Páginas

04/02/2016

NUNC COEPI – Índice de publicações em Fev 04

nunc coepi – Índice de publicações em Fev 04

São Josemaria – Textos

AMA - Comentários ao Evangelho Mc 6 7-13, Leitura Espiritual - Juan Carlos Sack – Eucaristia

Doutrina – Eucaristia

Celibato eclesiástico, Jesus Cristo e a Igreja

AT - Salmos – 94


Agenda Quarta-Feira

Evangelho, comentário, L. espiritual

Tempo Comum
Semana IV

Evangelho: Mc 6, 7-13

7 Chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos imundos. 8 Ordenou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um bastão; nem alforge, nem pão, nem dinheiro na cintura; 9 mas que fossem calçados de sandálias, e não levassem duas túnicas. 10 E dizia-lhes: «Em qualquer casa onde entrardes, ficai nela até sairdes desse lugar. 11 Onde vos não receberem nem ouvirem, retirando-vos de lá, sacudi o pó dos vossos pés em testemunho contra eles». 12 Tendo partido, pregavam que fizessem penitência. 13 Expulsavam muitos demónios, ungiam com óleo muitos enfermos e curavam-nos.

Comentário:

São Marcos com o estilo preciso e detalhado que conhecemos refere um pormenor que não concorda com São Mateus: a recomendação de Jesus Cristo sobre o uso de sandálias por parte dos Apóstolos enviados em missão.

Pode ser algo de importância menor mas, quanto a mim, não é.

São Pedro que foi o "mentor" do Evangelista é uma fonte absolutamente credível.

Porque referirá este detalhe?

Penso que Jesus quis que os Seus enviados se apresentassem com dignidade junto daqueles que os receberiam e, sobretudo naqueles tempos, o usar sandálias conferia essa dignidade.

Sem luxos nem coisas supérfluas mas com apresentação digna e cuidada.

Assim nos quer o Senhor. 

(ama, comentário sobre Mc 6, 7-13, 2015.07.13)


Leitura espiritual



Eucaristia

A Presença Real de Cristo na Eucaristia - Parte VII

- "No caso do suposto milagre da hóstia, o nosso sentido diz-nos que esse elemento continua sendo o mesmo pão, de modo que a nossa vista e qualquer um dos nossos sentidos não percebem o suposto milagre na substância. A nossa fé não é cega" [i].


- "O aparente pão não é pão (ainda que o seja para o paladar), mas corpo de Cristo; e o aparente vinho não é vinho (ainda que o paladar o queira), mas sangue de Cristo" [ii].

- "O que vedes é o pão e o cálice, que é também o que dizem os vossos olhos; porém, naquilo que vossa fé pede para ser instruída, o pão é o corpo de Cristo e o cálice, o sangue de Cristo [iii].

-----

DÂMASO


Papa, ocupou a sé de Pedro de 366 a 384.
Encomendou a São Jerónimo a tradução (latina) das Escrituras.
Poeta, são conservados numerosos epitáfios que compôs para os túmulos dos mártires.

Para o túmulo do jovem mártir da Eucaristia, São Tarcísio, mandou escrever estas palavras:

- "Quando uma mão insana oprimia São Tarcísio, / portador dos sacramentos de Cristo, / para que os expusesse ao profano, / ele preferiu dar a sua vida em meio aos ferimentos / do que entregar aos cães raivosos os membros celestes" [iv].


SIRÍCIO


Eleito papa em 384.
Grande amigo de Santo Ambrósio.
Consagrou a basílica de São Paulo em Roma.



No ano 385 proibiu os apóstatas de se aproximarem dos sacramentos eucarísticos, dizendo-o desta forma:

- "Ordenamos que estes (os apóstatas) se afastem do corpo e do sangue de Cristo, pelos quais, em outro tempo, ao renascerem, tinham sido redimidos" [v].


AMBROSIASTER

 Assim é conhecido um autor cujo nome autêntico é para nós desconhecido.
Comentou todas as cartas de São Paulo, com excepção a dos Hebreus.
É considerado um dos melhores comentários até a época do Renascimento.
A sua doutrina, salvo as inclinações milenaristas, sempre foi tida por ortodoxa por toda a Igreja.

Comentando o texto de Paulo sobre a Eucaristia, escreveu:

- "Já que fomos libertados pela morte do Senhor, recordando esta realidade, ao comermos e bebermos a carne e o sangue que foram oferecidos por nós, queremos significar que neles adquirimos o Novo Testamento" [vi].

