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13/02/2016

NUNC COEPI – Índice de publicações em Fev 13

nunc coepi – Índice de publicações em Fev 13

São Josemaria – Textos

Abraão, AMA - Comentários ao Evangelho Lc 5 27-32, J Yániz, Leit Espiritual (Vida cristã)

Doutrina – Eucaristia


JMA – Quaresma

São Tomás de Aquino – Suma Teológica, Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Do género de vida que Cristo levou - Quest 41 Art. 1

Bento XVI - Pensamentos espirituais

AT - Salmos – 103


Agenda Sábado

Reflexões Quaresmais

Quaresma de 2016 – 2ª Reflexão

Inclino-me perante Ti, e pergunto-Te com o coração nas mãos:
E hoje, Senhor, que queres hoje indicar-me como caminho de reflexão neste segundo dia da Quaresma.

E Tu respondes-me com o Teu olhar manso e amoroso:
Quando falas de Mim, quando me anuncias, quando te afadigas a falar e a escrever sobre Mim, tens a certeza que o fazes apenas por Mim?

Oh, Senhor, como me conheces tão bem!
Fazes-me ver com tanta clareza que muitas vezes a minha ânsia de protagonismo, quase se sobrepõe à importância do anúncio do Teu amor, ao anúncio da Tua presença no meio de nós e em nós.
Como se fosse eu importante, e Tu apenas um caminho para a minha “importância”!
Reconheço, Senhor, com uma dor no coração e sobretudo com a vergonha no meu ser, que muitas vezes assim será.
Apenas mitiga esta minha vergonha o saber que, por Tua infinita bondade, apesar deste meu pecado, as palavras e actos que colocas em mim, chegam aos outros isentas dessa minha fraqueza, que apenas recai em mim e só em mim.

Por isso o meu segundo pedido nesta Quaresma:
Perdoa-me, Senhor, e ajuda-me a reconhecer-me nada perante Ti.
Ajuda-me a reconhecer-me servo dos outros e a nada querer para mim, a não ser aquilo que já me dás com tanta abundância: o Teu amor e a Tua abundância de vida.
Apenas e sempre para Tua glória, Senhor, para Tua glória!

joaquim mexia alves, Monte Real, 12 de Fevereiro de 2016


Pequena agenda do cristão


SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Evangelho, comentário, L. espiritual


Cinzas



Evangelho: Lc 5, 27-32

27 Depois disto, Jesus saiu, e viu sentado no banco de cobrança um publicano, chamado Levi, e disse-lhe: «Segue-Me». 28 Ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-O. 29 E Levi ofereceu-Lhe um grande banquete em sua casa, e havia grande número de publicanos e outros, que estavam à mesa com eles. 30 Os fariseus e os seus escribas murmuravam dizendo aos discípulos de Jesus: «Porque comeis e bebeis com os publicanos e os pecadores?». 31 Jesus respondeu-lhes: «Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os doentes. 32 Não vim chamar os justos, mas os pecadores à penitência».

Comentário:

A chamada que o Senhor faz a cada pessoa é sempre directa e simples com esta feita a Mateus?

Temos de convir que não!

Muitas vezes esse chamamento vem na sequência de algum acontecimento marcante como se fosse uma indicação do caminho a seguir.

O que importa  verdadeiramente é que a nossa resposta seja simples e célere com a de Mateus porque o tempo é sempre escasso e deve urgir-nos essa ânsia de seguir Cristo sem demora.

(ama, comentário sobre Lc 5 27-32, Carvide, 2015-02-21)


Leitura espiritual



ABRAÃO, NOSSO PAI NA FÉ


O livro do Génesis narra a vida de Abraão a partir do momento em que o Senhor se cruzou no seu caminho e transformou a radicalmente a sua existência. Embora o escritor sagrado não pretenda oferecer uma biografia detalhada, apresenta-nos numerosos episódios que põem em evidência a profunda fé do santo patriarca e o modo como ele deixa Deus agir na sua vida.

