Páginas

16/03/2016

Índice de publicações em Mar 16

nunc coepi – Índice de publicações em Mar 16
São Josemaria – Textos

AMA - Comentários ao Evangelho Jo 8 31-42, Confissões - Santo Agostinho

Bens temporais, Critério, Sermão (Stº. Agostinho)

JMA – Quaresma

CIC – Compêndio

Formação, 

AT - Salmos – 135

Agenda Quarta-Feira


Reflexões quaresmais

Quaresma de 2016 – 34ª Reflexão

Hoje, Senhor, levas-me a reflectir sobre a Fé.

Levas-me a passear, enquanto vais conversando comigo:
A Fé, meu filho, é dom da minha graça à tua vida. Mas também depende de ti, da tua vontade, do teu querer, porque a Fé vai para além do acreditares em Mim, simplesmente.
A Fé, para ser dom na tua vida, tem que ser uma adesão total a Deus, adesão essa que não pode ser estática, mas sim vivida diariamente numa relação cada vez mais pessoal, mais intima, mais forte.
Mas não é, também, algo isolado apenas entre Mim e ti, mas transvasa dessa relação pessoal e intima, para uma comunhão com os teus irmãos na Fé, pois só assim a Fé se torna vida e se completa.
A Fé, meu filho, não é acreditares que Eu posso fazer “coisas”, sobretudo aquelas que me pedes e julgas necessárias à tua vida ou à vida dos outros.
A Fé, meu filho, é acreditares que Eu faço tudo o que é necessário para ti e para os outros, segundo a Minha vontade, ou seja, segundo o que Eu sei ser bom para ti e para os outros, mesmo que tu não percebas.
A Fé, confirma no coração dos homens o Meu amor por eles, levando-os à confiança e à esperança de que, estando sempre convosco e vós comigo, vos conduzo à salvação, à vida eterna, à plenitude do Amor de Deus.

O meu coração abre-se decididamente e peço-Te:
Eu creio, Senhor, mas aumenta a minha fé!
Faz com que acredite para além de mim, ou seja, que acredite «porque não foi a carne nem o sangue que mo revelou, mas o Pai que está no Céu.»

Obrigado, Senhor, obrigado pelo dom da Fé que ao homem quiseste conceder.


Monte Real, 15 de Março de 2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Quaresma

Semana V

Evangelho: Jo 8, 31-42

31 Jesus disse então aos judeus que creram n'Ele: «Se vós permanecerdes na Minha palavra sereis verdadeiramente Meus discípulos, 32 conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres». 33 Eles responderam-Lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes Tu: Sereis livres?». 34 Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35 Ora o escravo não fica para sempre na casa, mas o filho é que fica nela para sempre. 36 Por isso, se o Filho vos livrar, sereis verdadeiramente livres. 37 Bem sei que sois descendentes de Abraão, mas procurais matar-Me porque a Minha palavra não penetra em vós.38 Eu digo o que vi em Meu Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai». 39 Eles replicaram: «O nosso pai é Abraão». Jesus disse-lhes: «Se sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão. 40 Mas agora procurais matar-Me, a Mim, que vos disse a verdade que ouvi de Deus. Abraão nunca fez isto. 41 Vós fazeis as obras do vosso pai». Eles disseram-Lhe: «Nós não somos filhos da prostituição, temos um pai que é Deus». 42 Jesus disse-lhes: «Se Deus fosse vosso pai, certamente Me amaríeis porque Eu saí e vim de Deus. Não vim de Mim mesmo, mas foi Ele que Me enviou

Comentário:

Porque é que o conhecimento da verdade nos liberta?

Porque ao conhecermos a verdade sobre nós próprios verificamos, damo-nos conta que somos pecadores e, o pecado, escraviza o homem.
Ao libertar-nos do pecado, dando-nos os meios para nós próprios o fazer-mos, Jesus Cristo, que é a Verdade, concede-nos essa liberdade dos filhos de Deus que devemos almejar.

Sem arrependimento e uma reconvenção séria da nossa vida não a alcançaremos e, então, ficaremos sujeitos às consequências do pecado que são, sempre grilhões que nos mantêm amarrados a, à nossa condição humana.

(ama, comentário sobre Jo 8, 31-42, 2013.03.20)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO - CONFISSÕES

LIVRO QUINTO

CAPÍTULO VIII

Viagem a Roma

Também foi obra tua, o facto de me convencerem a ir a Roma, para ali leccionar o que ensinava em Cartago. Mas não deixarei de confessar-te o motivo que me moveu, porque também nisso tudo se reconhece a profundidade do teu desígnio, e merece ser meditada e exaltada a tua misericórdia sempre presente. O motivo que me levou a Roma não foram maiores lucros e maior dignidade, como me prometiam os amigos que tal me aconselhavam – se bem que essas razões ainda fossem importantes para mim nesse tempo – mas o principal e quase único motivo da minha determinação era saber que os jovens de Roma eram mais sossegados nas classes, em virtude da rigorosa disciplina a que estavam sujeitos. Não lhes era lícito entrar desordenada e impudentemente nas aulas dos professores dos quais não eram alunos, nem sequer eram admitidos sem licença; bem ao contrário do que acontecia em Cartago, onde a liberdade dos estudantes é tão vergonhosa e destemperada que invadem cínica e furiosamente as aulas, perturbando a ordem estabelecida pelos mestres no seu próprio interesse. Além disso, com incrível insolência cometem uma quantidade de grosserias, que deveriam ser castigadas pelas leis, se a tradição não os protegesse. Tal costume aliás, apenas manifesta a infelicidade no caso desses jovens, que já praticam como lícito o que jamais será permitido pela tua lei eterna. Julgam agir impunemente, quando a própria cegueira é o seu maior castigo, padecendo males incomparavelmente maiores do que os que causam aos outros.

Com isso vi-me obrigado, quando professor, a suportar nos outros costumes que não quis adoptar como meus quando estudante; e por isso desejava ir para uma cidade na qual, segundo me asseguravam, não aconteciam tais coisas. E tu, Senhor, minha esperança e meu quinhão na terra dos vivos, a fim de que eu mudasse de residência para a saúde de minha alma, punhas-me espinhos em Cartago, para arrancar-me dali, e deleites em Roma para atrair-me para lá. Atraías-me por meio de homens que amavam uma vida morta, dos quais uns agiam aqui como loucos, e outros me aliciavam alhures com bens ilusórios. E, para corrigir os meus passos, usavas ocultamente da sua e da minha perversidade. Porque os que perturbavam minha paz estavam cegos por uma raiva vergonhosa, e os que me convidavam para mudar sabiam a terra; e eu, que detestava em Cartago uma verdadeira miséria, buscava em Roma uma falsa felicidade.