- "Recebemos o místico cálice de sangue para a defesa do nosso corpo e alma, pois o sangue do Senhor redimiu o nosso sangue, isto é, salvou o homem inteiro; pois a carne do Salvador para a salvação do corpo e do sangue foi derramado pela nossa alma" [vii].

Parte VIII


- "Jesus jamais ensinou a transubstanciação aos seus discípulos, isto é, que o pão literalmente se converteria no Seu corpo" [viii].

- "Não se trata - como ensina a doutrina da transubstanciação - que o pão se converta em Cristo, mas que Ele é como um pão que dá a vida eterna" [ix].

- "Contudo, esse pão é pão antes das palavras dos mistérios; quando ocorre a consagração, do pão se faz a carne de Cristo" [x].

-----

ATANÁSIO

A grande figura de Santo Atanásio (295-373) preenche uma boa parte do século IV. Como diácono e secretário de seu Bispo, Alexandre, participou do Concílio de Niceia. Foi nomeado Bispo de Alexandria. Por defender a doutrina de Niceia, foi exilado cinco vezes pelas autoridades do Império.

Contrapondo a antiga Páscoa com a celebração pascal cristã, diz:

- "Então (nos dias do Antigo Testamento) celebravam a festa comendo um cordeiro irracional e afugentavam o (Anjo) exterminador untando os dentes com seu sangue. Mas agora, quando comemos o Verbo do Pai e assinalamos os lábios de nossos corações com o sangue do Novo Testamento, conhecemos a graça que o Salvador nos deu" [xi].

- "O próprio Salvador nosso, passando do figurado para o espiritual, lhes prometeu que de então em diante não comeriam a carne do cordeiro, mas a sua própria (carne), dizendo: 'Tomai e comei; isto é o Meu corpo e o Meu sangue" [xii].

- "Verás os levitas (os sacerdotes cristãos), que levam os pães e o cálice com o vinho, e os põem sobre o altar. E enquanto não são feitas as orações e invocações, é apenas pão e vinho; mas quando terminam as magníficas e admiráveis preces, então o pão se faz corpo e o cálice [se faz] sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. E novamente: ocorre a realização dos mistérios. Este pão e este cálice, antes das orações e invocações, são puros (pão e vinho); mas quando sobrevêm as magníficas preces e as magníficas invocações, o Verbo desce ao pão e ao cálice, e se faz o seu corpo" [xiii], [xiv].

Tratando dos frutos da comunhão eucarística, escreve:

- "Nos divinizamos, não participando do corpo de um homem qualquer, mas tomando o corpo do próprio Verbo" [xv].


BASÍLIO

Um dos líderes mais importantes da Igreja da Capadócia. Nasceu por volta de 330. Contam-se em sua família diversos mártires e santos. É considerado um dos fundadores do monaquismo oriental.

Escrevendo a um cristão acerca do proveito da comunhão frequente, diz:

- "É certamente bom e proveitoso receber diariamente a Eucaristia e, assim, participar do corpo e sangue de Cristo, porque Ele diz com toda a clareza: 'Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue possui a vida eterna'. E quem pode duvidar que participar frequentemente da Vida é a mesma coisa que possuir vida em abundância? Eu comungo quatro vezes por semana: no Dia do Senhor (=Domingo), na 4ª-Feira, na 6ª-Feira e no Sábado; e também em qualquer outro dia, se acontecer a comemoração de algum santo" [xvi], [xvii].

Noutros lugares, fala de "receber o corpo e o sangue de Cristo" e de "participar do santo corpo e sangue de Cristo" [xviii].


GREGÓRIO NANZIANZENO

Outro dos grandes Padres Capadócios. Nasceu em 330 e morreu em 389. Trabalhou em grande sintonia com São Basílio e o irmão de Basílio, São Gregório de Nissa. Seu pai foi Bispo de Nanzianzo. Foi ordenado sacerdote em 362. Nomeado Bispo de Niceia, renunciou à esta sé por problemas canônicos. Foi Bispo de Nanzianzo por alguns anos, até que se aposentou, e passou a viver em solidão e oração até sua morte. Seus escritos são de imensa profundidade teológica.



Tratando da celebração eucarística, exorta aos fiéis:

- "Se desejais a Vida, comei o Corpo e bebei o Sangue sem temor e sem dúvidas" [xix].