Com efeito, são lhe prometidas uma terra e uma descendência numerosa, mas Abraão deverá iniciar um caminho:
Sai da tua terra, do meio dos teus parentes e da casa de teu pai, e vai para a terra que Eu te mostrar. Eu farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei; tornarei famoso o teu nome, de modo que se tornará uma bênção [i]. Tempo depois, o próprio Deus mudar-lhe-á o nome – e já não te chamarás Abrão, mas o teu nome será Abraão [ii] – para indicar que lhe conferiu «una personalidade nova e uma nova missão, que ficam refletidas no significado do novo nome: “pai de multidões"» [iii]. Manifesta-se assim que toda a singularidade do patriarca depende da aliança com Deus e está ao serviço desta.

Abraão escuta a voz de Deus e põe-na em prática, sem prestar demasiada atenção ao que as circunstâncias lhe podiam aconselhar. Porquê abandonar a segurança da sua pátria, esperar uma descendência quando, quer ele quer a sua mulher, são de idade avançada?
Mas Abraão confia em Deus, na sua omnipotência, na sua sabedoria e na sua bondade. O episódio de Sodoma e Gomorra [iv] mostra, além da gravidade do pecado que ofende a Deus e destrói o homem, a familiaridade que Abraão tem com o seu Senhor. Deus não lhe oculta o que está por fazer e acolhe a oração de intercessão do santo patriarca. A resposta de fé apoia-se na confiança, ou seja, num trato pessoal com Deus.



O conhecimento das coisas, o sentir comum, a experiência, os meios humanos têm a sua importância, mas se tudo ficasse por aí, “numa ordem natural", a nossa perceção da realidade seria falsa por ser incompleta, porque o nosso Pai Deus não se desinteressa de nós nem o seu poder minguou. Assim o expressava São Josemaría Escrivá de Balaguer:

Nos empreendimentos de apostolado, está certo - é um dever - que consideres os teus meios terrenos (2 + 2 = 4). Mas não esqueças - nunca! - que tens de contar, felizmente, com outra parcela: Deus + 2 + 2... [v].

As dificuldades habituais, por muito adversas que pareçam, nunca são a última palavra. Deus é fiel e cumpre sempre as suas promessas. Abraão actua de acordo com esta lógica. O valor exemplar da fé de Abraão compendia-se em três traços fundamentais: a obediência, a confiança e a fidelidade.

Na obediência da fé

Abraão manifesta a sua própria fé principalmente obedecendo a Deus. A obediência pressupõe a escuta, pois é necessário, em primeiro lugar, “prestar atenção", quer dizer, conhecer a vontade de outro para lhe dar resposta e cumpri-la. Na Sagrada Escritura obedecer não é apenas “cumprir" mecanicamente o mandado: implica uma atitude ativa, que põe em jogo a inteligência diante de Deus que se revela, e que conduz a pessoa a aderir à vontade divina com todas as forças e capacidades.

«Quando Deus o chama, Abraão parte "como lhe tinha dito o Senhor" [vi]: todo o seu coração se submete à Palavra e obedece» [vii].

A obediência que provém da fé vai muito para além da simples disciplina: pressupõe a aceitação livre e pessoal da Palavra de Deus. Assim ocorre também em muitos momentos da nossa vida quando podemos acolher essa Palavra ou recusá-la, deixando que as nossas ideias prevaleçam sobre o que Ele quer. A obediência da fé é a resposta ao convite de Deus ao homem para caminhar junto d'Ele, a viver em amizade com Ele.
«Obedecer ("ob-audire") na fé, é submeter-se livremente à palavra escutada, porque a sua verdade é garantida por Deus, a própria Verdade. Abraão é o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe desta obediência. A Virgem Maria é a realização mais perfeita da mesma» [viii].

