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Maria, Rainha da Paz

Maria, Regina pacis, Rainha da Paz, porque tiveste fé e acreditaste que se cumpriria o anúncio do Anjo, ajuda-nos a aumentar a Fé, a sermos firmes na Esperança, a aprofundar o Amor. Porque é isso que quer hoje de nós o teu Filho, ao mostrar-nos o seu Sacratíssimo Coração. (Cristo que passa, 170).

Característica evidente de um homem de Deus, de uma mulher de Deus, é a paz na alma: tem "a paz" e dá "a paz" às pessoas com quem convive. (Forja, 649).


Não é lícito escudar-se em razões aparentemente piedosas para espoliar os outros do que lhes pertence: Se alguém diz: "Eu amo a Deus" mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Mas também se engana a si mesmo quem regateia ao Senhor o amor e a reverência – a adoração – que lhe são devidos como Criador e nosso Pai; a quem se nega a obedecer aos seus mandamentos com a falsa desculpa de que algum deles é incompatível com o serviço dos homens claramente adverte S. João que nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: Se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados. (Amigos de Deus, n. 166)

Evangelho, coment. L espirit. (Santíssima Virgem)

Quaresma I Semana

Evangelho: Mt 7 7-12

7 «Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. 8 Porque todo aquele que pede, recebe, e quem busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-á. 9 Qual de vós dará uma pedra a seu filho, quando este lhe pede pão? 10 Ou se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? 11 Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celeste dará coisas boas aos que lhas pedirem. 12 «Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o também vós a eles; esta é a Lei e os Profetas.
Comentário:

Não nos cansemos de pedir tudo o que julguemos necessitar.
Afastemos essa falsa preocupação de não pedir-mos porque, talvez, não seja conveniente o que pedimos. O Senhor saberá, sempre, se o é ou não e, mais, se o for, quando será oportuno concede-lo.

De algo podemos estar certos: Nunca nos deixará sem resposta, mesmo quando parece que não nos atende, se nos detivermos com vagar e são critério, saberemos porque não O faz.

Sempre, absolutamente, porque não é conveniente e, nunca, por falta de merecimento nosso já que, este, nunca o teremos.

(ama, comentário sobre Mt 7, 7-12, 2013.02.21)


Leitura espiritual



Santíssima Virgem

Santo Rosário

Gozosos - Anunciação do Anjo a Nossa Senhora [i]

2
Também para vir a primeira vez à terra, Deus pediu consentimento a Maria, uma de nós.
Maria acreditou: deu a sua adesão total aos planos do Pai.
E que obra deu como fruto a sua fé? Pelo seu "sim" o Verbo fez-Se carne[ii] nela tornou-se possível a salvação da humanidade.[iii]
«Que terão a voz e as palavras de Maria que geram uma felicidade sempre nova? São como uma música divina que penetra até ao mais fundo da alma enchendo-a de paz e de amor. Quantas vezes rezamos o Santo Rosário a chamamos Causa da Nossa Alegria. E é-o porque é portadora de Deus. Filha de Deus Pai, é portadora da ternura infinita de Deus Pai. Mãe de Deus Filho, é portadora do Amor até à morte de Deus Filho. Esposa de Deus Espirito Santo, é portadora do fogo e do gozo do Espirito Santo.
À sua passagem o ambiente transforma-se: a tristeza dissipa-se; as trevas cedem lugar à luz; a esperança e o amor acendem-se...
Não é o mesmo estar com a Virgem que sem Ela!
Não é o mesmo, não, rezar o Rosário que não o rezar...»[iv]
«Promulgou-se um édito de César Augusto que manda recensear todos os habitantes de Israel. Maria e José caminham para Belém... - Nunca pensaste que o Senhor se serviu do acatamento pontual de uma lei para dar cumprimento à Sua profecia?
Ama e respeita as normas de uma convivência honesta, e não duvides que a tua submissão leal ao dever será também veículo para que os outros descubram a honradez cristã, fruto do amor divino, e encontrem a Deus.»[v]

