainda bem, Senhor, que me tens sustentado com a tua mão, porque eu sinto-me capaz de todas as infâmias... Não me largues, não me deixes; trata-me sempre como um menino. Que eu seja forte, valente, íntegro. Mas ajuda-me, como a uma criatura inexperiente. Leva-me pela tua mão, Senhor, e faz com que tua Mãe esteja também a meu lado e me proteja. E assim, possumus!, poderemos, seremos capazes de ter-Te por modelo! (Cristo que passa, 15)


Evangelho e comentário


Tempo Comum

Evangelho: Lc 8, 19-21

Naquele tempo, vieram ter com Jesus sua Mãe e seus irmãos, mas não podiam chegar junto d’Ele por causa da multidão. Então disseram-Lhe: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora e querem ver-Te». Mas Jesus respondeu-lhes: «Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática».

Comentário:

Que maior honra pode aspirar um cristão? Ser da Família de Cristo!
Fazer a Sua Vontade que é sempre o melhor para nós tem esse prémio extraordinário.

Ao pensarmos nisto a sério não teremos nem hesitações nem dúvidas sobre o que fazer: pedir com insistência:

Domine docere me facere voluntas Tua!


(ama, comentário sobre Lc 8, 19-21, Garrão, 2015.09.22)








Jesus Cristo e a Igreja – 128

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos

IV. O CELIBATO NA DISCIPLINA DAS IGREJAS ORIENTAIS


A fragmentação do sistema disciplinar no Oriente
A Legislação do II Concílio Trullano.

…/2

Então, de que fontes derivam as decisões “trullanas” sobre disciplina celibatária bizantina, vinculantes até hoje? Para responder adequadamente a esta pergunta, é necessário considerar antes tais disposições.

Cân. 3: Decide que todos os que depois do baptismo tenham contraído um segundo matrimónio ou tenha vivido em concubinato, bem como aqueles que se tinham casado com uma viúva, uma divorciada, uma prostituta, uma escrava ou uma atriz, não poderiam tornar-se nem bispos, nem sacerdotes, nem diáconos.

Cân. 6: Declara que aos sacerdotes e diáconos não estão autorizados a se casar após a Ordenação.

Cân. 12: Ordena que os bispos não podem, após a Ordenação, coabitar com sua esposa e, por conseguinte, não podem mais usar do matrimónio;

Cân. 13: Estabelece que, ao contrário da prática romana que proíbe o uso do matrimónio, os sacerdotes, diáconos e subdiáconos da Igreja oriental, em virtude de antigas prescrições apostólicas, podem conviver com suas esposas e usar dos direitos do casamento para a perfeição e ordem correta, exceto nos tempos em que prestam o serviço no altar e celebram os sagrados mistérios, devendo ser continentes durante este tempo. Esta doutrina havia sido afirmada pelos Padres reunidos em Cartago: “os sacerdotes, diáconos e subdiáconos devem ser continentes durante o tempo do seu serviço ao altar, tendo em vista o que foi transmitido pelos Apóstolos e observado desde os tempos antigos também nós o custodiemos, dedicando um tempo para cada coisa, especialmente à oração e ao jejum. Assim, pois, os que servem no altar devem ser em tudo continentes durante o tempo do seu serviço sagrado para que possam obter o que se pedem a Deus com toda simplicidade.” Portanto quem ouse privar mais além do que estabelece os cânones apostólicos, aos ministros in sacris, quer dizer, aos sacerdotes, diáconos e subdiáconos, da união e comunhão com as legítimas esposas, deve ser deposto, bem como aquele que, sob o pretexto de piedade, expulsa à sua esposa e insiste na separação.

Cân. 26: Decreta que um sacerdote que por ignorância houvesse contraído casamento ilícito tem de se conformar com a sua situação anterior, mas abstendo-se de todo ministério sacerdotal. Esse matrimónio deve ser dissolvido e toda a comunhão com a esposa está proibida.