Mas o verdadeiro motivo de eu sair de Cartago e ir para Roma só tu, ó Deus, o sabias, sem manifestá-lo a mim nem à minha mãe, que chorou amargamente a minha partida, seguindo-me até ao mar. Mas tive de enganá-la, porque me agarrava com força, instando-me a desistir do meu propósito ou a levá-la comigo. Fingi pois que tinha que me despedir de um amigo que eu não queria abandonar, até que, soprando o vento, ele pudesse navegar. Assim enganei a minha mãe, e a uma tal mãe! Fugi, e tu também me perdoaste este pecado misericordiosamente, salvando-me a mim, cheio de execráveis imundícies, das águas do mar para que chegasse às águas da tua graça. Purificado com elas, secariam os rios dos olhos de minha mãe, com que todos os dias regava a terra diante de ti, por minha causa.

Contudo, como se recusasse a voltar sem mim, apenas pude persuadi-la a permanecer aquela noite numa capela próxima do nosso navio, consagrada à memória de São Cipriano. Mas naquela mesma noite parti às escondidas, deixando-a orar e a chorar. E que te pedia ela, meu Deus, com tantas lágrimas, senão que me impedisses de navegar? Mas tu, de visão infinitamente mais ampla, entendendo o intuito do seu desejo, não atendeste ao que ela então te pedia, para fazer em mim aquilo que sempre te pedia.

Soprou o vento, enfunou as nossas velas, e logo se desvaneceu do nosso olhar a praia, onde de manhã cedo a minha mãe, louca de dor, enchia de queixas e de prantos os teus ouvidos insensíveis.

Deixaste-me correr atrás das minhas paixões pôr fim às minhas concupiscências, castigando com o justo flagelo da dor a saudade demasiado carnal de minha mãe. Ela, como todas as mães, e ainda mais que a maioria delas, desejava manter-me junto de si, desconhecendo as grandes alegrias que lhe preparavas com a minha ausência. Não o sabia, e por isso chorava e se lamentava, denunciando com esses lamentos a herança que recebera de Eva, buscando em lágrimas ao que com gemidos havia dado à luz.

Por fim, depois de me ter chamado mentiroso e mau filho, pôs-se de novo a rezar por mim e voltou para a sua vida habitual, enquanto eu me dirigia a Roma.

CAPÍTULO IX

Enfermo

Em Roma fui colhido pelo flagelo de uma doença corporal, que esteve a ponto de me mandar para a sepultura, carregado de todos os pecados cometidos contra ti, contra mim e contra o próximo; pecados numerosos e pecados, que se somavam à cadeia do pecado original, pelo qual todos morremos em Adão. Ainda não me tinhas perdoado nenhum deles em Cristo, nem ele havia apagado com a sua cruz as inimizades que contraíra contigo com meus pecados. E como poderia ele desfazê-los por uma cruz de onde eu não via pender mais que um fantasma? Porque tão falsa me parecia a morte da sua carne como verdadeira a morte da minha alma, e tão verdadeira a morte da sua carne como falsa a vida da minha alma, que disto se não persuadia.

Entretanto, agravando-se as febres, eu estava a ponto de partir e de perecer. Para onde iria eu, se então tivesse que morrer, senão para o fogo e tormentos merecidos por minhas acções, de acordo com a justa ordem por ti estabelecida? A minha mãe tudo ignorava, mas, ausente, orava por mim, e tu, presente em todas as partes onde ela estava, lhe dava ouvidos; exercias a tua misericórdia para comigo onde eu estava, restituindo-me a saúde do corpo, ainda que o meu coração sacrílego continuasse doente. Nem mesmo estando em tão grande perigo desejei o teu baptismo. Quando menino eu era melhor, porque então o solicitei à piedade da minha mãe, como já recordei e confessei. Mas, para minha vergonha, eu havia crescido e, na minha loucura, zombava dos remédios da tua medicina, que não me deixou morrer duplamente em tal estado.

Se o coração da minha mãe fosse trespassado por essa ferida, nunca haveria de sarar.

A minha eloquência não é suficiente para descrever o grande amor que me dedicava, e até que ponto os seus cuidados para me gerar em espírito eram piores que os que suportava quando me concebeu pela carne.

Por isso, não vejo como poderia sarar se a minha morte em tal estado tivesse ferido as entranhas de seu amor. E onde estariam tantas orações, continuamente repetidas? Estariam em ti, somente em ti. Seria possível que tu, Deus de misericórdia, desprezasses o coração contrito e humilhado de uma viúva casta e sóbria, que frequentemente dava esmolas e servia obsequiosa os teus santos? Que em nenhum dia deixava de levar sua oferenda ao teu altar? Que ia duas vezes por dia – de manhã e à tarde – à tua igreja, sem faltar jamais, e não para entreter-se em vãs conversas e cochichos de velhas, mas para te ouvir as palavras e para que a ouvisses nas suas orações? Poderias desprezar as lágrimas de uma mãe que não te pedia nem ouro, nem prata, nem bem algum terreno e frágil, mas a salvação da alma do seu filho? Poderias, ó Deus, a quem ela devia tudo o que era, poderias desprezá-la e negar-lhe teu auxílio? De nenhum modo, Senhor; pelo contrário, tu a assistias, e a escutavas, mas pelo caminho determinado por tua providência.

Como poderias enganá-la naquelas visões e respostas, de algumas das quais já falamos, e de outras que passo em silêncio, que ela guardava no seu coração fiel, e que te apresentava nas suas orações contínuas como compromissos assinados pela tua mão, e que irias cumprir.

Porque, por tua misericórdia infinita, gostas de te fazer devedor daqueles a quem perdoas todas as dívidas.

CAPÍTULO X

Agostinho e os erros dos maniqueus

Restabeleceste-me, pois, daquela doença, e então salvaste o filho da tua serva quanto ao corpo a fim de poder, salvá-lo melhor e mais firmemente. Em Roma juntei-me ainda com os que se diziam “santos”, falsos e enganadores. E não só convivia com os ouvintes, entre os quais se contava o dono da casa em que eu adoecera e convalescera – mas também com os que se chamam “eleitos”.

Ainda então me parecia que não éramos nós que pecávamos, mas não sei que estranha natureza que pecava em nós; por isso a minha soberba deleitava-se em me ter como isento de culpa, e portanto de todo desobrigado a confessar o meu pecado, quando agia mal, para que pudesses curar minha alma que te ofendia. Antes, gostava de me desculpar, acusando a não sei que ser estranho que estava em mim, mas que não era eu. Na verdade, eu era tudo aquilo, embora a minha impiedade me tivesse dividido contra mim mesmo. E o mais incurável do meu pecado era justamente o não me considerar pecador, preferindo, a minha execrável iniquidade, que fosses vencido em mim, para minha perdição, ó Deus omnipotente, a que vencesses a minha alma para minha salvação. Ainda não tinhas posto guarda diante da minha boca, nem porta de protecção ao redor dos meus lábios, a fim de que o meu coração não se inclinasse para as más palavras, nem buscasse desculpas para seus pecados, como os homens prevaricadores. Eis a razão pela qual eu ainda mantinha relações de amizade com os eleitos dos maniqueus. Mas, desesperado de poder progredir para a verdade dentro daquela falsa doutrina, contentava-me a segui-la até encontrar algo melhor, professando-a já com mais liberdade e frouxidão.