«A purificação da alma pela mortificação interior, não é algo meramente negativo. Não se trata só de evitar o que está na fronteira do pecado; pelo contrário, consiste em saber privar-se, por amor de Deus, do que seria lícito não privar-se.
Esta mortificação, que tende a purificar a mente de tudo o que não é de Deus, dirige-se em primeiro lugar a livrar a memória das recordações que possam ir contra o caminho que nos leva ao Céu. Essas recordações podem assaltar-nos enquanto trabalhamos ou descansamos e, inclusive, enquanto rezamos.
Sem violência, mas prontamente, poremos os meios para afastá-los, sabendo fazer o esforço necessário para que a mente volte a encher-se do amor e desejo divinos que dirige o nosso dia de hoje.
Com a imaginação pode suceder algo parecido: que incomode inventando novelas de tipos muito diversos, urdindo histórias fantásticas que não servem para nada. Também então há que reagir com rapidez e voltar serenamente à nossa tarefa ordinária.
De qualquer modo, a purificação interior não se limita a esvaziar o entendimento de pensamentos inúteis. Vai muito mais além: a mortificação das potências abre-nos caminho á vida contemplativa, nas diversas circunstâncias nas quais Deus nos tenha querido situar.
Com esse silêncio interior para tudo o que é contrário ao querer de Deus, impróprio dos Seus filhos, a alma encontra-se disposta ao diálogo continuo e intimo com Jesus Cristo, no que a imaginação ajuda à contemplação - por exemplo, ao contemplar o Evangelho ou os mistérios do Santo Rosário - e a memória traz recordações das maravilhas que Deus fez connosco e as Suas bondades, que acenderão a gratidão no coração e tornarão mais ardente o amor.» [vi]

«Virgem Maria realiza, do modo mais perfeito, a «obediência da fé». Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazidos pelo anjo Gabriel, acreditando que «a Deus nada é impossível»[vii] - [viii] e dando o seu assentimento:
Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra [ix]
Em hebraico, Jesus quer dizer «Deus Salva». Na Anunciação, o anjo Gabriel dá-lhe o nome próprio de Jesus, o qual exprime, ao mesmo tempo, a sua identidade e a sua missão.[x] - [xi]
A Anunciação a Maria inaugura a «plenitude dos tempos»[xii], isto é, o cumprimento das promessas e dos preparativos. Maria é convidada a conceber Aquele em quem habitará «corporalmente toda a plenitude da Divindade»[xiii]
A resposta divina ao seu «como será isto, se eu não conheço homem?»[xiv] é dada pelo poder do espirito:
«O Espirito santo virá sobre ti».[xv] - [xvi]
Para vir a ser a Mãe do salvador, Maria «foi adornada com dons dignos de uma grande missão» [xvii].
O anjo Gabriel, no momento da Anunciação, saúda-a como «cheia de graça»[xviii].
Efectivamente para poder dar o assentimento livre da sua fé ao anúncio da sua vocação, era necessário que ela fosse totalmente movida pela graça de Deus.[xix]

Ao anúncio que dará à luz «o Filho do Altíssimo» sem conhecer homem, pela virtude do Espirito Santo, Maria respondeu pela «obediência da fé» [xx], certa de que «a Deus nada é impossível»:
«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra»[xxi].
Assim, dando o seu consentimento à palavra de Deus, Maria tornou-se Mãe de Jesus. E, aceitando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina da salvação, entregou-Se totalmente à pessoa e à obra de seu Filho para servir, na dependência d'Ele e com Ele, pela graça de Deus, o mistério da redenção.[xxii]

Como diz Santo Ireneu, «obedecendo, ela tornou-se causa da salvação, para si e para todo o género humano». Eis porque não poucos Padres afirmam com ele, nas suas pregações, que «o nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e, aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a Virgem Maria com a sua fé»; e, por comparação com Eva, chamam Maria a «Mãe dos vivos» e afirmam muitas vezes: «a morte veio por Eva, a vida veio por Maria». [xxiii] - [xxiv]

A oração de Maria é-nos revelada na aurora da plenitude dos tempos. Antes a Encarnação do Filho de Deus e da efusão do Espirito Santo, a sua oração coopera de modo único, no desígnio benevolente do Pai, quando da Anunciação para a concepção de Cristo (...)
Na fé da sua humilde serva, o dom de Deus encontra o acolhimento que Ele esperava desde o princípio dos tempos.
Aquela que o Todo-Poderoso fez «cheia de graça» responde pelo oferecimento de todo o seu ser:
«Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra».[xxv]
A virgindade de Maria manifesta a iniciativa absoluta de Deus na Encarnação.
Jesus só tem Deus por Pai. «A natureza humana, que Ele tomou, nunca O afastou do Pai (...).
Naturalmente Filho de Seu Pai por Sua divindade, naturalmente Filho de Sua Mãe por Sua humanidade, mas propriamente Filho de Deus nas Suas duas naturezas»[xxvi]. [xxvii]
A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modo progressivamente mais claro e como que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do salvador na economia da salvação.
Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da pela revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor.
A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente[xxviii], feita aos primeiros pais caídos no pecado.
Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel[xxix]
É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus.
Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da sua vida terrena. [xxx]