Com confiança e abandono em Deus

Quando consideramos a vida de Abraão, vemos que a fé está presente em toda a sua existência, manifestando-se especialmente nos momentos de obscuridade, em que as certezas humanas falham. A fé implica sempre uma certa obscuridade, um viver no mistério, sabendo que nunca se chegará a atingir uma perfeita explicação, uma perfeita compreensão, pois o contrário já não seria fé. Como diz o autor da carta aos Hebreus, a fé é fundamento das coisas que se esperam, prova das que se não vêm [ix].
A falta de certeza da fé é superada pela confiança do crente em Deus; pela fé, o patriarca põe-se a caminho sem saber onde vai, mas essa é apenas a primeira ocasião em que deverá pôr em jogo esta virtude. Porque, como recorda o Catecismo da Igreja Católica, é necessário confiar muito em Deus para viver «como estrangeiro e peregrino na Terra prometida» [x], e para enfrentar o sacrifício do filho: Toma o teu filho, o teu único filho Isaac, a quem amas, e vai para a região de Moriá e oferece-o lá em holocausto, sobre uma montanha que Eu vou indicar [xi].



A fé de Abraão manifesta-se em toda a sua grandeza quando se dispõe a renunciar ao seu filho Isaac. O sacrifício do próprio filho é profecia da entrega de Jesus Cristo para a salvação do mundo. É algo tão tremendo que dispensa comentários. Mas Abraão não se revolta contra Deus, não o questiona nem o põe em dúvida: fia-se d'Ele. Põe-se a caminho, continua atento a escutar a voz do Senhor e, no final da viagem ao monte Moriá, descobre que não quer o sangue de Isaac: E Deus disse-lhe: – Não estendas a mão contra o menino! Não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus pois não me recusaste o teu filho, o teu filho único. (…). E Abraão deu a esse lugar o nome "Javé providenciará"! Assim ainda hoje se costuma dizer: "Sobre a montanha, Javé providenciará" [xii].

Acontecimentos similares costumam suceder na vida dos santos. Recordemos, por exemplo, quando o nosso Padre pensou que o Senhor lhe estava a pedir para deixar o Opus Dei para poder realizar uma nova fundação, dirigida aos sacerdotes diocesanos. Que grande sacrifício! De facto, depois de falar com várias pessoas na Santa Sé, chegou mesmo a comunicar a sua decisão a D. Álvaro, à Tia Carmen, ao Tio Santiago, aos membros do Conselho Geral e a mais alguns. Mas Deus não o quis assim, e livrou-me, com a sua mão misericordiosa – carinhosa – de Pai, do sacrifício bem grande que me dispunha a fazer de deixar o Opus Dei. Tinha dado conhecimento oficiosamente da minha decisão à Santa Sé (...), mas vi depois com clareza que não era necessária essa nova fundação, essa nova associação, posto que os sacerdotes diocesanos cabiam perfeitamente dentro da Obra [xiii].
Como Abraão tinha sido libertado, São Josemaria também foi, pois o Senhor fez-lhe entender que os sacerdotes diocesanos podiam fazer parte do Opus Dei e ser admitidos como sócios da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz, sem que isso afetasse a sua situação na diocese; mais ainda, fortalecendo-se, assim, a sua união com o resto do clero e com o seu Bispo.

Fé que é fidelidade

A fé de Abraão manifesta-se também como fidelidade: perante os diversos acontecimentos persevera na sua decisão de seguir a vontade de Deus. A fé apoia-se na palavra de Deus e, por isso, dá lugar a decisões tomadas em profundidade, que não estão submetidas a posteriores “revisões" ou “re-pensamentos". Mantenhamos firme a confissão da esperança, porque fiel é o que fez a promessa [xiv].

Na nossa vida, sempre haverá momentos que nos servirão – com a graça de Deus – para fortalecer e consolidar a nossa fé. Abraão foi submetido a uma prova tremenda: viu-se na situação de ter que sacrificar aquele que era fruto da promessa que lhe tinha sido feito. O santo patriarca não só teve que enfrentar circunstâncias difíceis, mas ainda esperou contra toda a esperança [xv], porque as circunstâncias convidavam a “julgar" a vontade divina, a duvidar do próprio Deus e da sua fidelidade. Nisto radica a tentação que se apresentou a Abraão.