Cân. 30: Permite que os que, com consentimento mútuo, querem viver continentes, não devem habitar juntos; isso é válido também para os sacerdotes que residem em países bárbaros (isso é entendido como os que vivem no território da Igreja Ocidental). Esse compromisso assumido é, no entanto, uma dispensa dada a esses sacerdotes por sua pusilanimidade e pelos costumes das pessoas ao redor.


Cân.: 48: Manda que a mulher do bispo que, após consentimento mútuo, se separou, deve ingressar num mosteiro depois da Ordenação do marido e deve ser mantida por ele. Pode também ser promovida à diaconisa.

Tratado da vida de Cristo 125

Questão 49: Dos efeitos da paixão de Cristo
Art. 6 — Se Cristo pela sua Paixão mereceu ser exaltado.

O sexto discute-se assim. — Parece que Cristo não mereceu ser exaltado pela sua Paixão.

1. — Pois, assim como o conhecimento da verdade é próprio de Deus, assim também a exaltação gloriosa, segundo a Escritura: Excelso é o Senhor sobre todas as gentes e a sua glória é sobre os céus. Ora, Cristo, enquanto homem tinha conhecimento de toda a verdade, não em virtude de nenhum mérito precedente, mas pela própria união de Deus com o homem, segundo o Evangelho: Nós vimos a sua glória, a sua glória como de Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. Logo, não mereceu a sua exaltação pela Paixão, mas só pela união.

2. Demais. — Cristo mereceu para si desde o primeiro instante da sua concepção, como se estabeleceu. Ora, a sua caridade no tempo da Paixão não foi maior que antes. Donde, sendo a caridade o princípio do mérito, parece que não mereceu mais pela Paixão a sua exaltação, que
antes.

3. Demais. — A glória do corpo resulta da glória da alma, como diz Agostinho. Ora, pela sua Paixão, Cristo não mereceu ser exaltado, quanto à glória da alma; pois, a sua alma foi bem-aventurada desde o primeiro instante da sua concepção. Logo, nem pela Paixão mereceu a exaltação quanto à glória do corpo.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Feito obediente até à morte e morte da cruz; pelo que Deus o exaltou.

O mérito implica uma certa igualdade com a justiça; donde o dizer o Apóstolo, ao que obra o jornal se lhe conta por dívida. Mas, quem, por injusta vontade, se atribui mais do que lhe é devido, é justo que se lhe diminua mesmo naquilo que lhe era devido; assim, como diz a Escritura, se alguém furtar uma ovelha restituirá quatro. E dizemos que assim mereceu por lhe ter sido desse modo punida a vontade iníqua. Do mesmo modo, quem se privou, por uma justa vontade, do que devia possuir, merece que se lhe acrescente mais do que tinha, como recompensa da sua vontade justa. Donde o dizer o Evangelho que quem se humilha será exaltado. Ora, Cristo, na sua Paixão, humilhou-se a si mesmo, descendo abaixo da sua dignidade, de quatro maneiras. — Primeiro, pela sua Paixão e morte, de que não era réu. — Segundo, quanto ao lugar, pois o seu corpo foi posto no sepulcro e a alma, no inferno. — Terceiro, quanto à confusão e aos opróbrios que sofreu. — Quarto, por ter sido entregue ao poder humano, conforme ele mesmo o disse a Pilatos: Tu não terias sobre mim poder algum se ele não te fora dado de cima. E assim, pela sua Paixão mereceu de quatro modos ser exaltado. — Primeiro, pela ressurreição gloriosa. Por isso diz a Escritura: Tu me conheceste ao assentar-me, isto é, a humildade da minha Paixão, e ao levantar-me — Segundo, pela ascensão do céu. Donde o dizer o Apóstolo: Antes havia descido aos lugares mais baixos da terra; aquele que desceu esse mesmo é também o que subiu acima de todos os céus. — Terceiro, por se ter sentado à dextra paterna e pela manifestação da sua divindade, segundo a Escritura: Ele será exaltado e elevado e ficará em alto grau sublimado; assim como pasmaram muitos à vista de ti, assim será sem glória o seu aspecto entre os varões. E o Apóstolo. Feito obediente até à morte da cruz; pelo que Deus também o exaltou e lhe deu um nome que é sobre todo nome, isto é, para que todos o tenham por Deus e como a Deus lhe prestem reverência. Tal é o que o Apóstolo acrescenta: Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, na terra e nos infernos. - Quarto, quanto ao seu poder judiciário, conforme a Escritura: A tua causa tem sido julgada como a de um ímpio; ganharás a causa.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O princípio do mérito está na alma; quanto ao corpo, ele é o instrumento do acto meritório. Donde, a perfeição da alma de Cristo, que foi o princípio do seu merecimento, não a devia ele adquirir pelo mérito, como a perfeição do corpo, que foi o sujeito da Paixão, sendo por isso o próprio instrumento do mérito.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Pelos méritos anteriores, Cristo mereceu a exaltação no concernente à sua alma, cuja vontade era informada pela caridade e pelas outras virtudes. Mas na Paixão mereceu ser exaltado a modo de uma certa recompensa, mesmo quanto ao corpo; pois, é justo que o corpo, que fora pela caridade sujeito à Paixão, recebesse a sua recompensa na glória.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Em virtude de uma permissão divina é que a glória da alma de Cristo não lhe redundou, antes da Paixão, ao corpo; para que assim alcançasse uma glória mais esplêndida para o corpo, quando a tivesse merecido pela Paixão. Mas, não convinha que fosse diferida a glória da alma, por estar esta unida imediatamente ao verbo; e por isso devia ficar cheio de glória, pelo próprio Verbo. Ao contrário, o corpo estava unido ao Verbo mediante a alma.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.





Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Leitura espiritual

Leitura Espiritual


Cristo que passa



São Josemaria Escrivá

173 
         
Imitar Maria

A nossa Mãe é modelo de correspondência à graça e, ao contemplarmos a sua vida, o Senhor dar-nos-á luz para que saibamos divinizar a nossa existência vulgar.
Durante o ano, quando celebramos as festas marianas, e cada dia em várias ocasiões, nós, os cristãos, pensamos muitas vezes na Virgem. Se aproveitamos esses instantes, imaginando como se comportaria a nossa Mãe nas tarefas que temos de realizar, iremos aprendendo a pouco e pouco, até que acabaremos por nos parecermos com Ela, como os filhos se parecem com a sua mãe.

Imitar, em primeiro lugar, o seu amor.
A caridade não se limita a sentimentos: há-de estar presente nas palavras e, sobretudo, nas obras.
A Virgem não só disse fiat, mas também cumpriu essa decisão firme e irrevogável a todo o momento.
Assim, também nós, quando o amor de Deus nos ferir e soubermos o que Ele quer, devemos comprometer-nos a ser fiéis, leais, mas a sê-lo efectivamente.
Porque nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus; mas o que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus, esse entrará no reino dos Céus.

Temos de imitar a sua natural e sobrenatural elegância.
Ela é uma criatura privilegiada na História da Salvação, porque em Maria o Verbo se fez carne e habitou entre nós.
Foi testemunha delicada, que soube passar inadvertida; não foi amiga de receber louvores, pois não ambicionou a sua própria glória.
Maria assiste aos mistérios da infância de seu Filho, mistérios, se assim se pode dizer, cheios de normalidade; mas à hora dos grandes milagres e das aclamações das massas desaparece.
Em Jerusalém, quando Cristo - montado sobre um jumentinho - é vitoriado como Rei, não está Maria.
Mas reaparece junto da Cruz, quando todos fogem.
Este modo de se comportar tem o sabor, sem qualquer afectação, da grandeza, da profundidade, da santidade da sua alma!