Nesse tempo, veio-me à mente a ideia de que os filósofos chamados académicos tinham sido mais prudentes que os outros, por sustentarem que se deve duvidar de tudo, e que nenhuma verdade pode ser compreendida pelo homem. Julguei então que era esse o seu pensamento, como geralmente se crê, não tendo ainda compreendido as suas verdadeiras intenções.

Quanto ao meu hóspede, não me furtei de admoestar a excessiva credulidade com que aceitava as fábulas de que estavam cheios os livros dos maniqueus. Todavia, tinha mais amizade com tais homens do que com os estranhos à sua heresia. É verdade que já não a defendia com a antiga animosidade; mas a sua familiaridade – em Roma havia muitos deles ocultos – tornava-me bastante negligente para procurar outra coisa. Eu desesperava principalmente de poder achar a verdade na tua Igreja, ó Senhor dos céus e da terra, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, verdade da qual eles me afastavam. Parecia-me mui torpe acreditar que tinhas figura de carne humana, e que estavas limitado pelos contornos de um corpo como o nosso. E quando queria pensar no meu Deus, não o sabia imaginar senão com massa corpórea – pois não me parecia que pudesse existir algo diferente – esta era a causa principal e quase única do meu erro inevitável.

Daqui se gerou também a minha crença de que o mal tivesse substância, também corpórea, massa negra e disforme, ora espessa – a que chamavam terra – ora ténue e subtil, como o ar, a qual julgava ser um espírito maligno que investia sobre a terra. E visto que a minha piedade, por pouca que fosse me obrigava a pensar que um Deus bom não podia criar nenhuma natureza má, imaginava duas substâncias antagónicas, ambas infinitas, a do mal um pouco menor, a do bem um pouco maior; e deste princípio pestilencial originavam-se as demais blasfémias. Com efeito, quando o meu espírito se esforçava por voltar à fé católica, era rechaçado porque a minha ideia de fé católica não era correcta. E parecia-me ser mais piedoso, ó Deus, a quem louvam em mim as tuas misericórdias, julgar-te infinito por todas as partes, com excepção de um aspecto, a substância do mal, onde era forçoso reconhecer os teus limites, do que julgar-te limitado por todas as partes pelas formas do corpo humano.

Também tinha como melhor admitir que não havias criado nenhum mal – o qual aparecia à minha ignorância não só como substância, mas como substância corpórea, por eu não poder conceber o espírito senão como corpo subtil difundido pelos espaços – do que crer que a natureza do mal, tal como a imaginava, procedesse de ti.

Também supunha que o nosso Salvador, teu Filho Unigénito, tivesse surgido, para nos salvar, dessa substância luzidíssima do teu corpo. A seu respeito, nada aceitava senão o que me sugeria a minha louca imaginação. E por isso julgava que tal natureza não podia nascer da Virgem Maria sem se ajuntar com a carne, mas não via como poderia juntar-se à carne sem se corromper; por isso tinha medo de acreditar na sua encarnação, para não me ver obrigado a julgá-lo corrompido pela carne.

Sem dúvida agora os teus fiéis irão sorrir, branda e amorosamente, se lerem estas minhas confissões; mas eu, realmente, era assim.

CAPÍTULO XI

Desculpas dos maniqueus

Além de tudo, eu já não estava convencido que se pudessem defender os pontos que os maniqueus criticavam nas tuas Escrituras. Todavia, desejava por vezes discutir com sinceridade cada um desses pontos com algum varão, grande conhecedor dos seus livros, para lhe indagar a opinião. Quando ainda em Cartago, já me despertara o interesse o discurso de um tal Elpídio, que falava e discutia publicamente contra os maniqueus, alegando citações da Sagrada Escritura que não me era fácil refutar.

Por sua vez, as respostas dos maniqueus pareciam-me fracas; e mesmo assim não as expunham em público, mas somente entre nós, e muito em segredo, alegando que as Escrituras do Novo Testamento tinham sido falsificadas por não sei quem, com o intuito de misturar a lei dos judeus com a fé cristã; por isso eles próprios não podiam mostrar nenhum exemplar sem ser apócrifo.

Mas o que principalmente me mantinha cativo, e como que sufocado, eram as tais “substâncias”, que pareciam oprimir-me, e debaixo de cujo peso, arquejante, me era impossível respirar a atmosfera pura e simples de tua verdade.

CAPÍTULO XII

Os estudantes de Roma

Com toda diligência comecei a pôr em prática a tarefa que me levara a Roma, ensinar a arte retórica, e comecei por reunir alguns estudantes em casa, para me tornar conhecido deles, e, por seu intermédio, dos demais.

Mas logo vim a saber, com surpresa, que os estudantes de Roma praticavam outras artimanhas, que eu não tinha experimentado em África. Se bem era verdade, como me haviam assegurado, que em Roma não ocorriam as mesmas violências dos jovens corrompidos de Cartago, também me afirmavam que aqui os estudantes, aos grupelhos, deixavam de repente de assistir às aulas, passando para outro professor, com o fim de não pagar o devido salário, faltando assim aos compromissos e desprezando a justiça por amor ao dinheiro.

Também a estes odiava o meu coração, porém, não com rancor perfeito, porque na realidade, mas aborrecia-os mais pelo prejuízo que me podiam causar do que pela simples injustiça do seu comportamento. Sem dúvida são infames os que assim agem, e se maculam longe de ti, amando passatempos efémeros e a recompensa de lodo, que imunda as mãos ao ser colhida, agarrando-se a um mundo fugaz, e desprezando-te a ti, que permaneces eternamente, a ti que chamas e perdoas à alma humana adúltera quando se volta para ti. Ainda agora aborrece-me gente tão depravada e sem modos, embora agora deseje que se corrijam, para que prefiram ao dinheiro a ciência que aprendem, e a essa ciência te prefiram a ti, Deus, verdade e abundância de verdadeiro bem e paz castíssima. Mas naquele tempo – confesso – preferia que não fossem maus para meu interesse do que bons por teu amor.

CAPÍTULO XIII

Viagem a Milão, Santo Ambrósio

Por isso, quando da cidade de Milão escreveram ao prefeito de Roma pedindo para lá um professor de retórica, com viagem paga pelo Estado, eu mesmo solicitei esse emprego por intermédio dos mesmos amigos, ébrios com as vaidades dos maniqueus, dos quais ma ia separar.

Tanto eles como eu, porém, o ignorávamos. Símaco, então prefeito da cidade, propôs-me o tema de um discurso, e sendo eu aprovado, mandou-me para Milão.

Chegado a Milão, visitei o bispo Ambrósio, famoso na terra pelas suas qualidades, piedoso servo teu, cuja eloquência distribuía zelosamente entre o teu povo a flor do teu trigo, a alegria do azeite e a sóbria embriaguez do teu vinho. Eu era conduzido a ele por ti sem o saber, a fim de que ele me conduzisse a ti conscientemente.

