Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
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14/04/2016
3º Passo para uma vida espiritual cristã
Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra
incessantemente o seu alimento e a sua força, pois nela não acolhe somente uma
palavra humana, mas o que ela é realmente: a Palavra de Deus.
Os livros sagrados não devem ser apenas um livro de
leitura ou somente para conhecimento intelectual, mas sim um livro para rezar e
meditar os mistérios revelados por Deus a cada um de nós.
Aqueles que desejam conhecer Deus mais
profundamente, devem ter a Bíblia sagrada como um grande meio para chegar ao
conhecimento do Amor de Deus.
A Sagrada Escritura é uma grande arma espiritual
para derrubar as forças de Satanás.
Fonte: ALETEIA
(Revisão da
versão portuguesa por ama)
Pequena agenda do cristão
Quinta-Feira
(Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito:
Participar na Santa Missa.
Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.
Lembrar-me:
Comunhões espirituais.
Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.
Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?
Doutrina – 116
Compêndio
PRIMEIRA PARTE: A
PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU
CREIO» – «NÓS CREMOS»
CAPÍTULO SEGUNDO: DEUS VEM
AO ENCONTRO DO HOMEM
A SAGRADA ESCRITURA
19. Como ler a Sagrada
Escritura?
A
Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com a ajuda do Espírito Santo e
sob a condução do Magistério da Igreja segundo três critérios:
1)
Atenção ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura;
2)
Leitura da Escritura na Tradição viva da Igreja;
3)
Respeito pela analogia da fé, isto é, da coesão entre si das verdades da fé.
Antigo testamento / Génesis
Abrão
salva Lot
1 Naquela época, Anrafel, rei de
Sinear, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de
Goim, foram para a guerra contra Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de Gomorra,
contra Sinabe, rei de Admá, contra Semeber, rei de Zeboim, e contra o rei de
Belá, que é Zoar.
2 Todos esses últimos juntaram as suas
tropas no vale de Sidim, onde fica o mar Salgado.
3 Doze anos estiveram sujeitos a
Quedorlaomer, mas no décimo terceiro ano rebelaram-se.
4 No décimo quarto ano, Quedorlaomer e
os reis que se tinham aliado a ele derrotaram os refains em Asterote-Carnaim,
os zuzins em Hã, os emins em Savé-Quiriataim a ele e os horeus desde os montes
de Seir até El-Parã, próximo ao deserto.
5 Depois, voltaram e foram para
En-Mispate, que é Cades, e conquistaram todo o território dos amalequitas e dos
amorreus que viviam em Hazazom-Tamar.
6 Então os reis de Sodoma, de Gomorra,
de Admá, de Zeboim e de Belá, que é Zoar, marcharam e tomaram posição de
combate no vale de Sidim contra Quedorlaomer, rei de Elão, contra Tidal, rei de
Goim, contra Anrafel, rei de Sinear, e contra Arioque, rei de Elasar. Eram
quatro reis contra cinco.
7 Ora, o vale de Sidim era cheio de
poços de betume e, quando os reis de Sodoma e de Gomorra fugiram, alguns dos
seus homens caíram nos poços e o restante escapou para os montes.
8 Os vencedores saquearam todos os
bens de Sodoma e de Gomorra e todos os seus mantimentos, e partiram.
9 Levaram também Ló, sobrinho de
Abrão, e os bens que ele possuía, visto que morava em Sodoma.
10 Mas alguém que tinha escapado veio
e relatou tudo a Abrão, o hebreu, que vivia próximo dos carvalhos de Manre, o
amorreu. Manre e os seus irmãos Escol e Aner eram aliados de Abrão.
11 Quando Abrão ouviu que o seu
parente fora levado prisioneiro, mandou convocar os trezentos e dezoito homens
treinados, nascidos em sua casa, e saiu em perseguição dos inimigos até Dã.
12 Atacou-os durante a noite em
grupos, e assim os derrotou, perseguindo-os até Hobá, ao norte de Damasco.