Procuremos aprender, seguindo também o seu exemplo de obediência a Deus, numa delicada combinação de submissão e de fidalguia. Em Maria, nada existe da atitude das virgens néscias, que obedecem, sim, mas como insensatas.
Nossa Senhora ouve com atenção o que Deus quer, pondera aquilo que não entende, pergunta o que não sabe.
Imediatamente a seguir, entrega-se sem reservas ao cumprimento da vontade divina: eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa palavra.
Vedes esta maravilha?
Santa Maria, mestra de toda a nossa conduta, ensina-nos agora que a obediência a Deus não é servilismo, não subjuga a consciência, pois move-nos interiormente a descobrirmos a liberdade dos filhos de Deus.

174
         
A escola da oração

O Senhor ter-vos-á feito descobrir muitos outros aspectos da correspondência fiel da Santíssima Virgem, que por si mesmos já são um convite para que os tomemos como modelo: a sua pureza, a sua humildade, a sua fortaleza, a sua generosidade, a sua fidelidade...
Eu gostaria de falar sobre um aspecto que engloba todos os outros, porque é o clima do progresso espiritual, isto é, a vida de oração.

Para aproveitar a graça que nos concede a Nossa Mãe no dia de hoje e para secundar também, em qualquer momento, as inspirações do Espírito Santo, pastor das nossas almas, devemos estar seriamente comprometidos numa actividade que nos leve a ter intimidade com Deus.
Não podemos esconder-nos no anonimato, porque a vida interior, se não for um encontro pessoal com Deus, não existe.
A superficialidade não é cristã. Admitir a rotina, na nossa luta ascética, equivale a assinar a certidão de óbito da alma contemplativa. Deus procura-nos um a um, e precisamos de Lhe responder um a um: eis-me aqui, pois Tu me chamaste.

Oração, sabêmo-lo todos, é falar com Deus.
É possível, porém, que alguém pergunte: falar, de quê?
Do que há-de ser, senão das coisas de Deus e das que enchem o nosso dia?
Do nascimento de Jesus, do seu caminhar por este mundo, da sua vida oculta e da sua pregação, dos seus milagres, da sua Paixão Redentora, da sua Cruz e da sua Ressurreição...
E na presença de Deus, Uno e Trino, tendo por Medianeira Santa Maria e por advogado S. José, Nosso Pai e Senhor - a quem tanto amo e venero - falaremos também do nosso trabalho de todos os dias, da família, das relações de amizade, dos grandes projectos e das pequenas coisas sem importância.

O tema da minha oração é o tema da minha vida.
Eu faço assim.
E à vista da minha situação concreta, surge naturalmente o propósito, determinado e firme, de mudar, de melhorar, de ser mais dócil ao amor de Deus.
Um propósito sincero, concreto.
E não pode faltar o pedido urgente, mas confiado, de que o Espírito Santo nos não abandone, porque tu és, Senhor, a minha fortaleza.

Somos cristãos correntes.
Trabalhamos em profissões muito diferentes. Toda a nossa actividade segue o caminho da normalidade.
Tudo se desenvolve com um ritmo previsível.
Os dias parecem iguais, inclusivamente monótonos...
Pois bem: esse programa, aparentemente tão comum, tem um valor divino e é algo que interessa a Deus, porque Cristo quer encarnar nos nossos afazeres, animando, a partir de dentro, até as nossas mais humildes acções.

Este pensamento é uma realidade sobrenatural, nítida, inequívoca; não é uma consideração destinada a consolar ou a confortar aqueles que, como nós, não conseguem gravar o seu nome no livro de oiro da História.
Cristo interessa-se por esse trabalho que devemos realizar - uma vez e mil vezes - no escritório, na fábrica, na oficina, na escola, no campo, no exercício da profissão manual ou intelectual.
Interessa-lhe também o sacrifício oculto que fazemos para não derramar sobre os outros o fel do nosso mau humor.