O Pai das misericórdias quis que a aceitação da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma grande missão; e, por isso, não é de admirar que os santos padres chamem com frequência à Mãe de Deus «toda santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio Espirito Santo a modelou e dela fez uma nova criatura.[xxxi]
Enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores de uma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo, da parte de Deus, como «cheia de graça»[xxxii]; e responde ao mensageiro celeste: «eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra»[xxxiii]. Deste modo, Maria, filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retida por qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra do seu Filho, subordinada a Ele e juntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção.
Por isso, consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens. Como diz S. Ireneu, «obedecendo, ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo o género humano» [xxxiv] [xxxv]

O Verbo fez-se carne[xxxvi]

Esta subli­me apresentação joanina do mistério de Cristo é confirmada por todo o Novo Testamento.
Assim, S. Paulo afirma que o Filho de Deus nasceu «a descendência de David segundo a carne»,[xxxvii].

Se hoje, com o racionalismo que gras­sa em muitos sectores da cultura contemporâ­nea, é a fé na divindade de Cristo a encontrar mais problemas, também já houve contextos his­tóricos e culturais em que predominou a tendên­cia a reduzir ou diluir o carácter histórico concreto da humanidade de Jesus. Mas, para a fé da Igre­ja, é essencial e irrenunciável afirmar que verda­deiramente o Verbo, se fez carne, e assumiu todas as dimensões do ser humano, excepto o pecado.[xxxviii]
Nesta perspectiva, a encarnação é verdadeira­mente um, despojar-se (kenosis), por parte do Filho de Deus, da glória que Ele possui desde toda a eternidade[xxxix].
Por outro lado, esta humilhação do Filho de Deus não é fim em si mesma, mas visa a plena glorificação de Cristo, inclusivamente na sua humanidade:[xl]

A Virgem Maria realiza, do modo mais perfeito, a «obediência da fé».
Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazidos pelo anjo Gabriel, acredi­tando que «a Deus nada é impossível»[xli] e dando o seu assentimento: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra».[xlii]
Isabel saudou-a: «Feliz aquela que acreditou no cumprimento de quanto lhe foi dito da parte do Senhor»[xliii]. É em virtude desta fé que todas as ger­ações a hão-de proclamar bem-aventurada. [xliv]
Doente, a nossa natureza precisava de ser curada; decaída, precisava de ser elevada; morta, precisava de ser ressuscitada.
Tínhamos perdido a posse do bem; era preciso que nos fosse restituído. 
Encerrados nas trevas, precisávamos de quem nos trouxesse a luz; cativos, esperávamos um sal­vador; prisioneiros, esperávamos um auxílio; escravos, precisávamos dum libertador. [Seriam razões sem importância?] Não seriam suficientes para comover a Deus, a ponto de O fazer descer até à nossa natureza humana para a visitar, pois a humanidade se encontrava em estado tão miserável e infeliz? [xlv]

O Verbo fez-Se carne, para que assim conhecêssemos o amor de Deus: «Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele»[xlvi]. «Porque Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). [xlvii]
O Verbo fez-Se carne, para ser o nosso modelo de santidade: «Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim (...)»[xlviii].

«Eu sou o cami­nho, a verdade e a vida.  Ninguém vai ao Pai senão por Mim»[xlix]. E o Pai, na montanha da Transfiguração, ordena: «Escutai-O»[l]  
De facto, Ele é o modelo das bem-aventuranças e a norma da Lei nova: «Amai­-vos uns aos outros como Eu vos amei»[li]
Este amor implica a oferta efectiva de nós mesmos, no seu seguimento. [lii]
O Verbo fez-Se carne, para nos tornar «participantes da natureza divi­na»[liii]: (Pois foi por essa razão que o Verbo Se fez homem, e o Filho de Deus Se fez Filho do Homem: foi para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a filiação divina, se tornasse filho de Deus»[liv]. «Porque o Filho de Deus Se fez homem, para nos fazer Deus»[lv]. «Unigenitus Dei Filius, suae divinitatis volens nos esse participes, naturam nostram assumpsit, ut homines deos faceret factus homo»[lvi] (0 Filho Unigénito de Deus, querendo que fôssemos participantes da sua divindade, assumiu a nossa natureza para que, feito homem, fizesse os homens deuses). [lvii]