13 Recuperou todos os bens e trouxe de
volta o seu parente Ló com tudo o que possuía, com as mulheres e o resto dos
prisioneiros.
14 Voltando Abrão da vitória sobre Quedorlaomer
e sobre os reis que a ele se haviam aliado, o rei de Sodoma foi ao seu encontro
no vale de Savé, isto é, o vale do Rei.
15 Então Melquisedeque, rei de Salém e
sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe pão e vinho e abençoou Abrão, dizendo: "Bendito
seja Abrão pelo Deus Altíssimo, Criador dos céus e da terra.
16 E bendito seja o Deus Altíssimo, que
entregou os seus inimigos nas suas mãos".
E Abrão lhe deu o dízimo de tudo.
17 O rei de Sodoma disse a Abrão:
"Dá-me as pessoas e podes ficar com os bens".
18 Mas Abrão respondeu ao rei de
Sodoma: "De mãos levantadas ao Senhor, o Deus Altíssimo, Criador dos céus
e da terra, juro que não aceitarei nada do que te pertença, nem mesmo um cordão
ou uma correia de sandália, para que jamais venhas a dizer: 'Eu enriqueci Abrão'.
19 Nada aceitarei, a não ser o que os
meus servos comeram e a porção pertencente a Aner, Escol e Manre, os quais me
acompanharam. Que eles recebam a sua porção".
(Revisão da versão portuguesa por ama)
Meu Pai do Céu, ajuda-me
A ti, que desmoralizas, repetir-te-ei uma coisa muito consoladora:
a quem faz o que pode, Deus não lhe nega a Sua graça. Nosso Senhor é Pai, e se
um filho lhe diz na quietude do seu coração: Meu Pai do Céu, aqui estou,
ajuda-me... Se recorre à Mãe de Deus, que é Mãe nossa, vai para a frente. Mas
Deus é exigente. Pede amor de verdade; não quer traidores. É preciso ser fiel a
essa luta sobrenatural, que é ser feliz na terra à força de sacrifício. (Via Sacra, 10ª Estação, n. 3)
Recorrei semanalmente – e sempre que o necessiteis, sem dar lugar
aos escrúpulos – ao santo Sacramento da Penitência, ao sacramento do perdão
divino. Revestidos da graça, caminharemos por entre os montes e subiremos a
encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos. Utilizando estes
recursos com boa vontade e rogando ao Senhor que nos conceda uma esperança cada
dia maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem filhos de Deus: Se
Deus está connosco, quem nos poderá derrotar? Optimismo, portanto. Incitados
pela força da esperança, lutaremos para apagar a mancha viscosa que espalham os
semeadores do ódio e redescobriremos o mundo com uma perspectiva jubilosa,
porque saiu formoso e limpo das mãos de Deus, e restituir-lho-emos assim belo,
se aprendermos a arrepender-nos.
Cresçamos na esperança, que deste modo nos consolidaremos na fé,
verdadeiro fundamento das coisas que se esperam e prova das que não se veem.
Cresçamos nesta virtude, que é suplicar ao Senhor que aumente a sua caridade em
nós, porque só se confia verdadeiramente no que se ama com todas as forças. E
vale a pena amar o Senhor. Vós haveis experimentado, como eu, que a pessoa
enamorada se entrega confiante, com uma sintonia maravilhosa, em que os corações
batem num mesmo querer. E que será o Amor de Deus? Não sabeis que Cristo morreu
por cada um de nós? Sim, por este nosso coração pobre, pequeno, se consumou o
sacrifício redentor de Jesus.
Frequentemente, o Senhor fala-nos do prémio que nos ganhou com a
sua Morte e Ressurreição. Vou preparar um lugar para vós. Depois que eu tiver
ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo para
que, onde eu estou, estejais Vós também. O Céu é a meta do nosso caminho
terreno. Jesus Cristo precedeu-nos e ali, na companhia da Virgem e de S. José –
a quem tanto venero – dos Anjos e dos Santos, aguarda a nossa chegada. (Amigos de Deus, nn. 219–220)
Reflectindo - 172
A pergunta completa será:
Faço o bem que desejo ou pratico o mal que não quero?