E numa carta:

- "Ó piedosíssimo: não te canses de pedir e advogar por nós, quando por tua palavra fizeres baixar o Verbo; quando pelo fracionamento incruento, usando a voz no lugar da espada, cortares o Corpo e o Sangue do Senhor (exacto momento da fração do pão eucarístico na Missa)" [xx].

GREGÓRIO DE NISSA

Irmão de São Basílio e amigo de São Gregório Nanzianzeno. Nasceu em 335 e morreu em 394. Grande místico, teólogo e escritor. Foi consagrado Bispo de Nissa, na Capadócia.

Ensinando aos seguidores de Cristo como se deve entender as Escrituras, diz-lhes:

- "Cremos que também agora o pão santificado pela palavra de Deus se transforma no corpo do Verbo de Deus" [xxi].

E noutro lugar:

- "Inicialmente, o pão é comum; mas quando o mistério o consagrou, chama-se e se faz corpo de Cristo" [xxii].

Afirma também que Cristo Se ofereceu em sacrifício antes mesmo do Calvário, e diz:

- "Quando se deu isso? Quando aos que estavam com Ele lhes fez Seu corpo ao pão e, à bebida, Seu sangue. Porque é totalmente manifesto que os homens não podem comer um cordeiro se anteriormente não se dá a morte disto que comem. Ele, que deu o Seu corpo como comida aos Seus discípulos, manifestou abertamente que já se tinha cumprido o sacrifício do cordeiro" [xxiii].

p. juan carlos sack

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Guillermo Hernández Agüero, evangélico
[ii] São Cirilo de Alexandria, Bispo, Século IV
[iii] Santo Agostinho, Bispo, Século IV
[iv] Epigrammata Damasiana, ed. A. Ferrua, 15, PL 13,392
[v] Epístola a Himério 3,4
[vi] Sobre 1Coríntios 11,26,1
[vii] Sobre 1Coríntios 2
[viii] Guillermo Hernández Agüero, evangélico
[ix] Fernando Saraví, evangélico
[x] Santo Ambrósio, Bispo, Século IV
[xi] Cartal Festal 4,3
[xii] Carta Festal 4,4
[xiii] Sermão aos Baptizandos [fragmento]; PG 26,1325
[xiv] Alguns colocam este texto em dúvida, não obstante a maioria dos críticos hoje o tenham como um escrito autêntico de Atanásio.
[xv] Carta a Máximo 2; PG 26,1088
[xvi] Carta 93
[xvii] Compare-se o escrito de São Basílio Magno com estas expressões de Sapia no artigo já citado (com as ênfases do original): "Este sacerdote [católico] disse [ao terminar uma Missa]: 'Queridos irmãos: vos convido a retornar todo domingo para receber Cristo, que por sua grande humildade Se transforma em hóstia por amor a nós...' Pergunto: Receber Cristo todo domingo? É claro que somente podemos receber algo quando NÃO TEMOS esse algo (o que me parece óbvio). Significa, então, segundo se depreende das palavras do sacerdote, que Cristo 'abandona' o católico em algum momento da semana, já que no domingo [seguinte] deverá assistir à Missa para novamente recebê-Lo... e assim sucessivamente ao longo de toda a sua vida... Isto não apenas é antibíblico como também ilógico. No entanto, os fiéis católicos aceitam, creem e obedecem a isto... Eles creem na Igreja Católica Romana e isso os conforma para supor que estão cumprindo [seus deveres para] com Deus. O verdadeiro cristão recebe Cristo UMA ÚNICA VEZ em sua vida: no instante de reconhecê-Lo como seu único e suficiente Salvador, entregando-Lhe seu coração e todo o seu ser; o que a Bíblia chama de "nascer de novo" (algo que dificilmente ocorre com quem supõe receber Cristo pela ingestão de uma hóstia)". É claro que cada um tem uma visão diferente do que significa "receber Jesus" e não necessariamente coincidirá com a definição de tipo dogmático expressa por Sapia, sobre como "o verdadeiro cristão" recebe a Cristo (leia-se: ele e os que pensam como ele); como se existisse uma única forma de "receber" Jesus! Entretanto, o que eu quero apontar aqui é que a fé do evangélico batista é diferente da Fé da Igreja primitiva, daquela Fé que coincide com a daquele sacerdote católico que convida os fiéis a regressarem à Igreja todo domingo para "receber a Cristo". Vemos então que São Basílio Magno, na distante Capadócia, naquele já distante século IV, "cria na Igreja Católica Romana" e isso "o conformava para supor que estava cumprindo [seus deveres para] com Deus". Há outros testemunhos neste artigo onde os Padres recomendam ou louvam a recepção diária da Eucaristia.
[xviii] Regra Moral 21,1-2; Regra Breve, Tratado 172
[xix] Discurso 45, na Santa Páscoa 19
[xx] Carta 171, a Anfilóquio 3
[xxi] Discurso Catequético 37
[xxii] In Diem Luminum; PG 46,581
[xxiii] Discurso 1, na Santa Páscoa; PG 46,612