Esse homem de Deus recebeu-me paternalmente, e interessou-se muito pela minha viagem, como bispo. Comecei a amá-lo; a princípio, não como mestre da verdade, que eu desesperava d achar na tua Igreja, mas pela sua amabilidade para comigo. Ouvia-o atentamente quando pregava ao povo, não com espírito adequado, mas como se quisesse sondar a sua eloquência, para ver se correspondia à sua fama, ou se era maior ou menor que a que se dizia; ficava suspenso das suas palavras, mas indiferente ao conteúdo, coisa que eu até desprezava. Deleitava-me com a suavidade dos sermões, os quais, embora mais eruditos que os de Fausto, eram contudo, menos alegres e envolventes no estilo. Quanto à substância de tais sermões não havia comparação, pois Fausto perdia-se por entre as fábulas dos maniqueus, e Ambrósio ensinava claramente a mais sã doutrina da salvação. Mas a salvação anda longe dos pecadores, tal como eu era então. Todavia, insensivelmente e sem o saber, ia-me aproximando dela.

CAPÍTULO XIV

Catecúmeno

Não cuidava eu de aprender o que dizia, interessado apenas em como o dizia – era este gosto frívolo o único que ainda permanecia em mim, perdidas já as esperanças de que se abrisse para o homem o caminho para ti. Todavia, infiltravam-se no meu espírito, juntamente com as palavras que me agradavam, as coisas que desprezava. Já não me era possível discernir umas das outras, e assim, ao abrir o meu coração à sua eloquência, nele entrava ao mesmo tempo e aos poucos, a verdade.

Pareceu-me, de bom início, que os seus ensinamentos podiam ser defendidos e que as afirmações de fé católica – que eu julgava impotente contra os ataques dos maniqueus – não eram absolutamente temerárias, principalmente depois de me serem explicados uma, duas ou mais vezes, as passagens obscuras do Velho Testamento que, interpretadas no sentido literal, me davam a morte. Assim, interpretados no sentido espiritual muitos dos textos daqueles livros, comecei a repreender aquele meu desespero, que me levava a crer na impossibilidade de resistir aos que aborreciam e zombavam da lei e dos profetas.

Contudo, não me julgava na obrigação de seguir o caminho dos católicos, só porque também esta fé podia ter defensores doutos, capazes de refutar objecções com eloquência e lógica. Nem por isso me parecia que devia condenar a fé que antes abraçara, pois as armas de defesa eram iguais. Assim, de um lado a fé católica não me parecia vencida, contudo ainda não me parecia vencedora.

Apliquei então todas as forças do meu espírito para ver se podia de algum modo, com argumentos decisivos, convencer da falsidade os maniqueus. A verdade é que se eu então tivesse podido conceber uma substância espiritual, imediatamente todas as invenções daqueles se esvaeceriam e seriam arrancadas da minha alma. Mas não podia.

Contudo, reflectindo e comparando sempre mais o que os filósofos haviam teorizado acerca do mundo material e de toda a natureza sensível, cada vez mais me capacitava de que eram muito mais prováveis as doutrinas destes que as dos maniqueus. Por isso, duvidando de tudo e flutuando por entre as doutrinas, à maneira dos académicos, como os julga a opinião geral, resolvi abandonar os maniqueus, julgando que enquanto tivesse em dúvida não devia permanecer numa seita à qual eu já antepunha alguns filósofos. Recusava-me, contudo, terminantemente, a confiar-lhes a cura das enfermidades da minha alma, por lhes ser desconhecido o nome salutar de Cristo.

Por isso tudo, resolvi tornar-me catecúmeno na Igreja Católica, que me tinha sido recomendada por meus pais, até que alguma claridade certa viesse dirigir meus passos.

(cont)

(Revisão de versão portuguesa por ama)


Pequena agenda do cristão


Quarta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Doutrina - 86

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»

CAPÍTULO PRIMEIRO

3. Como é que se pode conhecer Deus apenas com a luz da razão?


A partir da criação, isto é, do mundo e da pessoa humana, o homem pode, só pela razão, conhecer com certeza a Deus como origem e fim do universo e como sumo bem, verdade e beleza infinita.

Antigo testamento / Salmos

Salmo 135






1 Aleluia! Louvem o nome do Senhor; louvem-no, servos do Senhor, vós, os que servem na casa do Senhor, nos pátios da casa de nosso Deus.
3 Louvem o Senhor, pois o Senhor é bom; cantem louvores ao seu nome, pois é nome amável.
4 Porque o Senhor escolheu Jacob; a Israel, como seu tesouro pessoal.
5 Na verdade, sei que o Senhor é grande, que o nosso Soberano é maior do que todos os deuses.
6 O Senhor faz tudo o que lhe agrada, nos céus e na terra, nos mares e em todas as suas profundezas.
7 Ele traz as nuvens desde os confins da terra; envia os relâmpagos que acompanham a chuva e faz que o vento saia dos seus depósitos.
8 Foi ele que matou os primogénitos do Egipto, tanto dos homens como dos animais.
9 Ele realizou em pleno Egipto sinais e maravilhas, contra o faraó e todos os seus conselheiros.
10 Foi ele que feriu muitas nações e matou reis poderosos: Seom, rei dos amorreus, Ogue, rei de Basã, e todos os reinos de Canaã; e deu a terra deles como herança, como herança a Israel, o seu povo.
11 O teu nome, Senhor, permanece para sempre, a tua fama, Senhor, por todas as gerações!
12 O Senhor defenderá o seu povo e terá compaixão dos seus servos.
13 Os ídolos das nações não passam de prata e ouro, feitos por mãos humanas.
14 Têm boca, mas não podem falar; olhos, mas não podem ver; têm ouvidos, mas não podem escutar nem há respiração em sua boca.
15 Tornem-se como eles aqueles que os fazem e todos os que neles confiam.
16 Bendigam o Senhor, ó israelitas! Bendigam o Senhor, ó sacerdotes!
17 Bendigam o Senhor, ó levitas! Bendigam o Senhor os que temem o Senhor!

18 Bendito seja o Senhor desde Sião, aquele que habita em Jerusalém. Aleluia!

Deus está aqui

Humildade de Jesus: em Belém, em Nazaré, no Calvário...Porém, mais humilhação e mais aniquilamento na Hóstia Santíssima: mais que no estábulo, e que em Nazaré e que na Cruz. Por isso, que obrigação tenho de amar a Missa! (A «nossa» Missa, Jesus...). (Caminho, 533)

Por vezes, talvez nos perguntemos como será possível corresponder a tanto amor de Deus e até desejaríamos, para o conseguir, que nos pusessem com toda a clareza diante dos nossos olhos um programa de vida cristã. A solução é fácil e está ao alcance de todos os fiéis: participar amorosamente na Santa Missa, aprender a conviver e a ganhar intimidade com Deus na Missa, porque neste Sacrifício se encerra tudo aquilo que o Senhor quer de nós.

Permiti que aqui vos recorde o desenrolar das cerimónias litúrgicas, que já observámos em tantas e tantas ocasiões. Seguindo-as passo a passo é muito possível que o Senhor nos faça descobrir em que pontos devemos melhorar, que defeitos precisamos de extirpar e como há-de ser o nosso convívio, íntimo e fraterno, com todos os homens.


O sacerdote dirige-se para o altar de Deus, do Deus que alegra a nossa juventude. A Santa Missa inicia-se com um cântico de alegria, porque Deus está presente. É esta alegria que, juntamente com o reconhecimento e o amor, se manifesta no beijo que se dá na mesa do altar, símbolo de Cristo e memória dos santos, um espaço pequeno e santificado, porque nesta ara se confecciona o Sacramento de eficácia infinita. (Cristo que passa, 88)

Temas para meditar - 599

Bens temporais

Peçamos os bens temporais discretamente, e tenhamos a segurança – se os recebemos – de que procedem de quem sabe que nos convêm.
Pediste e não recebeste?
Fia-te no Pai; se te conviesse ter-te ia dado.
Julga por ti mesmo.
Tu és diante de Deus, pela tua inexperiência das coisas divinas, como o teu filho ante ti com a sua inexperiência das coisas humanas.
Aí tens esse filho chorando o dia inteiro para que lhe dês uma faca ou uma espada.
Negas-te a dar-lha e não fazes caso do seu pranto, para não teres que chorá-lo morto.
Agora geme, aborrece-se e dá pontapés para que o montes no teu cavalo; mas tu não fazes caso porque, não sabendo conduzi-lo, arrojá-lo-á e matá-lo-á.
Se lhe recusas esse pouco, é para lhe reservares tudo; negas-lhe agora os seus insignificantes e perigosos pedidos para que vá crescendo e possua sem perigo toda a fortuna.


(santo agostinho, Sermão, 80, 2 7-8)

Apetece-me

Qual é o mal, se me apetece?

Porque nem tudo o que apetece é bom.

Juntamente à inclinação natural para o bem, temos uma patente inclinação para o mal, a qual devemos dominar.

Esta tendência para o mal começou com o pecado original.



Evangelho, comentário, L. espiritual




Quaresma
Semana I

Evangelho: Mt 6, 7-15

7 Nas vossas orações não useis muitas palavras como os gentios, os quais julgam que serão ouvidos à força de palavras. 8 Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós Lho peçais. 9 «Vós, pois, orai assim: Pai-nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome. 10 «Venha o Teu reino. Seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu. 11 O pão nosso supersubstancial nos dá hoje. 12 Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 «Porque, se vós perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará. 15 Mas, se não perdoardes aos homens, também o vosso Pai não perdoará as vossas ofensas.

Comentário:

Todas as orações  que possamos fazer por mais belas, cheias de significado ou piedosas ficarão aquém do Pai-nosso ensinado directamente por Jesus Cristo.

Contém tudo quanto devemos dizer quando nos dirigimos a Deus.

Louvor, petição, promessa, compromisso.

Sendo Universal ė eminentemente pessoal porque se trata da conversa de um filho com o seu Pai. 

(ama, comentário sobre Mt 6, 7-15, 2015.06.18)


Leitura espiritual



Ioannes Paulus PP. II
Dives in misericordia
sobre a Misericórdia Divina

1980.11.30

/…2
III. A MISERICÓRDIA NO ANTIGO TESTAMENTO

O conceito de «misericórdia» no Antigo Testamento

4. O conceito de «misericórdia» no Antigo Testamento tem longa e rica história. Devemos remontar a essa história, para fazer resplandecer mais plenamente a misericórdia que Cristo revelou. Revelando-a, quer pelas suas obras quer pelo seu ensino, Cristo dirigia-se a homens que não só conheciam o conceito de misericórdia, mas também, como povo de Deus da Antiga Aliança, tinham colhido da própria história plurissecular uma peculiar experiência da misericórdia de Deus. Esta íntima experiência foi tanto social e comunitária, como particular e individual.

Israel foi o povo da aliança com Deus, aliança que muitas vezes violou. Quando tomava consciência da própria infidelidade apelava para a misericórdia. E ao longo da história de Israel não faltaram Profetas e outros homens que despertavam tal consciência. A este propósito, os Livros do Antigo Testamento apresentam-nos numerosos testemunhos. Entre os factos e os textos mais salientes, podemos recordar: o início da história dos Juízes 31, a oração de Salomão ao ser inaugurado o Templo 32, uma parte das intervenções proféticas de Miqueias 33, as consoladoras garantias oferecidas por Isaías 34, a súplica dos hebreus exilados 35 e a renovação da Aliança depois do regresso do exílio 36.

É significativo o facto de os Profetas na sua pregação apresentarem a misericórdia, a qual muitas vezes se referem por causa dos pecados do povo, em ligação com a incisiva imagem do amor da parte de Deus. O Senhor ama Israel com amor de singular eleição, semelhante ao amor de um esposo 37; e por isso perdoa as suas culpas e até as infidelidades e traições. Ao encontrar-se perante a penitência, a conversão autêntica do povo, restabelece-o novamente na graça 38. Na pregação dos Profetas, a misericórdia significa a especial força do amor, que prevalece sobre o pecado e sobre a infidelidade do povo eleito.

Neste amplo contexto «social», a misericórdia aparece como o elemento correlativo da experiência interior de cada uma das pessoas que se encontram em estado de culpa, ou que suportam sofrimentos e desgraças de toda a espécie. Tanto o mal físico como o mal moral, ou pecado, fazem com que os filhos e as filhas de Israel se voltem para o Senhor, apelando para a sua misericórdia. Deste modo a Ele se dirige David, consciente da gravidade da sua culpa 39; igualmente a Ele se dirige Job, depois das suas rebeliões, ao encontrar-se na sua tremenda desventura 40; assim se dirige ao Senhor também Ester, consciente da ameaça mortal, iminente, contra o seu povo 41. E, além destes, deparamos ainda com outros exemplos nos Livros do Antigo Testamento 42.

Na origem desta multiforme convicção comunitária e pessoal, como é comprovado por todo o Antigo Testamento no decurso dos séculos, há que colocar a experiência fundamental do povo eleito, vivido nos dias do êxodo: o Senhor observou a aflição do seu povo, reduzido à escravidão, ouviu os seus clamores, deu-se conta dos seus sofrimentos e decidiu libertá-lo 43. Neste acto de salvação realizado pelo Senhor, o Profeta quis ver o seu amor e a sua compaixão 44. A segurança de todo o povo e de cada um dos seus membros radica na misericórdia divina que pode ser invocada em todas as circunstâncias dramáticas.