Também nós nos podemos encontrar, por vezes, com situações onde intuímos que o Senhor espera algo que talvez nos contrarie: um passo em frente na vida cristã, a renúncia a um modo de fazer ou mesmo a uma maneira de ser, talvez profundamente arraigada, mas que talvez não favoreça a fecundidade do apostolado. Pode surgir o impulso de silenciar essa inquietação, identificando aquilo que nos agradaria com o que deveria ser a vontade divina: «A tentação de deixar Deus de lado para nos pormos nós próprios no centro está sempre à espreita» [xvi].


Abraão não age assim: vai para o monte Moriá, com um grande conflito interior, mas convencido de que antes ou depois Deus providenciará [xvii].
E Deus, que está empenhado em fazer-se entender, no final providencia. Para que se fizesse luz, Abraão teve que percorrer o caminho completo, teve que pôr-se em marcha e chegar até ao fim.
Também nós, se procuramos secundar em todo o momento a vontade divina, descobriremos que, apesar das nossas limitações, Deus dá eficácia à nossa vida.
Saberemos e sentiremos que Deus nos ama e não teremos medo de O amar: «a fé professa-se com a boca e com o coração, com a palavra e com o amor» [xviii].

J. Yániz





[i] Gn12, 1-2.
[ii] Gn17, 5.
[iii] Bíblia de Navarra (tomo I, 1997), comentário a Gn17, 5.
[iv] Cfr. Gn18-19.
[v] S. Josemaria, Caminho, n. 471.
[vi] Gn12, 4
[vii] Catecismo da Igreja Católica, n. 2570.
[viii] Catecismo da Igreja Católica, n. 144.
[ix] Hb11, 1.
[x] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 145.
[xi] Gn22, 2.
[xii] Gn22, 12-14.
[xiii] S. Josemaria, Carta 24-XII-1951, n. 3, em A. Vázquez de Prada, El fundador del Opus Dei, vol. 3, Rialp, Madrid 2003, p. 171.
[xiv] Hb10, 23.
[xv] Cfr. Rm4, 18.
[xvi] Francisco, Audiência geral, 10-IV-2013.
[xvii] Gn22, 8.
[xviii] Francisco, Audiência geral, 3-IV-2013.

Antigo testamento / Salmos

Salmo 103








1 Bendiga o Senhor a minha alma! Bendiga o Senhor todo o meu ser!
2 Bendiga o Senhor a minha alma! Não esqueça nenhuma de suas bênçãos!
3 É ele que perdoa todos os seus pecados e cura todas as suas doenças, que resgata a sua vida da sepultura e o coroa de bondade e compaixão, que enche de bens a sua existência, de modo que a sua juventude se renova como a águia.
4 O Senhor faz justiça e defende a causa dos oprimidos.
5 Ele manifestou os seus caminhos a Moisés; os seus feitos, aos israelitas.
6 O Senhor é compassivo e misericordioso, mui paciente e cheio de amor.
7 Não acusa sem cessar nem fica ressentido para sempre; não nos trata conforme os nossos pecados nem nos retribui conforme as nossas iniquidades.
8 Pois como os céus se elevam acima da terra, assim é grande o seu amor para com os que o temem; e como o Oriente está longe do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões.
9 Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão dos que o temem; pois ele sabe do que somos formados; lembra-se de que somos pó.
10 A vida do homem é semelhante à relva; ele floresce como a flor do campo, que se vai quando sopra o vento; tampouco se sabe mais o lugar que ocupava.
11 Mas o amor leal do Senhor, o seu amor eterno, está com os que o temem e a sua justiça com os filhos dos seus filhos, com os que guardam a sua aliança e se lembram de obedecer aos seus preceitos.
12 O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e como rei domina sobre tudo o que existe.
13 Bendigam o Senhor, vocês, seus anjos poderosos, que obedecem à sua palavra.
14 Bendigam o Senhor todos os seus exércitos, vocês, seus servos, que cumprem a sua vontade.