Velha de dois mil anos - veja-se São Paulo – [1] esta questão torna-se uma constante nas almas que
procuram a perfeição, a santidade.
Leva-nos a considerar, sobretudo, as faltas de omissão
que frequentemente nos esquecemos de confessar.
E também, evidentemente, na nossa condição humana
frágil e volúvel que nos leva por caminhos que não queremos e nos afasta de
outros que deveríamos escolher.
A vontade própria só o é verdadeiramente quando é livre de quaisquer amarras ou preconceitos, quando a exercemos com plena consciência e conhecimento.
Um acto da vontade não é nunca uma experiência mas uma certeza.
A "máxima" poderia ser: "se não sabemos
não fazemos, se não conhecemos não desejamos".
Existe ainda um perigo que surge com mais
frequência e que é fazer mal com a convicção que estamos a praticar o bem.
O exemplo mais conhecido, talvez, seja o que de passou
na morte de Cristo quando Ele pede ao Pai perdão para eles porque «não sabem o que fazem» [2], como se dissesse que pensariam estar a fazer algo
bom.
Mais tarde - mais de dois mil anos passados - a Igreja
reconhece o mesmo e o Santo que era o seu chefe na altura - João Paulo II - chega
a pedir perdão ao povo judeu por séculos a serem considerados como criminosos.
(cont)
Evangelho, comentário, L. espiritual
Páscoa
Evangelho:
Jo 6, 44-51
44
Ninguém pode vir a Mim se o Pai que Me enviou não o atrair; e Eu o
ressuscitarei no último dia. 45 Está escrito nos profetas: “E serão todos
ensinados por Deus”. Portanto, todo aquele que ouve e aprende do Pai, vem a
Mim. 46 Não porque alguém tenha visto o Pai, excepto Aquele que vem de Deus;
Esse viu o Pai. 47 Em verdade, em verdade vos digo: O que crê em Mim tem a vida
eterna. 48 Eu sou o pão da vida. 49 Vossos pais comeram o maná no deserto e
morreram. 50 Este é o pão que desceu do céu para que aquele que dele comer não
morra. 51 Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente; e o pão que Eu darei é a Minha carne para a salvação do mundo».
Comentário:
Nunca
compreenderemos bem o Milagre Eucarístico porque, de facto é um mistério.
Aceitamos
e acreditamos porque a nossa Fé nos garante que na Hóstia Consagrada se
encontra realmente o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Podemos
afirmar que é a expressão completa e definitiva do Amor de Jesus Cristo pelos
homens Seus irmãos.
(ama, comentário
sobre Jo 6, 44-51, 2015.08.09)
Leitura espiritual
SANTO
AGOSTINHO – CONFISSÕES
LIVRO
DÉCIMO
CAPÍTULO
XXVII
Solilóquio
de amor
Tarde te amei, Beleza tão antiga
e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro de mim, e eu lá fora, a
procurar-te! Eu, disforme, atirava-me à beleza das formas que criaste. Estavas comigo,
e eu não estava em ti. Retinha-me longe de ti, aquilo que nem existiria se não
existisse em ti. Tu me chamaste, gritaste por mim, e venceste a minha surdez.
Brilhaste, e o teu esplendor afugentou a minha cegueira. Exalaste o teu
perfume, respirei-o, e suspiro por ti. Eu te saboreei, e agora tenho fome e
sede de ti. Tocaste-me, e o desejo da tua paz me inflama.