A isto vem juntar-se o facto de que a miséria do homem é também o seu pecado. O povo da Antiga Aliança conheceu esta miséria desde os tempos do êxodo, quando ergueu o bezerro de ouro. Mas o próprio Senhor triunfou sobre este gesto de ruptura da Aliança, quando se definiu solenemente a Moisés como «Deus compassivo e misericordioso, lento para a ira e cheio de bondade e de fidelidade» 45. É nesta revelação central que o povo eleito e cada um dos seus componentes irão encontrar, depois de terem prevaricado, a força e a razão para de novo se voltarem para o Senhor, para Lhe recordarem exactamente aquilo que Ele tinha revelado acerca de si próprio 46, e para Lhe implorarem perdão.

O Senhor revelou a sua misericórdia tanto nas obras como nas palavras, desde os primórdios do povo que escolheu para si. No decurso da sua história, este povo, quer em momentos de desgraça, quer ao tomar consciência do próprio pecado, entregou-se continuamente com confiança ao Deus das misericórdias. Na misericórdia do Senhor para com os seus manifestam-se todos os matizes do amor: Ele é para eles Pai 47, dado que Israel é seu filho primogénito 48; Ele é também o esposo daquela a quem o Profeta anuncia um nome novo: «bem-amada» (ruhama), porque usará de misericórdia para com ela 49.

Mesmo quando o Senhor, exasperado pela infidelidade do seu povo, decide acabar com ele, são ainda a compaixão e o amor generoso para com os seus que O levam a suster a sua indignação 50. E então, torna-se fácil compreender a razão pela qual os Salmistas, ao quererem cantar ao Senhor os mais sublimes louvores, entoarão hinos ao Deus do amor, da compaixão, da misericórdia e da fidelidade 51.

De tudo isto se deduz que a misericórdia faz parte não somente da noção de Deus, mas caracteriza também a vida de todo o povo de Israel e de cada um dos seus filhos e filhas: é a essência da intimidade com o seu Senhor, a essência do seu diálogo com Ele. Precisamente sob este aspecto, a misericórdia é apresentada em cada um dos Livros do Antigo Testamento com grande riqueza de expressões. Seria difícil, talvez, procurar nestes livros resposta meramente teórica à pergunta: o que é a misericórdia em si mesma. Contudo, a própria terminologia que neles é usada pode dizer-nos muitíssimo a tal respeito 52.

O Antigo Testamento proclama a misericórdia do Senhor mediante numerosos termos com significados afins. Estes termos são diferenciados no seu conteúdo particular, mas tendem a convergir, se assim se pode dizer, de vários pontos de vista para um único conteúdo fundamental, a fim de exprimir a riqueza transcendental da misericórdia e, ao mesmo tempo, para aproximá-la do homem sob aspectos diversos. O Antigo Testamento encoraja os homens desventurados, sobretudo os que estão oprimidos pelo pecado — como também todo o povo de Israel, que tinha aderido à Aliança com Deus — a fazerem apelo à misericórdia e permite-lhes contar com ela. Recorda-a nos tempos de queda e de desalento. Em seguida, dá graças e glória a Deus pela misericórdia, todas as vezes que ela se tenha manifestado e realizado, tanto na vida do povo como na das pessoas individualmente.

Deste modo, a misericórdia é contraposta, em certo sentido, à justiça divina; e revela-se, em muitos casos, não só mais poderosa, mas também mais profunda que ela. Já no Antigo Testamento se ensina que, embora a justiça no homem, seja autêntica virtude e em Deus signifique perfeição transcendente contudo o amor é «maior» do que a justiça. E é maior no sentido de que, relativamente a ela, é primário e fundamental. O amor condiciona, por assim dizer, a justiça; e, em última análise, a justiça serve a caridade. O primado e a superioridade do amor em relação à justiça — ponto característico de toda a Revelação — manifestam-se precisamente através da misericórdia. Isto pareceu tão claro aos Salmistas e aos Profetas que o próprio termo justiça acabou por significar a salvação realizada pelo Senhor por meio da sua misericórdia 53. A misericórdia difere da justiça, mas não se lhe opõe, se admitirmos na história do homem — como faz o Antigo Testamento precisamente — a presença de Deus, o qual já como Criador se ligou com particular amor às suas criaturas.

O amor, por natureza, exclui o ódio e o desejo do mal em relação àquele a quem alguma vez se deu a si mesmo como dom: Nihil odisti eorum quae fecisti, «não aborreceis nada do que fizestes» 54. Tais palavras indicam o fundamento profundo da conexão entre a justiça e a misericórdia em Deus, nas suas relações com o homem e com o mundo. Dizem-nos também que devemos procurar as raízes vivificantes e as razões íntimas desse nexo, remontando ao «princípio», no próprio mistério da criação. No contexto da Antiga Aliança, essas palavras preanunciam a plena revelação de Deus, que «é amor» 55.

O mistério da criação está em conexão com o mistério da eleição, que de modo especial plasmou a história do povo cujo pai espiritual é Abraão, como mérito da sua fé. Por meio deste povo que caminha através da história, tanto da Antiga como da Nova Aliança, aquele mistério de eleição refere-se a todos e a cada um dos homens e a toda a grande família humana. «Amo-te com amor eterno, por isso ainda te conservo os meus favores» 56. «Ainda que os montes sejam abalados... o meu amor jamais se apartará de ti, e a minha aliança de paz não será alterada» 57. Esta verdade, anunciada outrora a Israel, encerra em si a perspectiva de toda a história do homem, perspectiva que é simultaneamente temporal e escatológica 58. Cristo revela o Pai na mesma perspectiva, na perspectiva e no estado dos espíritos já preparados, como o demonstram numerosas páginas do Antigo Testamento. Como remate desta revelação, na véspera da sua morte, diz ao Apóstolo Filipe aquelas memoráveis palavras: «Há tanto tempo que estou convosco e não me conheces?... Quem me vê, vê o Pai» 59.

IV. A PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO

Analogia

5. No limiar do Novo Testamento repercute-se no Evangelho de S. Lucas singular correspondência entre duas vozes que proclamam a misericórdia divina, nas quais ecoa intensamente toda a tradição do Antigo Testamento. Nelas encontram expressão os conteúdos semânticos, ligados à terminologia diferenciada dos Livros Antigos. A primeira destas vozes é a de Maria que, entrando em casa de Zacarias, engrandece o Senhor louvando-O com toda a alma «pela sua misericórdia», da qual se tornam participantes, «de geração em geração», os homens que vivem no temor de Deus. Pouco depois, comemorando a eleição de Israel, proclama a misericórdia, da qual «se recorda» desde sempre Aquele que a escolheu 60.

A outra voz é a de Zacarias que, na mesma casa, por ocasião do nascimento de João Baptista, seu filho, bendizendo o Deus de Israel, glorifica a misericórdia que Ele quis «usar... para com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança» 61.

No ensino do próprio Cristo esta imagem, herdada do Antigo Testamento, torna-se mais simples e, ao mesmo tempo, mais profunda. É o que se manifesta com especial evidência na parábola do filho pródigo 62, na qual a essência da misericórdia divina — embora no texto original não seja usada a palavra «misericórdia» — aparece de modo particularmente límpido. Contribui para isso, não tanto a terminologia, como nos Livros do Antigo Testamento, mas a analogia, que permite compreender com maior profundidade o próprio mistério de misericórdia, como drama profundo que se desenrola entre o amor do pai e a prodigalidade e o pecado do filho.