Retomando a expressão de S. João («o Verbo fez-Se carne»: Jo 1, 14), a Igreja chama «Encarnação» ao facto de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana, para nela levar a efeito a nossa salvação.  Num hino que nos foi conservado por S. Paulo, a Igreja canta este mistério:
Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que era de condição divina, não se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio, assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de Cruz.»[lviii]. [lix]

A Epístola aos Hebreus fala do mesmo mistério:
É por isso que, ao entrar neste mundo, Cristo diz: «Não quiseste sacri­fícios e oferendas, mas formaste-Me um corpo. Holocaustos e imolações pelo pecado não Te foram agradáveis. Então Eu disse: Eis-Me aqui (... ) para fazer a tua vontade»[lx] [lxi]
A fé na verdadeira Encarnação do Filho de Deus é o sinal distintivo da fé cristã: «Nisto haveis de reconhecer o Espírito de Deus: todo o espírito que confessa a Jesus Cristo encarnado é de Deus»[lxii]. É esta a alegre con­vicção da Igreja desde o seu princípio, quando canta «o grande mistério da piedade»: «Ele manifestou-Se na carne[lxiii]. [lxiv]
 O acontecimento único e absolutamente singular da Encarnação do Filho de Deus não significa que Jesus Cristo seja em parte Deus e em parte homem, nem que seja o resultado da mistura confusa entre o divino e o humano. Ele fez-Se verdadeiro homem, permanecendo verdadeiro Deus. Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Esta verdade da fé, teve a Igreja de a defender e clari­ficar no decurso dos primeiros séculos, perante heresias que a falsificavam. [lxv]
As primeiras heresias negaram menos a divindade de Cristo que a sua verdadeira humanidade (docetismo gnóstico).
Desde os tempos apostólicos que a fé cristã insistiu sobre a verdadeira encarnação do Filho de Deus «vindo na carne». Mas, a partir do século III, a Igreja teve de afirmar, contra Paulo de Samossata, num concílio reunido em Antioquia, que Jesus Cristo é Filho de Deus por natureza e não por adopção. O primeiro Concílio Ecuménico de Niceia, em 325, confessou no seu Credo que o Filho de Deus é «gerado, não criado, consubstancial ('homoúsios') ao Pai; e condenou Ario, o qual afirmava que «o Filho de Deus saiu do nada» (DS 130) e devia ser «duma substância diferente da do Pai» (DS 126). [lxvi]
A heresia nestoriana via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa di­vina do Filho de Deus. Perante esta heresia, S. Cirilo de Alexandria e o terceiro Concílio Ecuménico, reunido em Éfeso em 431, confessaram que «o Verbo, unindo na Sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, Se fez homem»[lxvii].

A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde que foi concebida. Por isso, o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tomou, com toda a verdade, Mãe de Deus, por ter concebido humanamente o Filho de Deus em seu seio:

«Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divi­na, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne»[lxviii]. [lxix]

Os monofisistas afirmavam que a natureza humana tinha deixado de exis­tir, como tal, em Cristo, sendo assumida pela sua pessoa divina de Filho de Deus. Confrontando-se com esta heresia, o quarto Concílio Ecuménico, em Calcedónia, no ano de 451, confessou:
Na sequência dos santos Padres, ensinamos unanimemente que se confesse um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito na divindade e perfeito na humanidade, o mesmo que é verdadeiramente homem, composto duma alma racional e dum corpo, consubstancial ao Pai pela sua divindade, consubstancial a nós pela sua humanidade, «semelhante a nós em tudo, menos no pecado»[lxx]: gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nestes últimos dias, por nós e pela nossa salvação, nascido da Virgem Mãe de Deus segundo a humanidade.
Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho único, que devemos reco­nhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é abolida pela sua união; antes, as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas numa só pes­soa e numa só hipóstase (DS 301-302). [lxxi]