CAPÍTULO
XXVIII
A
vida do homem
Quando me unir a ti com
todo o meu ser, não sentirei mais dor ou fadiga; a minha vida, cheia de ti,
será então a verdadeira vida. Alivias aqueles que enches de ti; mas, como ainda
não estou cheio de ti, sou um peso para mim mesmo. As minhas alegrias, que
deveriam ser choradas, lutam com as minhas tristezas que deveriam alegrar-me, e
ignoro de que lado está a vitória.
Ai de mim, Senhor, tem
piedade de mim! As tristezas do meu mal lutam com as minhas santas alegrias, e
eu não sei de que lado está a vitória. Ai de mim! Senhor, tem piedade de mim!
Eis as minhas feridas: eu
não as escondo. Tu és o médico, eu o enfermo; és misericordioso, e eu, miserável.
Não é contínua tentação a vida do homem sobre a terra? Quem quer aborrecimentos
e dificuldades? Mandas que os suportemos, e não que os amemos. Ninguém ama o
que tolera, ainda que goste de o tolerar; e mesmo que alguém se alegre em
tolerar, preferiria nada ter que suportar. Na adversidade, desejo a prosperidade,
e na prosperidade temo a adversidade. Entre estes dois extremos, qual será o
termo médio onde a vida humana não seja tentação?
Ai das prosperidades do
século, onde se receia a adversidade e a alegria é corrompida! Ai das
adversidades do século, uma, duas, três vezes ai! Pelo desejo da prosperidade,
por ser dura a adversidade, e pelo temor que vença a nossa paciência! A vida do
homem sobre a terra não é pois uma contínua tentação?
CAPÍTULO
XXIX
Esperança
em Deus
Só na grandeza da Tua
misericórdia coloco toda a minha esperança. Dai-me o que me ordenas e ordena-me
o que quiseres. Mandas que sejamos castos. “Sabendo, diz um sábio, que ninguém
pode ser casto se Deus não lhe der este dom, já é sabedoria saber de quem procede
este dom”. A continência reúne os elementos da nossa pessoa, reconduz-nos à
unidade que perdemos dispersando-nos por tantas criaturas. Pouco te ama quem te
ama juntamente com alguma criatura, e não a ama por tua causa.
Ó amor, que sempre ardes e
jamais te extingues! Ó caridade, meu Deus, inflama-me!
Ordena-me a continência?
Dá-me o que mandas, e ordena o que quiseres!
CAPÍTULO
XXX
Sonho
e voluptuosidade
Ordenas que me abstenha da
concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da ambição do século.
Proibiste as uniões luxuriosas, e embora tenhas permitido o casamento, ensinaste
que há um estado bem melhor. E, pela tua graça, optei por esse estado, antes
mesmo de me tornar dispensador do teu sacramento.
Mas na minha memória, de
que falei longamente, vivem ainda as imagens dessas voluptuosidades que os meus
costumes de outrora ali gravaram. Sem forças diante de mim quando estou
acordado, durante o sono, elas não somente suscitam em mim o prazer, mas o consentimento
do prazer e a ilusão da acção. Tais ilusões têm tal poder sobre a minha alma e
sobre o meu corpo, apesar de tão falsas, que os seus fantasmas impedem o meu
sono o que a realidade não me pode induzir quando em vigília. Acaso então,
Senhor meu Deus, será que eu não sou eu nessas horas? E como há tão grande
diferença dentro de mim mesmo, do momento em que passo da vigília para o sono e
vice-versa! Onde pois está a razão, que durante a vigília resiste a tais
sugestões, e que não se abala mesmo diante da realidade? Acaso se fecha juntamente
com os olhos? Ou adormece com os sentidos do corpo?
E porquê, muitas vezes,
mesmo no sono, resistimos, lembrados do nosso propósito, e nele permanecemos
castos, negando o consentimento a tais seduções? Todavia, a diferença é tanta
que, no caso de não resistir durante o sono, ao acordar voltamos a encontrar a
paz de consciência; e a própria diferença entre os dois estados indica que não
fomos nós que fizemos aquilo, e lamentamos o que se fez em nós.