Este filho, que recebe do pai a parte da herança que lhe toca e deixa a casa paterna para esbanjar essa herança numa terra longínqua «vivendo dissolutamente», em certo sentido é o homem de todos os tempos, a começar por aquele que foi o primeiro a perder a herança da graça e da justiça original. Neste ponto a analogia é muito vasta. Indirectamente a parábola estende-se a todas as rupturas da aliança de amor: a toda a perda da graça, e todo o pecado.

Ao contrário do que acontecia na tradição profética, esta analogia, embora se possa estender também a todo o povo de Israel, não o visa em primeiro lugar.

Aquele filho, «depois de ter esbanjado tudo..., começou a passar privações», tanto mais que sobreveio grande carestia «naquela terra» para onde ele tinha ido depois de abandonar a casa paterna. Em tal situação, «bem desejava matar a fome» com qualquer coisa, até mesmo «com as alfarrobas que os porcos comiam», animais que ele guardava, ao serviço de «um dos habitantes daquela terra». Mas até isso lhe era recusado. A analogia desloca-se claramente para o interior do homem. A herança que o jovem tinha recebido do pai era constituída por certa quantidade de bens materiais. Mas, mais importante do que esses bens era a sua dignidade de filho na casa paterna. A situação em que veio a encontrar-se quando se viu sem os bens materiais que dissipara, é natural que o tivesse também feito cair na conta da perda dessa dignidade. Quando pediu ao pai que lhe desse a parte de herança que lhe tocava, para se ausentar para longe, não reflectiu por certo nisso. Parece que nem mesmo agora está bem consciente dessa realidade, quando diz para si próprio: «Quantos jornaleiros na casa de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui morro de fome!». Avalia-se a si mesmo pela medida dos bens que tinha perdido e que já «não possui», enquanto os criados na casa de seu pai «continuam a possuí-los». Estas palavras exprimem principalmente a sua atitude perante os bens materiais. No entanto, por detrás delas esconde-se também o drama da dignidade perdida, a consciência da condição de filho malbaratada.

É então que toma a decisão: «Levantar-me-ei, irei ter com o meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a um dos teus jornaleiros» 63. Tais palavras permitem descobrir mais profundamente o problema essencial. Através da complexa situação material de penúria a que o filho pródigo chegou, por causa da sua leviandade, por causa do pecado, amadureceu nele o sentido da dignidade perdida. Quando tomou a decisão de voltar para a casa paterna e de pedir ao pai para ser recebido, não já gozando dos direitos de filho, mas na condição de assalariado, o jovem parece à primeira vista agir por motivo da fome e da miséria em que caiu. Subjacente a esse motivo, porém, está a consciência de perda mais profunda: ser um assalariado na casa do próprio pai é com certeza grande humilhação e vergonha. Apesar disso, o filho pródigo está disposto a arrostar com tal humilhação e vergonha. Caiu em conta que já não tem mais direito algum, senão o de ser um empregado na casa do pai. Esta reflexão, brota em primeiro lugar da plena consciência da perda que mereceu e do que, doutro modo, poderia vir a possuir. Este raciocínio, precisamente, demonstra que, no âmago da consciência do filho pródigo, se manifesta o sentido da dignidade perdida, daquela dignidade que brota da relação do filho com o pai. Com essa decisão empreendeu o caminho de regresso.

Na parábola do filho pródigo não é usado, nem uma vez sequer, o termo «justiça», assim como também não é usado no texto original, o termo «misericórdia». Contudo, a relação da justiça com o amor que se manifesta como misericórdia aparece profundamente vincada no conteúdo desta parábola evangélica. Torna-se claro que o amor se transforma em misericórdia quando é preciso ir além da norma exacta da justiça: norma precisa mas, por vezes, demasiado rigorosa.

O filho pródigo, depois de ter gasto os bens recebidos do pai, ao regressar merece apenas ganhar para viver, trabalhando na casa paterna como empregado e, eventualmente, ir amealhando, pouco a pouco, certa quantidade de bens materiais, mas sem dúvida nunca em quantidade igual aos que tinha esbanjado. Tal seria a exigência da ordem da justiça, até porque aquele filho, com o seu comportamento, não tinha somente dissipado a parte de herança que lhe competia, mas tinha também magoado profundamente e ofendido o pai. Na verdade o seu comportamento, que a seu juízo o tinha privado da dignidade de filho não podia deixar indiferente o pai; devia fazê-lo sofrer e fazer com que se sentisse, de algum modo, envolvido nesse procedimento. Tratava-se com efeito do seu próprio filho, e esta relação não podia ser alienada nem destruída, fosse qual fosse o seu comportamento. O filho pródigo tem consciência disso, e é precisamente essa consciência que lhe mostra claramente a dignidade perdida e o leva a avaliar correctamente o lugar que ainda lhe poderia tocar na casa do pai.

Copyright © Libreria Editrice Vaticana

(Nota: Revisão da tradução para português por ama)
_____________________
Notas:
31 Cf. Jz 3,7-9 32
32 Cf. 1 Sam 8,22-53.
33 Cf. Miq 7,18-20.
34 Cf. Is 1,18; 51,4-16.
35 Cf. Bar 2,11-3,8.
36 Cf. Ne 9.
37 Cf. por ex. Os 2,21-25 e 15; Is 54,6-8.
38 Cf. Jer 31,20- Ex 39,25-29.
39 Cf. 2 Sam 11; 12; 24,10.
40 Job passim.
41 Est 4,17k ss.
42 Cf. por ex. Ne 9,30-32- Tob 3,2-3, 11-12; 8,16s.; 1 Mac 4,24.
43 Cf. Ex 3,7s
44 Cf. Is 63,9.
45 Ex 34 6.
46 Cf. Núm 14,18; 2 Crón 30,9; Ne 9,17; Sl 86(85), 15; Sab 15,1; Sir 2,11; Jl 2,13.
47 Cf. Is 63,16.
48 Cf. Ex 4.22.
49 Cf Os 2,3.
50 Cf Os11,7-9; Jer 31,20; Is 54,7s.
51 Cf. Sl 103(102) e 145(144).
52 Ao definirem a misericórdia, os Livros do Antigo Testamento servem-se sobretudo de duas expressões, cada uma das quais tem um matiz semantico diverso. Antes de mais, o termo hesed, que indica uma profunda atitude de «bondade». Quando esta disposição se estabelece entre duas pessoas, estas passam a ser, não apenas benévolas uma para com a outra, mas também reciprocamente fiéis por força de um compromisso interior, portanto, também em virtude de uma fidelidade para consigo próprias. E se é certo que hesed significa também «graça» ou «amor», isto sucede precisamente na base de tal fidelidade. O facto de o compromisso em questão ter um carácter, não apenas moral, mas como que jurídico, não altera a sua realidade. Quando no Antigo Testamento o vocábulo hesed é referido ao Senhor isso acontece sempre em relação com a aliança que Deus fez com Israel. Esta aliança foi da parte de Deus um dom e uma graça para Israel. Contudo, uma vez que Deus, em coerência com a Aliança estabelecida, se tinha comprometido a respeitá-la, hesed adquiria, em certo sentido, um conteúdo legal. O compromisso «jurídico» da parte de Deus deixava de obrigar quando Israel infringia a aliança e não respeitava as condições da mesma. E era precisamente então que hesed, deixando de ser uma obrigação jurídica, revelava o seu aspecto mais profundo: tornava-se manifesto aquilo que fora ao princípio, ou seja, amor que doa, amor mais potente do que a traição, graça mais forte do que o pecado.
Esta fidelidade para a «filha do meu povo» infiel (cf. Lam 4,3.6), em última análise é, da parte de Deus, fidelidade a si próprio. Isto aparece evidente sobretudo pela frequência com que é usado o binómio hesed we'emet (= graça e fidelidade), que se poderia considerar uma endíades (cf. p. ex., Ex 34,6; 2 Sam 2,6; 15,20; Sl 25[24],10; 40[39], 11 s.; 85[84],11; 138[137],2; Miq 7,20). «Eu faço isto, não por causa de vós, ó casa de Israel, mas pela honra do meu santo nome» (Ez 36,22). Assim, também Israel, embora sob o peso das culpas, por ter quebrado a aliança, não pode ter pretensões em relação ao hesed de Deus, com base numa suposta justiça (legal). No entanto, pode e deve continuar a esperar e a ter confiança em obtê-lo, já que o Deus da aliança é realmente «responsável pelo seu amor». Fruto deste amor é o perdão e a reconstituição na graça, o restabelecimento da aliança interior.
O segundo vocábulo que na terminologia do Antigo Testamento serve para definir a misericórdia é rahªmim. O matiz do seu significado é um pouco diverso do significado de hesed. Enquanto hesed acentua as características da fidelidade para consigo mesmo e da «responsabilidade pelo próprio amor» (que são características em certo sentido masculinas), rahªmim, já pela própria raiz, denota o amor da mãe (rehem= seio materno). Do vínculo mais profundo e originário, ou melhor, da unidade que liga a mãe ao filho, brota uma particular relação com ele, um amor particular. Deste amor se pode dizer que é totalmente gratuito, não fruto de merecimento, e que, sob este aspecto, constitui uma necessidade interior: é uma exigência do coração. É uma variante como que «feminina» da fidelidade masculina para consigo próprio, expressa pelo hesed. Sobre este fundo psicológico, rahªmim dá origem a uma gama de sentimentos, entre os quais a bondade e a ternura, a paciência e a compreensão, que o mesmo é dizer a prontidão para perdoar.
O Antigo Testamento atribui ao Senhor estas características quando, ao falar d'Ele, usa o termo rahªmim. Lemos em Isaías: «Pode porventura a mulher esquecer-se do seu filho e não ter carinho para com o fruto das suas entranhas? Pois ainda que a mulher se esquecesse do próprio filho, eu jarnais me esqueceria de ti» (Is 49,15). Este amor, fiel e invencível graças à força misteriosa, da maternidade, é expresso nos textos do Antigo Testamento de várias maneiras: como salvação dos perigos, especialmente dos inimigos, como perdão dos pecados — em relação aos indivíduos e também a todo o povo de Israel— e, finalmente, como prontidão em satisfazer a promessa e a esperança (escatológicas), não obstante a infidelidade humana, conforme lemos em Oséias: «Eu os curarei das suas infidelidades, amá-los-ei de todo o coração» (Os 14,5).
Na terminologia do Antigo Testamento encontramos ainda outras expressões, que se referem de modo diverso ao mesmo conteúdo fundamental. Todavia, as duas acima mencionadas merecem uma atenção particular. Nelas se manifesta claramente o seu originário aspecto antropomórfico: para indicar a misericórdia divina, os autores bíblicos servem-se dos termos que correspondem à consciência e à experiência dos homens seus contemporâneos. A terminologia grega da versão dos Setenta apresenta-se com uma riqueza menor do que a hebraica; não reflecte todos os cambiantes semânticos próprios do texto original. Em todo o caso, o Novo Testamento constrói sobre a riqueza e a profundidade que já caracterizavam o Antigo.
Deste modo, herdamos do Antigo Testamento — como que numa síntese especial — não apenas a riqueza das expressões usadas por aqueles Livros para definir a misericórdia divina, mas também uma específica, obviamente antropomórfica, «psicologia» de Deus: a impressionante imagem do seu amor que, em contacto com o mal e, em particular, com o pecado do homem e do povo, se manifesta como misericórdia. Esta imagem é composta, mais do que pelo conteudo, bastante genérico aliás, do verbo hãnan, sobretudo pelo conteúdo de hesed e de rahªmim O termo hãnan, exprime um conceito mais amplo: significa a manifestação da graça que comporta, por assim dizer, uma constante predisposição magnânima, benévola e clemente.
Além destes elementos semânticos fundamentais, o conceito de misericórdia no Antigo Testamento inclui também o conteúdo do verbo hãmal, que literalmente significa «poupar (o inimigo derrotado)», mas também significa «manifestar piedade e compaixão» e, por conseguinte, perdão e remissão da culpa. O termo hus exprime igualmente piedade e compaixão, mas isso sobretudo em sentido afectivo. Estes termos aparecem nos textos bíblicos com menor frequência para indicar a misericórdia. É oportuno ainda lembrar o já citado vocábulo 'emet, que significa: em primeiro lugar «solidez, segurança» (no grego dos Setenta, «verdade»); e depois, também «fidelidade»; e desta maneira parece relacionar-se com o conteúdo semântico próprio do termo hesed.
53 Sl 40(39),11; 98(97),2 s.; Is 45,21; 51,5.8; 56,1.
54 Sab 11,24
55 1 Jo 4.8.16.
56 Jer 31,3.
57 Is 54,10
58 Jon 4,2.11, Sl 145(144),9; Sir 18,8-14; Sab 11,23-12,1.
59 Cf. Jo 14,9
60 Em ambos os casos se trata de hesed, isto é, da fidelidade que Deus manifesta ao próprio amor para com o povo, fidelidade às promessas, que encontrarão precisamente na maternidade da Mãe de Deus o seu cumprimento definitivo (cf. Lc 1,49-54).
61 Cf. Lc 1,72. Também neste caso se trata da misericórdia no significado de hesed, ao passo que nas frases seguintes, em que Zacarias fala do «coração misericordioso do nosso Deus», é expresso claramente o segundo significado, o de rahªmim (tradução latina: viscera misericordiae), que identifica prevalentemente a misericórdia divina com o amor materno.

62 Cf. Lc 15,11-32.