Recordai na oração estes temas, aproveitai-os precisamente para dizer a Jesus que o adorais, e assim, estareis a ser contemplativos no meio do mundo, no meio do ruído da rua, em toda a parte.
Essa é a primeira lição, na escola da intimidade com Jesus Cristo. Dessa escola, Maria é a melhor professora, porque a Virgem manteve sempre essa atitude de fé, de visão sobrenatural, perante tudo o que sucedia à sua volta: conservava todas estas coisas ponderando-as no seu coração.

Supliquemos hoje a Santa Maria que nos torne contemplativos, que nos ajude a compreender os contínuos apelos que o Senhor nos dirige, batendo à porta do nosso coração.
Peçamos-lhe: Mãe, tu trouxeste ao mundo Jesus, que nos revela o amor do nosso Pai, Deus; ajuda-nos a reconhecê-lo, no meio das preocupações de cada dia; remove a nossa inteligência e a nossa vontade, para que saibamos escutar a voz de Deus, o impulso da graça.

175 
         
Mestra de apóstolos

Mas não penseis só em vós mesmos: dilatai o vosso coração até abarcar toda a Humanidade.
Pensai, antes de mais nada, naqueles que vos rodeiam - parentes, amigos, colegas - e vede como podereis levá-los a sentir mais profundamente a amizade com Nosso Senhor.
Se se trata de pessoas honradas e rectas, capazes de estarem habitualmente mais próximas de Deus, recomendai-as concretamente a Nossa Senhora.
E pedi também por tantas almas que não conheceis, porque todos os homens estão embarcados na mesma barca.

Sede leais, generosos.
Fazemos parte de um só corpo, do Corpo Místico de Cristo, da Igreja Santa, à qual estão chamados muitos que procuram nobremente a verdade.
Por isso temos obrigação estrita de manifestar aos outros a qualidade, a profundidade do amor de Cristo. O cristão não pode ser egoísta. Se o fosse, atraiçoaria a sua própria vocação. Não é de Cristo a atitude daqueles que se contentam com conservar a sua alma em paz - falsa paz é essa... - despreocupando-se dos bens dos outros.
Desde que aceitemos o significado autêntico da vida humana - que nos foi revelado pela fé - não podemos sentir-nos satisfeitos, persuadidos de que nos comportamos bem pessoalmente, se não fizermos com que os outros se aproximem de Deus, de maneira prática e concreta.

Há um obstáculo real para apostolado: o falso respeito, o temor de tocar temas espirituais, a suspeita de que uma tal conversa não agradará em determinados ambientes, o medo de ferir susceptibilidades.
Quantas e quantas vezes esse raciocínio não é mais do que a máscara do egoísmo!
Não se trata de ferir ninguém, mas, pelo contrário, de servir.
Embora sejamos pessoalmente indignos, a graça de Deus torna-nos instrumentos para sermos úteis aos outros, comunicando-lhes a boa nova de que Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.

E será lícito meter-se desse modo na vida das outras pessoas?
É necessário.
Cristo meteu-se na nossa vida sem nos pedir autorização.
Assim procedeu também com os primeiros discípulos: passando, ao longo do mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
E disse-lhes Jesus: Segui-me, e eu vos farei pescadores de homens. Cada um de nós mantém a liberdade, a falsa liberdade, de responder a Deus que não, como aquele jovem carregado de riquezas,de quem nos fala S. Lucas.
Mas o Senhor e nós - se lhe obedecermos: ide e ensinai - temos. o direito e o dever de falar de Deus, deste grande tema humano, porque o desejo de Deus é o mais profundo que nasce no coração do homem.

Santa Maria, Regina Apostolorum, rainha de todos aqueles que desejam dar a conhecer o amor de teu filho: tu, que compreendes tão bem as nossas misérias, pede perdão pela nossa vida, pelo que em nós poderia ter sido fogo e não passou de cinzas, pela luz que deixou de iluminar, pelo sal que se tomou insípido.
Mãe de Deus, omnipotência suplicante: dá-nos juntamente com o perdão, a força de vivermos verdadeiramente de fé e de amor, para podermos levar aos outros a fé de Cristo.


(cont)