(ama, meditações sobre o Santo Rosário – 1999)




[i] Lc 1, 26-38
[ii] Jo 1, 14
[iii] Ch. Lubich, Palabra que se hace vida, pg 82-83
[iv] A. Orozco, Mirar a Maria, pg 239-240
[v] S. Josemaría Escrivá, Sulco, nr 322
[vi] Frederico Fernandez Carvajal, Hablar con Dios, Vol I, 3ª Sem, 5ª Fª.
[vii] Lc 1, 37
[viii] cfr.. Gn 18, 14
[ix] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, nr 148
[x] Cfr. Lc 1, 31
[xi] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, nr 430
[xii] Gál r, 4
[xiii] Col 2, 9.
[xiv] Lc 1, 34
[xv] Lc 1, 35
[xvi] Catecismo da Igreja Católica, nr 484
[xvii] LG 56
[xviii] Lc 1, 28
[xix] Catecismo da Igreja Católica, nr 490
[xx] Rm 1, 5
[xxi] Lc 1,37-38
[xxii] Cfr LG 56
[xxiii] LG 56
[xxiv] Catecismo da Igreja Católica, nr 494
[xxv] Cfr Catecismo da Igreja Católica, nr 2617
[xxvi] Con. de Friúl, em 796; DS 619
[xxvii] Catecismo da Igreja Católica, nr 503
[xxviii] Cfr Gen 3,15
[xxix] Cfr Is. 7,14; crf Miq. 5,3; Mt n1, 22-23
[xxx] Conc. Vat. II, Const. Dogm. Lumen Gentium, VIII, Ir 55
[xxxi] Cfr S. Germanob Const. Hom in Annunt. Deiparae: PG 98, 238 A; In Dorm. 2: col. 357 - Anastácio Antioquia, Serm. 2 de Annunt., 2: PG 89, 1377 AB; Serm. 3, 2: cvoil. 1388: C. - S. André Cret., Can. In B. V. Nat. 4:PG 97, 1321 B. In B. V. Nat., 1: col. 812 A Hom. In Dorm. 1: col 1086 C - S. Sofrónio, Or. 2 in Annunt., 18: PG 87 3, 3237 BD.
[xxxii] CfrLc. 1, 28
[xxxiii] Lc , 1 38
[xxxiv] S. Ireneu, Adv.Haer. II, 22, 4: PG 7, 959 A; Harvey, 2 123
[xxxv] Conc. Vat. II, Const. Dogm. Lumen Gentium, VIII, Ir 56
[xxxvi] Jo 1, 14
[xxxvii] Rm 1, 3; cf. 9, 5
[xxxviii] cf.  Hb 4, 15
[xxxix] cf.  Fl 2, 6-8; lPd 3, 18
[xl] Cfr João Paulo II, Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte, 22
[xli] Lc 1, 37
[xlii] U 1, 38
[xliii] Lc 1, 45
[xliv] Catecismo da Igreja Católica, 148
[xlv] S. Gregório de Nissa, Grande Catequese, IS: PG 45, 483
[xlvi] 1 Jo 4, 9
[xlvii] Catecismo da Igreja Católica, 458
[xlviii] Mt 11, 29
[xlix] Jo 14, 6
[l] Mc 9, 7
[li] Jo 15, 12
[lii] Catecismo da Igreja Católica, 459
[liii] 2 Pe 1, 4
[liv] Santo Ireneu, Contra as Heresias 111, 19, 1
[lv] Santo Atanásio, Inc., 54, 3: PG 25, 192B
[lvi] São Tomás de Aquino, opúsculo 57, na festa do Corpo de Deus, 1
[lvii] Catecismo da Igreja Católica, 460
[lviii] Filip 2, 5-8
[lix] Catecismo da Igreja Católica, 461
[lx] He 10, 5-7, citando o SI 40, 7-9, segundo os LXX.
[lxi] Catecismo da Igreja Católica, 462
[lxii] 1 Jo 4, 2
[lxiii] 1 Tm 3, 16
[lxiv] Catecismo da Igreja Católica, 463
[lxv] Catecismo da Igreja Católica, 464
[lxvi] Catecismo da Igreja Católica, 465
[lxvii] DS 250
[lxviii] DS 251
[lxix] Catecismo da Igreja Católica, 466
[lxx] He 4, 15
[lxxi] Catecismo da Igreja Católica, 467