15 Bendigam o Senhor todas as suas obras em todos os lugares do seu domínio. Bendiga o Senhor a minha alma!

Tratado da vida de Cristo 76

Questão 41: Da tentação de Cristo

Em seguida devemos tratar da tentação de Cristo. E nesta questão discutem-se quatro artigos:


Art. 1 — Se Cristo devia ser tentado.
Art. 2 — Se Cristo devia ser tentado no deserto.
Art. 3 — Se Cristo devia ser tentado depois do jejum.
Art. 4 — Se foi conveniente o modo e a ordem da tentação.

Art. 1 — Se Cristo devia ser tentado.

O primeiro discute-se assim. — Parece que Cristo não devia ser tentado. 

1. — Pois, tentar é fazer uma experiência, e esta não a fazemos senão do que ignoramos. Ora, também os demónios conheciam a virtude de Cristo, conforme diz o Evangelho: Não permitia os demónios falarem, pois sabiam que ele mesmo era o Cristo. Logo, parece que não devia Cristo ser tentado.

2. Demais. — Cristo veio destruir as obras do diabo, segundo a Escritura: Para destruir as obras do diabo é que o Filho de Deus vez ao mundo. Ora, ninguém pode ao mesmo tempo destruir as obras de outrem e sofrer-lhes a acção. Donde, parece Que Cristo não devia ter sofrido ser tentado pelo diabo.

3. Demais. — Há três formas de tentação: a da carne, a do mundo e a do diabo. Ora, Cristo não foi tentado nem pela carne nem pelo mundo. Logo, também não devia ter sido tentado pelo diabo.

Mas, em contrário, o Evangelho: Foi levado Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.

Cristo quis ser tentado, primeiro, para nos dar auxílio contra as tentações. Por isso diz Gregório: Não era indigno do nosso Redentor querer ser tentado, ele que veio para ser imolado; para que assim vencesse as nossas tentações com as suas, assim como venceu com a sua a nossa morte. — Segundo para nossa cautela: a fim de que ninguém, por santo que seja, se julgue seguro e imune à tentação. Por isso quis ser tentado depois do baptismo; porque, como diz Hilário, as tentações do diabo são mais frequentes, sobretudo contra os santos, porque sobre estes é que ela mais deseja a vitória. Donde o dizer a Escritura: Filho, quando entrares no serviço de Deus, tem ser firme na justiça e no temor e prepara a tua alma para a tentação. — Terceiro, para nos dar o exemplo de como devemos vencer as tentações do diabo. Donde o dizer Agostinho: Cristo deixou-se tentar pelo diabo, para nos mostrar como venceremos as suas tentações, não somente pelo seu auxílio, mas também pelo seu exemplo. — Quarto, para nos excitar à confiança na sua misericórdia. Donde o dizer o Apóstolo: Não temos um pontífice que não possa compadecer-se das nossas enfermidades, mas que foi tentado em todas as coisas à nossa semelhança, excepto o pecado.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como diz Agostinho, Cristo deixou-se conhecer pelos demónios tanto quanto quis não pelo concernente à sua vida eterna, mas por alguns efeitos temporais do seu poder, donde podiam de certo modo conjecturar que Cristo era Filho de Deus. Mas como, por outro lado, viam nele certos sinais da fraqueza humana, não tinham como certo que fosse Filho de Deus. E por isso não quiseram tentá-lo conforme ao que diz o Evangelho: Depois que teve fome chegou-se a ele o tentador. Porque, como diz Hilário, o diabo não teria ousado tentar a Cristo, senão o reconhecesse: como homem, quando o viu; sujeito à miséria da fome. E isto mesmo se conclui do seu modo de tentar quando disse - Se és o Filho de Deus. Expondo o que, diz Gregório: Que quer significar começando com tais palavras, senão que, embora sabedor que o Filho de Deus devia vir ao mundo, não pensava, contudo que viesse sujeito a essas misérias do corpo?

RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo veio destruir as obras do diabo, não pelo emprego do seu poder, mas antes sofrendo-lhe a acção e a dos seus partidários, de modo a vencê-la pela justiça e não pela onipotência. Por isso diz Agostinho: O diabo foi vencido, não pelo poder, mas pela justiça de Deus. Donde, a respeito da tentação de Cristo devemos considerar o que fez por vontade própria e o que sofreu do diabo. Assim por vontade própria deixou-se tentar do diabo, como está no Evangelho: Foi levado Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Lugar que Gregório diz dever ser entendido do Espírito Santo, e significa que o seu Espírito o levou onde o espírito maligno o encontrasse para tentá-lo. Mas, sofreu a acção do diabo quando este o levou para o pináculo do Templo, ou para um monte muito alto. Nem é para admirar, como diz Gregório, que se deixasse conduzir pelo diabo a um monte, quem permitiu que os seus partidários o crucificassem. Mas não devemos pensar que fosse tomado à força pelo diabo, mas que, como nota Orígenes, o seguia a este para o lugar da tentação, como um atleta que marcha voluntariamente para o combate.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz o Apóstolo, Cristo quis ser tentado em todas as causas, excepto o pecado. Ora, a tentação proveniente do diabo pode ser sem pecado, pois, ela se faz pela só sugestão intervir. Ao passo que originada na carne não pode deixar de ser pecaminosa, porque se faz pela deleite e pela concupiscência. E, como diz Agostinho, há sempre pecado quando a carne deseja contra o espírito. Donde o ter Cristo querido a tentação do diabo, mas não a da carne.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Maria, Rainha da Paz

Maria, Regina pacis, Rainha da Paz, porque tiveste fé e acreditaste que se cumpriria o anúncio do Anjo, ajuda-nos a aumentar a Fé, a sermos firmes na Esperança, a aprofundar o Amor. Porque é isso que quer hoje de nós o teu Filho, ao mostrar-nos o seu Sacratíssimo Coração. (Cristo que passa, 170).

Característica evidente de um homem de Deus, de uma mulher de Deus, é a paz na alma: tem "a paz" e dá "a paz" às pessoas com quem convive. (Forja, 649).


Não é lícito escudar-se em razões aparentemente piedosas para espoliar os outros do que lhes pertence: Se alguém diz: "Eu amo a Deus" mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Mas também se engana a si mesmo quem regateia ao Senhor o amor e a reverência – a adoração – que lhe são devidos como Criador e nosso Pai; a quem se nega a obedecer aos seus mandamentos com a falsa desculpa de que algum deles é incompatível com o serviço dos homens claramente adverte S. João que nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: Se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados. (Amigos de Deus, n. 166)

Doutrina - 54

Eucaristia

…/11

2.3. Significado e conteúdo do mandato do Senhor

O preceito explícito de Jesus: «fazei isto em memória de mim» como meu memorial [i], evidencia o carácter propriamente institucional da Última Ceia.

Com este mandato, pede-nos que correspondamos ao seu dom e que o representemos sacramentalmente (que o voltemos a realizar, que reiteremos a sua presença: a presença do seu Corpo entregue e do seu Sangue derramado, ou seja, do seu sacrifício em remissão dos nossos pecados).

- «Fazei isto».

Deste modo designou aqueles que poderiam celebrar a Eucaristia (os Apóstolos e os seus sucessores no sacerdócio), confiou-lhes a potestade de a celebrar e determinou os elementos fundamentais do rito: os mesmos que Ele empregou.

Assim, na celebração da Eucaristia é necessária a presença do pão e do vinho, da oração de acção de graças e de bênção, da consagração dos dons no Corpo e Sangue do Senhor, da distribuição e comunhão deste Santíssimo Sacramento.

- «Em memória de mim» como meu memorial.

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Lc 22, 19; 1Cor 11, 24-25