Antigo testamento / Salmos

Salmo 94








1 Ó Senhor, Deus vingador; Deus vingador! Intervém!
2 Levanta-te, Juiz da terra; retribui aos orgulhosos o que merecem.
3 Até quando os ímpios, Senhor, até quando os ímpios exultarão?
4 Eles despejam palavras arrogantes; todos esses malfeitores enchem-se de vanglória.
5 Massacram o teu povo, Senhor, e oprimem a tua herança; matam as viúvas e os estrangeiros, assassinam os órfãos e ainda dizem: "O Senhor não nos vê; o Deus de Jacó nada percebe".
6 Insensatos, procurem entender! E vocês, tolos, quando se tornarão sábios?
7 Será que quem fez o ouvido não ouve? Será que quem formou o olho não vê?
8 Aquele que disciplina as nações os deixará sem castigo? Não tem sabedoria aquele que dá ao homem o conhecimento?
9 O Senhor conhece os pensamentos do homem, e sabe como são fúteis.
10 Como é feliz o homem a quem disciplinas, Senhor, aquele a quem ensinas a tua lei; tranquilo, enfrentará os dias maus, enquanto, para os ímpios, uma cova se abrirá.
11 O Senhor não desamparará o seu povo; jamais abandonará a sua herança.
12 Voltará a haver justiça nos julgamentos, e todos os rectos de coração a seguirão.
13 Quem se levantará a meu favor contra os ímpios? Quem ficará a meu lado contra os malfeitores?
14 Não fosse a ajuda do Senhor, eu já estaria habitando no silêncio.
15 Quando eu disse: Os meus pés escorregaram, o teu amor leal, Senhor, me amparou!
16 Quando a ansiedade já me dominava no íntimo, o teu consolo trouxe alívio à minha alma.
17 Poderá um trono corrupto estar em aliança contigo?, um trono que faz injustiças em nome da lei?
18 Eles planejam contra a vida dos justos e condenam os inocentes à morte.
19 Mas o Senhor é a minha torre segura; o meu Deus é a rocha em que encontro refúgio.
20 Deus fará cair sobre eles os seus crimes, e os destruirá por causa dos seus pecados; o Senhor, o nosso Deus, os destruirá!


Cristo diz-me a mim e diz-te a ti que precisa de nós

Devoção de Natal. – Não sorrio quando te vejo fazer as montanhas de musgo do Presépio e dispor as ingénuas figuras de barro em volta da gruta. – Nunca me pareceste mais homem do que agora, que pareces uma criança. (Caminho, 557)

Quando chega o Natal, gosto de contemplar as imagens do Menino Jesus. Essas figuras que nos mostram o Senhor tão apoucado, recordam-me que Deus nos chama, que o Omnipotente Se quis apresentar desvalido, quis necessitar dos homens. Do berço de Belém, Cristo diz-me a mim e diz-te a ti que precisa de nós; reclama de nós uma vida cristã sem hesitações, uma vida de entrega, de trabalho, de alegria.

Não conseguiremos jamais o verdadeiro bom humor se não imitarmos deveras Jesus, se não formos humildes como Ele. Insistirei de novo: vedes onde se oculta a grandeza de Deus? Num presépio, nuns paninhos, numa gruta. A eficácia redentora das nossas vidas só se pode dar com humildade, deixando de pensar em nós mesmos e sentindo a responsabilidade de ajudar os outros.

É corrente, às vezes até entre almas boas, criar conflitos íntimos, que chegam a produzir sérias preocupações, mas que carecem de qualquer base objectiva. A sua origem está na falta de conhecimento próprio, que conduz à soberba: o desejo de se tornarem o centro da atenção e da estima de todos, a preocupação de não ficarem mal, de não se resignarem a fazer o bem e desaparecerem, a ânsia da segurança pessoal... E assim, muitas almas que poderiam gozar de uma paz extraordinária, que poderiam saborear um imenso júbilo, por orgulho e presunção tornam-se desgraçadas e infecundas!