Senhor omnipotente, não
poderia a tua mão curar todas as enfermidades da minha alma, abolindo também,
com maior abundância de graça, os movimentos lascivos do meu sono? Cada vez
mais multiplica, Senhor, o número das tuas bondades para comigo, para que a minha
alma, livre do visco da concupiscência, siga até chegar a ti. Para que não seja
rebelde, nem mesmo durante o sono; para que, pelo estímulo de imagens bestiais,
não só não cometa essas torpezas degradantes até a lascívia carnal, mas que nem
mesmo consinta nisso.
Não é muito para ti, ó
Todo-Poderoso, que podes fazer mais do que pedimos e compreendemos, fazer com
que, quer na minha idade presente, quer na minha vida futura, eu me deleite
nessas tentações – mesmo que sejam tão pequenas, que o primeiro esforço as
venceria, quando adormeço com pensamentos castos.
Agora digo exultando no
meu Senhor em que estado me encontro neste género de pecado, com tremor pelos
dons que já me concedeste, e gemendo pelas minhas imperfeições.
Espero que aperfeiçoes em
mim as tuas misericórdias, até que atinja a plenitude da paz de que gozarão em
ti o meu espírito e o meu corpo, quando a morte for absorvida pela vitória.
CAPÍTULO
XXXI
A
intemperança
O dia traz-me novo pecado,
e oxalá fosse o único! Comendo e bebendo, restauramos as perdas diárias do
nosso corpo, até ao dia em que destruirás o alimento e o estômago, matando a minha
necessidade com uma maravilhosa saciedade, e revestindo este corpo corruptível
de eterna incorruptibilidade.
Mas por ora esta
necessidade é-me grata, e luto contra essa delícia, para que não me domine; é
uma guerra quotidiana que sustento com jejum, reduzindo o meu corpo à
escravidão. Mas as minhas dores são eliminadas pelo prazer, porque a fome e a
sede são sofrimentos: queimam e matam como a febre se os alimentos não lhe põem
remédio. Mas como esse remédio está sempre à nossa disposição, graças à liberalidade
dos teus dons que põe à disposição da nossa fraqueza a terra, a água e o céu, as
nossas misérias recebem de nós o nome de delícias.
Tu me ensinaste a
considerar os alimentos como remédios. Mas quando passo dessa penosa
necessidade à paz da saciedade, nessa passagem a concupiscência arma para mim a
sua cilada. Esta passagem é prazeirosa, e não há outra para se chegar onde a
necessidade nos obriga. A razão do beber e do comer é a conservação da saúde;
mas um prazer insidioso acompanha como lacaio essas funções, e sempre tenta
tomar a dianteira, de modo que faço pelo prazer o que digo fazer pela minha
saúde.
Ora, a medida do prazer
não é a mesma da saúde; o que é bastante para a saúde não o é para o prazer, e
muitas vezes é difícil discernir se é o cuidado com o corpo que pede reforço de
alimento, ou se é a gula que nos engana e quer ser servida. Essa incerteza
alegra a nossa pobre alma, feliz por ter encontrado um álibi e uma desculpa na
impossibilidade de determinar o que basta para o cuidado com a saúde, e sob o
pretexto da sua conservação esconde a busca do prazer. Esforço-me para resistir
a essas tentações diárias, e invoco a tua mão para me socorrer. A ti confesso a
minha incerteza, porque sobre este ponto o meu juízo ainda não é firme.
Ouço a voz do meu Deus que
ordena: “Não se façam pesados os vossos corações com a intemperança e
embriaguez”. A embriaguez está longe de mim; que a tua misericórdia não a deixe
aproximar-se. Mas a intemperança, ao contrário, chega às vezes a arrastar o teu
servo. A tua misericórdia há-de afastá-la de mim, porque ninguém pode ser
temperante senão pela tua graça.
Concedes-nos muitas coisas
quando te invocamos, e todo o bem que recebemos, mesmo antes de o pedir, é a ti
que sempre o devemos. E o próprio acto de reconhecermos que esses dons são
teus, é ainda graça tua. Nunca estive embriagado, mas conheci muitos, dados a
esse vício, que se tornaram sóbrios pela tua graça. Assim, é graças a ti que
alguns não são o que nunca foram; e também é graças a ti que outros não são
mais o que foram; e é graças a ti, enfim, que estes e aqueles sabem a quem
devem essa graça.
Ouvi ainda de ti outra
palavra: “Não corras atrás das tuas concupiscências, e reprime os teus apetites”
– A tua graça ainda me fez ouvir outra palavra, de que tanto gostei: “Se
comemos, não teremos abundância; e se não comemos, não sofreremos privação”. –
Ou seja: nem isto me fará rico, nem aquilo pobre. – E ouvi ainda esta outra:
“Aprendi a contentar-me com o que tenho: sei viver na abundância e suportar a
penúria. Tudo posso naquele que me fortalece”. – Eis como fala o bom soldado da
milícia celeste: nada parecido ao pó que somos. Mas, Senhor, lembra-se que somos
pó, e que de pó fizeste o homem; que este se havia perdido, e que foi
reencontrado.
Por si mesmo, formado do
mesmo pó que nós, nada podia aquele cujas palavras inspiradas tanto amei: “Tudo
posso naquele que me fortalece” – Concede-me forças, para que eu possa. Dá-me o
que mandas, e manda o que quiseres. Paulo confessa que tudo recebeu de ti, e, quando
se gloria, é no Senhor que ele se gloria.
Ouvi também outro que te
pedia esta graça: “Afasta de mim a intemperança”. – De onde se conclui
claramente, ó Deus santo, que dás a força para cumprir o que mandas.
“Tu me ensinaste, Pai
bondoso, que tudo é puro para os puros, mas que é mau para o homem comer com
escândalo, que tudo o que fizeste é bom, e que nada deve ser rejeitado do que
se recebe com acção de graças; que os alimentos não nos recomendam a Deus, que
ninguém nos deve julgar pela comida ou pela bebida; que o que come não deve
julgar o que não come”.
Por essas lições, graças e
louvores te dou, meu Deus, meu Mestre, que bateste à porta dos meus ouvidos e
iluminaste o meu coração. Livra-me de toda a tentação. Não receio a impureza
dos alimentos, mas a impureza do prazer.
Sei que Noé teve permissão
de comer toda espécie de carne que pudesse servir de alimento, e que Elias
comeu carne para reparar as forças; sei que João Baptista, asceta admirável, não
se manchou com os animais – os gafanhotos – de que se alimentava. Todavia eu
sei que Esaú se deixou enganar pelo desejo de um prato de lentilhas; que David
se repreendeu a si mesmo por ter desejado água; que o nosso Rei foi submetido à
tentação, não de carne, mas de pão. Por isso o povo foi justamente repreendido
no deserto, não por ter desejado comer carne, mas porque o desejo o fez
murmurar contra o Senhor.
Exposto a estas
limitações, luto diariamente contra a concupiscência do comer e do beber, pois
não é coisa que possa cortar de uma vez por todas, apenas com o propósito de
nunca mais recair, como fiz com a luxúria. É uma rédea imposta ao meu paladar,
ora para afrouxá-la, ora para retesá-la. E quem é, Senhor, que não se deixa
arrastar às vezes além dos limites do necessário? Se existe alguém assim, é de
facto grande, e deve engrandecer o teu nome. Eu porém não sou desse número,
porque sou pecador. Contudo, também, eu engrandeço o teu nome, e Aquele que
venceu o mundo intercede junto de ti pelos meus pecados. Conta-me entre os
membros enfermos do seu corpo, porque os teus olhos viram as minhas
imperfeições e porque todos serão inscritos no teu livro.
(Revisão
de versão portuguesa por ama)