Cristo foi humilde de coração. Ao longo da sua vida, não quis para Si nenhuma coisa especial, nenhum privilégio. (Cristo que passa, 18)

Doutrina - 45

Eucaristia

…/2

1.2. Os nomes com que se designa este sacramento

A Eucaristia é denominada, tanto pela Sagrada Escritura como pela Tradição da Igreja, com diversos nomes, que reflectem os múltiplos aspectos deste sacramento e expressam a sua incomensurável riqueza, mas nenhum esgota o seu sentido. Vejamos os mais significativos:

a) Alguns nomes recordam a origem do rito:

Eucaristia [i],

Fracção do Pão;

Memorial da paixão;

Morte e ressurreição do Senhor;

Ceia do Senhor.

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)



[i] O termo eucaristia significa acção de graças, e remete para as palavras de Jesus Cristo na Última Ceia: «Tomou, então, o pão e, depois de dar graças quer dizer, pronunciou uma oração eucarística e de louvor a Deus Pai, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo…» (Lc 22, 19; cf. 1 Cor 11, 24).

Jesus Cristo e a Igreja - 96

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos [i]
III. Desenvolvimento do tema da continência na Igreja latina

Afirmados os pressupostos necessários sobre o conceito e o método de investigação e exposição, analisaremos em primeiro lugar o tema da continência dos clérigos na Igreja Latina.

O Concílio de Elvira

Entre os testemunhos de diversos tipos que interessam para o nosso assunto, deve ser mencionado, em primeiro lugar, o Concílio de Elvira. Na primeira década do século IV, reuniram-se bispos e sacerdotes da Igreja da Espanha, no centro diocesano de Elvira, perto da Granada, para colocar sob uma regulamentação comum as diversas circunscrições eclesiásticas da Espanha, pertencente à parte ocidental do Império Romano, que gozava, sob o governo do César Constâncio, de uma paz religiosa relativamente boa. No período anterior, durante a perseguição dos cristãos, se havia constatado abusos em mais de um sector da vida cristã e havia sofrido danos graves na observância da disciplina eclesiástica. Em 81 cânones conciliares, são emanadas disposições relativas às áreas mais importantes da vida eclesiástica, necessitadas de clarificação e de renovação para reafirmar a antiga disciplina e para sancionar novas normas que se tinham tornado desnecessárias.
O Cânon 33 do Concílio contém a já conhecida primeira lei sobre o celibato. Sob a rubrica: “Sobre os bispos e ministros (do altar), que devem ser continentes com suas esposas”, se encontra o seguinte texto dispositivo: “Se está de acordo sobre a proibição total, válida para bispos, sacerdotes e diáconos, ou seja, para todos os clérigos dedicados ao serviço do altar, que devem se abster de suas esposas e não gerar filhos; quem fizer isso deve ser excluído do estado clerical”. O cânon 27 já havia insistido na proibição de que habitassem com os bispos e outros eclesiásticos, outras mulheres não pertencentes à sua família. Só poderiam levar para junto de si, uma irmã ou uma filha consagrada virgem, mas de nenhum modo uma estranha.
Desses primeiros e importantes textos legais se devem deduzir que muitos dos clérigos maiores da Igreja espanhola de então, talvez inclusive a maior parte, eram viri probati, quer dizer, homens casados antes de serem ordenados como diáconos, sacerdotes ou bispos. Todos, entretanto, estavam obrigados depois de ter recebido a Sagrada Ordenação a renunciar completamente do uso do matrimónio, quer dizer, à observância de uma perfeita continência. À luz do final do Concilio de Elvira, assim como do Direito e da História do Direito do Império Romano, dotado de uma cultura jurídica que dominava naquela época também na Espanha, não é possível ver no cânon 33 (junto com o cânon 27) uma lei nova.
Manifesta-se claramente, ao contrário, como uma reacção contra a inobservância, muito estendida, de uma obrigação tradicional e bem conhecida a que se acrescenta, nesse momento, uma sanção: ou se aceita o cumprimento da obrigação assumida, ou se renuncia ao estado clerical.
A introdução de uma novidade nesse terreno, com retroactividade geral das sanções frente a direitos adquiridos desde a Ordenação, teria causado num mundo como aquele, tão imbuído do respeito ao legal, uma verdadeira tempestade de protestos ante a evidente violação de um direito.
Isto já o havia percebido Pio XI quando, na sua Encíclica sobre o sacerdócio, afirmou que essa lei escrita supunha uma práxis precedente.

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)



[i] Card. alfons m. stickler, Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro